quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Se fosse vivo, Padre Alderigi Torriani

estaria completando 124 anos de idade

Se hoje estivesse vivo, o Servo de Deus Alderigi Maria Torriani estaria completando 124 anos de vida. E por isso, a arquidiocese de Pouso Alegre querer render graças a Deus pela vida deste homem de Deus que passou por este mundo fazendo o bem e anunciando Jesus Cristo, principalmente para os pobres e esquecidos.
Para contar um pouco da história de santo homem, vamos usar como base histórica os relatos do Frei Felipe Gabriel Alves – OFM, amigo e admirador do Monsenhor Alderigi. Ele colheu milhares de relatos junto à familiares, amigos e pessoas que conviveram com o Servo de Deus.
Seus pais
Alderigi Maria Torriani nasceu no dia 13 de novembro de 1895 em Jacutinga (MG). Foi o primeiro, de dez filhos, de Vicenzo Ercolano Turriani e Beneditta Argià Angelini. (É preciso anotar que em italiano, não existe o nome Alzira, como ela era chamada no Brasil, mas somente Argià). Ambos vieram para a América do Sul, ainda crianças. Seu pai, por exemplo, chegou no Brasil no ano de 1883, aos 16 anos. Sua mãe veio com a família para a Argentina.
Vicente Torriani e seus filhos: 
Padre Alderigi, Eliza, Beata e Marina Torriani (sentada)
Na Itália, já tinha conhecido Alzira e tinha se apaixonado por ela. Mas por ser muito criança, a família de Alzira se opôs ao namoro e casamento.
Já no Brasil, Vicente dedicou-se ao comércio e estabeleceu-se em Queluz e em Ouro Preto (MG), de onde veio para Jacutinga, no Sul do Estado, onde estabeleceu-se definitivamente.
“Vicente com sua casa de comércio, era vizinho e amigo de um barbeiro e, na barbearia, reuniam-se amigos para um papo. Em brincadeira, alguém lhe pergunta por que não se casava, ao que Vicente respondeu: ‘não me caso, porque a jovem dos meus sonhos está bem longe de mim’. O amigo respondeu: ‘quando a gente ama de verdade, vai em busca deste amor a qualquer preço’. As palavras do amigo gravaram-se no espírito de Vicente, que desde então, na pensava em outra coisa: lutar por Alzira. Vicente consegue o endereço de Alzira e lhe escreve, pedindo que ela venha ao encontro dele. Mas ela responde: ‘Desde que o mundo é mundo, Vicente, ainda não vi moça ir atrás do moço para se casar. Se você realmente me ama, venha me buscar’”, escreveu em 1985 a amiga do padre Alderigi, Edmea Maria Silva Maia.
O próprio padre Alderigi comentou com seu amigo, André Avelino da Silva, que sua mãe residia na Argentina e estava se preparando para entrar no convento e tornar-se religiosa, quando um dia recebeu a visita de seu antigo namorado dos tempos em que vivia em Pieve Fosciana, Vicente Torriani, que mudou-se para o Brasil. O namoro foi reatado e os dois passaram a viver no Brasil.
Alzira sempre serena, calma e prudente. Vicente, aflito, nervoso, impaciente. A diferença não impediu que o casamento fosse frutuoso e intenso. Alderigi nasceu em 1895. Pouco tempo depois nasceu Gílpede, segunda filha do casal. Vieram mais oito filhos, mas todos morreram ainda pequenos. No décimo filho, Alzira morreu no parto, junto com a criança, aos 39 anos de idade.
O senhor Vicente chegou a casar uma segunda vez, com a senhora Lavínia, que era babá de Alderigi e Gílpede. Desse casamento nascem seis filhos: Elisa, Pedro, Beata, José, Marina e Asdrúbal.
O pequeno Alderigi
O nome Alderigi surge na literatura. Quem conta isso é seu próprio sobrinho, José Asdrúbal Amaral. Segundo ele, o senhor Vicente Torriani, na sua juventude, leu a obra de Torquato Tasso, chamada “Gerualemme Liberata”. No livro, os principais personagens chamam-se ‘Alderigi’ e ‘Gílpede’.
