Reflexão do padre Johan Konings:
Na proximidade de Natal, diante dos
enfeites de nossas igrejas e nossas casas e diante das vitrines cheias de
supérfluos, cabe perguntar para que Jesus veio ao mundo. Ele veio para fazer a
vontade de Deus, que é a nossa salvação (2ª leitura).
Ele veio como o messias e libertador
anunciado pelos profetas. A 1ª leitura descreve Belém como a cidade onde nasce
o rei, descendente de Davi, que será o Salvador do povo. Davi era pastor e rei.
Seu descendente, o Messias, será um Davi superior, ou melhor, um Davi mais
plenamente consagrado à vontade de Deus: o novo pastor enviado para conduzir o
povo pelo caminho de Deus.
Deus elege seu enviado e também a mãe que o
dá ao mundo. O mistério da eleição de Deus se realiza no útero de Maria. O
evangelho de hoje narra o encontro entre Maria, nos primeiros dias de gravidez,
e sua parenta Isabel, já no sexto mês. João Batista, ainda no útero de Isabel,
manifesta alegria pela presença do Messias no seio de Maria. Em Maria que
visita Isabel Deus visita o seu povo, na figura do Messias que há de nascer.
Ora, que significa, concretamente, a
liderança messiânica para a qual Jesus nasceu? Ele veio fazer reinar a justiça
e o amor que Deus colocou como fundamentos de seu Reino. Veio ensinar-nos a
amar-nos mutuamente, procurando cada um servir a seus irmãos e irmãs, em vez de
explorá-los. Jesus não veio exercer as funções dos sacerdotes do Antigo
Testamento – oferecer sacrifícios de bois e cordeiros – mas realizar a vontade
do Pai, até o dom da própria vida: “Me deste um corpo … Aqui estou … para fazer
tua vontade” (2ª leitura). O nascimento de Jesus é o primeiro momento do dom da
vida de Jesus. O presépio do nascimento é da mesma madeira que a cruz da
Sexta-feira Santa.
A disposição com que Jesus oferece sua vida
à vontade do Pai é um exemplo para nós. Só acolheremos Jesus de verdade, se
assumirmos sua atitude como programa para a nossa vida. O amor é contagioso.
Quem ama, gosta de imitar a quem ama. Nosso cristianismo não é em primeiro
lugar uma questão de ritos e práticas devocionais, mas de fazer a vontade do
Pai. É antes de tudo adesão ao plano divino de salvação, que as nossas mãos vão
pôr em prática. É assumir a justiça, o respeito, a libertação e o amor em atos
e de verdade, aquilo que Deus deseja para todos os homens. As práticas devocionais
devem ser alimento para a prática de nossa vida no meio da sociedade, e não
desculpa e fuga. Não basta entrarmos no templo; devemos dizer: “Eis-me aqui,
para fazer tua vontade”.
Se Natal significa acolher Jesus, essa
acolhida só será verdadeira se, com ele, repetirmos: “Eis-me aqui”.
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
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