domingo, 24 de novembro de 2019

32ª Viagem Apostólica de Francisco

Papa chegou em Nagasaki
O segundo dia do Papa Francisco no Japão começa em Nagasaki. Do aeroporto, imediato deslocamento para o Atomic Bomb Hypocenter Park e a oração silenciosa no Monumento dos Mártires, com a recitação do Angelus
Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano É noite no Ocidente e manhã no Japão quando o Papa chega de avião sob uma forte chuva em Nagasaki proveniente de Tóquio, sendo acolhido por autoridades civis e eclesiásticas no aeroporto e por duas jovens em trajes tradicionais, que lhe oferecem flores.
A cidade é o centro de uma secular ação evangelizadora de missionários espanhóis e portugueses, iniciada em 1500, que lhe garantiu o apelido de "Pequena Roma" pela florescente cultura cristã que ali nasceu. Tão prósperos os cristãos quanto perseguidos, especialmente  a partir do final do século XVI, quando as políticas nacionais transformam o Sol Nascente em um "país blindado".
O programa em Nagasaki
Depois da tragédia nuclear em 9 de agosto de 1945 ao final da Segunda Guerra Mundial, da qual permanece hoje, como sinal visível, o Museu da Bomba Atômica de Nagasaki - epicentro da explosão da bomba lançada pelos estadunidenses - que preserva muitas das relíquias do bombardeio.
É ali a primeira parada de Francisco em Nagasaki, dentro do Parque da Paz, onde fará sua oração silenciosa e deixará mensagem.
Depois, de carro,  desloca-se três quilômetros para outro local de sofrimento, o Nishizaka Hill, onde um monumento em tijolo vermelho recorda o martírio de São Paulo Miki e 24 companheiros, por ordem do shogun Toyotomi Hideyoshi, em 1597. Crucificação depois de uma longa agonia: uma morte-martirio atroz que São Paulo Miki perdoa no momento da morte. Francisco vai ao local nos passos de São João Paulo II, para uma oração silenciosa e a recitação do Angelus.
A transferência para Hiroshima
Após o almoço no arcebispado, o Papa presidirá a celebração eucarística, a primeira no Japão, no Estádio de Beisebol. Ao final da Missa, a transferência imediata para o aeroporto para então ir a Hiroshima, onde o dia terminará com um dos momentos mais aguardados desta segunda etapa da 32ª Viagem Apostólica, o Encontro pela Paz no Memorial da Paz de Hiroshima. Depois, o retorno a Tóquio por volta das 20h, horário local.
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Papa em Nagasaki:
Conscientes do sofrimento
e horror que somos capazes de nos infligir
“Oxalá a oração, a busca de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as ‘armas’ para construir um mundo de justiça e solidariedade". Palavras do Papa Francisco sobre as armas nucleares neste domingo (24) em Nagasaki. No final do encontro convidou todos a rezar a oração de São Francisco de Assis pela paz.
Jane Nogara – Cidade do Vaticano - Ao visitar a cidade de Nagasaki, o Papa Francisco foi ao Monumento situado no Parque Atomic Bomb Hypocenter. Na ocasião foi recebido pelas autoridades locais e depôs uma coroa de flores. Depois de um momento de oração, o Santo Padre proferiu uma mensagem sobre as armas nucleares.
O Santo Padre iniciou recordando que
“Este lugar torna-nos mais conscientes do sofrimento e do horror que nós, seres humanos, somos capazes de nos infligir”
E continuou: “A cruz bombardeada e a estátua de Nossa Senhora, recentemente descobertas na Catedral de Nagasaki, lembram-nos mais uma vez o horror indescritível que sofreram na própria carne as vítimas e suas famílias”.
Paz e estabilidade
Comentando um dos anseios mais profundos do coração humano que é a paz e a estabilidade adverte: “A posse de armas nucleares e outras armas de destruição de massa não é a melhor resposta a este desejo; antes, parecem pô-lo continuamente à prova”. E que esta paz e estabilidade internacionais são “incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total”. E como é possível? Francisco explica: “São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã”.
