"Papa Francisco colocou com força a Igreja em movimento"
Cidade do
Vaticano (RV) - A renúncia de Bento XVI, a eleição do Papa Francisco. 2013
foi um ano extraordinário para a vida na Igreja. Para fazer um balanço de todos
estes acontecimentos, justamente a partir do gesto profético de Bento XVI, a
Rádio Vaticano entrevistou seu Diretor e também da Sala de Imprensa da Santa
Sé, Padre Federico Lombardi:
Papa Francisco: figura familiar a nível mundial |
R: "Foi
uma escolha que marcou este ano e continuará a marcar também as próximas épocas
da Igreja. Eu penso, de fato, que terá suas consequências no que diz respeito
aos próximos pontificados. É uma abertura de caminho, digamos, de uma
possibilidade, que, como bem dizia Bento - justamente na sua motivação à
renúncia - está ligada também aos tempos que nós estamos vivendo. Não tanto,
então, a uma simples situação pessoal, mas sim à inserção nos tempos com a
aceleração, o acúmulo dos problemas que são colocados. E isto foi percebido
pelo Papa com grande lucidez e com grande humildade, justamente para dar a
possibilidade de uma direção, que ele definiu como de renovado vigor à Igreja.
Coisa que efetivamente aconteceu, e aconteceu de um modo impressionante e
inesperado".
RV: O Papa
Francisco tornou-se, em pouquíssimo tempo, uma figura familiar a nível mundial
e, o que chama a atenção, não somente entre os cristãos. É possível fazer um
balanço ou ao menos encontrar uma chave de leitura para estes seus primeiros
nove meses de pontificado?
Padre Federico Lombardi: "Certamente,
a resposta aos gestos e palavras do Papa Francisco no mundo de hoje é
absolutamente impressionante. Eu penso que tenha respondido a uma espera
profunda permanente de toda humanidade, que é aquela da necessidade, do desejo
de amor da humanidade, do perdão, de uma relação sincera, da proximidade no
confortar e no encorajamento. Portanto, algo que tocou os acordes mais
profundos da sensibilidade e da personalidade humana em geral, porque isso
realmente operou em todos os continentes, em todos os países, em todas as
diferentes situações da vida dos homens e mulheres do nosso tempo. Eu acredito
que a leitura mais simples seja também a mais verdadeira, isto é, ter
concentrado o anúncio no amor de Deus, na sua misericórdia, na sua proximidade
a todos, no desejo do bem e da salvação para todas as suas criaturas. É algo
que foi entendido e foi também entendido pela eficiência dos gestos e das
palavras simples como foram ditas. A abolição, então, das barreiras entre a
pessoa do Papa e as pessoas que ele encontrou foi entendido com simplicidade e
de forma direta por todos. Eu acredito que pode ser lida assim esta
correspondência. O Papa responde, porque interpreta efetivamente o amor de Deus
Pai por todas as suas criaturas".
RV: Desde os
primeiros gestos e as primeiras palavras, o Papa Francisco suscitou
expectativas imensas, no âmbito eclesial e não somente. O que se pode esperar
para o próximo ano, também pensando nas importantes reuniões do Conselho dos
Oito?
Padre Federico Lombardi: "Eu
acredito que nós devemos esperar que este grande impulso de renovação, de
eficiência do anúncio da mensagem essencial que o Papa Francisco operou, possa
difundir-se na Igreja, porque por agora é algo que nós vemos em Roma, que é
muito concentrado em volta de sua pessoa; mesmo que saibamos que em muitos
países do mundo as pessoas voltaram a confessar-se, a participar das
celebrações religiosas. Existe, portanto, um difundir-se como uma onda deste
efeito de proximidade do amor de Deus por meio da Igreja. Isto, porém, é
desenvolvido: deve tornar-se verdadeiramente um pouco o estilo com que a Igreja
anuncia. E o Papa Francisco, num certo sentido, dá um exemplo, dá um modelo de
relação pastoral, que posteriormente é difundido e que deve tornar-se habitual,
um pouco em todas as partes da Igreja. Isto é o que devemos esperar. As
fatídicas mudanças estruturais, as reformas de que tanto se fala servem
enquanto ajudam isto, isto é, enquanto as estruturas, os instrumentos ou as
organizações estão efetivamente a serviço do Espírito e do anúncio de
Evangelho. Isto é o que o Papa Francisco entende como reforma: fazer com que os
instrumentos e as estruturas tornem-se mais adaptadas à missão da Igreja;
missão da Igreja de anúncio do Evangelho e do anúncio até as fronteiras deste
mundo, às periferias de que ele tanto fala, na relação com os pobres, com as
pessoas que têm mais necessidade da proximidade do amor do Senhor e do
testemunho de Deus. Eis então, o que podemos esperar que o Conselho dos oito
Cardeais ou outras consultas possam obter. No meu modo de ver, porém, deve ser
absolutamente claro que é um aspecto secundário, um aspecto que vem depois e à
serviço do "primum", que é o anúncio do Evangelho e a missão da
Igreja. Isto está à caminho. O Papa deu início à diversas consultas, diversas
comissões para tornar mais transparente, mais eficaz o testemunho das
estruturas, mesmo no que diz respeito ao Vaticano, às suas estruturas
administrativas. O problema verdadeiro, porém, é o da relação entre o Espírito
e os seus instrumentos de expressão: as estruturas e as organizações".
RV: Francisco é
o primeiro Papa jesuíta da história. O que representa para o senhor estar entre
os seus mais estreitos colaboradores; o que lhe está dando pessoalmente o Santo
Padre?
Padre Federico Lombardi: "Eu
vejo uma sintonia muito profunda entre a espiritualidade do Papa e o seu modo
de guiar a Igreja e a espiritualidade inaciana, isto, sobretudo no sentido de
estar a caminho, no buscar e encontrar a cada dia a vontade de Deus, para
servi-Lo melhor e para realizar aquilo que os jesuítas chamam como a sua maior
glória, isto é, o mais profundo conhecimento do amor de Deus e traduzir na
nossa vida esta profunda relação do amor entre Deus e o homem e entre os homens
entre eles. Portanto, o Papa Francisco, efetivamente, colocou a Igreja a
caminho, com grande força, e a colocou a caminho com o seu exemplo, o seu
empenho e também com tantas mensagens e iniciativas. Pensemos ao novo Sínodo
sobre a família; pensemos também ao encorajamento em renovar a Igreja e também
em a vida concretamente. Assim, o fato de estar sempre a caminho, para procurar
encontrar coisas novas, que Deus pede a nós na nossa situação, na nossa vida, é
algo que caracteriza profundamente, me parece, a espiritualidade e o modo de
governo do Papa Francisco. Entramos em uma situação em que a Igreja foi
colocada em movimento. Não são apresentados objetivos precisos, imagens
precisas de como deverá ser organizada a Igreja amanhã para chegar a este objetivo.
Devemos nos colocar a caminho, devemos nos converter, devemos acolher as
surpresas que Deus nos faz na nossa vida e entender para onde Ele nos está
chamando, também por meio das situações e realidades em que nos encontramos.
Portanto, o sentido da Igreja que entra em movimento, num caminho, que é
peregrina, no cumprir sua missão, me parece que seja um dos aspectos
espiritualmente mais característicos deste Pontificado".(JE)
Fonte: radiovaticana.va
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