Que devemos fazer?
O evangelista São Lucas registra a pergunta
que as multidões, os cobradores de impostos e os soldados traziam a João
Batista (cf. Lc 3,10-14). Com certeza, interpelados pela pregação do profeta,
compungidos pela força das palavras do homem que vivia de modo austero no
deserto e exortava ao batismo de penitência, homens e mulheres formulavam a pertinente
indagação: que devemos fazer? Desse modo, mostravam-se iniciados num processo
de mudança do modo de agir. Era preciso assumir um novo modo de vida e a
pergunta acima indica com contundência a força de uma nova práxis na vida de
quem deixou-se tocar pelo apelo à conversão. A resposta de João Batista aponta
o agir solidário e reto, a honestidade e a não violência, o respeito e a
verdade. E muito mais. Evidencia-se que a conversão implica e se manifesta numa
nova conduta.
Dom João Justino |
O mesmo autor sagrado, Lucas, nos Atos dos
Apóstolos, relata a pergunta das pessoas, em Jerusalém, no dia de Pentecostes,
após a pregação querigmática de Pedro: “Ouvindo isto, eles sentiram o coração
traspasssado e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: ‘Irmãos, que devemos
fazer?’ Respondeu-lhes Pedro: ‘Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o
Espírito Santo’” (At 2, 37-38). Outra vez se revela a necessidade de um novo
agir, como resultado de adesão a uma mensagem que exige mudanças de atitudes e
comportamento. O resultado esperado do anúncio do Evangelho é a vida nova. João
Batista indica o batismo de penitência. Pedro, o batismo em nome de Jesus
Cristo. Realiza-se a profecia do Batista: “Eu vos batizo com água, mas virá
aquele que é mais forte do que eu… Ele vos batizará no Espírito Santo…” (Lc 3,
16).
No entanto, na história de vida de cada um
de nós deparamo-nos com muitas situações nas quais não sabemos o que fazer ou
ninguém sabe nos dizer o que fazer. A vida é de grande complexidade e não há
nenhum manual que dê conta dela. Quantas vezes se vive a sensação de falta de
sentido, de se estar perdido no emaranhado de possibilidades e sem garantias de
sucesso nas decisões! O cristão descobre que pode confiar na promessa do
Senhor. Ele prometeu estar conosco todos os dias até o fim dos tempos (cf. Mt
28, 20). Então, o cristão não se desespera ao não saber o que fazer. Mas busca
o discernimento. Isso é, trata de purificar a compreensão da situação, perceber
as muitas implicações em curso, a responsabilidade pessoal e deixar que os
valores evangélicos inspirem o que se deve fazer. Assim há de viver quem crê em
Jesus Cristo, Filho de Deus.
Meditando, imaginei as multidões
perguntando o mesmo à Maria, mãe de Jesus: “Maria, o que devemos fazer?”.
Certamente sua resposta seria: “Fazei tudo o que meu filho vos disser” (Jo 2,
5). Vemos, assim, que o núcleo da vida nova em Jesus Cristo decorre do encontro
com Ele e no compromisso efetivo de fazer o que ele ensina. Maria nos remete
sempre às palavras de seu filho. O que devemos fazer encontrará iluminação no
evangelho. Isso significa viver à luz da fé em Cristo. Em outras palavras,
deixar que os valores de seu evangelho inspirem nosso agir. Ao celebrar o
Natal, lembremo-nos de que Jesus é o Verbo que se fez carne. A Palavra se
encarnou e é para nós Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). Que os bons
augúrios de Natal reverberem com a força de despertar em nós uma práxis
coerente com a Palavra daquele que é festejado como o Menino Deus. Dizer Feliz
Natal é, também, encarnar o Evangelho na própria vida.
Dom João Justino de Medeiros Silva - Administrador Apostólico de Montes Claros - MG
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