Mundo em paz e livre de armas nucleares
Depois de recordar os sofrimentos e a experiência passada pelo povo de Nagasaki, o Papa explica que um mundo de paz e livre armas nucleares “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais”. Confirmando que a nossa resposta deve ser coletiva e concertada.
Em seguida adverte os perigos atuais: “É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controle dos armamentos”. Esclarecendo sobre o perigo da “erosão do multilateralismo” agravada pelo “desenvolvimento das novas tecnologias das armas” criando uma situação que requer uma atenção urgente por parte dos líderes.
Francisco recordou também que os bispos japoneses “lançaram um apelo à abolição das armas nucleares e anualmente, em agosto, a Igreja japonesa realiza dez dias de oração pela paz”.
“Oxalá a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as ‘armas’ em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz”
Desenvolvimento Humano Integral
Neste ponto ligou o tema da corrida aos armamentos nucleares com o meio ambiente esclarecendo aos líderes políticos: “É preciso ter em consideração o impacto catastrófico do seu uso, sob o ponto de vista humanitário e ambiental, renunciando ao aumento de um clima de medo, desconfiança e hostilidade, promovido pelas doutrinas nucleares”. Também é preciso pensar na implementação , complexa e difícil, “da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e, deste modo, alcançar objetivos como o desenvolvimento humano integral”.
“Ninguém pode ficar indiferente perante o sofrimento de milhões de homens e mulheres que ainda hoje continuam bater à porta das nossas consciências; ninguém pode ficar surdo ao grito do irmão ferido que chama; ninguém pode ficar cego diante das ruínas duma cultura incapaz de dialogar”
São Francisco de Assis
Concluiu seu pronunciamento pedindo a todos, mesmo os não católicos, para fazerem a oração pela paz de São Francisco de Assis:

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.

Onde há ódio, que eu leve o amor;
Onde há ofensa, que eu leve o perdão;
Onde há dúvida, que eu leve a fé;
Onde há desespero, que eu leve a esperança;
Onde há trevas, que eu leve a luz;
Onde há tristeza, que eu leve a alegria.
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Assista:
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Francisco reza diante do Monumento dos mártires japoneses
"É verdade que, aqui, há a obscuridade da morte e do martírio, mas anuncia-se também a luz da ressurreição, pois o sangue dos mártires torna-se semente da vida nova que Cristo nos quer dar a todos. O seu testemunho confirma-nos na fé e ajuda-nos a renovar a nossa dedicação e compromisso de viver o discipulado missionário que sabe trabalhar por uma cultura capaz de proteger e defender sempre toda a vida, através do «martírio» do serviço diário e silencioso prestado a todos, especialmente aos mais necessitados."
Silvonei José – Cidade do VaticanoO Papa Francisco no final da manhã deste domingo visitou o Monumento dos mártires. O Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires  é um museu de arte religiosa, situado na colina Nishizaka, na cidade de Nagasaki. O museu foi projetado pelo arquiteto japonês Kenji Imai, que se inspirou nas obras arquitetónicas de Antoni Gaudi como a Igreja da Sagrada Família. Foi inaugurado em 10 de junho de 1962 para comemorar o centenário da canonização dos vinte e seis mártites do Japão, um grupo de cristãos que foram crucificados neste local em 5 de fevereiro de 1597 durante a perseguição ao cristianismo.
Francisco foi acolhido pelo diretor do Museu, por um sacerdote e por um irmão da comunidade dos Jesuítas. O Papa acendeu uma vela que lhe foi entregue por um descendente dos cristãos perseguidos. Depois de uma momento de oração diante do Monumento o Papa tomou a palavra.
Inicialmente Francisco disse que estava ansioso pela chegada deste momento. “Venho como peregrino para rezar, - disse - confirmar e também ser confirmado na fé por estes irmãos, que nos mostram o caminho com o seu testemunho e dedicação.