“Por paixão literária, o senhor Vicente Torriani deu o nome dos personagens de Tasso a seus dois primeiros filhos. Alderigi Torriani, ao qual foi acrescido ‘Maria’, ainda no seminário, por devoção à Virgem Santíssima, patrona de seu sacerdócio”, explicou o sobrinho.
O pequeno Alderigi tinha suas artes, como qualquer menino. Mas isto não o impedia de brincar sempre com seus brinquedos favoritos: fazer presépio, altares e celebrar missas.
“Um belo dia, Alderigi mexe na máquina de costura e perfura o dedo indicador, o que lhe resultou um panarício que deformou seu dedo para o resto da vida. Alderigi, desde pequeno, falava que seria padre e seu pai
quase o matava por isso. Seria padre e teria de entrar no seminário e, naquela época, falava-se que para ser padre não podia ter qualquer problema sério de saúde. O dedo de Alderigi piorara e seu pai resolve, então, manda-lo para a Itália, onde sua avó paterna lhe daria os cuidados necessários, indo em busca de maiores recursos que a medicina poderia proporcionar”, escreve Edmea Maria Silva Maia em 1985.
Na Itália ele ficou por cinco anos. Lá acabou curando seu dedo e fazendo o curso primário. Por isso a facilidade em falar o italiano e também seu sotaque italiano tão característico. Ele volta ao Brasil e consegue conviver com sua mãe por três anos, antes dela morrer.
A segunda esposa de seu pai, dona Lavínia, tinha um carinho enorme pelo menino. Alderigi também é apaixonado por ela.
Alderigi cresce em Jacutinga, morando na rua Silviano Brandão (hoje rua Américo Prado). Seu pai tinha uma casa de comércio grande, que comercializava tecidos e colchões.
“Alderigi era um menino alegre. Gostava da vida, do movimento. Adorava ver o trem passar, puxando aquela fila de vagões encarrilhados. Os últimos, cheios de passageiros. E o pequeno corria para perto da linha, para ficar abanando as mãos. Este costume de acenar para os passageiros ele conservou, mesmo quando grande”, conta José Bruno Vicentini em 1987, filho de Júlio Santini, amigo pessoa do Servo de Deus.   
Era dona Lavínia que acudia o jovem junto ao pai, muitas vezes bravo. Segundo a irmã de Alderigi, Beata Antônia Torriani Amaral (Beata é seu nome, e não um reconhecimento eclesial), certo dia, após apanhar do pai, ele foi conversar com a madrasta e falou do seu desejo de ser padre.
“‘Quero ir para o seminário e por isto o papai me bateu. Mas não tem importância. Eu vou vencer, porque eu quero ser de Nosso Senhor’. A Lavínia o consolou, mas o menino saiu com esta: ‘mamãe’ - ele chamava a madrasta de mamãe – ‘arranja minha roupa, vou fugir’. Ela respondeu: ‘Não precisa fugir. Eu vou falar com seu pai’. Depois que Lavínia falou com o pai, ele veio e perguntou: ‘você quer mesmo ir para o seminário?’ O menino respondeu: ‘Quero. Quero ser de Nosso Senhor’. Logo a seguir o pai o levou para Pouso Alegre, internando-o no seminário. Era 1908”, lembra dona Beata.    
Ordenação presbiteral
Após os estudos, Alderigi é ordenado padre no dia 18 de setembro de 1920, em Pouso Alegre. Sua primeira missa foi celebrada em Jacutinga. Depois, voltou para Pouso Alegre, onde foi professor de matemática e diretor do Ginásio diocesano São José.
Lembrança da ordenação em 18/09/1920
O frei Felipe, em seu livro, traz o relato de uma senhora que participou da primeira missa do padre Alderigi e também conviveu com ele em Brazópolis, quando lá esteve substituindo o padre Herculano.
