Daqueles que podem acolher o olhar compassivo do Senhor
Frei Almir Guimarães
♦ Lucas continua a nos formar no tema da oração. Nunca seremos totalmente instruídos na delicada arte da oração. Não receberemos um diploma de fim de curso. Ao longo dos caminhos de nossa vida precisamos ir revendo o modo de nos acercar do Altíssimo. Nunca é tarde para retomar o empenho de vida para o Senhor, vida de íntimo relacionamento com aquele que nos perscruta, nos vê, conhece nosso deitar e nosso levantar. Oração que não é mastigação de palavras, mas ato de oblação da vida ao Senhor em tudo e por tudo. Total e amorável entrega de nossa vida ao Amado.
♦ Os que buscamos o Senhor sabemos que a primeira condição de sucesso na “convivência” com o Senhor é uma postura de consciência de nossa verdade. Somos buscadores das estrelas, mas muitas vezes permanecemos na banalidade das coisas mais baixas. Os que se acercam do Senhor fazem-no com profunda humildade. Não trazem títulos que foram colando em seu corpo e em sua mente. Humildade: reconhecimento de nossos limites e fraquezas. Não somos Deus e não queremos competir com ele.
♦ A parábola deste domingo é dirigida aos que se consideram justos e perfeitos quase que pela mera observância de regulamentos, mesmo oriundo das Escrituras. Não somente isso. Os que assim se julgavam “desprezavam” os pecadores.
♦ Templo, espaço de oração. Dois homens. O primeiro é um observador da lei, um garboso cumpridor de tudo. O homem está satisfeito consigo mesmo. Correto, sem erros, tudo em ordem. Ele parece feliz de ser o que é com suas observâncias. Ora em pé, seguro, sem temor algum. Sua consciência não o acusa de falta alguma. De seu coração brota espontaneamente o agradecimento: “Meu Deus, eu te dou graças”. Não é como os outros. Não é ato de hipocrisia. Tudo o que ele diz é real, cumpre todos os mandamentos da lei. Jejua todas as segundas e quintas pelos pecados do povo, embora seja obrigado a fazê-lo uma só vez, no Dia da Expiação. Uma vida irrepreensível.
♦ A oração do coletor de impostos é diferente. Entra discretamente. Não abre os braços contando vantagens. Fica atrás, porque sabe que não é digno do local sagrado. Nem sequer se atreve a levantar os olhos do chão. Reconhece seu pecado. Manifesta sua vergonha. Não se atreve a nada prometer. Não pode restituir o que roubou por desconhecer a identidade das pessoas que prejudicou. Não pode abandonar o trabalho necessário para seu sustento e dos seus. Recorre à misericórdia do Senhor: “Meu Deus, tende compaixão porque sou pecador”. Uma súplica humilde de misericórdia.
♦ O homem religioso que fazia mais do que a lei pedia, não encontrou favor diante de Deus. Segundo Jesus o coletor de impostos volta à casa reconciliado com Deus. Jesus pega a todos de surpresa. Rompe esquemas friamente legalistas, escandaliza seus ouvintes.
♦ “Jesus capta que sua mensagem é supérflua para os que vivem seguros e insatisfeitos em sua própria religião. Os justos quase não sentem que precisam de salvação. Basta-lhes a tranquilidade proporcionada pelo sentir-se dignos de Deus e diante da consideração de Deus” (Pagola).
♦ Colocando-nos diante de Deus, exprimimos nosso louvor, nossa adoração, nossa homenagem pela sua grandeza amorosa. Agradecemos seu amor, o Filho querido que nos enviou. Prometemos o melhor na linha de uma fidelidade criativa que vai crescendo ao longo do tempo da vida. Queremos atingir as estrelas, mas constatamos que giramos em torno de nós mesmos e dançamos a canção do egoísmo, somos indiferentes aos passantes, não partilhamos o que somos e o que temos. Precisamos delicadamente examinar nossa consciência. Confiar na misericórdia do Senhor. Haveremos de viver de verdade o ato penitencial da missa e procurar receber com humildade o sacramento do perdão.
♦ Os que vivem dramas, revoltas, momentos de desespero e mesmo tenham queixas para com o Senhor que se joguem na Bondade daquele que é a Misericórdia.
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Texto para a reflexão
Não sei os que podem chegar a ler estas páginas. Nesse momento eu penso em vocês que se sentem incapazes de viver de acordo com as normas impostas pela sociedade; vocês que não têm força de o ideal moral estabelecido pela religião; vocês que estão enredados numa vida indigna; vocês que não se atrevem a olhar nos olhos da esposa nem dos filhos; vocês que saem da prisão para voltar novamente a ela; vocês que não podem escapar da prostituição… não se esqueçam nunca: Jesus veio para vocês. (Pagola Lucas, p. 307)
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Oração
QUERO SEGUIR-TE, SENHOR
Tu me conheces e sabes o que eu quero,tanto meus projetos como minhas fraquezas.Não posso ocultar-te nada, Jesus.Gostaria de deixar de pensar em mime dedicar mais tempo a ti.Gostaria de entregar-me inteiramente a ti.Gostaria de seguir aonde fores.Mas nem isso e atrevo a dizer-te,porque sou fraco.Tu o sabes melhor do que eu.Sabes de que barro sou feito,tão frágil e inconstante.Por isso preciso ainda mais de ti,para que me guies sem cessar,para que sejas meu apoio e meu descanso.Obrigado, Jesus por tua amizade!
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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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