segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Papa no Japão

Francisco pede mais compaixão pela dor dos sobreviventes do terremoto, tsunami e acidente nuclear de 2011
Cerca de 800 pessoas aceitaram o convite e participaram do encontro com Francisco na manhã desta segunda-feira (25), em Tóquio. Os três desastres, que fizeram mais de 18 mil vítimas fatais em março de 2011, ainda trazem consequências na vida da sociedade, e o Papa exorta compaixão com os sobreviventes através do combate à cultura da indiferença.
Andressa Collet - Cidade do Vaticano - O Papa Francisco começou a semana e a sua segunda-feira (25) no Japão encontrando as vítimas de um dos anos inesquecíveis para a história de vida de milhares de japoneses: era março de 2011 quando um terremoto de magnitude 9 ainda provocou um tsunami e causou um acidente nuclear em Fukushima – esse último, comprovado por especialistas como um desastre provocado pelo homem, e não apenas uma consequência da força da natureza no nordeste do país. Ao testemunhar esses três desastres ao Pontífice, Toshiko, Tokuun e Matsuki, no Centro de Convênios Bellesalle Hanzomon, um dos mais importantes de Tóquio, que recebeu cerca de 800 pessoas.
Um momento de silêncio pelas 18 mil vítimas fatais
O Pontífice iniciou o discurso falando da importância de encontrar e de ouvir os sobreviventes dos desastres, que tanto sofreram, mas que, com a sua presença, demonstram “esperança aberta para um futuro melhor”. E daí, a convite de uma das vítimas, Matsuki, o Papa motivou para um momento de silêncio e oração “pelas mais de 18 mil pessoas que perderam a vida, pelas suas famílias e pelos que ainda estão desaparecidos”.
Em seguida veio o agradecimento às forças locais que trabalharam na reconstrução das áreas afetadas e auxiliaram as mais de 50 mil pessoas evacuadas por causa das catástrofes e que, ainda hoje, moram “em alojamentos provisórios, sem poder ainda regressar às suas casas”. O Pontífice também estendeu gratidão ao mundo todo que se mobilizou, com “a oração e a assistência material e financeira”, para socorrer as populações atingidas.
O apelo pelo suporte aos sobreviventes
O apelo pelo suporte continua mesmo depois de 8 anos dos três desastres, afirmou o Papa, ao lembrar que muitos afetados agora estão esquecidos, precisando enfrentar “terras e florestas contaminadas e os efeitos a longo prazo das radiações”. Pela solidariedade e apoio de toda a comunidade, Francisco exortou:
“Ninguém se ‘reconstrói’ sozinho, ninguém pode começar de novo sozinho. É essencial encontrar uma mão amiga, uma mão irmã, capaz de ajudar a erguer não só a cidade, mas também o olhar e a esperança.”
O combate à cultura da indiferença
Ao responder um questionamento do sobrevivente Tokuun, sobre o problema das guerras, dos refugiados, da alimentação, das desigualdades econômicas e dos desafios ambientais, Francisco disse que é preciso tomar decisões corajosas sobre o uso dos recursos naturais, em particular, sobre as fontes de energia, mas sobretudo trabalhar para combater um dos males que mais nos afeta: a indiferença.
“Urge mobilizar-se para ajudar a tomar consciência que, se um membro da nossa família sofre, todos sofremos com ele; porque não se alcança uma interconexão se não se cultiva a sabedoria da mútua pertença – pertencemo-nos uns aos outros –, a única capaz de assumir os problemas e as soluções de maneira global.
Aqui o Papa Francisco fez referência ao acidente nuclear em Fukushima que continua trazendo consequências, em especial, no tecido da sociedade para restabelecer os laços das comunidades locais:
“Daqui brota a preocupação com o prolongamento do uso da energia nuclear, como justamente apontaram os meus irmãos bispos do Japão, que pediram a abolição das centrais nucleares. O nosso tempo sente-se tentado a fazer do progresso tecnológico a medida do progresso humano.”
Esse “paradigma tecnocrático” de progresso e desenvolvimento, acrescentou o Papa, afeta a vida das pessoas e o funcionamento da sociedade. O momento é de reflexão crítica e de grande responsabilidade com as futuras gerações sobre quem queremos ser, exortou Francisco: “que espécie de mundo, que tipo de legado queremos deixar a quem vier depois de nós?” Nesse caminho, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”.