Assim relata dona Marina Caridade Oliveira, em 1998: “Como ele era santo, como ele gostava de cantar e era totalmente cativante! Quando falava, ele demonstrava uma vontade enorme de querer salvar todo mundo, se comportando mais do que um padre, vivendo mais do que um missionário, andando por todas as bibocas de sua quase paróquia, atrás de ovelha tresmalhada”.
Em 1926, padre Alderigi adoece gravemente, possivelmente tuberculose. O bispo na época, dom Octávio Chagas de Miranda, o transfere para Santa Rita de Caldas. Lá ele chega em 27 de março de 1927, aos 32 anos de idade.
“Padre Alderigi estava tão doente, que o senhor bispo assim disse: ‘dou uma paróquia para o padre Alderigi, para ele ali morrer’. Aqui chegou padre Alderigi magro e fraco, praticamente condenado à morte, uma vez que não havia naquela época, qualquer remédio para o seu mal”, relatou sua amiga Edmea Maia.
Mas não era esse o fim que Deus queria para o jovem padre. A nova terra lhe trouxe vida e saúde.
“O médico havia lhe receitado muito repouso, vida calma e tranquila. Sim, senhor. O jovem sacerdote fez muito repouso sim. Mas o fez no lombo do cavalo, de burros, atendendo a tudo e a todos, com a maior solicitude e humildade. Às vezes, na sua ida em atendimento aos paroquianos, era gozado ver o padre em animais fogosos ou, às vezes, em animais que ele quase tocava os pés no chão, devido à sua estatura”, lembra Edmea.
No livro do Tombo da paróquia de Santa Rita de Caldas, é possível encontrar o programa da Semana Santa do ano de 1927, que traz a informação: “Vigário padre Alderigi está à disposição do povo a qualquer ora. Quem, vendo os sofrimentos de Jesus, não se arrependerá dos seus pecados, que foram a causa de tantas dores?”
Mas entre os anos de 1932 e 1933, padre Alderigi é transferido para Camanducaia, onde exerce um trabalho de conciliação entre a população por causa das batalhas e divergências políticas.
“Lá fica menos de dois anos. Seu trabalho, sua fé, sua humildade, sua pessoa traz a paz à cidade. Os ânimos se acalmam. As rixas se amenizam. A cidade volta à vida rotineira e pacata das cidades do interior. Tudo isso, fruto abençoado de sua presença”, afirma João Lorena, amigo pessoal do padre Alderigi.
Essa dedicação e zelo pelo povo de Deus sempre caracterizou padre Alderigi. São inúmeros os relatos que contam os sacrifícios feitos por ele, na visita a doentes, no lombo do cavalo e sem nunca deixar de celebrar uma missa nas suas comunidades.
O lavrador José Benedito Peçanha contou em 1987:
“Como era homem bom e caridoso, mais de uma vez fui buscar o padre Alderigi para atender confissões, depois da meia-noite. Às vezes ele veio debaixo de chuva. Algumas vezes, os cavalos tropicavam e uma vez o padre chegou a cair dentro do córrego. Como era homem bom e paciente, cumpridor do dever, quase sempre seguia o caminho, rezando. Mas seus sofrimentos não eram só nas estradas péssimas: era também dentro de casa, morando com um pai de gênio muito brabo. Por isso, numa dessas ocasiões, em 1940 mais ou menos, desejando evitar maiores xingatórios, o humilde sacerdote me segredou: ‘filho, deixe os cavalos atrás da igreja, escondidos, para meu pai não perceber que estou saindo par atender o doente em confissão’”.
Aos sábados era sagrado seu sermão sobre Nossa Senhora durante a reza noturna e, depois, a bênção do Santíssimo Sacramento. No domingo, permanecia o dia todo por conta dos fiéis. Almoçava na igreja matriz mesmo, fazia orações com o povo das comunidades rurais e procissões. Também aos domingos ou qualquer dia da semana, ia atender confissões e ministrar o sacramento da Unção dos Enfermos. Não poupava sacrifícios.
