Você é católico?
Como deve ser e
viver o bom cristão católico? A resposta pode ser simples, mas não é óbvia. Se
fizéssemos uma pesquisa de opinião, as respostas poderiam ser surpreendentes.
Temos nós ideia clara do que significa ser católico?
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| Dom Odilo Pedro Scherer |
Ser cristão
católico é ter parte na Igreja católica, na sua vida e missão. Na Igreja
católica está presente Jesus Cristo e, “onde está Cristo Jesus, aí está a
Igreja católica”, já afirmava Santo Inácio de Antioquia, no século II. A Igreja
é “católica” no sentido de ser “universal”, segundo a totalidade, ou ainda,
“segundo a integralidade” (Catecismo da Igreja Católica, nº 830). Nela subsiste
a plenitude do corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que é Cristo, e isso implica
afirmar que nela existe a plenitude dos meios de salvação” de Cristo para a
humanidade. Desde o início, desde o dia de Pentecostes, a Igreja de Cristo é
católica e não deixou de sê-lo ao longo da sua história bimilenar, nem deverá
deixar de ser assim até à Parusia, para oferecer os meios de salvação em Cristo
a toda a humanidade (cf. Catecismo, nº 830).
A Igreja também
é católica porque, desde Jesus Cristo, e por Ele, ela é enviada constantemente
em missão à universalidade do gênero humano (cf. Mt 28,19). Ninguém está
excluído de receber o anúncio da Boa-Nova da salvação. O Concílio Vaticano II
recorda isso na constituição dogmática Lumen gentium (LG), sobre a
Igreja: “Todos os homens são chamados a pertencer ao novo Povo de Deus. Por
isso, este Povo, permanecendo uno e único, deve se estender a todo o mundo e
por todos os tempos, para que se cumpra o desígnio da vontade de Deus que, no
início, formou a natureza humana e quer, no final, congregar em si os seus
filhos que estavam dispersos. (…) Este caráter de universalidade que marca o
Povo de Deus é um dom do próprio Senhor, pelo qual a Igreja católica, de
maneira eficaz e perpétua, tende a reunir a humanidade inteira, com todos os
seus bens, sob Cristo Cabeça, na unidade do seu Espírito” (LG 13).
Esse belo texto
do Concílio Vaticano II deixa claro que a Igreja de Cristo é católica pela
própria vontade do seu Fundador. A Igreja católica não surgiu séculos mais
tarde, por vontade de algum imperador, governante ou papa. Jesus quis que a
Igreja fosse católica e se voltasse a todas as pessoas e a todos os povos e
culturas, como mensageira e testemunha do Evangelho do Reino de Deus e de sua
eficácia na vida das pessoas e das comunidades mediante os sinais de salvação
que lhe confiou. A Igreja, portanto, não se restringe a uma cultura, mas se faz
presente em todas elas e, por meio delas, expressa e testemunha a sua fé.
Ser cristão
católico, portanto, é pertencer à Igreja católica, ter sido batizado nela e
tomar parte em sua vida e missão, recebendo os benefícios do seu rico
patrimônio de bens espirituais. Ser católico é abraçar a fé da Igreja católica,
sintetizada nas duas fórmulas da sua profissão de fé: o Símbolo Apostólico
(mais breve) e o Símbolo Niceno-Constantinopolitano (mais longa). Essas duas
fórmulas da profissão de fé são explicadas nos pormenores no Catecismo da
Igreja Católica.
A base e
fundamento da fé católica é a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura
(Bíblia), fruto da revelação divina ao Povo de Deus. A Palavra de Deus é o
fundamento de tudo o que a Igreja católica crê e oferece como itinerário de
vivência da fé na vida pessoal e comunitária. A explicitação da fé, porém, é
feita pelo Magistério da Igreja na comunidade que crê, estando contida no Catecismo
da Igreja Católica.
No Catecismo,
encontra-se, primeiramente, a explicação dos motivos que temos para crer. A fé
é a resposta do homem a Deus, que se manifesta e se revela a Ele. A segunda
parte do Catecismo explica o Creio em Deus Pai, ponto por ponto. É o
próprio Magistério da Igreja que explica os conteúdos da nossa profissão de fé.
Em seguida, vem a explicação da “fé praticada” mediante a observância dos
mandamentos da lei de Deus. A fé crida tem consequências práticas na vida
pessoal, comunitária e social, mediante o nosso comportamento moral e a vida
segundo as virtudes humanas e evangélicas.
Na sua última
parte, o Catecismo traz a explicação da fé celebrada mediante a
Liturgia, os sacramentos e a oração cristã. A fé católica não se reduz a
afirmações intelectuais, que podem e precisam ser compreendidas: ela transborda
em oração e nas múltiplas formas da adoração, louvor, ação de graças, súplica e
devoção. A fé viva se transforma em ocasião de constante diálogo amoroso com
Deus, de serviço à sua glória e dedicação aos irmãos mediante a caridade.
Todos os
católicos são chamados à santidade e a viver conforme os ensinamentos e
exemplos de Jesus Cristo e da Igreja. Todos são necessitados do perdão e da
misericórdia de Deus e são chamados constantemente à conversão e ao crescimento
na santidade. Os grandes cristãos católicos são os Santos, membros exemplares
da Igreja, que viveram de maneira extraordinária o chamado a seguir Jesus
Cristo e a anunciar e testemunhar o Evangelho do Reino de Deus.
Dom Odilo Pedro Scherer - Cardeal arcebispo de São Paulo

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