O Bispo de Roma
abraça seu povo na Assembleia Diocesana em São João de Latrão. Ele exorta a
trabalhar por uma Igreja que se torne um laboratório de sinodalidade,
fortalecendo a formação dos organismos de participação e dos catequistas,
envolvendo os jovens e as famílias, a serviço dos mais pobres e dos mais
frágeis.
O Papa Leão XIV
abriu oficialmente o novo ano pastoral da Diocese de Roma com a Assembleia
Diocesana realizada, na tarde desta sexta-feira (19/09), na Basílica de São
João de Latrão.
O Pontífice
iniciou o seu discurso, agradecendo aos presentes, em sua catedral, sede da
Diocese de Roma, por sua presença e "pela alegria de seu discipulado, pelo
trabalho pastoral, pelos fardos que carregam e pelos que tiram dos ombros de
muitos que batem às portas das suas comunidades".
Leão XIV destacou a palavra "dom", dita por Jesus à Samaritana, "Se você conhecesse o dom de Deus", indicando que "este dom é o Espírito Santo, que sacia a nossa sede e irriga a nossa aridez, iluminando o nosso caminho". Indica também "o Espírito Santo, o Espírito criador capaz de renovar todas as coisas", conforme usada nos Atos dos Apóstolos pelo Evangelista Lucas.
Caminho sinodal
De acordo com o
Papa, "através do processo sinodal, o Espírito suscitou a esperança de uma
renovação eclesial, capaz de revitalizar as comunidades, para que cresçam no
estilo evangélico, na proximidade a Deus e na presença do serviço e do
testemunho no mundo".
“O fruto do caminho sinodal, após um longo período de escuta e debate, foi, antes de tudo, o impulso a valorizar os ministérios e os carismas, inspirando-se na vocação batismal, colocando no centro a relação com Cristo e o acolhimento dos irmãos, começando pelos mais pobres, partilhando suas alegrias e dores, suas esperanças e esforços.”
Segundo Leão
XIV, "desta forma, é destacado o caráter sacramental da Igreja que, como
sinal do amor de Deus pela humanidade, é chamada a ser canal privilegiado para
que a água viva do Espírito possa chegar a todos. Isso requer a exemplaridade
do povo santo de Deus. Como sabemos, sacramentalidade e exemplaridade são dois
conceitos-chave da eclesiologia do Concílio Vaticano II e da hermenêutica do
Papa Francisco". "Vocês se lembrarão o quanto ele apreciava o tema
patrístico do mysterium lunae, ou seja, da Igreja vista no reflexo da luz
de Cristo, da relação com Ele, sol da justiça e luz das nações",
acrescentou.
Laboratório de
sinodalidade
Na nota que
acompanha o Documento Final da XVI Assembleia Sinodal, o Papa Francisco
escreveu que ele "contém indicações que, à luz de suas orientações
básicas, já podem ser acolhidas pelas Igrejas locais e pelos agrupamentos de
Igrejas, levando em consideração os diferentes contextos, o que já foi feito e
o que ainda precisa ser feito para aprender e desenvolver cada vez mais o
estilo específico da Igreja sinodal missionária".
“Pois bem, cabe-nos agora trabalhar para que a Igreja que vive em Roma se torne um laboratório de sinodalidade, capaz — com a graça de Deus — de realizar "obras do Evangelho" num contexto eclesial marcado por desafios, especialmente na transmissão da fé, e numa cidade que precisa de profecia, marcada por numerosas e crescentes situações de pobreza econômica e existencial, com jovens muitas vezes desorientados e famílias frequentemente sobrecarregadas.”
Participação
ativa de todos na vida da Igreja
De acordo com o
Papa, "uma Igreja sinodal em missão precisa desenvolver um estilo que
valorize os dons de cada um e compreenda o papel da liderança como um exercício
pacífico e harmonioso, para que, na comunhão inspirada pelo Espírito, o diálogo
e as relações nos ajudem a vencer as numerosas pressões de oposição ou de
isolamento defensivo".
