faleceu o Cardeal Cláudio Hummes
O arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, comunicou o falecimento do cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, na manhã desta segunda-feira, 4 de julho, aos 87 anos. Segundo dom Odilo, dom Cláudio Hummes “suportou com paciência e fé em Deus” a prolongada enfermidade que o vitimou.
“Convido todos a elevarem preces a Deus em
agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e de sufrágio em seu
favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como creu e esperou. Deus
acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido, cardeal Cláudio Hummes, e
faça brilhar para ele a luz eterna”, afirmou o cardeal Odilo.
O velório será realizado na Catedral
Metropolitana de São Paulo, onde serão celebradas Missas em diversos horários a
serem oportunamente divulgados. A Presidência da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota de pesar.
Trajetória
O cardeal Cláudio Hummes, franciscano da
Ordem dos Frades Menores, nasceu no município de Montenegro (RS), em 8 de
agosto de 1934. Filho de Pedro Adão Hummes e Maria Frank Hummes, recebeu de
batismo os prenomes Auri Afonso. Ingressou na Ordem dos
Frades Menores em 1º de fevereiro de 1952, onde emitiu os primeiros votos no
dia 2 de fevereiro de 1953 e professou solenemente no dia 2 de fevereiro de
1956, quando então mudou seu nome para “Cláudio”.
Foi ordenado presbítero no dia 3 de agosto
de 1958. Em seguida, enviado a Roma, ali doutorou-se em filosofia na atual
Universidade Antonianum, em 1963. Também especializou-se em Ecumenismo pelo
Instituto Ecumênico de Bossey, de Genebra, Suíça.
De volta ao Brasil, foi professor de
filosofia na Escola de Filosofia da O.F.M. e na Pontifícia Universidade
Católica de Porto Alegre (RS). De 1968 a 1972, foi diretor da Faculdade de
Filosofia de Viamão (RS). De 1972 a 1975, foi Superior Provincial dos
Franciscanos.
Em 22 de março de 1975, foi eleito bispo
coadjutor de Santo André (SP), com direito à sucessão. Em 25 de maio de 1975,
aos 40 anos de idade, recebeu a ordenação episcopal, na Catedral de Porto
Alegre (RS), sendo sagrante principal o cardeal Aloísio Lorscheider. No mesmo
ano, assumiu como bispo titular e ali permaneceu por 21 anos.
Em 29 de maio de 1996, foi nomeado arcebispo
de Fortaleza (CE) e, em 15 de abril de 1998, foi transferido para a Sé de São
Paulo, tomando posse em 23 de maio. Em 2001, foi criado cardeal pelo Papa João
Paulo II, permanecendo ainda como arcebispo de São Paulo até 2006, quando então
foi chamado para Roma para ocupar o cargo de Prefeito da Congregação para o
Clero, onde permaneceu até ser substituído por limite de idade, no final de
2010.
Novamente de volta ao Brasil, foi nomeado
presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até março de 2022. Em 2014, ajudou a
criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro presidente.
Foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia, em 2019, e, de julho de 2020 a
março de 2022, presidiu a recém-criada Conferência Eclesial da Amazônia
(Ceama).
Entre 1979 e 1983, dom Cláudio Hummes foi membro da Comissão Episcopal da CNBB para o Ecumenismo e para os Leigos. Assessorou a Pastoral Operária de 1979 a 1990. Na década de 1990, foi membro da Comissão Episcopal da CNBB para a Família e a Cultura, ele foi um dos responsáveis por organizar o II Encontro Mundial das Famílias com o Papa João Paulo II, no Rio de Janeiro, em 1997. Ele também abençoou o terreno e deu início às obras da Secretaria Executiva Nacional da Pastoral Familiar (Secren), em Brasília (DF).
Mais recentemente, foi legado pontifício do
Papa Francisco para o XVII Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Belém,
em 2016. Em 2019, foi relator da Assembleia Especial dos Bispos para a Região
Pan-Amazônica.
Foi o ordenante principal das sagrações
episcopais de 20 bispos.
O cardeal presidiu a celebração, em outubro
de 2019, que reeditou o Pacto das Catacumbas, na catacumba de Santa Domitilia,
em Roma. Trata-se de um ato, cujo um dos organizadores foi dom Hélder Câmara,
realizado às vésperas da conclusão do Concílio Vaticano II, em 1965. Dom Hélder
foi um dos redatores do documento assinado por cerca de 40 bispos
latino-americanos à época. Em 2019, durante o Sínodo para a Amazônia, recebeu o
nome “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum” e foi organizado por dom Erwin
Kräutler, e reafirmou a opção pelos pobres assumida pelos prelados da América
Latina.
