sábado, 17 de setembro de 2022

Reflexão para o 25º Domingo do Tempo Comum:

Deus ou o dinheiro

José Antonio Pagola

A frase é conhecida. Nenhum exegeta duvida de sua autenticidade. Pelo contrário, é a sentença que melhor reflete a atitude de Jesus diante do dinheiro. Por outro lado, a contundência com que Jesus se expressa exclui toda tentativa de suavizar seu sentido. “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”.

Hoje fala-se muito da crise religiosa provocada pelo racionalismo contemporâneo, mas esquece-se esse “afastamento” de Deus que tem sua origem não no agnosticismo, mas no poder sedutor do dinheiro. No entanto, de acordo com Jesus, quem se amarra no dinheiro termina afastando-se de Deus.

Sempre se realçou que, curiosamente, o Evangelho não denuncia tanto a origem imoral das riquezas conseguidas de maneira injusta quanto o poder que o dinheiro tem de desumanizar a pessoa, separando-a do Deus vivo.

As palavras de Jesus procuram causar impacto no ouvinte opondo frontalmente o senhorio de Deus e o do dinheiro. É impossível ser fiel a Deus e viver escravo do dinheiro. A riqueza tem um poder subjugador irresistível. Quando o indivíduo entra na dinâmica de ganhar sempre mais e de viver sempre melhor, o dinheiro termina substituindo a Deus e exigindo submissão absoluta. Nessa vida já não reina o Deus que pede solidariedade, mas o dinheiro que só busca o próprio interesse.

Os exegetas têm analisado com rigor o texto evangélico. O “dinheiro” é designado com o termo mammona, que só aparece quatro vezes nos evangelhos, e sempre na boca de Jesus. É um termo que provém da raiz aramaica aman (confiar, apoiar-se) e significa qualquer riqueza na qual o indivíduo apoia sua existência. O pensamento de Jesus aparece assim com mais clareza: quando uma pessoa faz do dinheiro seu único ponto de apoio e sua única meta, a obediência ao Deus verdadeiro desaparece.

A razão é simples. O coração do indivíduo que caiu na armadilha do dinheiro se endurece. Ele tende a buscar apenas seu próprio interesse, não pensa no sofrimento e na necessidade dos outros. Em sua vida não há lugar para a solidariedade. Por isso não há lugar para um Deus Pai de todos.

A mensagem evangélica não perdeu sua atualidade. Também hoje é um erro fazer do dinheiro o “absoluto” da existência. Que humanidade pode encontrar-se em quem continua açambarcando sempre mais, esquecendo absolutamente os que passam necessidade?

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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