terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Papa na missa em Morelia:
Não nos deixeis cair na tentação da resignação
Morelia (RV) - “Não nos deixeis cair na tentação da resignação”: foi a oração à qual o Papa Francisco convidou os sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas, na missa celebrada no Estádio "Venustiano Carranza" em Morelia – centro do México –, em seu quinto dia em terras mexicanas.
Num encontro muito aguardado, o Santo Padre dedicou sua reflexão, em parte, à necessidade de reagir às adversidades diante de uma realidade que parece insuperável.
Diante das adversidades, vencer a tentação da resignação
“Uma das tentações que nos assalta, uma das tentações que surge não só de contemplar a realidade, mas também de viver nela… sabeis qual pode ser?” – perguntou o Pontífice.
Sacerdote durante a missa
Qual é a tentação que nos pode vir de ambientes dominados muitas vezes pela violência, a corrupção, o tráfico de drogas, o desprezo pela dignidade da pessoa, a indiferença perante o sofrimento e a precariedade? – insistiu Francisco.
“À vista desta realidade que parece ter-se tornado um sistema irremovível, qual é a tentação que repetidamente nos vem? Acho que poderemos resumi-la com a palavra resignação. À vista desta realidade, pode vencer-nos uma das armas preferidas do demônio: a resignação.”
“Uma resignação que nos paralisa e impede não só de caminhar, mas também de abrir caminho; uma resignação que não só nos atemoriza, mas também nos entrincheira nas nossas «sacristias» e seguranças aparentes; uma resignação que não só nos impede de anunciar, mas impede-nos também de louvar; uma resignação que nos impede não só de projetar, mas também de arriscar e transformar.”
A oração na vida sacerdotal e religiosa
O Papa havia iniciado a homilia refletindo sobre a oração na vida sacerdotal e religiosa, na vida dos consagrados em geral:
“Há um aforisma que recita assim: «Diz-me como rezas e dir-te-ei como vives, diz-me como vives e dir-te-ei como rezas»; porque, mostrando-me como rezas, aprenderei a descobrir o Deus vivo e, mostrando-me como vives, aprenderei a acreditar no Deus a quem rezas, pois a nossa vida fala da oração e a oração fala da nossa vida, e a nossa vida fala na oração e a oração fala na nossa vida. Aprende-se a rezar, como se aprende a caminhar, a falar, a escutar. A escola da oração é a escola da vida, e a escola da vida é o lugar onde fazemos escola de oração.”
Jesus mostrou o que significa ser Filho de Deus
Dirigindo-se aos consagrados, Francisco ressaltou que Jesus quis introduzir os seus no mistério da Vida. Ele mostrou-lhes que significa ser Filho Deus.
No seu olhar, no seu caminhar, fê-los experimentar a força, a novidade de dizer: «Pai Nosso». Em Jesus, esta expressão não tem o sabor velho da rotina ou da repetição; pelo contrário, sabe a vida, a experiência, a autenticidade. Ele soube viver rezando e rezar vivendo, ao dizer: Pai Nosso.
O primeiro chamado que Jesus fez aos seus
Dito isso, o Santo Padre frisou que hoje o Mestre nos convida a fazer o mesmo, e lembrou qual foi o primeiro chamado que Jesus fez aos seus:
“O nosso primeiro chamado é para fazer experiência deste amor misericordioso do Pai na nossa vida, na nossa história. O primeiro chamado que Jesus nos fez foi para nos introduzir nesta nova dinâmica do amor, da filiação. O nosso primeiro chamado é para aprender a dizer «Pai Nosso», dizer Abbá.”
Jesus chamou-nos para participar na sua vida, na vida divina: Ai de nós, se não a compartilharmos! Ai de nós, se não formos testemunhas do que vimos e ouvimos! Ai de nós! – advertiu o Papa.
Dizer com a nossa vida Pai Nosso
Em que consiste a missão senão em dizer com a nossa vida: Pai Nosso? – perguntou Francisco. É a este Pai Nosso que nos dirigimos todos os dias rezando:
“Não nos deixeis cair em tentação. Fê-lo o próprio Jesus. Rezou para que nós, seus discípulos – de ontem e de hoje –, não caíssemos em tentação.”
