segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Francisco em livro-entrevista:

Também eu preciso da misericórdia de Deus 
Cidade do Vaticano (RV) –  “O nome de Deus é misericórdia” é o título do livro-entrevista do Papa Francisco ao vaticanista Andrea Tornielli. A obra – editada pela Piemme – será lançada na terça-feira, 12 de janeiro, em 86 países. “O Papa é um homem que tem necessidade da misericórdia de Deus”, confidenciou Bergoglio na entrevista ao jornalista do La Stampa.
O Pontífice voltou a reiterar a sua “relação especial” com os prisioneiros. “Cada vez que passo pela porta de uma prisão para uma celebração ou para uma visita – explica – sempre me vem este pensamento: porque eles e não eu?”, “a queda deles poderia ter sido a minha, não me sinto melhor de quem tenho diante de mim”.
Como Pedro, também seus Sucessores são pecadores
Francisco na cerimônia do Lavapés beija os pés de um presidiário
“Isto pode escandalizar – admite – mas encontro consolo em Pedro: renegou Jesus e não obstante isto foi escolhido”. O Papa recorda de ter ficado muito tocado ao ler alguns textos de Paulo VI e João Paulo I: “Albino Luciani definia a si mesmo como “o pó” – no sentido das próprias limitações, das próprias incapacidades que são supridas pela misericórdia de Deus”. São Pedro – observa – traiu Jesus. “E se os Evangelhos nos descrevem o seu pecado, a sua negação, não obstante tudo isto Jesus disse a ele: ‘Apascenta as minhas ovelhas’, não acredito que se deva maravilhar se também os seus Sucessores descrevem a si mesmos como pecadores”, explica. Em outra passagem do volume, Francisco afirma que pode “ler” a sua vida através do capítulo 16 de Livro do Profeta Ezequiel, onde o Profeta “fala da vergonha”.
A vergonha é graça que nos faz sentir a misericórdia de Deus
A vergonha – sublinha o Papa – é uma graça. “Quando alguém experimenta a misericórdia de Deus, sente uma grande vergonha de si mesmo, do próprio pecado”. A vergonha – evidencia – “é uma das graças que Santo Inácio pede na confissão dos pecados diante do Cristo crucificado”. O texto de Ezequiel – confidencia – “ensina a envergonhar-se”, mas “com toda a tua história de miséria e de pecado, Deus permanece fiel e te levanta”. Francisco recorda o Padre Carlos Duarte Ibarra, o confessor que encontrou na sua paróquia em 21 de setembro de 1953, dia em que a Igreja celebra São Mateus: “Me senti acolhido pela misericórdia de Deus confessando-me com ele”. Uma experiência tão forte que, anos mais tarde, a vocação de São Mateus descrita nas homilias de São Beda, o Venerável, acabaria tornando-se seu lema episcopal: miserando atque elegendo.
Igreja existe para permitir o encontro com a misericórdia de Deus
Francisco aprofunda então a missão da Igreja no mundo. Antes de tudo, evidencia que a “Igreja condena o pecado porque deve dizer a verdade”. Ao mesmo tempo, porém, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala a ele da misericórdia infinita de Deus”. Jesus – salienta o Papa – “perdoou até mesmo aqueles que o crucificaram e o desprezaram”. Francisco evoca a Parábola do Pai misericordioso e do filho pródigo: “Seguindo o Senhor – é a sua reflexão – a Igreja é chamada a efundir a sua misericórdia sobre todos aqueles que se reconhecem pecadores, responsáveis pelo mal praticado, que se sentem necessitados do perdão”. “A Igreja – adverte ainda – não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.
Que o Jubileu faça ressurgir sempre mais o rosto de uma Igreja materna
Para anunciar a misericórdia de Deus – acrescenta o Papa – “é necessário sair”. “Sair das Igrejas e das paróquias, sair e andar em busca das pessoas lá onde elas vivem, onde sofrem e onde esperam”. Francisco retorna assim, à imagem da Igreja como “hospital de campanha”. “A Igreja em saída tem uma característica de surgir lá onde se combate: não é a estrutura sólida, dotada de tudo, onde se vai para curar as pequenas e grandes enfermidades”. Nela “se pratica a medicina de urgência, não se fazem os check-up” de especialistas. Neste sentido, Francisco auspicia que “o Jubileu Extraordinário faça surgir sempre mais o rosto de uma Igreja que redescubra as vísceras maternas da misericórdia e que vá de encontro aos tantos feridos, necessitados de escuta, compaixão, perdão, amor”.
Pecadores sim, mas não aceitar o estado de corrupção
O Papa Francisco volta a fazer a distinção entre pecado e corrupção. Esta última – observa – “é o pecado que ao invés de ser reconhecido como tal e de tornar-nos humildes, é elevado à sistema, torna-se um hábito mental, um modo de vida”. “O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado devido à sua fraqueza – reitera – encontra novamente perdão caso reconheça-se necessitado de misericórdia. O corrupto – pelo contrário – é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua vida dupla, provoca escândalo”. “Não é necessário aceitar o estado de corrupção como se fosse somente um pecado a mais – advertiu Francisco – mesmo se frequentemente se identifica a corrupção com o pecado, na realidade, trata-se de duas realidades distintas, se bem que ligadas entre si”. “Alguém pode ser um grande pecador – observa – e não obstante isto pode não ter caído na corrupção”. Francisco exemplifica citando figuras como Zaqueu, Mateus, a Samaritana, Nicodemos e o ‘Bom Ladrão’. “Em seus corações pecadores – afirma – todos tinham alguma coisa que os salvava da corrupção. Eram abertos ao perdão, o coração deles advertia a própria fraqueza e esta foi a brecha que fez entrar a força de Deus”. (JE)
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                                                                                      Fonte: radiovaticana.va

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