O Pontífice continuou afirmando que este santuário evoca as imagens e nomes dos cristãos que foram martirizados há muitos anos, a começar de Paulo Miki e seus companheiros em 5 de fevereiro de 1597, e a multidão doutros mártires que consagraram este campo com o seu sofrimento e a sua morte.
Mais que de morte, porém, este santuário fala-nos do triunfo da vida. São João Paulo II viu este lugar não só como o monte dos mártires, mas também como um verdadeiro Monte das Bem-aventuranças, onde podemos captar o testemunho de homens repletos de Espírito Santo, libertos do egoísmo, das comodidades e do orgulho (cf. Gaudete et exsultate, 65). Pois aqui a luz do Evangelho brilhou no amor que triunfou sobre a perseguição e a espada.
Francisco afirmou:
“Este lugar é, antes de mais nada, um monumento que anuncia a Páscoa, porque proclama que a última palavra – não obstante todas as provas em contrário – não pertence à morte, mas à vida. Não somos chamados à morte, mas a uma Vida em plenitude: assim o anunciaram eles.”
É verdade que, aqui,  - continuou o Santo Padre- há a obscuridade da morte e do martírio, mas anuncia-se também a luz da ressurreição, pois o sangue dos mártires torna-se semente da vida nova que Cristo nos quer dar a todos. O seu testemunho confirma-nos na fé e ajuda-nos a renovar a nossa dedicação e compromisso de viver o discipulado missionário que sabe trabalhar por uma cultura capaz de proteger e defender sempre toda a vida, através do «martírio» do serviço diário e silencioso prestado a todos, especialmente aos mais necessitados.
O Santo Padre sublinhou eu foi àquele monumento dedicado aos mártires para se “encontrar com estes homens e mulheres santos, e quero fazê-lo com a pequenez daquele jovem jesuíta que vinha dos «confins da terra» e encontrou uma fonte profunda de inspiração e renovação na história dos primeiros missionários e mártires japoneses. Não esqueçamos o amor do seu sacrifício!
“Que a Igreja no Japão de hoje, - evocou o Papa - com todas as suas dificuldades e promessas, se sinta chamada a escutar cada dia a mensagem proclamada por São Paulo Miki, do alto da sua cruz, e a partilhar com todos os homens e mulheres a alegria e a beleza do Evangelho que é Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). Possamos cada dia libertar-nos de todo o peso que nos sobrecarrega e impede de caminhar com humildade, liberdade, ousadia e amor.”
O Papa concluiu afirmando: “Irmãos, neste lugar, unimo-nos também aos cristãos que hoje, em tantas partes do mundo, sofrem e vivem o martírio por causa da fé. Mártires do século XXI, que nos interpelam com o seu testemunho a seguir corajosamente o caminho das Bem-aventuranças. Rezemos por eles e com eles, e ergamos a voz para que a liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta; e ergamos a voz também contra toda a manipulação das religiões «pelas políticas de integralismo e divisão, pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens» (Documento sobre a fraternidade humana, Abu Dhabi, 4/II/2019).

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Assista:
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Papa convida a caminhar nas pegadas dos mártires japoneses
O último compromisso do Papa Francisco em Nagasaki neste domingo (24), foi a celebração da Santa Missa no Estádio de Baseball da cidade. Na sua homilia o Papa recordou São Paulo Miki e Companheiros, que, com coragem, deram testemunho da salvação, com a própria vida, bem como a herança espiritual de milhares de mártires do Japão.
Manuel Tavares - Cidade do Vaticano - “No Calvário, muitas vozes se calaram e tantas outras zombaram do Crucificado; só a voz do Bom ladrão se ergueu em defesa do Inocente sofredor, como verdadeira e corajosa profissão de fé”.