Nos momentos de tentação revisitar a memória
“Nos momentos de tentação, faz-nos muito bem apelar para a nossa memória. Ajuda-nos muito considerar a «madeira» de que fomos feitos. Não começou tudo conosco, nem acabará tudo conosco”, observou Francisco, “por isso, faz-nos bem recuperar a recordação da história que nos trouxe até aqui”, acrescentou.
Concluindo sua reflexão, o Papa quis lembrar um grande evangelizador daquelas terras, o primeiro bispo de Michoacán, Vasco Vásquez de Quiroga, também conhecido como Tato Vasco, “o espanhol que se fez índio”.
“Revisitando a memória, não podemos esquecer-nos de alguém que amou tanto este lugar, que se fez filho desta terra. Alguém que pôde dizer de si mesmo: «Tiraram-me da magistratura para me porem na plenitude do sacerdócio por mérito dos meus pecados. A mim, inútil e completamente inábil para a execução de tão grande empreendimento; a mim, que não sabia remar, elegeram-me primeiro bispo de Michoacán».”
Francisco citou-o qual evangelizador que não se deixou resignar diante das adversidades vividas pelos índios Purhépechas:
“A realidade vivida pelos índios Purhépechas – que ele descreve como «vendidos, vexados e errando pelos mercados recolhendo os restos que se jogavam fora» –, longe de o fazer cair na tentação do torpor e da resignação, moveu a sua fé, moveu a sua vida, moveu a sua compaixão e estimulou-o a realizar várias iniciativas que permitissem «respirar» no meio desta realidade tão paralisante e injusta. A amargura do sofrimento dos seus irmãos fez-se oração e a oração fez-se resposta concreta. Isto valeu-lhe, entre os índios, o nome de «Tata Vasco» que, na língua purhépechas, significa «papai».”
“Não nos deixeis cair na tentação da resignação, não nos deixeis cair na tentação da perda da memória, não nos deixeis cair na tentação de nos esquecermos dos nossos maiores que nos ensinaram, com a sua vida, a dizer: Pai Nosso”, concluiu o Papa Francisco. (RL)
............................................................................................................................................................
Francisco aos jovens mexicanos:
Não sejam mercadorias do narcotráfico

Um discurso veemente e claro com uma mensagem de esperança aos jovens mexicanos, "a riqueza desta terra", cuja esperança em um futuro melhor é ameaçada pelos tentáculos do "narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror".
O antídoto oferecido pelo Papa à juventude para que não se deixe roubar a esperança - mesmo quando tudo parece estar perdido? Jesus! Sentir o amor de Cristo que revela o que há de melhor em nós foi o pedido que "El Papa Pancho" fez aos milhares de jovens presentes no Estádio "José Maria Morelos y Pavón", em Morelia, no final da tarde desta terça-feira (16/02).
Abaixo, a íntegra do discurso de Francisco. Os grifos são da redação.
***
Queridos jovens, boa tarde!
Quando cheguei a esta terra, fui recebido com boas-vindas calorosas, podendo assim constatar algo que já intuíra há tempos: a vitalidade, a alegria, o espírito de festa do povo mexicano.
Agora mesmo, depois de ouvir e sobretudo depois de ver vocês, constato de novo outra certeza, algo que disse ao Presidente da nação, na minha primeira saudação: um dos maiores tesouros desta terra mexicana tem um rosto jovem, são os seus jovens. É verdade! Vocês são a riqueza desta terra. Eu não disse a esperança desta terra, mas a sua riqueza.
"Vocês me pediram uma palavra de esperança...
A que tenho para dar chama-se Jesus Cristo"
Não se pode viver a esperança, pressentir o amanhã, se antes a pessoa não consegue estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos e a sua história, têm valor. 
A esperança nasce, quando se pode experimentar que nem tudo está perdido, mas para isso é necessário exercitar-se começando “em casa”, começando por si mesmo.
Nem tudo está perdido. Não estou perdido, valho... e muito! A principal ameaça à esperança são os discursos que te desvalorizam, fazem ter sentir um ser de segunda classe. A principal ameaça à esperança é quando sentes que não interessas a ninguém, ou que te deixaram de lado.
A principal ameaça à esperança é quando sentes que tanto vale estares como não estares. Isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura.
A principal ameaça à esperança é fazer-te crer que começas a valer qualquer coisa, quando te mascaras com roupas de marca, do último grito da moda, ou que ganhas prestígio, te tornas importante por teres dinheiro, mas, no fundo do teu coração, não crês ser digno de carinho, digno de amor.