“Queridos irmãos, no trabalho contínuo de recuperação e reconstrução depois dos três desastres, muitas mãos se devem juntar e muitos corações se devem unir como se fossem um só. Dessa forma, as pessoas que sofreram receberão apoio e saberão que não foram esquecidas. Saberão que muitas pessoas compartilham, ativa e eficazmente, o seu sofrimento, e continuarão a estender uma mão fraterna para ajudar. Mais uma vez, louvemos e demos graças por todos aqueles que procuraram, com simplicidade, aliviar o peso das vítimas. Que essa compaixão seja o caminho que permita a todos encontrar esperança, estabilidade e segurança para o futuro.”
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Assista:
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Francisco com o Imperador do Japão Naruhito
Após o encontro com as vítimas do triplo desastre no Centro de Convenções Bellesalle Hanzomon, o Papa foi ao Palácio Imperial em Tóquio para um colóquio com o imperador do Japão Naruhito.
Marco Guerra - Cidade do Vaticano - O Papa foi recebido pelo imperador Naruhito na entrada do Palácio Imperial e juntos seguiram até a Audience Hall, onde foi tirada a foto oficial do encontro, realizado de forma privada. A conversa entre Francisco e Naruhito durou meia hora, das 11h às 11h31, horário local. O Pontífice presenteou o imperador com um quadro em mosaico "Vista do Arco de Tiro", tirada de uma aquarela do pintor romano Filippo Anivitti (1876-1955).
O Palácio Imperial do Japão
O Palácio Imperial de Tóquio está localizado nas proximidades da Estação Central, na mesma área onde antigamente ficava o Castelo de Edo, ou seja, a sede do Shogun da família Tokugawa, que governou o Japão de 1603 a 1867. Daquele castelo é possível ver hosje o que restou da Torre de Fushimi.
Em 1869, o imperador Meiji transferiu sua sede de Kyoto para Tóquio e, desde então, o Palácio se tornou a residência oficial imperial. Destruído durante a Segunda Guerra Mundial e reconstruído pouco depois no mesmo estilo sóbrio, o prédio é enriquecido pelos grandes parques que o cercam e nos quais foram plantadas mais de 300 cerejeiras, conhecidas em todo o mundo por sua floração em tons rosa durante a primavera.
Em particular, a leste estão situados os Jardins Higashi Gyoen, que em seu interior abrigam a Tokagakudo, a grande sala de concertos octogonal recoberta de cerâmica, construída em 1966 para o 60º aniversário da imperatriz Kojom, falecida em 2000.
Também imponente nas cercanias o Parque Gaien, onde foi erguida a grande estátua de bronze do samurai Kusunoki Masashige, que viveu no século XIV.
Imperador Naruhito
O Imperador do Japão, sua Majestade Imperial Naruhito, filho mais velho do ex-imperador Akihito e da ex-imperatriz Michiko, nasceu no Palácio Togu, em Tóquio, em 1960. Ele se formou no Departamento de História da Universidade Gakushuin em 1982 e um ano mais tarde, ingressou no Metron College na Universidade Oxfod, onde estudou por mais três anos.
Após a morte de seu avô, o imperador Hirohito, em janeiro de 1989, tornou-se herdeiro do trono, sendooficialmente coroado príncipe durante uma cerimônia realizada em fevereiro de 1991.
Naruhito e a nova era do Japão
Em 1° de maio de 2019 Naruhito sobe ao trono do Crisântemo, após a abdicação de seu pai, o ex-imperador Akihito, após mais de 30 anos de reinado. Desta forma, o Japão acabou de viver uma passagem definida como histórica por todos os observadores internacionais.
A abdicação de Akihito é de fato a primeira nos últimos 200 anos da história da casa real japonesa, a mais antiga monarquia hereditária do mundo. Segundo a Constituição japonesa, o imperador é o "símbolo do Estado e da unidade de seu povo".
Akihito, de 85 anos, deixou o trono para seu filho mais velho para abrir uma nova era de "Magnífica Harmonia", em japonês a era "Reiwa" e assim colocar fim à era "Heisei" do "Alcançar a paz".
Durante a última aparição pública, em 30 de abril de 2019, Akihito disse que rezaria pela manutenção da paz e pela felicidade no decorrer da nova era.