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Cardeal Cláudio Hummes preside celebração do Pacto das Catacumbas Foto Guilherme Cavali |
No Vaticano
Foi membro da Congregação para a Doutrina
da Fé, da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e da
Congregação para os Bispos. E também dos Pontifícios Conselhos para a Cultura,
para os Leigos, para a Família, para o Diálogo Inter-Religioso, Cor Unum, da
Pontifícia Comissão para a América Latina e do Conselho Ordinário da Secretaria
Geral do Sínodo dos Bispos.
Conclaves
Em 2005, por ocasião do Conclave que
elegeria Bento XVI à Cátedra de Pedro, o cardeal Cláudio Hummes disse que o futuro
Papa deveria preocupar-se com três coisas: a discussão das novidades da ciência
na área da bioética e da biogenética; a ampliação do diálogo inter-religioso e
a pobreza no mundo.
Em 2007, esteve próximo do cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio quando este foi o relator do documento conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida. Para dom Cláudio, Bergoglio “foi um dos mais importantes atores” daquela conferência e “deixou muito dele mesmo, da sua experiência e da sua visão de evangelização” no Documento de Aparecida, cujas reflexões “através desse Papa é universalizado para a Igreja inteira”.
A relação de amizade com Bergoglio também deu origem a uma curiosidade em relação à escolha do nome pontifício, em 2013. Quando a contagem dos votos indicava a eleição de Bergoglio para a sucessão papal, dom Cláudio Hummes soprou aos ouvidos do cardeal argentino: “Não se esqueça dos pobres”. Com esse recado, Bergoglio, simbolicamente, mesmo sendo jesuíta, escolheu o nome Francisco, pela primeira vez na história da Igreja.
Nota de pesar pelo falecimento do Cardeal
Cláudio Hummes
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) une-se em solidariedade aos familiares, à arquidiocese de São Paulo, aos Franciscanos e aos amigos do cardeal Cláudio Hummes, falecido nesta segunda-feira, 4 de julho de 2022. E manifesta o pesar pela Páscoa deste irmão, renovando a confiança na ressurreição.
Cardeal Cláudio Hummes marcou a Igreja no
Brasil com sua atuação, de forma particular durante o ministério episcopal, que
soma quase cinco décadas. Foi bispo coadjutor e bispo titular de Santo André,
em São Paulo, e arcebispo das arquidioceses de Fortaleza, no Ceará, e de São
Paulo.
Desde o início do seu ministério episcopal,
contribuiu na missão desta Conferência Episcopal nas dimensões do Ecumenismo,
dos leigos, da família, da cultura e, mais recentemente na realidade da
Amazônia. Também atuou por vários anos à frente da Pastoral Operária.
Toda a dedicação de dom Cláudio à ação
pastoral no Brasil o fez ser chamado para o cardinalato e para colaborar na
Cúria Romana, tanto em Assembleias Sinodais, quanto nas diversas Congregações
das quais foi membro e, de forma especial, na Congregação para o Clero, da qual
foi prefeito entre 2006 e 2010.
A CNBB recorda o que foi destacado pelo
Papa Bento XVI, quando dom Cláudio renunciou a função à frente da Congregação
para o Clero, por limite de idade. O pontífice agradeceu pelo “bem realizado no
longo e fiel serviço à Igreja” e salientou que Hummes dedicou “incansavelmente,
com alegria e competência, toda tua energia pela causa do Reino de Deus”. Resta
parafrasear o hoje Papa Emérito, pois assim o fez dom Cláudio até
aqui.
Nos últimos anos, o seu empenho permitiu
novo impulso à presença da Igreja na Amazônia, ao favorecer, por meio da Rede
Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), maior articulação, escuta às dores e alegrias
dos povos e o protagonismo das comunidades. Esse caminho foi coroado com o
Sínodo para Amazônia e a publicação da exortação apostólica Querida Amazônia. A
criação da Conferência Eclesial da Amazônia, da qual dom Cláudio esteve à
frente até quando sua saúde permitiu, também revela o esforço para realizar os
sonhos apontados pelo Papa Francisco para a região amazônica.
Roguemos a Deus que acolha o eminentíssimo
cardeal Cláudio Hummes em seu Reino e lhe dê o descanso eterno. Possamos imitar
seu testemunho de comprometimento com a causa do Reino, com a comunhão eclesial
e com o cuidado com os pobres e com a casa comum.
Em Cristo,
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