sábado, 24 de setembro de 2022

Reflita com dom Lindomar Rocha:

A imperativa opção pelo pobre

No ano do Evangelho de Lucas na vigésima sexta semana, Jesus começa a sua pregação dizendo: “havia um homem rico … e um pobre chamado Lázaro”, que ficava sentado na porta do homem rico…

Dom Lindomar

Essa narrativa tem um desenlace dramático, porque apesar de suas diferenças sociais, os dois morreram no mesmo dia, e tiveram destinos diferentes.

Continua nos dizendo o Senhor: o pobre morreu e foi levado para junto de Abraão, o rico morreu e foi enterrado (Lc16,22).

A oposição entre os dois, narrada a partir deste ponto, é mais antiga. Pois o rico jamais se dignou em perceber aquele irmão à sua porta. O erro, por fim, nem estava em suas posses ou riqueza, mas em seu desprezo pelo humano, pois, embora tivessem passado toda a vida juntos, jamais se condoeu com a sorte do irmão.

Na sorte derradeira, porém, naquele momento que a escatologia nos ensina que já não mais disporemos de nossa liberdade: “Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado” (16,23).

Pela primeira vez o rico avistou a Lázaro. As situações se inverteram, e ele não teve vergonha de pedir ajuda, embora a ajuda lhe tenha sido negada.

É de estrema gravidade o egoísmo daquele rico. Preocupa-se tão somente com a sua família, pede que Lázaro volte dos mortos, pois assim eles se converteriam e mudariam de vida. Não há um pensamento universal e fraterno para além dele mesmo e de seu círculo.

Jesus, porém, revela algo de muito mais profundo e dramático na vida daqueles que se apegam ao dinheiro como seu escudo e buscam neste mundo toda a recompensa. Após uma longa insistência para que Lázaro avisasse aos seus parentes, diz Jesus: “se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”.

O ponto aqui é a sua opção fundamental pelo dinheiro e deleite. Não é um desconhecimento das razões prementes da fraternidade humana. Aquele

homem rico havia feito a sua escolha durante a vida. Decidiu-se por cuidar apenas de si mesmo, e frente a experiência do desespero máximo, só consegue alargar o olhar até o limite de sua casa.

Não foi pela falta de profecia que aquele homem se perdeu, pois Amós já bradava “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião”, e continua em seguida: “eles irão agora para o desterro, na primeira fila” (Am 6, 1;7).

A este ponto a questão é a seguinte: a preocupação com a situação do pobre e com o pobre mesmo não é para nós opcional. A condição daquele que precisa do fundamental para sua existência se torna um imperativo para todo cristão. Desprezá-la é romper o laço sagrado da fraternidade em Deus. É abandonar o próprio Deus e seguir neste mundo servindo ao senhor errado.

Dom Lindomar Rocha Mota - Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

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