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Papa aos jovens japoneses:
“combater a pobreza espiritual é um dever de todos"
“Importante não é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo, como sobretudo para quem vivo”. Palavras do Papa Francisco aos jovens japoneses em um discurso que focaliza a cultura do encontro. O Pontífice encontrou os jovens na Igreja de Santa Maria em Tóquio nesta segunda-feira 25 de novembro.
Jane Nogara - Cidade do Vaticano - No seu terceiro compromisso na cidade de Tóquio nesta segunda-feira (25), o Papa Francisco foi à Catedral de Santa Maria para encontrar os jovens japoneses.
Em seu discurso o Papa respondeu às questões apresentadas por três jovens que deram seu testemunho. Primeiramente saudou a todos recordando que vendo-os percebe uma grande diversidade cultural e religiosa, sendo eles, jovens que vivem no Japão e algo da beleza que a sua geração oferece ao futuro. E continua: “A amizade entre vocês e a sua presença aqui lembram-nos a todos que o futuro não é ‘monocromático’", convidando a “contemplá-lo na variedade e diversidade das contribuições que cada um pode dar”. E considera: “Como a nossa família humana precisa aprender a viver em harmonia e paz, sem necessidade de sermos todos iguais!”
Bullyng: Unam-se para ajudar os que precisam
Em seguida falou sobre o tema de uma das perguntas dos jovens presentes: o bullyng escolar. O Papa afirmou que “o ponto mais cruel do bullyng é que fere o nosso espírito e autoestima no momento em que mais precisávamos de força para nos aceitar a nós mesmos e enfrentar novos desafios na vida”. E que algumas vezes as vítimas chegam a culpar-se por serem ‘alvos fáceis’. E afirma: “Paradoxalmente, os molestadores é que são frágeis de verdade, pois pensam que podem afirmar a sua identidade fazendo mal aos outros”. “No fundo – continua - os molestadores têm medo; são medrosos que se escondem por trás da sua força aparente”. E encoraja todos a tomar uma atitude: “Devemos nos unir contra esta cultura do bullying e aprender a dizer: Basta!”
E como fazer isso? O Papa recomenda:
“Vocês devem se unir, entre amigos e companheiros, para dizer: Isto não! Isto é mal! Não existe arma maior para se defender de tais ações do que vocês poderem se levantar, entre companheiros e amigos, e dizer: Aquilo que vocês está fazendo é uma coisa grave”
Medo, inimigo do amor
“O medo, continua Francisco é sempre inimigo do bem, porque é inimigo do amor e da paz. As grandes religiões ensinam tolerância, harmonia e misericórdia; não ensinam medo, divisão e conflito”.
E esclarece: “Jesus não Se cansava de dizer aos seus seguidores para não terem medo. Porquê? Porque, se amamos a Deus e aos nossos irmãos e irmãs, este amor expulsa o temor”
E agradece ao jovem dizendo “O mundo precisa de ti: nunca te esqueças disto! O Senhor tem necessidade de ti, para poderes dar coragem a tantos que hoje pedem uma mão para os ajudar a levantar-se”. Isso supõe aprender a desenvolver uma qualidade muito importante, mas desvalorizada: a capacidade de disponibilizar tempo para os outros”, à família, a Deus, rezando e meditando.
E para os que têm dificuldade recomenda:
“A oração consiste principalmente em estar lá. Ficar quieto, dar espaço a Deus, deixa-se olhar por Ele e Ele te encherá da sua paz”
Pobreza espiritual
Como encontrar Deus em uma sociedade frenética, competitiva na qual as pessoas são materialmente ricas, mas são escravas da solidão? É o quesito que o Papa responde a outro jovem. Primeiramente o Papa recordou as palavras de Madre Teresa que trabalhava entre os mais pobres dos pobres: “A solidão e a sensação de não ser amado é a pobreza mais terrível”. E o Papa adverte:
“Combater esta pobreza espiritual é um dever a que todos somos chamados, e vocês têm um papel especial nisso, porque requer uma grande alteração nas nossas prioridades e opções”
E Francisco recorda: “Importante não é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo, como sobretudo para quem vivo”
“As coisas são importantes, mas as pessoas são indispensáveis; sem elas, desumanizamo-nos, perdemos o rosto, o nome e tornamo-nos mais um objeto”.
Respirar espiritualmente e mediante atos de amor
Francisco explica aos jovens  que “para nos manter vivos fisicamente, temos que respirar” e “para nos manter vivos no sentido mais amplo e pleno da palavra, devemos também aprender a respirar espiritualmente, através da oração e da meditação”. Porém, adverte o Papa “necessitamos também de um movimento exterior, pelo qual nos aproximamos dos outros mediante atos de amor e serviço”.
