a paz deve ser conquistada a
cada dia
Francisco se deteve, em sua homilia, nas
duas imagens das serpentes: as serpentes venenosas que mordem e a serpente que
salva, narradas no Livro dos Números. O Papa disse que não faltaram no
Cazaquistão mordidas dolorosas: "Penso nas serpentes venenosas da
violência, da perseguição ateísta, penso num caminho por vezes conturbado
durante o qual foi ameaçada a liberdade do povo e ferida a sua dignidade",
disse ele.
O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística, nesta quarta-feira (14/09), Festa da Exaltação da Santa Cruz, na Praça da Expo, em Nur-Sultan, no Cazaquistão.
O Pontífice iniciou sua homilia, recordando
que no madeiro da Cruz, "Jesus tomou sobre si o nosso pecado e o mal do
mundo, e derrotou-os com o seu amor". "É por isso que fazemos festa
hoje", sublinhou. O Papa se deteve nas duas imagens das serpentes: as
serpentes venenosas que mordem e a serpente que salva, narradas no Livro dos
Números.
A paz nunca é conquistada de uma vez por
todas
"As serpentes que mordem atacam o
povo, que se deixou cair mais uma vez no pecado da murmuração. Murmurar contra
Deus não significa apenas falar mal e lamentar-se d’Ele. Significa também que
no coração dos israelitas, esmoreceu a confiança n’Ele, na sua promessa",
sublinhou Francisco, e tendo-se esgotado a confiança em Deus, o povo acaba
sendo mordido por serpentes que matam. "Quantas vezes, desanimados e
impacientes, perecemos nos nossos desertos, perdendo de vista a meta do
caminho", frisou o Papa, sublinhando que em certos momentos de cansaço e
provação, não temos forças para olhar para cima, olhar para Deus; em certas
situações de vida pessoal, eclesial e social somos mordidos pela serpente da
desconfiança, "injetando em nós os venenos da desilusão e do desconsolo,
do pessimismo e da resignação, fechando-nos no nosso eu, apagando o
entusiasmo".
Mas, na história desta terra, não faltaram
outras mordidas dolorosas: penso nas serpentes venenosas da violência, da
perseguição ateísta, penso num caminho por vezes conturbado durante o qual foi
ameaçada a liberdade do povo e ferida a sua dignidade. Faz-nos bem guardar a
recordação daquilo que sofremos: é preciso não cancelar da memória certas
obscuridades; caso contrário, pode-se pensar que sejam água passada e que o
caminho do bem esteja delineado para sempre. E não! A paz nunca é conquistada
de uma vez por todas; há de ser conquistada a cada dia, como também a
convivência entre etnias e tradições religiosas diferentes, o desenvolvimento
integral, a justiça social.
Segundo Francisco, para que "o
Cazaquistão cresça ainda mais «na fraternidade, no diálogo e na compreensão
(...) para “lançar pontes” de cooperação solidária com os outros povos, nações
e culturas», há necessidade do compromisso de todos, há necessidade de um
renovado ato de fé no Senhor: olhar para cima, olhar para Ele, aprender com o
seu amor universal e crucificado".
Da Cruz de Cristo, aprendemos o amor, não o
ódio
A segunda imagem, a serpente que salva.
Enquanto o povo morria por causa das serpentes venenosas, Deus escuta a oração
de Moisés e lhe diz para fazer uma serpente de bronze e colocá-la numa haste.
"Aquele que for mordido e olhar para ela, viverá". Deus poderia
simplesmente destruir as serpentes venenosas, sem dar instruções a Moisés, mas
este seu modo de proceder nos revela "o seu agir perante o mal, o pecado e
a desconfiança da humanidade. Deus não aniquila as baixezas que o homem segue
livremente: as serpentes venenosas não desaparecem, continuam existindo, estão
à espreita, sempre podem morder". "O que mudou então? Que faz
Deus?", perguntou Francisco.
A resposta vem de Jesus no Evangelho:
«Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o
Filho do Homem seja levantado, a fim de que todo o que n’Ele crê tenha a vida
eterna». "Esta é a virada", disse o Papa. "Chegou entre nós a
serpente que salva: Jesus, elevado na haste da cruz, não permite às serpentes
venenosas, que nos assaltam, levar-nos à morte. Perante as nossas baixezas,
Deus nos dá uma nova altura: se mantivermos o olhar voltado para Jesus, as
mordidas do mal não podem nos dominar, porque Ele, na cruz, tomou sobre si o
veneno do pecado e da morte, e aniquilou a sua força destruidora. Aqui temos o
que fez o Pai perante a propagação do mal no mundo; deu-nos Jesus, que se
aproximou de nós como nunca poderíamos imaginar."
Irmãos e irmãs, esta é a estrada, a estrada
da nossa salvação, do nosso renascimento e ressurreição: olhar para Jesus
crucificado. Daquela altura, podemos ver de uma maneira nova a nossa vida e a
história dos nossos povos. Porque, a partir da Cruz de Cristo, aprendemos o
amor, não o ódio; aprendemos a compaixão, não a indiferença; aprendemos o
perdão, não a vingança. Os braços abertos de Jesus são o abraço de ternura com
que Deus nos quer acolher. E mostram-nos a fraternidade que somos chamados a
viver entre nós e com todos. Indicam-nos o caminho, o caminho cristão: não o da
imposição e constrição, da força e da exuberância.
O Papa concluiu, dizendo que "no
madeiro da cruz, Cristo tirou o veneno da serpente do mal, e ser cristão
significa viver sem venenos: não nos mordermos entre nós, não murmurar, não
acusar, não criticar os outros, não disseminar as obras do mal, não poluir o
mundo com o pecado e a desconfiança que vem do Maligno. Que não haja em nós nenhum
veneno de morte. Ao contrário, rezemos para que, pela graça de Deus, possamos
tornar-nos cada vez mais cristãos: testemunhas alegres de vida nova, de amor,
de paz".
Mariangela Jaguraba
.................................................................................................................................................. Fonte: vaticannews.va
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