domingo, 26 de dezembro de 2021

Belas e sábias reflexões para seu domingo:

A beleza humano-divina da Família de Nazaré

Frei Almir Guimarães

Ninguém pode pensar que o enfraquecimento da família como sociedade natural fundada no matrimônio seja algo que que beneficia a sociedade. Antes pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e vilas. Já não se atina claramente que só a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher realiza uma função plena por ser um compromisso estável e tornar possível a fecundidade. Papa Francisco, A alegria do amor, n. 52

♦ Entre o Natal e o Ano Novo somos convidados a contemplar a beleza humano-divina da família de Nazaré. Sabemos que o amanhã da humanidade passa pela família, como repetia sem cessar o Papa João Paulo II. Não ignoramos que a pequena célula da sociedade e da Igreja passa por delicadas, constantes e inusitadas transformações (fragilidade do vínculo conjugal, casamentos concluídos sem a devida maturidade, separações, recasamentos, união entre pessoas do mesmo sexo, crianças abandonadas pela inconsequências dos pais, miséria, guerra, conflitos urbanos). Ficamos penalizados vendo também casamentos que perduram sem viço e marcados por infidelidades do coração e do corpo. Pais, pastores e educadores vivemos refletindo sobre modos e meios de educar as novas gerações. Neste particular é como se sempre estivéssemos num canteiro de obras. Os que nascemos ainda na metade do século passado sentimos na pele a dificuldade de anunciar a Boa Nova da família cristã.

♦ Quais os valores próprios da família e a natureza dos laços familiares? A família é o lugar humano por excelência, o berço do homem, o espaço onde cresce o amor dos esposos, modelo das relações éticas, onde se exercem as responsabilidades dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais. Trata- de uma experiência humana inultrapassável porque enraizada nos laços humanos.

♦ A família é um bem para a sociedade porque o cidadão é pessoa e a pessoa cresce sendo amada e amando, sendo reconhecida e exercitando-se na arte do dom, ou seja, de um amor que a liberta do egoísmo. Na família o ser humano é considerado pelo que ele é e não por suas aparências. O homem é um mistério a ser descoberto e o primeiro espaço dessa viagem ao interior de cada um ocorre no seio da família.

♦ A família é o lugar em que o ser humano é colocado no mundo, cuidado, protegido, amparado em sua fragilidade. Ali se vivem os valores próprios da pessoa: reconhecimento, gratuidade, dom, comunhão.

♦ Ela não pode ser uma camisa de força sufocante, mas um espaço em que cada um pode se exprimir sem receios, desfrutando de certa independência, recebendo e dando o afeto que merecem e que precisam.

♦ A família será sempre um bem para sociedade porque aí nascem os futuros cidadãos de um país.

♦ Na família são transmitidos os valores da cultura, do comportamento. Ali se vive a herança recebida das gerações anteriores e são traçadas as linhas da vida num mundo que nasce diante de nossos olhos.

♦ Nós, cristãos, desejamos ardentemente que nossas famílias sejam efetivamente “igrejas domésticas”, pequenas células de acolhida da força do Evangelho. Por isso urge:

♥ que os jovens que se casam tenham plena consciência do que vem a ser um casal cristão, que se preparem bem para a recepção do sacramento do matrimônio, que vivam a cerimônia como uma visita de Deus e não apenas com uma cerimônia mundana;
♥ marido e mulher haverão de cultivar uma espiritualidade conjugal: ajuda mútua, santidade buscada em comum, transparência de vida, revisões de vida;
♥ trata-se de um empenho em se construir a conjugalidade;
♥ os dois aprenderão o respeito pelos mais frágeis: o feto, as crianças, os “especiais”, os idosos e doentes;
haverão de fazer de sorte que o espírito do Sermão da Montanha impregne sua casa e não as leis do mercado, do consumismo e da aparência.
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Para refletir

Cuidado com “famílias” fechadas!

Vale a pena refletir sobre estas considerações do Papa Francisco sobre o tema da “família alargada”.

Além do círculo pequeno formado pelos cônjuges e seus filhos, temos a família alargada, que não pode ser ignorada. Com efeito o amor de um homem e de uma mulher no matrimônio e, de forma derivada e mais ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar. Aí também se integram também os amigos e as famílias amigas, e mesmo as comunidades de famílias que se apoiam mutuamente nas suas dificuldades, no seu compromisso social e na fé.