Mantendo “este duplo movimento podemos crescer e descobrir não só que Deus nos amou, mas também que confiou a cada um de nós uma missão, uma vocação única, que descobrimos na medida em que nos damos aos outros, às pessoas concretas”.
Aqui o Papa abordou o tema de como crescer para descobrir a nossa identidade, bondade e beleza interior. E explica:
“Para ser felizes, devemos pedir ajuda aos outros (…) sair de nós mesmos e ir ter com os outros, especialmente os mais necessitados”
O Papa pede aos jovens que ajudem os que buscam refúgio no país, que eles devem considerá-los irmãos e irmãs.
Por fim o Papa convida “Não deturpem nem interrompam seus sonhos, lhes deem espaço e ousem contemplar grandes horizontes, ver o que espera vocês se tiverem a coragem de construí-lo juntos. O Japão precisa de vocês, o mundo precisa de vocês, despertos e generosos, alegres e entusiastas, capazes de construir uma casa para todos”.
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Assista:
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Scholas Occurrentes com o Papa na Nunciatura em Tóquio
O Papa Francisco agradeceu aos jovens pela criatividade e pelo compromisso assumido nas Scholas Occurrentes.
Cidade do VaticanoNa manhã desta segunda-feira, 25, às 9h30, horário local, o Papa Francisco encontrou na sede da Nunciatura em Tóquio um grupo de jovens japoneses envolvidos nas iniciativas das Scholas Occurrentes no Japão, acompanhados por um representante da Fundação.
Os jovens falaram ao Papa de seu compromisso com o estudo, vivido como uma missão, para que o mundo seja mais justo e sem guerra, e do encontro, por meio das Scholas, com pessoas de diversas culturas.
Para o encontro, os jovens prepararam uma grande pintura sobre tela que apresentaram ao Santo Padre.
Após uma breve saudação de José Maria del Corral, presidente das Scholas Occurrentes, Francisco dirigiu algumas palavras aos presentes, agradecendo-lhes pelo testemunho e criatividade. E explicou: "Sabedoria não é ter ideias, mas expressar-se com três linguagens: a da mente, as ideias; a do coração, isto é, o  que eu sinto; e a das mãos, aquilo que eu faço. Na pintura vocês usaram as três linguagens – observou – e quando as três linguagens são usadas harmoniosamente, alguém é realmente criativo".
O Santo Padre então agradeceu aos jovens por sua coragem, porque "é muito mais cômodo fechar-se nas próprias ideias, enquanto sair, sentir e fazer é um risco: vocês se arriscam e é muito bonito!".
Por fim, abençoou uma pequena oliveira e uma placa que será colocada na nova sede das Scholas em Sendai. O encontro durou 20 minutos.
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Papa na Missa em Tóquio:
O oposto de um "eu" isolado só pode ser um "nós" partilhado
No penúltimo dia da sua visitam ao Japão, o Papa Francisco celebrou nesta segunda-feira a Santa Missa no Estádio Tóquio Dome na presença de mais de 50 mil pessoas.
Silvonei José – Cidade do VaticanoNo início da tarde desta segunda-feira (hora local) o Papa Francisco deixou a Nunciatura apostólica e dirigiu-se ao Estádio Tóquio Dome onde celebrou a Santa Missa. Presentes mais de 50 mil pessoas. A Santa Missa, em latim, foi celebrada pelo Dom da Vida Humana. A primeira leitura foi feita em português.
Na sua homilia o Santo Padre, citando o Evangelho do dia recordou que o mesmo faz parte do primeiro grande discurso de Jesus; conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos a beleza do caminho que somos convidados a percorrer.
Segundo a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao encontro do Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a Moisés. Em Jesus,  - disse o Papa – “encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de nos sentirmos filhos amados”.
Francisco advertiu que “estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem somos e quanto valemos”.
“Como oprime e enreda a alma - frisou o Santo Padre - a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado!”
Em seguida o Papa disse “que os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência.
“A casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência. Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio.”
Ressoam, como bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos, mas a termos confiança.
Não se trata – disse Francisco -, de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias; antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma direção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).
O Senhor não nos diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes; mas convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana.
“O oposto de um «eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado e comunicado.”