"O
dinamismo sinodal deve ser nutrido nos contextos reais de cada Igreja local",
disse ainda o Pontífice, ressaltando que isso significa "trabalhar pela
participação ativa de todos na vida da Igreja". De acordo com o Papa,
"um instrumento para fortalecer a visão de uma Igreja sinodal e
missionária são os organismos de participação", pois "eles
ajudam o Povo de Deus a exercer plenamente sua identidade batismal, fortalecem
o vínculo entre os ministros ordenados e a comunidade e orientam o processo
desde o discernimento comunitário até as decisões pastorais". "Por
isso, convido-os a reforçar a formação de organismos de participação e, a nível
paroquial, a rever os passos dados até agora ou, onde tais organismos não
existam, a compreender quais são os obstáculos para poder superá-los",
sublinhou.
Pensar e
projetar juntos
A seguir, o Papa
falou sobre "as prefeituras e outros organismos que conectam diferentes
áreas da vida pastoral, bem como os próprios setores diocesanos, projetados
para conectar melhor as paróquias vizinhas num determinado território com o
centro da diocese". De acordo com o Pontífice, existe o risco de que essas
"realidades percam sua função de instrumentos de comunhão e se reduzam a
algumas reuniões, onde se discute juntos algum tema para depois voltar a pensar
e viver a pastoral isoladamente, no próprio recinto paroquial e nos próprios
esquemas".
“Hoje, como sabemos, num mundo que se tornou mais complexo e numa cidade que corre a grande velocidade e onde as pessoas vivem em permanente mobilidade, precisamos pensar e projetar juntos, saindo dos limites pré-estabelecidos e experimentando iniciativas pastorais comuns. Por isso, exorto-os a fazer desses organismos verdadeiros espaços de vida comunitária onde se exerça a comunhão, lugares de confronto onde se realize o discernimento comunitário e a corresponsabilidade batismal e pastoral.”
Cuidar de quem
expressa o desejo do Batismo
A seguir, o Papa se deteve nos objetivos a serem perseguidos com estilo sinodal. O primeiro é cuidar da relação entre iniciação cristã e evangelização, "tendo em mente que a solicitação dos sacramentos está se tornando uma opção cada vez menos praticada". "Nesta perspectiva, é necessário cuidar com delicadeza e atenção daqueles que expressam o desejo do Batismo na adolescência e na idade adulta. Os escritórios do Vicariato responsáveis por isso devem trabalhar com as paróquias, tendo especial cuidado com a formação contínua dos catequistas", sublinhou.
Uma pastoral capaz de incidir no tecido social
O segundo
objetivo é o envolvimento dos jovens e das famílias. Segundo Leão XIV é
"urgente estabelecer uma pastoral solidária, empática, discreta, sem
julgamentos, que saiba acolher a todos e propor percursos mais personalizados
possíveis, adequados às diferentes situações de vida dos destinatários. Como as
famílias têm dificuldade em transmitir a fé e podem ser tentadas a fugir dessa
tarefa, devemos procurar acompanhá-las sem nos substituirmos a elas,
tornando-nos companheiros de caminho e oferecendo instrumentos para a busca de
Deus". "Uma pastoral que se torna como uma escola capaz de
introduzir à vida cristã, de acompanhar as fases da vida, de tecer relações
humanas significativas e, assim, de incidir também no tecido social,
especialmente a serviço dos mais pobres e dos mais frágeis", ressaltou.
Comunidades
cristãs generativas
O terceiro e
último objetivo é a formação em todos os níveis. "Vivemos uma
emergência educativa e não devemos nos iludir que a simples continuação de
algumas atividades tradicionais manterá vivas as nossas comunidades
cristãs. Elas devem se tornar generativas: ser um ventre que inicia para fé e
um coração que procura aqueles que a abandonaram. As paróquias precisam de
formação e, onde não existem, seria importante incluir cursos bíblicos e
litúrgicos, sem transcurar as questões que ressoam nas gerações mais jovens,
mas que nos dizem respeito a todos: a justiça social, a paz, o complexo
fenômeno das migrações, o cuidado da criação, o exercício adequado da
cidadania, o respeito na vida de casal, o sofrimento mental e as dependências,
e muitos outros desafios".
"O trecho
evangélico da samaritana conclui-se com um crescendo missionário, pois ela vai
contar aos outros o que aconteceu, e eles vão até Jesus e chegam à profissão de
fé. Estou certo de que também na nossa diocese, o caminho iniciado e
acompanhado nos últimos anos nos levará a amadurecer na sinodalidade, na
comunhão, na corresponsabilidade e na missão", concluiu o Papa.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
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