segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Papa aos diplomatas nesta segunda:

Migração é a pedra angular do futuro

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa iniciou a semana concedendo uma das audiências de maior abrangência diplomática, política e social do ano: Francisco recebeu na Sala Regia, no Vaticano, os embaixadores acreditados junto à Santa Sé para as felicitações de Ano Novo.
Em seu longo discurso, o Pontífice ressalta os sinais positivos que caracterizaram 2015 para a Santa Sé, como os inúmeros acordos internacionais ratificados, que demonstram “que a convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível”.
Viagens apostólicas
Um caminho rumo à paz e ao diálogo – recorda o Papa – foi a abertura da Porta Santa na Catedral de Bangui, na República Centro-Africana, e que leva a rejeitar com força a ideia de que se possa matar em nome de Deus, como ocorreu “nos sanguinários ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Oriente Médio”.
Que o calor da misericórdia promova a paz!
A misericórdia – explica o Papa – foi o fio condutor que caracterizou as viagens apostólicas de 2015: Sri Lanka e Filipinas , a cidade de Sarajevo, Equador, Bolívia e Paraguai, Cuba e Estados Unidos, e finalmente Quênia, Uganda e República Centro-Africana.
Nesses países, destaca Francisco, as famílias receberam uma atenção especial, por ser “a primeira e mais importante escola de misericórdia”. Se falta a fraternidade vivida em família – adverte – falta a solidariedade na sociedade.
De fato, para o Pontífice, o espírito individualista está na raiz da indiferença pelo próximo, e acaba por tornar as pessoas “medrosas e cínicas”, principalmente diante dos pobres e dos marginalizados.
Migração: desafio global
Entre os últimos da sociedade, Francisco cita de modo especial os migrantes. Aliás, o Papa dedica a maior parte do seu discurso ao Corpo Diplomático à emergência migratória, que em 2015 interessou principalmente a Europa, a Ásia e a América.
Falando do grito de Raquel ou da voz de Jacó, o Papa comenta as razões que levam à fuga milhões de pessoas: conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas. Razões estas que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos poderosos”, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.
 “Onde é impossível uma migração regular, denuncia o Papa, os migrantes vêem-se muitas vezes forçados a se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de seres humanos”. As dramáticas imagens das crianças mortas no mar testemunham “os horrores que sempre acompanham guerras e violências”.
Temores pela segurança
O tema das migrações é complexo, reconhece o Pontífice, e requer projetos a médio e longo prazos que devem ir além da lógica da emergência. Para ele, os grandes fluxos humanos rumo ao Velho Continente desorientam os países de acolhimento e suas sociedades, com o risco de minar o "espírito humanístico" que caracteriza a Europa.
Que todas as nações formem a grande família humana
O Papa cita “os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional”. Mesmo assim, o Pontífice se diz certo de que a Europa “possui os instrumentos para defender a centralidade da pessoa humana e encontrar o justo equilíbrio entre estes dois deveres: o dever moral de tutelar os direitos dos seus cidadãos e o dever de garantir a assistência e o acolhimento dos migrantes”.
Francisco expressa sua gratidão pelas instituições e países que se empenham em acolher os migrantes, entre eles Líbano, Jordânia, Grécia, Turquia e Itália.
Migrantes: pedra angular do futuro
As migrações – defente o Papa – “constituirão uma pedra angular do futuro do mundo mais do que o têm o sido até agora” e é a chave para que o extremismo e o fundamentalismo não encontrem terreno fértil. A propósito, “a Santa Sé renova o seu compromisso em campo ecumênico e inter-religioso para estabelecer um diálogo sincero e leal que (…) favoreça uma convivência harmoniosa entre todas as componentes sociais”.
Ameaça nuclear
O discurso do Papa aos diplomatas se conclui com uma reflexão sobre os eventos positivos que marcaram o ano passado em nível internacional: o acordo sobre o nuclear iraniano e o percurso que poderia levar a um acordo sobre o clima. Mas não deixa de mencionar os desafios à paz: as tensões no Golfo Pérsico, a ameaça nuclar norte-coreana, o terrorismo internacional e o interminável conflito médio-oriental.
Por fim, Francisco garante aos embaixadores a total colaboração da Santa Sé em nível diplomático: “A Santa Sé jamais deixará de trabalhar para que a voz da paz possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco, com a íntima certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia”. (BF)
.............................................................................................................................................................
Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 Estados
Por ocasião do encontro desta segunda-feira, 11, do Papa Francisco com o Corpo Diplomático na Sala Regia, no Vaticano, recorda-se que são 180 os Estados que atualmente mantém relações diplomáticas com a Santa Sé. A estes, acrescenta-se a União Europeia e a Soberana Ordem Militar de Malta, assim como a Missão Permanente do Estado da Palestina. No que tange às Organizações Internacionais, na data 4 de junho de 2015, a Santa Sé tornou-se Estado Observador Permanente da Comunidade Caribenha (CARICOM).
Sedes em Roma
As Chancelarias de Embaixada com sede em Roma, incluídas as da União Europeia e da Soberana Ordem Militar de Malta, são 86, às quais somaram-se em 2015 as embaixadas de Belize, Burkina Faso e Guiné Equatorial. Também têm sede em Roma a Missão do Estado da Palestina e os Escritórios da Liga dos Estados Árabes, da Organização Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Acordos firmados em 2015