Este convite do Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto dum dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça. Isto é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade».
Como comunidade cristã – frisou o Papa - somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias».
Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor?
“O anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e perdão.”
Unidos ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos tornar-nos fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.
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O Papa às autoridades do Japão:
Casa Comum delicada como a flor da cerejeira
"O nível da civilização de uma nação não se mede pelo seu poder econômico". Palavras do Papa Francisco no encontro com as Autoridades e o Corpo diplomático em Tóquio. Foi seu último compromisso nesta segunda-feira (25).
Manuel Tavares - Cidade do Vaticano - O Santo Padre concluiu seu penúltimo dia de atividades, no Japão, encontrando, em Kantei, as Autoridades e o Corpo Diplomático.
Após saudar o Primeiro Ministro e as Autoridades do Governo e do Corpo Diplomático em seudiscurso, o Papa disse:
“Todos vocês, segundo as suas competências, dedicam-se à construção da paz e do progresso do povo desta nobre nação e dos países que representam. Fico muito agradecido ao imperador Naruhito, que encontrei nesta manhã. Desejo felicidades a todos e invoco as bênçãos de Deus sobre a Família Imperial e, sobretudo, o povo japonês no início desta nova era”
Proteger toda a vida
A seguir, Francisco ressaltou que “as relações amistosas entre a Santa Sé e o Japão são muito antigas, enraizadas no reconhecimento e admiração que os primeiros missionários sentiram por estas terras”. E, recordando o objetivo da sua visita ao Japão, disse:
“Vim confirmar os católicos japoneses na fé, em seus esforços de caridade para com os necessitados e em seu serviço ao país, do qual se sentem cidadãos orgulhosos. Como nação, o Japão é particularmente sensível ao sofrimento dos desfavorecidos e das pessoas com deficiência. O lema da minha visita é: "Proteger toda a vida", reconhecendo a sua dignidade inviolável e a importância da solidariedade e apoio aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados”
Paz duradoura
Na senda dos seus predecessores, o Pontífice pediu a Deus e todas as pessoas de boa vontade para continuar a encorajar e favorecer todos os meios dissuasivos necessários para que jamais, na história da humanidade, aconteça uma destruição como a provocada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. E continuou:
“A história ensina-nos que os conflitos entre povos e nações, até os mais graves, podem encontrar soluções válidas através do diálogo, única arma digna do ser humano e capaz de garantir uma paz duradoura. Estou convencido da necessidade de se tratar da questão nuclear em nível multilateral, promovendo um processo político e institucional, capaz de criar um consenso e uma ação internacional mais amplos”
Uma cultura de encontro e de diálogo, afirmou Francisco, é essencial para construir um mundo mais justo e fraterno. O Japão reconheceu a importância de promover os setores da instrução, cultura, esporte e turismo, sabendo que podem contribuir muito para a harmonia, a justiça, a solidariedade e a reconciliação, que são os pilares da paz. E o Papa ponderou:
“Nestes dias, pude admirar o precioso patrimônio cultural, que o Japão conseguiu desenvolver e preservar ao longo de muitos séculos de história, e os profundos valores religiosos e morais que caracterizam esta cultura antiga. Uma boa relação entre as várias religiões é essencial, não só para o futuro da paz, mas também para preparar as novas gerações em vista de uma sociedade mais justa e humana”
Casa Comum: delicada como a cerejeira
Nenhum visitante do Japão pode deixar de admirar a beleza natural deste país, simbolizada, sobretudo, pela imagem das cerejeiras em flor. No entanto, a delicadeza desta flor lembra a fragilidade da nossa Casa comum, sujeita a desastres naturais, ganância, exploração e devastação pelas mãos do homem. A proteção da nossa Casa comum deve levar em consideração também a “ecologia humana".
“A dignidade humana deve ocupar o centro de toda a atividade social, econômica e política; é preciso promover a solidariedade entre gerações e nunca se esquecer dos excluídos. Penso, de modo particular, nos jovens, idosos e pessoas abandonadas, que sofrem pelo isolamento. O nível da civilização de uma nação ou de um povo mede-se, não pelo seu poder econômico, mas pela atenção aos necessitados e a promoção da vida ”
O Papa concluiu seu discurso expressando sua gratidão pelo convite de visitar o Japão e pela cordial hospitalidade. Por fim, encorajou os esforços por uma ordem social, capaz de proteger a vida, a dignidade e os direitos da família humana.
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