sábado, 6 de julho de 2024

Bela reflexão:

Não desprezar o profeta

José Antonio Pagola

O relato não deixa de ser surpreendente. Jesus foi rejeitado precisamente em sua própria terra, entre aqueles que acreditavam conhecê-lo melhor do que ninguém. Chega a Nazaré e ninguém sai ao seu encontro, como acontece às vezes em outros lugares. Tampouco lhe apresentam os enfermos da aldeia para que os cure.

Sua presença só desperta neles admiração e espanto. Não sabem quem pôde ensinar-lhe uma mensagem tão cheia de sabedoria. Tampouco conseguem explicar donde vem a força curadora de suas mãos. A única coisa que sabem é que Jesus é um trabalhador nascido numa família de sua aldeia. Todo o resto “lhes resulta escandaloso”. Jesus se sente “desprezado”: os seus não o aceitam como portador da mensagem e da salvação de Deus. Fizeram uma ideia de seu concidadão

Jesus e se recusam a abrir-se ao mistério que se encerra em sua pessoa. Jesus lhes lembra um provérbio que, provavelmente, todos conhecem: “Um profeta só é desprezado em sua terra, entre seus parentes e em sua própria casa”.

Ao mesmo tempo “admirou-se da falta de fé deles”. É a primeira vez que experimenta uma rejeição coletiva, não dos dirigentes religiosos, mas de seu povo. Não esperava isto dos seus. A incredulidade deles chega inclusive a bloquear sua capacidade de curar: “Não pôde fazer ali nenhum milagre. Apenas curou alguns enfermos”.

Marcos não narra este episódio para satisfazer a curiosidade de seus leitores, mas para advertir as comunidades cristas que Jesus pode ser rejeitado precisamente por aqueles que acreditam conhecê-lo melhor: os que se fecham em suas ideias preconcebidas, sem abrir-se nem à novidade de sua mensagem nem ao mistério de sua pessoa.

Como nós, que acreditamos ser “seus”, estamos acolhendo a Jesus? Não vivemos demasiadamente indiferentes à novidade revolucionária de sua mensagem? Não é estranha nossa falta de fé em sua força transformadora? Não corremos o risco de apagar seu Espírito e de desprezar sua profecia?

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                      Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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