A magnanimidade como virtude para o nosso tempo
Na Questão 129,
da Secunda Secundae da Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino
trata da magnanimidade (magnanimitas, “grandeza de alma”), uma das expressões
mais elevadas da virtude da fortaleza. Não se trata de vaidade nem de orgulho,
mas da disposição interior de quem deseja realizar grandes obras por Deus e
pelo bem comum, reconhecendo que tudo procede d’Ele.
O magnânimo é
aquele que, consciente dos dons recebidos, não os enterra, mas os faz
frutificar. Sabe que foi criado para grandes realizações, não para buscar fama
ou prestígio pessoal, mas para aspirar à plenitude do bem. Por isso, Santo
Tomás ensina que o objeto da magnanimidade são as grandes honras: não as
movidas pela vaidade, mas as que naturalmente se concedem a quem pratica o bem
e realiza obras virtuosas.
A magnanimidade,
para Santo Tomás, situa-se entre a fortaleza e os frutos do Espírito Santo. Ela
é uma parte potencial da virtude da fortaleza. Enquanto esta torna
firme o ânimo diante das dificuldades e perigos, a magnanimidade o eleva a
buscar o bem mais alto, mesmo quando esse bem parece exigente ou distante. Se a
fortaleza nos ajuda a resistir, a magnanimidade nos move a aspirar. Ela é o
impulso positivo da alma que não se contenta com pouco.
Por isso, ela se
relaciona também aos frutos do Espírito Santo, especialmente à confiança (fidúcia)
e à paz interior (securitas). A magnanimidade nasce de um coração confiante,
não na própria força, mas na graça de Deus e conduz a uma alma serena, livre do
medo e do desânimo. O magnânimo é firme, confiante e tranquilo, porque sabe em
quem colocou sua esperança.
Um ponto notável
da doutrina de Santo Tomás é mostrar que a magnanimidade não se opõe à
humildade. O orgulho exalta o eu; a magnanimidade exalta o dom de Deus. O
humilde reconhece sua pequenez; o magnânimo reconhece a grandeza da graça que
nele atua. São, portanto, virtudes complementares: a humildade nos impede de
nos julgarmos maiores do que somos; a magnanimidade impede que nos tornemos
menores do que Deus quer que sejamos.
O próprio Cristo
é o modelo supremo dessa harmonia: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração” (Mt 11,29), e ao mesmo tempo, “Quem crê em mim fará as obras que eu
faço, e as fará ainda maiores” (Jo 14,12). Nele se une a mansidão da humildade
e a audácia da grandeza espiritual.
Vivemos num
tempo em que a mediocridade e o imediatismo parecem dominar o horizonte humano.
Muitos contentam-se com o mínimo, com o que é fácil e rápido. Contra essa
tendência, a magnanimidade é uma virtude profundamente atual: ela nos recorda
que o ser humano foi criado para a grandeza, não a grandeza do poder, mas a
grandeza do bem, da santidade, do serviço.
A magnanimidade nos
convida a sonhar alto com Deus, a não temer os empreendimentos exigentes e a
cultivar uma esperança ativa e perseverante. Num mundo que frequentemente
confunde grandeza com vaidade, essa virtude devolve à alma cristã o verdadeiro
sentido da missão: fazer o bem de modo grandioso, generoso, gratuito e
confiante.
Ser magnânimo é,
em última análise, acreditar que Deus quer fazer grandes coisas em nós e
através de nós. É viver com o coração dilatado, na esperança, na coragem e na
confiança de que “o amor de Cristo nos impele” (2Cor 5,14).
Em resumo,
a magnanimidade, na perspectiva de Santo Tomás, caracteriza a alma nobre
que não se contenta com o mínimo, mas busca o máximo da caridade, da justiça e
da fé. É o coração que, iluminado pela fortaleza e animado pelos dons do
Espírito, vive para algo maior que si mesmo. Em tempos de desânimo e
fragmentação, recuperar essa grandeza de alma é um chamado a sermos, com
simplicidade e coragem, grandes no amor.
Dom João Santos Cardoso - Arcebispo de Natal (RN)
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