A CNBB, juntamente com a Ordem dos
Advogados do Brasil, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo
Evaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciências, a Associação Brasileira de
Imprensa e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, escreveram uma
carta em que prestam solidariedade às milhares de famílias afetadas pela perda
de entes queridos pela Covid-19.
As entidades também manifestaram indignação
pelas manifestações contrárias às medidas recomendadas por organismos
sanitários no cuidado e na promoção da vida. Por fim, ainda destacaram a
importância do trabalho da CPI da Pandemia, instalada no Congresso Nacional,
para investigar as ações da gestão pública diante da crise da pandemia.
As seis entidades signatárias dessa carta
se sensibilizaram com a situação provocada pela pandemia e se uniram desde
abril do ano passado, quando lançaram o Pacto Pela
Vida e Pelo Brasil, endossado por organizações e pessoas de todo o país.
Naquela época, logo no início da pandemia, as entidades perceberam que eram
necessárias medidas firmes, guiadas pela ciência, para conter o seu alastramento.
Previa-se que a crise sanitária atingiria de forma desigual a população
brasileira, afetando particularmente os mais vulneráveis.
Leia a carta Meio milhão de vidas perdidas na íntegra:
MEIO MILHÃO DE VIDAS PERDIDAS
Em sete de abril de 2020, Dia Mundial da
Saúde, as seis entidades signatárias desta carta manifestaram-se diante da
expansão da Covid-19, lançando o Pacto Pela Vida e Pelo Brasil, endossado por
organizações e pessoas de todo o país. Sinais indicavam se tratar de um vírus
de alta transmissão, com impactos graves sobre o organismo humano, pedindo
medidas firmes, guiadas pela ciência, para conter o seu alastramento. Previa-se
que a crise sanitária atingiria de forma desigual a população brasileira,
afetando particularmente os mais vulneráveis.
O Brasil contava, então, com 688 óbitos
pelo coronavírus. Hoje, passado pouco mais de um ano, são 500 mil óbitos, meio
milhão de vidas perdidas. O equivalente a duas vezes e meia o número de mortos
pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Uma palavra de esperança sempre será
necessária para confortar as milhares de famílias afetadas pela perda de entes
queridos. A todas, nosso sentimento e nossa solidariedade. Contudo, continua
causando estranheza, e também indignação, as manifestações contrárias às
medidas recomendadas por organismos sanitários, no cuidado e na promoção da
vida humana.
É incompreensível, especialmente por parte
do Presidente da República, no exercício de suas atribuições constitucionais, a
promoção de aglomerações com objetivos ideológico-políticos, estimulando
comportamentos sociais com risco epidemiológico. Tais atitudes são um atentado
contra a vida e contra os valores democráticos.
Manifestações de autoridades promovendo o
uso de medicação sem eficácia no combate ao vírus, o descrédito propagado em
torno da ciência, a omissão em relação às vacinas, a multiplicação de fake
news, a desorientação sanitária e a falta de coordenação nacional no
enfrentamento da pandemia cooperaram para que o número de doentes e mortos
alcançasse níveis exorbitantes.
Pertinente e indispensável é a CPI
instalada no Senado Federal, que se debruça sobre um mar de informações,
convergindo para uma certeza: negacionismo mata. Desejamos que a CPI, ao
concluir seus trabalhos, elucide a verdade dos fatos para os brasileiros,
podendo abrir um novo capítulo em nossa história democrática.
Importante ressaltar que a falsa oposição
entre salvar vidas e salvar a economia, que ainda alimenta o discurso oficial,
revela a estratégia de quem não faz nem uma coisa nem outra. A população sofre
com a falta de vacinas, cuja compra foi sistematicamente negligenciada por
órgãos oficiais, assim como sofre pela falta de trabalho e de perspectivas. A
concentração de renda, uma das maiores do mundo, segue seu curso, enquanto a
fome se instala em milhões de lares. E o necessário auxílio emergencial, que
deveria continuar a ser de R$ 600, serve como paliativo, jamais como solução.
O Estado democrático de direito, com amplo
respeito às instituições, promove o convívio social pacífico, estimulando o
entendimento e a disposição para a construção de uma nação mais justa e
fraterna. Porém, não é nessa direção que caminham alguns setores da sociedade e
parcela dos governantes. O vazio de políticas públicas, ao lado das políticas
da desconstrução, não só no âmbito da saúde, mas em educação, cultura, meio
ambiente, moradia, emprego, geração de renda, apoio à ciência e inovação,
revela a sociedade que se sente confusa, abandonada e adoecida.
Expressamos aqui a nossa solidariedade, com
uma palavra de conforto. Se, por um lado, a morte de tantos requer o silêncio
respeitoso e as preces dos que têm fé, de outro lado, conclamamos mais uma vez
a união nacional em defesa da vida e da democracia no Brasil. Dias melhores
virão. Seja esta a bandeira de um novo tempo. Vidas perdidas não serão
esquecidas.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB
José Carlos Dias, presidente da Comissão de
Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns
Luiz Davidovich, presidente da Academia
Brasileira de Ciências – ABC
Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da
Associação Brasileira de Imprensa – ABI
Ildeu de Castro Moreira, presidente da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
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