Unindo irmãos, construindo paz
No ano de 2015 foram firmados quatro Acordos: em 1º de abril, a Convenção entre a Santa Sé e o Governo da República italiana em matéria fiscal; em 10 de junho, o Acordo entre a Santa Sé - também em nome e por conta do Estado da Cidade do Vaticano – e os Estados Unidos, para favorecer a observância, a nível internacional, das obrigações fiscais e implementar a Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA); em 26 de junho, o Acordo global entre a Santa Sé e o Estado da Palestina; em 14 de agosto, o Acordo entre a Santa Sé e a República Democrática do Timor Leste sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no país. Já em 22 de junho foi ratificado o Acordo entre a Santa Sé e a República do Chade sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica, que havia sido firmado em 6 de novembro de 2013. Em 10 de setembro, por sua vez, foi assinado um Memorandum de Intenção entre a Secretaria de Estado e o Ministério dos Assuntos Externos do Estado do Kwait sobre a realização de consultas bilaterais. (JE)
.............................................................................................................................................................
Dom Paul Gallagher:
Papa defende esforço conjunto, com olhar de misericórdia
O Papa Francisco proferiu seu discurso de felicitações de Ano Novo ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, onde tratou de diversos temas no campo da paz e da justiça social, entre outros. O Secretário para as Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher, fez uma apreciação dos discurso do Papa aos microfones da Rádio Vaticano.
Dom Paul Richard Gallagher: “Acredito que o Santo Padre tenha desejado olhar com uma ótica de espiritualidade também para estas situações mundiais tão conflituosas. Ele inseriu tudo isto também no contexto do Jubileu da Misericórdia. É um Jubileu em que nós devemos olhar para a situação da comunidade internacional com olhos misericordiosos. O Papa fez o seu elenco dos problemas, dos conflitos no mundo, também com alguma denúncia, porém não foi um discurso de condenação. Ele deseja que nós realmente nos sintamos encorajados, que nós – como sociedade humana, como países – sejamos capazes de enfrentar estes problemas. São problemas gravíssimos, como o das imigrações europeias. Porém, devemos ser capazes de enfrentar estas situações. Assim, o Papa quis dar realmente um estímulo positivo, um impulso que é também um desafio para a comunidade internacional, representada pelos seus Embaixadores junto à Santa Sé, mas ao mesmo tempo quis dizer: “Sejamos misericordiosos, procuremos trabalhar neste sentido; a Santa Sé está disposta a colaborar com vocês, a estar ao vosso lado, também o próprio Papa”
RV: O Santo Padre denunciou fortemente o terrorismo e quem usa o nome de Deus para matar. E insistiu também sobre a importância do diálogo, da cooperação com o mundo muçulmano...
A Santa Sé está do lado dos que promovem a paz
Dom Paul Richard Gallagher: “Sim, estes são os dois polos. Reiterar a importância, o valor do diálogo com o Islã, com outras religiões e com toda a sociedade, é indispensável; e ao mesmo tempo, a condenação do uso ou do abuso da religião em nome da violência ou do terrorismo. Isto sim. Pois isto – sobretudo para o Santo Padre – é um escândalo tremendo: que as pessoas, em nome de Deus, matem outras pessoas, sobretudo pessoas inocentes e vulneráveis. Que as pessoas submetam inteiras comunidades a anos e anos de sofrimento e violência. Este é um grande escândalo que nós devemos vencer. E nós, como Santa Sé, entidade religiosa, sentimos isto de maneira ainda mais forte, talvez, do que as sociedades seculares ou leigas, porque nós vemos que a verdadeira mensagem da religião, que é o amor, é tão distorcida deste modo. E o Papa, justamente, denuncia estas coisas com a máxima energia”.
RV: Falando da crise migratória, o Papa agradeceu os esforços realizados por países como a Turquia, a Grécia e sobretudo a Itália, por salvar a vida de tantos migrantes no Mediterrâneo. E insistiu na necessidade de uma política pan-europeia para enfrentar este problema...
Dom Paul Richard Gallagher: “Sim, o Papa quis apresentar um elogio e reconhecer os grandes esforços, os grandes sacrifícios que diversos países fizeram, ou aqueles que acolheram imediatamente os refugiados, como a Jordânia e Líbano, e depois os países de fronteira, como a Turquia, a Itália e a Grécia, pois não obstante a questão migratória seja uma crise para a Europa de hoje, ao mesmo tempo muitas destas sociedades, destes governos, destas autoridades e muitos indivíduos, socorrem estas pessoas que, como o Papa disse, “não são pessoas anônimas, são pessoas humanas como nós, são crianças...”. E assim, nós devemos enfrentar este problema espinhoso, esta crise muito grave. E nisto, não estamos subestimando as dificuldades e os problemas, nem os problemas internos de certos países, absolutamente não. Porém, ao mesmo tempo, afirmamos de que é necessário fazer um ulterior esforço, porque este é um problema que merece atenção, porque é um problema não somente social, mas é essencialmente uma crise moral para a Europa. A maneira como reagiremos a esta situação, determinará que tipo de país seremos. E a ideia de que devemos defender os nossos valores, fechar a nossa sociedade, talvez nos causará mais danos do que abrir as nossas portas e os nossos corações para acolher estas pessoas em dificuldade”. (JE)
........................................................................................................................
                                                                                      Fonte: radiovaticana.va

Nenhum comentário:

Postar um comentário