Perigo do acúmulo
A vida humana se relaciona com os bens materiais, porque eles são essenciais para preservação da vida. Mas podem também ser causadores de problemas, quando tratados de forma desequilibrada. Dizemos do perigo do acúmulo desnecessário e sem função social, o ter só por ter e sem perspectivas ou objetividade clara para o futuro. A pessoa acaba perdendo o sentido de sua própria existência.
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Dom Paulo Peixoto |
Bens materiais desnecessários, no
desequilíbrio do acúmulo, fazem a pessoa até perder a dimensão das “coisas do
alto” e sua vida não ultrapassar o que foi acumulado. É justamente aquilo que
diz a Palavra de Deus: “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu
coração” (Mt 6,21). Na prática, quem acumula, sem a dimensão do bem comum,
acaba sendo escravo de seus bens terrenos.
Na verdade, o acúmulo de bens materiais é
uma insensatez, porque não garante uma vida humana longa e verdadeiramente
feliz. Isto se agrava ainda mais quando esse acúmulo aconteceu de forma
fraudulenta, com exploração e injustiça, afetando a consciência e a essência da
pessoa, porque falta nela uma sabedoria mais elevada. Acúmulo que pode causar
situações graves de autoestima e estresse.
Os bens materiais podem causar vaidade,
falsa sensação de segurança e de estabilidade. Não são eles que trazem
realização humana e felicidade. Por isto não podemos simplesmente usar de todos
os nossos esforços para trabalhar apenas para ajuntar tesouros e depois não
poder usufruir. É construir fortunas e deixá-las para outros usar sem nunca ter
trabalhado para adquiri-los.
É fundamental ter um olhar que vai além dos
limites da vida terrena e poder visualizar uma dimensão mais sábia e duradoura
da existência. Temos plena consciência de que tudo é passageiro. Essa realidade
só não acontece com a sabedoria divina, com aquilo que construímos de bem comum
para valorizar a natureza divinamente constituída e projetada para a solidez do
futuro.
A eternidade feliz supõe renúncia dos
mecanismos do mal, como atitudes egoístas, de ambição, orgulho, injustiça,
violência e as investidas contra a vida. O caminho é desenvolver uma convicção
pessoal de desapego aos bens materiais, da avareza causadora de muitas
situações de desavenças sociais familiares. O ser humano é mortal, e no coração
do homem rico pode não ter espaço para Deus.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba (MG)
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