sábado, 16 de março de 2024

Reflexão para o seu dia:

Uma lei paradoxal

José Antonio Pagola

Encontramos no Evangelho poucas frases tão desafiantes como estas palavras que resumem uma convicção bem própria de Jesus: “Na verdade eu vos digo: se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá infecundo; mas se morrer, produzirá muito fruto”.

A ideia de Jesus é clara. Com a vida acontece o mesmo que acontece com o grão de trigo, que deve morrer para libertar toda sua energia e produzir fruto. Se “não morrer” permanecerá estéril. Ao contrário, se “morrer” torna a germinar trazendo consigo novos grãos e nova vida.

Com esta linguagem tão clara e cheia de força, Jesus deixa entrever que sua morte, longe de ser um fracasso, será precisamente o que dará fecundidade à sua vida. Mas, ao mesmo tempo, convida seus seguidores a viver segundo esta mesma lei paradoxal: para dar vida é necessário “morrer”.

Não se pode gerar vida sem dar a própria vida. Não é possível ajudar a viver, se a pessoa não está disposta a “desviver” pelos outros. Ninguém contribui para um mundo mais justo e humano vivendo apegado a seu próprio bem-estar. Ninguém trabalha seriamente pelo reino de Deus e sua justiça, se não está disposto a assumir os riscos e rejeições, a conflitividade e a perseguição que Jesus sofreu.

Passamos a vida tentando evitar sofrimentos e problemas. A cultura do bem-estar nos empurra para organizar-nos da maneira mais cômoda e prazerosa possível. É este o ideal supremo. Mas há sofrimentos e renúncias que precisamos assumir, se quisermos que nossa vida seja fecunda e criativa. O hedonismo não é uma força mobilizadora; a obsessão pelo próprio bem-estar empequenece as pessoas.

Estamos nos acostumando a viver fechando os olhos ao sofrimento dos outros. Parece que isto é o mais inteligente e sensato para sermos felizes. É um erro. Conseguiremos certamente evitar alguns problemas e dissabores, mas nosso bem-estar será cada vez mais vazio e estéril, nossa religião cada vez mais triste e egoísta. Neste ínterim, os oprimidos e aflitos querem saber se sua dor importa a alguém.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                       Fonte: franciscanos.org.br        Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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