O homem do confessionário
Padre Alderigi ainda jovem
Padre Alderigi podia ser facilmente ser reconhecido por esse título: “o homem do confessionário”. Fez extraordinário trabalho e exerceu grande influência, como confessor, sobre o povo e também sobre o clero diocesano.
O redentorista padre Geraldo Camilo de Carvalho escreveu em 1987.
“Era o homem do confessionário. Nisto, sem dúvida, imitava Cristo conforme está em São Lucas, capítulo 15, em suas parábolas da misericórdia: comia com os pecadores. Aos domingos, dona Zélia tinha que levar a famosa tigela de comida para ele se servir na sacristia, a fim de que nenhum penitente deixasse de ser atendido. Em geral, ficava rezando o terço no confessionário, a espera que alguém viesse procura-lo. Muitas vezes, vencido pelo cansaço, dormia mesmo lá dentro da ‘casinha do perdão’. Quem tivesse ajoelhado, tinha que olhar pelos buraquinhos das grades do confessionário, a descobrir quando de novo estaria pronto para atende-lo”.
O calvário do padre Alderigi
Os últimos anos de vida foram de muito sofrimento, mas nem por isso faltou com dedicação aos seus afazeres como padre. Ele andava sempre apoiado numa bengala e celebrava suas missas sentado. Suas crises de erisipela faziam sua perna inchada e arder-se em febre. A pele trincava e ele sentia muita dor, oferecendo-as para a salvação dos pecadores. O peso do corpo aumenta seus sofrimentos.
“Um dia, em 1975, em que ele foi a Pouso Alegre para uma reunião do clero, dona Zélia viu-o chegar antes do tempo, trazido por um seminarista. Fora o senhor arcebispo, dom José D’Ângelo Neto, quem o mandou de volta, pois o velho sacerdote estava com febre. Eu busquei uma bacia de água e o ajudei a tirar a meia. Vi uma pequena ferida no tornozelo. Pequena, mas profunda. Foi levado a Poços de Caldas. Dr. Benedictus Mourão, especialista em pelo, me ensinou a tratar a ferida”, contou sua ex-sacristã e governanta, em 1987, dona Zélia Martins.
Seu caso era grave, sofrendo de insuficiência cardiáca congestiva, ascite epatomegalia (aumento do fígado), edema generalizado, hidrocele bilateral, perafimose aguda, com dores fortíssimas.
Ele foi internado várias vezes no hospital de Poços de Caldas. Depois que a doença se agravou, ele demonstrou estar submetido, realmente, à vontade de Deus, com toda a paciência, com toda a conformidade de homem santo, suportando toda a humilhação do mal de suas vias urinárias.
Uma de suas últimas fotos antes da morte
Sua doença era tremendamente dolorida, mas ele continuava a demonstrar continuamente sua paz e tranquilidade, totalmente sereno. Em meio às maiores dores e provações, só se ouvia sua frase predileta: “Seja feita a vontade de Deus! Seja tudo por amor de Deus e para a salvação dos pecadores”. Tendo sua doença se agravado mais ainda, conservou a calma, o sorriso e a verdadeira conformidade, sem nunca expressar um pingo de impaciência. Era sempre aquela máxima calma e aquela máxima bondade. Sentia que precisava dos outros e a todos se mostrava reconhecido e agradecido. Estava sempre com o terço na mão e continuava sereno e tranquilo.
No hospital, quando lhe davam remédio, padre Alderigi sempre perguntava: “Este remédio e para tirar a dor? Se é, não quero. Vai perguntar”.
“Quando percebeu que seu caso não tinha mesmo solução, sem esperança de cura, pediu alta do hospital. O médico lhe fez a vontade. E eu fiquei chorando. Subi à Capela e orei por ele e o entreguei nas mãos do Senhor”, relatou a irmã Bernardete Locore, que cuidou do padre Alderigi em sua última doença no hospital.
No dia 3 de outubro de 1977 seu estado era gravíssimo. Junto aos médicos, o padre, aflito, desejava voltar para Santa Rita de Caldas. Os médicos consentem. O senhor João Lorena, amigo de padre Alderigi, estava com ele neste momento e relembra a alegria com o bom padre recebeu a notícia.