O Santo Padre presidiu, neste domingo (24/11), no Estádio de Beisebol de Nagasaki, à celebração Eucarística na Solenidade de Cristo Rei do Universo.
Em sua homilia, o Papa partiu do versículo evangélico de Lucas: “Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino”. Neste último domingo do Ano Litúrgico, Francisco nos exorta a unir as nossas vozes à do Bom ladrão, que foi crucificado com Jesus, que o reconheceu e o proclamou Rei.
Naquele momento triste, entre zombarias e humilhação, o malfeitor, conhecido como Bom ladrão, teve a força, apesar do seu sofrimento na cruz, de levantar sua voz e fazer a sua profissão de fé em Jesus, que lhe respondeu: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”.
Calvário
O passado tortuoso do malfeitor ganhou um novo significado, por acompanhar de perto o suplício do Senhor, que oferecia a sua vida pela salvação dos homens. E o Papa explicou:
“Calvário, lugar de desatino e injustiça, onde impotência e incompreensão são acompanhadas pela murmuração cínica dos zombadores, diante da morte de um inocente. Tudo isso se torna sublime, graças à atitude do Bom ladrão, com palavras de esperança para toda a humanidade”
As zombarias tocam o coração tornando-se compaixão. Por isso, Francisco convidou os fiéis presentes a renovar a nossa fé em Jesus Cristo, como fez o Bom ladrão. Muitas vezes, disse o Papa,  nos esquecemos dos sofrimentos de tantos inocentes, dizendo “salva-te a ti mesmo”. E Francisco refletiu:
“Estas terras experimentaram, como poucas, a capacidade destruidora que o ser humano pode chegar. Por isso, como o Bom ladrão, vivamos este instante para elevar a nossas vozes e fazer a nossa profissão de fé em defesa e ao serviço do Senhor, o Inocente sofredor; acompanhemos seu suplício, solidão e abandono, sabendo que o Pai deseja a salvação de todos: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.”
Mártires japoneses
Aqui, o Pontífice recordou o exemplo de São Paulo Miki e Companheiros, que, com coragem, deram testemunho da salvação, com a própria vida, bem como a herança espiritual de milhares de mártires do Japão:
“Seguindo suas sendas, queremos caminhar nas suas pegadas professando, com coragem, que o amor doado, sacrificado e celebrado por Cristo na Cruz, é capaz de vencer todo o tipo de ódio, egoísmo, ultraje; é capaz de vencer todo o pessimismo indolente ou bem-estar narcotizante, que acaba paralisando todas as boas ações e escolhas”
Professamos a nossa fé no Deus dos vivos, afirmou o Papa. Cristo está vivo, age no meio de nós e nos guia rumo à plenitude da vida. Eis a nossa esperança! Nossa missão de discípulos missionários é ser testemunhas e arautos do futuro. Por isso, não devemos nos resignar diante do mal, mas sermos fermento do seu Reino: na família, no trabalho, na sociedade. E Francisco acrescentou:
A nossa meta comum
 “O Reino dos Céus é a nossa meta comum: uma meta que não pode ser atingida só amanhã, mas também, apesar da indiferença que circunda e cala tantos dos nossos enfermos, pessoas com deficiência, idosos e excluídos, refugiados e trabalhadores estrangeiros. Todos são sacramento vivo de Cristo, nosso Rei”.
O Santo Padre concluiu sua homilia recordando que, no Calvário, muitas vozes se calaram e tantas outras zombaram,  mas só a voz do Bom ladrão se ergueu em defesa do Inocente sofredor: uma verdadeira e corajosa profissão de fé. Cabe a cada um de nós a decisão de calar, zombar ou profetizar. Por fim, o Papa fez uma exortação:
“Nagasaki traz na sua alma uma ferida difícil de sarar, sinal do sofrimento inexplicável de tantos inocentes, vítimas das guerras do passado, que, ainda hoje, sofrem com esta “Terceira guerra mundial em pedaços”. Elevemos nossas vozes, em uma oração comum, por todos os sofrem na sua carne por este pecado. Façamos como o Bom ladrão que profetizou um reino de verdade e vida, de santidade e graça, de justiça, amor e paz”
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Papa já está em Hiroshima para Encontro pela Paz
Na chegada ao aeroporto, a acolhida pelo bispo local e crianças que ofereceram flores ao Pontífice.