Esta família alargada deveria acolher, com tanto amor, as mães solteiras, as crianças sem pais, as mulheres abandonadas que devem continuar a educação de seus filhos, as pessoas deficientes que requerem muito carinho e proximidade, os jovens que lutam contra uma dependência, as pessoas solteiras, separadas ou viúvas que sofrem a solidão, os idosos e doentes, que não recebem o apoio de seus filhos, até incluir no seio dela mesmo os mais desastrados nos comportamentos de sua vida. E pode também ajudar a compensar as fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pela crianças, dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando seus pais não podem assegurar.

Por fim, não se pode esquecer que, nesta família alargada, estão também o sogro, a sogra, e todos os parentes do cônjuge. Uma delicadeza própria do amor é vê-los como concorrentes, como pessoas perigosas, como invasores. A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procura compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los de alguma forma no próprio coração, embora se deva preservar a legítima autonomia e a intimidade do casal. Estas atitudes são também uma excelente maneira de exprimir a generosidade da dedicação amorosa do próprio cônjuge.

Papa Francisco, A alegria do amor.n.196-198

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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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A Casa do Pai…

Pe. Johan Konings

O tempo de Natal é o tempo das reuniões em família, aquele almoço que começa com uma caipirinha ao meio-dia e termina ao pôr-do-sol… Mas o evangelho de hoje põe em xeque aquela sensação de segurança e aconchego, a família patriarcal, com a casa e os pais no centro e os filhos girando em redor. São José, partilhando a mentalidade de seu povo, deve ter julgado desse jeito patriarcal a respeito da educação de Jesus. Mas o evangelho nos conta uma história que entra em colisão com esse conceito tão natural…

Na véspera de se tornar membro adulto da comunidade judaica, os pais levaram Jesus para o templo de Jerusalém, para celebrar a Páscoa e mostrar-lhe a alegria de viver na comunidade dos fiéis israelitas. Na volta, constatou-se a ausência do menino na caravana. Depois de três dias de busca, o encontraram numa dependência do templo, recebendo aulas dos mestres de Sagrada Escritura. E aos aflitos pais, ele respondeu: “Não sabíeis que devo estar naquilo que é de meu Pai?” Depois, voltou com eles para casa e continuou vivendo lá na mais natural obediência filial.

Jesus tinha duas “casas do pai”: a de José, por enquanto; e a de Deus, para sempre. E esta última é a casa decisiva.

Essa história contém uma lição para os pais cristãos. “Teus filhos não são teus filhos”, diz o profeta no livro de Kahlil Gibran. Os filhos são filhos de Deus. É por isso que se batizam os filhos desde pequenos. Ora, isso tem consequências: a casa, o sustento e a educação que os pais cristãos proporcionam a seus filhos, por maior que seja sua dedicação, tudo isso está a serviço daquela “casa” mais importante e destina-se a um encaminhamento superior, no sentido do plano de Deus.

Os pais não educam seus filhos para si, mas para Deus. A pais ricos pode assim acontecer que paguem estudos de médico, para depois ver seu filho se dedicar, quase de graça, ao serviço de saúde da Prefeitura ou do Estado, para atender gente sem renda … A pais pobres – como foram José e Maria – acontece que o filho que lhes poderia facilitar a vida começa, num determinado momento, a empenhar todos os seus recursos nos projetos e nas lutas da comunidade. Nem por isso, tais filhos são desobedientes ou ingratos. Apenas manifestam que a casa de Deus é maior que a casa da gente.

“Já não sei onde está minha casa!” – frase colhida da boca de um jovem agente de pastoral, cansado de percorrer noite após noite as ruas do bairro. Um pai de família se queixa ao pároco de que seu filho, líder de jovens, nunca está em casa. Talvez os pais de tais filhos estejam passando pela aflição que assolou José. O consolo é: ler o evangelho até o fim…

Mas ficamos com outra preocupação ainda. A grande maioria dos filhos hoje não “se perde” no templo da comunidade, na “casa do Pai”, e sim, nos templos do consumo, os shopping centers, as danceterias etc. E o caminho que aprendem naqueles palácios da satisfação imediata e ilimitada não está no evangelho de Lucas- a não ser a parábola do filho pródigo.

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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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Reflexão em vídeo do Frei Gustavo Medella

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