“Nós, que com ele estávamos, vimos nele uma transformação total, uma mudança sentida. O padre, que capengava de dor, põe-se de pé, pede que se lhe dê a batina, faz-se trocar rapidamente e lá está ele, sorridente, mas com os olhos fundos, a esperar a hora de ira para a sua casa. Quer voltar logo. Com a chegada da ambulância, a alegria do padre foi total. Deixa seu quarto, abençoando e agradecendo a todos. O povo de Santa Rita, que sabe do seu retorno, o espera na praça da Matriz”, disse.
Um último pedido do padre foi obedecido pelo senhor João, por dona Zélia (sua governanta) e pelo motorista da ambulância. Quer passar na igreja matriz. “Parem em frente à igreja”, teria pedido padre Alderigi.
Chegam em Santa Rita por volta das 16h. Rezaram o terço o tempo todo por pedido do padre Alderigi. O padre que tinha substituído, padre Braz, é quem o recebe. Abre a porta da matriz para que o eterno padre da cidade fizesse suas últimas orações.
“A ambulância para na rampa. Vamos descer o padre? Não é aconselhável. Abrimos a porta da ambulância e o padre, de mãos postas, faz sua prece ante a urna de Santa Rita, despede-se do Santíssimo Sacramento. Joga beijos e rumamos para a casa paroquial. Casa pequena, seu quarto pequeno. Portas estreitas, como passa-lo de maca? Todos querem ajudar. Vira-se daqui e dali. Está difícil. Vamos erguer a maca...muita gente, muitas mãos. A posição é incômoda, ao invés de cabeça para cima, cabeça para baixo e lá vai o padre, transpondo a porta do quarto, quase caindo ou derrubado”, continua o seu João.
Mesmo nessa dificuldade, padre Alderigi não perde a consciência: “Oi gente! Tenham cuidado, assim eu caio”, teria dito.
Chegando à casa paroquial, padre Alderigi pediu para comungar.
Dona Zélia e padre Alderigi
“Ficou cantando enquanto fui ao santuário buscar a Comunhão. Seu canto era ‘Bendito, louvado seja’, embora desafinado. Fazia questão que houvesse duas velas, flores e toalha. Para a comunhão, sempre usava sobrepeliz e estola. Hoje, não”, completou dona Zélia.
Após a comunhão, padre Alderigi quis jantar. “Zélia, quero a comida que você sabe fazer”, disse ele. Fizeram carne moída, arroz e macarrão.
“Eu tinha prometido a ele uma cerveja, para quando tivéssemos chegado em Santa Rita de Caldas e o padre lembrou-se dela. Mandei alguém buscá-la no bar. Ele bebeu um pouco e alimentou-se bem. Depois dormiu até às 22h”, lembrou a governanta, dona Zélia.
Os últimos momentos do padre Alderigi vão se contados pela sua própria Zélia, que dedicou sua vida para cuidar do Servo de Deus.
“Eu é que devia dar-lhe a comida na boca. Ele mostrava o banquinho e nele me sentava e lá ficava, servindo. Assim fiz muitas vezes, assim fiz pela última vez. Às 22h, pediu qualquer coisa para comer. Como a maçã estava dura, ele apenas provou. Ofereceram-lhe uma fatia de melão. Comeu apenas um pedacinho. Como, depois disto, o líquido da bexiga espalhou-se e molhou a batina com que estava vestido, saí do quarto para os homens trocarem-lhe a roupa. Após isto, entrou em coma. Bem que ele me disse a mim, que sempre dormia em minha casa: ‘Hoje não vai embora. Hoje é o meu dia’.