Andressa Collet - Cidade do Vaticano - O Papa Francisco já está em Hiroshima para cumprir agenda neste domingo (24) com um dos momentos mais aguardados desta segunda etapa da 32ª Viagem Apostólica: o Encontro pela Paz no Memorial da Paz. O Pontífice chegou no aeroporto da cidade depois do voo desde Nagasaki, onde presidiu a Santa Missa no Estádio de Baseball. Em seguida, a transferência imediata para o aeroporto para seguir a Hiroshima num voo que durou uma hora.
Para receber o Papa, o bispo local, Dom Alexis Mitsuru Shirahama, além de quatro autoridades civis e eclesiásticas, duas crianças que ofereceram flores ao Pontífice, mas sem protocolo oficial. Do aeroporto, Francisco segue para o Memorial da Paz de Hiroshima, num trajeto de 53km até o parque, lugar onde explodiu a bomba atômica em 6 de agosto de 1945. O local de mais de 120 mil metros quadrados com espaços verdes, diversos monumentos  e estruturas comemorativas, foi projetado pelo arquiteto japonês, Kenzo Tange.
À espera do Pontífice para o Encontro pela Paz, cerca de 1300 pessoas, entre elas, 20 líderes religiosos e 20 vítimas que darão inclusive o seu testemunho num encontro de recolhimento, oração e paz. Depois, o retorno a Tóquio por volta das 20h, horário local.
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O Papa em Hiroshima:
Imoral o uso e a posse de armas nucleares
“Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!” São as palavras conclusivas do Papa Francisco no Encontro pela Paz, realizado em Hiroshima, no Memorial da Paz, neste domingo (24)
Jane Nogara - Cidade do Vaticano Depois de Nagasaki, o Papa Francisco foi até Hiroshima, a outra cidade japonesa devastada pela bomba atômica em 1945 para o Encontro pela Paz. O Encontro realizou-se no Memorial da Paz, e foi o último compromisso deste domingo 24 de novembro.
Em seu discurso, depois de recordar do trágico instante em que tudo “foi devorado por um buraco negro de destruição e morte”, o Papa disse:
“Aqui, faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que continuaram a consumir a sua energia vital”
Em seguida explica a sua presença:
“Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz”.
Francisco declarou que “humildemente, [quereria] ser a voz daqueles cuja voz não é escutada” pois crescem as tensões e as injustiças que ameaçam a convivência e o cuidado da casa comum para garantir um futuro de paz.
Energia atômica para fins de guerra é imoral
“Desejo reiterar – afirma - com convicção, que o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum”. E afirma também: “O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, assim como é imoral a posse de armas nucleares, como eu já disse há dois anos. Seremos julgados por isso”.
Predecessores
Depois recorda algumas palavras de seus predecessores sobre este tema, como o Papa São João XXIII que exortou “Estou convencido de que a paz não passa de um ‘som de palavras’, se não se fundar na verdade, se não se construir segundo a justiça, se não se animar e consumar no amor, e se não se realizar na liberdade”. Assim como São Paulo VI: “Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”.
O Santo Padre pondera: “Quando nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo, esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos”.
Caminho de paz
Então Francisco observa aos presentes que:
“Recordar, caminhar juntos e proteger: são três imperativos morais que adquirem, precisamente aqui em Hiroshima, um significado ainda mais forte e universal e são capazes de abrir um verdadeiro caminho de paz”
Memória
Mas para isso, “não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”. Temos que manter a memória viva, que ajude a dizer de geração em geração: nunca mais!”
