Como anda a administração de nosso viver?
Uma breve história de corrupção
Esta historieta é conhecida como a parábola do administrador infiel. Sua interpretação não é das mais cômodas. Tem-se a impressão, à primeira vista, que Jesus estaria apoiando uma atitude de corrupção. Elogia a esperteza do administrador que, por meios escusos, conseguiu dinheiro para pagar uma dívida. Tudo ilícito. A imaginação criativa do subalterno chama a atenção. Nas coisas da terra costumamos ser espertos. Calculamos os riscos. Tomamos as providências para que haja lucro e o sucesso. “Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios dos filhos da luz”. Como administramos os bens que duram para sempre? Que investimentos precisamos fazer? Que “esperteza” hão de ter os filhos da luz?
Esperteza, sabedoria, discernimento. Como estamos administrando o tempo de nossa vida? Entre o nascer e o morrer acontece aquilo que chamamos de vida. Corpo, espírito, mente. Viver direito. Ter uma casa, cobertores, pão à mesa, gerânios nas janelas. Um vida digna, sem requintes dispensáveis. Amores e não dissabores. Deixar pai e mãe e empreender a aventura da conjugalidade. Amor conjugal belo e prazenteiro quando bem vivido. Uma família. Filhos, responsabilidade, sustentação, alegria de encontros, festas em casa. Tudo dom. Nada apenas em função de lucros. Uma profissão, um trabalho que fosse, se possível, gratificante. Que realizasse o homem faber que existe em nos e catador de estrelas que se agita em nós. Um vida ativa sem perder o espírito de oração ao qual tudo deve servir. Acolher com coragem o contraditório. Sei lá. Administrar tudo com sabedoria, espertamente, com discernimento.
Somos cristãos. Não somos apenas membros de uma religião. Andamos tendo nossos encontros pessoais com Jesus. Parece que a vida que vivemos pode se iluminada com um absorção do espírito de Jesus. Seremos espertos na arte de viver cristãmente:
♦ Não seremos pessoas superficiais, que se contentam com o brilho externo das coisas. Andaremos fazendo sempre uma viagem ao nosso interior para ouvir a verdade nos mesmos. Faremos momentos de silêncio e de balanço de nossa vida para não estragarmos a aventura de viver.
♦ Se queremos iluminar nossa vida Cristo e seu Evangelho precisaremos apreender o sumo da mensagem: temos um Pai no céu que nos ama e amor se paga com amor. A política da esperteza pede que sejamos fieis em momentos de intimidade orante, que defendamos os interesses do Senhor.
♦ Deixar-nos-emos “ensopar” do espírito do Sermão da Montanha: sal da terra, luz do mundo, fermento na massa, construção da casa sobre a rocha, entrar no quarto para um oração sem atabaques e gritos.
♦ Antes da política do olho por olho dente por dente faremos uma “pausa para a reflexão”. A esperteza nos cochicha perdão e paciência.
♦ Haveremos de nos convencer que não somos uma ilha, mas convivemos com muitas pessoas, de perto e de longe. Somos uma teia de relacionamentos. Por isso é sinal de sabedoria olhar, escutar os outros: a mãe idosa com seus temores e carência, um irmão de sangue ou da vida de todos os dias que precisa do calor de nossa presença e de nossa efetiva ajuda, uma movimentação em beneficio dos que são subjugados.
A parábola do administrador esperto tem como pano de fundo um grande gosto pelo dinheiro.
“As pessoas preferem fazer dinheiro e ter cada vez mais coisas em vez de viver e ser felizes. Não querem ver que, precisamente, viver como escravos de tantas coisas é o que as impede de saborear a vida. Enquanto se afadigam refletindo sobre que último modelo irão adquirir, com que artigo sofisticado irão nos surpreende, nem eles mesmos se dão conta de como vão se incapacitando para desfrutar tudo o que bom e grande e belo uma vida simples e modesta encerra” (Pagola, Lucas, p. 269).
A felicidade não está no acúmulo de bens, mas numa atitude interior de admiração pelo que nos cerca e nos foi dado de presente e de podermos escutarmos bem de pertinho as batidas dos corações daqueles que estão fazendo conosco a mesma e fascinante aventura de viver.
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Anexo
A pobreza franciscana
A pobreza franciscana não é uma maneira de contestar o sistema da sociedade, nem estratégia apostólica, nem ato de ascese. Ela é, antes de tudo, uma maneira de seguir as pegadas de Cristo, É o caminho do Filho que nos revela a grandeza da altíssima pobreza(…). Francisco nunca mais poderá dissociar o rosto de Cristo do semblante dos pobres” (Michel Hubaut).
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Oração
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
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