A principal ameaça é quando uma pessoa sente que tudo aquilo de que precisa é ter dinheiro para comprar tudo, inclusive o carinho dos outros. A principal ameaça é crer que, pelo fato de ter um grande “carro”, és feliz.
Vocês são a riqueza do México, vocês são a riqueza da Igreja. Compreendo que muitas vezes se torna difícil sentir-se tal riqueza, quando estamos continuamente sujeitos à perda de amigos ou familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror.
É difícil sentir-se a riqueza de uma nação, quando não se tem oportunidades de trabalho digno, possibilidades de estudo e formação, quando não se sentem reconhecidos os direitos levando vocês a situações extremas.
É difícil sentir-se a riqueza de um lugar, quando, por serem jovens, usam vocês para fins mesquinhos, seduzindo vocês com promessas que, no fim, se revelam vãs.
Mas, apesar de tudo isto, não me cansarei de dizer: vocês são a riqueza do México.
Não pensem que digo isto, porque sou bom ou porque já vejo tudo claro! Não, queridos amigos, não é por isso.
Digo isto a vocês, e digo-o convencido, sabem porquê? Porque, como vocês, creio em Jesus Cristo. E é Ele que renova continuamente em mim a esperança, é Ele que renova continuamente o meu olhar.
É Ele que me convida continuamente a converter o coração. Sim, meus amigos! Digo isto, porque em Jesus encontrei Aquele que é capaz de estimular o melhor de mim mesmo.
E é graças a Ele que podemos abrir caminho; é graças a Ele que sempre podemos recomeçar; é graças a Ele que podemos ganhar coragem para dizer: não é verdade que a única forma possível de viver, de poder ser jovem seja deixar a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles que a única coisa que fazem é semear destruição e morte.
É graças a Ele que podemos dizer que não é verdade que a única forma que os jovens têm de viver aqui seja na pobreza e na marginalização: marginalização de oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e educação, marginalização da esperança.
Jesus Cristo é Aquele que desmente todas as tentativas de tornar vocês inúteis, ou meros mercenários de ambições alheias.
Vocês me pediram uma palavra de esperança... A que tenho para dar, chama-se Jesus Cristo. Quando tudo parecer pesado, quando parecer que o mundo cai em cima de vocês, abracem a sua cruz, abracem a Ele e, por favor, nunca larguem a Sua mão; por favor, nunca se afastem d’Ele.
É assim, junto com Ele é possível viver plenamente, junto com Ele é possível crer que vale a pena dar o melhor de vocês mesmos, ser fermento, sal e luz no meio dos amigos, no seu bairro, na sua comunidade.
Por isso, queridos amigos, em nome de Jesus peço que não se deixem excluir, não se deixem desvalorizar, não se deixem tratar como mercadoria.
Claro, é provável que vocês não tenham à porta o último modelo de carro, a carteira cheia de dinheiro, mas vocês têm algo que ninguém poderá jamais roubar: a experiência de se sentirem amados, abraçados e acompanhados; a experiência se sentirem família, de se sentirem comunidade.
Hoje o Senhor continua a chamar vocês, continua a convocar como fez com o índio Juan Diego. Convida a construir um santuário; um santuário que não é um lugar físico, mas uma comunidade: um santuário chamado paróquia, um santuário chamado nação.
A comunidade, a família, o sentir-se cidadãos são alguns dos principais antídotos contra tudo o que nos ameaça, porque nos faz sentir parte desta grande família de Deus.
E não para nos refugiarmos, não para nos fecharmos; antes, pelo contrário, para sairmos a convidar outros, para sairmos a anunciar a outros que ser jovem no México é a maior riqueza e, por isso, não pode ser sacrificada.
Jesus nunca nos convidaria para ser algozes, mas chama-nos discípulos. Nunca nos mandaria à morte, mas tudo n’Ele é convite à vida: uma vida em família, uma vida em comunidade; uma família e uma comunidade a favor da sociedade.
Vocês são a riqueza deste país e, quando tiverem dúvidas sobre isto, olham para Jesus Cristo, Aquele que desmente todas as tentativas de tornar vocês inúteis ou meros mercenários de ambições alheias.
***       (RB)
.............................................................................................................................
                                                                          Fonte: radiovaticana.va     news.va

Nenhum comentário:

Postar um comentário