sábado, 27 de julho de 2024

Reflexão para seu dia:

Compartilhar o pão

José Antonio Pagola

Nenhum evangelista sublinhou tanto como João o caráter eucarístico da “multiplicação dos pães”. Seu relato evoca claramente a celebração eucarística das primeiras comunidades. Para os primeiros crentes, a Eucaristia não era só a lembrança da morte e ressurreição do Senhor. Era, ao mesmo tempo, uma “vivência antecipada da fraternidade do reino”.

Durante muitos anos insistimos tanto na dimensão sacrificial da Eucaristia que acabamos esquecendo outros aspectos da ceia do Senhor. Talvez hoje tenhamos que recordar com mais força que esta ceia é sinal da comunhão e fraternidade que devemos promover entre nós e que alcançará sua verdadeira plenitude na consumação do reino. A Eucaristia deveria ser para os crentes um convite constante a viver compartilhando o que é nosso com os necessitados, mesmo que sejam apenas “cinco pães e dois peixes”.

A Eucaristia nos obriga a perguntar-nos que relações existem entre aqueles que a celebram, pois sendo “sinal de comunhão fraterna”, converte-se em farsa quando nela participam todos, tanto os que vivem satisfeitos em seu bem-estar como os que passam necessidade, os que se aproveitam dos outros como os marginalizados, sem que a celebração pareça questionar ninguém seriamente.

Às vezes nos preocupa se o celebrante pronunciou as palavras prescritas no ritual. Chegamos ao ponto de criar problema se devemos receber a hóstia sagrada na boca ou na mão. E, ao mesmo tempo, parece que pouco nos preocupa a celebração de uma Eucaristia que não é sinal de verdadeira fraternidade, nem impulso para buscá-la.

E, não obstante, há algo que aparece bem claro na tradição da Igreja: “Quando falta a fraternidade, sobra a Eucaristia” (Luis González-Carvajal). Quando não há justiça, quando não se vive de maneira solidária, quando não se trabalha para mudar as coisas, quando não se vê esforço para compartilhar os problemas dos que sofrem, a celebração eucarística se esvazia de sentido. Com isto não se quer dizer que só quando vivermos entre nós uma fraternidade verdadeira poderemos celebrar a Eucaristia. Não temos que esperar desaparecer a última injustiça para podermos celebrá-la, mas também não podemos continuar a celebrá-la, sem que ela nos impulsione a comprometer-nos por um mundo mais justo.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                      Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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