Perto das 23h, Zé Diogo me disse: ‘Credo! Que cara de defunta você tem, Zélia. Senta no sofá e durma um pouco!’ Sentei-me no sofá. Pouco depois, uns dez minutos, Zé Diogo gritou: ‘Zélia, venha depressa! Parece que ele está virando os olhos’. Acorri logo e disse: ‘Chamem o padre e o médico’! Eles saíram e me largaram sozinha. Havia um crucifixo na parede. Com este crucifixo, ele tinha, muitas vezes, dito: ‘Jesus, a dor está mais forte. Será que vou aguentar?’ Quando falava isto, ele ficava com vergonha e sorria. Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23h”.
O velório
Ainda de madrugada, quando o corpo desceu em direção à igreja, os sinos tocaram. A população desceu em “peso”. A rádio de Poços de Caldas, sem parar, ia dando a notícia do falecimento. Poços de Caldas decretou luto de três dias. Veio gente de muitas cidades: Caldas, Ipuiúna, Ibitiúra, Andradas, Poços de Caldas, Alfenas, Pouso Alegre, Jacutinga, Campo Belo e outras cidades.
“O povo chorava amargamente, beijando suas mãos”, lembra Edmea Maia.
A missa é celebrada em frente à igreja matriz, que está lotada. Todos choram. São lágrimas de dor, de sentimento, de gratidão, de amor, de veneração. Terminada a cerimônia, seu corpo é levado para o cemitério. Todos querem carrega-lo. A multidão se aglomera e o caminho até o cemitério está repleto de amigos.
“Pouco a pouco a urna se cobre. Todos lá estão, sem arredar um passo. Tudo acabado. O sol declina. Vem a noite. No céu, as primeiras estrelas. Na casa do Pai, os coros dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, Tronos e Potestades, a Virgem Maria, Santa Rita, todos os Santos da Milícia Celeste cantam hinos de louvor à Trindade, pela entrada, no Reino que não terá fim, dessa alma que deixou a todos um exemplo de religiosidade, humildade, amizade, sinceridade. Antecipou-nos, sim, e lá está ele, vivo a olhar e interceder por todos nós”, escreve João Lorena.
Fama de santidade
Em vida, Padre Alderigi já possuía uma difundida fama de santidade. Muitas são as pessoas que relatam ter recebido graças de Deus após terem pedido sua bênção e seus conselhos. No dia de sua morte, os poucos pertences que Padre Alderigi possuía foram divididos entre o povo que queria conservar uma relíquia do querido pároco.
Ainda hoje, as pessoas levam tais relíquias até aqueles que se encontram gravemente enfermos e muitíssimos são os relatos de graças alcançadas através da intercessão de Padre Alderigi. Depois de sua morte, tal fama de santidade continua a se espalhar, atingindo não só o sul de Minas, mas todo o Brasil.
Devido a esta tão grande fama de santidade, o Arcebispo de Pouso Alegre, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho - Opraem., decretou a introdução do Processo de Canonização de Padre Alderigi. Este processo se desenvolve em uma fase diocesana e, depois, na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano, na fase romana.
A partir da abertura deste processo de canonização, Padre Alderigi é chamado Servo de Deus. Este título indica que um processo está sendo realizado para que a Igreja reconheça, oficialmente, que ele viveu, de modo heróico, as virtudes cristãs e seja apresentado como modelo de santidade a todos os católicos.
Mais perto de seu povo
Neste ínterim, foi realizada a exumação dos restos mortais do Servo de Deus Padre Alderigi para o reconhecimento canônico e o translado do cemitério para o santuário de Santa Rita, em Santa Rita de Caldas - MG. Essa celebração foi realizada dos dias 01 a 04 de agosto de 2008.
Realizados a exumação e o reconhecimento canônico, os restos mortais do Servo de Deus foram transladados em procissão, com a participação de muitos fiéis, para o Santuário de Santa Rita, onde repousarão para sempre junto ao povo que Padre Alderigi tanto amou e pelo qual doou toda sua vida.
Em 22 de dezembro de 2018, foi celebrado o encerramento da fase Diocesana do processo de Beatificação e Canonização de padre Alderigi Maria Torriani no Santuário de Santa Rita de Caldas, com a participação do clero arquidiocesano e de centenas de fiéis.
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Assista:
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