sábado, 13 de julho de 2024

Sábia reflexão:

O que não devemos levar

José Antonio Pagola

Nós cristãos nos preocupamos muito que a Igreja conte com meios adequados para cumprir eficazmente sua tarefa: recursos econômicos, poder social, plataformas eficientes. Parece-nos o mais normal. No entanto, quando Jesus envia seus discípulos para prolongar sua missão, ele não pensa no que devem levar consigo, mas precisamente no contrário: o que não devem levar.

O estilo de vida que Jesus lhes propõe é tão desafiador e provocativo que logo as gerações cristãs o suavizaram. O que devemos fazer nós com estas palavras de Jesus? Apagá-las do evangelho? Esquecê-las para sempre? Tratar de ser também hoje fiéis ao seu espírito?

Jesus pede a seus discípulos que não levem consigo dinheiro nem provisões. O “mundo novo” que ele busca não se constrói com dinheiro. Quem levará adiante seu projeto não serão os ricos, mas pessoas simples que saibam viver com poucas coisas, porque descobriram o essencial: o reino de Deus e sua justiça.

Não levarão nem sequer surrão, ao estilo dos filósofos cínicos, que levavam pendurada ao ombro uma bolsa onde guardavam as esmolas para assegurar-se o futuro. A obsessão pela segurança não é boa. A partir da tranquilidade do próprio bem-estar não é fácil criar o reino de Deus como um espaço de vida digna para todos.

Os seguidores de Jesus andarão descalços, como as classes mais oprimidas da Galileia. Não levarão sandálias. Tampouco túnica de reserva para proteger-se do frio da noite. As pessoas devem vê-los identificados com os últimos. Se se afastarem dos pobres, não poderão anunciar a Boa Notícia de Deus, o Pai dos esquecidos.

Para os seguidores de Jesus não é ruim perder o poder, a segurança e o prestígio social que tivemos quando a Igreja dominava tudo. Essa perda pode ser uma bênção se nos levar a uma vida mais fiel a Jesus. O poder não transforma os corações; a segurança do bem-estar nos afasta dos pobres; o prestígio nos enche de nós mesmos.

Jesus imagina seus seguidores de outra maneira: livres de ataduras, identificados com os últimos, com a confiança posta totalmente em Deus, curando os que sofrem, buscando a paz para todos. Só assim se introduz no mundo o seu projeto.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                      Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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