Por fim o Papa exorta a todos “Por isso mesmo, somos chamados a caminhar unidos, com um olhar de compreensão e perdão” e acrescenta: “Abramo-nos à esperança, tornando-nos instrumentos de reconciliação e de paz. Isto será possível sempre, se formos capazes de nos proteger e reconhecer como irmãos em um destino comum”.
E acrescenta: “Que sejam suplantados os interesses exclusivos de certos grupos, a fim de se atingir a grandeza daqueles que lutam corresponsavelmente para garantir um futuro comum”.
Conclui seu discurso evocando: "Em uma única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeios, das experimentações atômicas e de todos os conflitos, elevemos juntos um grito:
“Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!”
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O dia do Papa em Nagasaki e Hiroshima em 1 minuto
Em 60 segundos você revive os mais importantes momentos vividos pelo Papa Francisco nas cidades de Nagasaki e Hiroshima neste domingo (24).
Durante o segundo dia de Viagem Apostólica no Japão, neste domingo (24), o Papa Francisco deixou Tóquio, onde já retornou à noite, para visitar Nagasaki e Hiroshima, cidades que são um símbolo pelos efeitos devastantes da bomba atômica e onde lançou um forte apelo pelo desarmamento nuclear.
As imagens das visitas nessas cidades japonesas, você confere no vídeo de 1 minuto proposto pelo Vatican News: a homenagem aos Santos Mártires e a celebração da Santa Missa em Nagasaki, até os momentos tocantes vividos no Memorial da Paz em Hiroshima.

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Assista:
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Editorial:
O silêncio de Hiroshima e o brado do Papa
Francisco definiu o dinheiro que se gasta para construir os armamentos atômicos um "atentado que brada ao céu"
Estátua de madeira da Virgem Maria encontrada após a deflagração da bomba atômica 
Andrea Tornielli - HiroshimaFoi um grito que rompeu o grande silêncio em memória das vítimas de Hiroshima e Nagasaki. A firme condenação não somente do uso, mas também da posse dos armamentos atômicos que Francisco pronunciou dos dois lugares símbolo do holocausto nuclear da Segunda guerra mundial marca um passo ulterior no magistério social da Igreja.
Em Nagasaki, no Atomic bomb Hypocenter Park, o Papa afirmou que paz e estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de construir baseado no medo da destruição recíproca ou numa ameaça de aniquilamento total. Definiu “um atentado contínuo que brada ao céu” o dinheiro que se gasta e as fortunas que se ganham para fabricar, modernizar, manter e vender as armas, sempre mais destrutivas, no mundo de hoje “onde milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas”. E denunciou a erosão da abordagem multilateral, fenômeno ainda mais grave diante do desenvolvimento das novas tecnologias das armas que está nos fazendo desenrolar rumo à Terceira guerra mundial, embora por enquanto combatida “em pedaços”, como muitas vezes recorda propriamente Francisco.
Em Hiroshima, última etapa desta longa jornada japonesa, o Papa quis reiterar que “o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime, não somente contra o homem e a sua dignidade, mas contra toda possibilidade de futuro em nossa casa comum. O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral. Seremos julgados por isso”. Mas também acrescentou, na esteira de um discurso pronunciado em novembro de 2017 no Vaticano, que é imoral não somente o uso das armas atômicas. O é também sua posse e seu acúmulo, que tornam o mundo diariamente em risco de autodestruir-se.
A verdadeira paz, concluiu Francisco, pode ser somente uma paz desarmada, fruto da justiça, do desenvolvimento, da solidariedade, da atenção pela nossa casa comum e pela promoção do bem comum. Aprendendo dos ensinamentos da história que o abismo de dor vivido em Hiroshima e Nagasaki continuam nos testemunhando. Aquele abismo de dor bem testemunhado no rosto da Nossa Senhora de madeira encontrada nas ruínas de Nagasaki, que com a sua proximidade e sua advertência acompanhou a celebração da missa de Francisco.
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