domingo, 4 de setembro de 2022

Francisco na beatificação de João Paulo I:

 transmitiu a bondade do Senhor

“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado”. Palavras do Papa Francisco na homilia da Santa Missa de Beatificação do Papa João Paulo I, neste domingo, 4 de setembro.

Na manhã deste domingo, 4 de setembro, foi realizada a Santa Missa com o Rito de Beatificação do Papa João Paulo I na Praça São Pedro no Vaticano. Na sua homilia, o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia recordando das exigências de Jesus para segui-l’O perguntando-se o significado das suas advertências.

Seguir Jesus

Refletindo as palavras de Jesus o Papa disse: “Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus”. “Nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o ‘salvador’ que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder”. Porém Francisco adverte: “O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente, porque não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas”, frisa ainda.

O discernimento

“Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta”

“Com efeito – continua Francisco - pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas –admitamo-lo – são mundanas: por trás duma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Isso acontece hoje entre os cristãos. Mas não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja”. Segui-Lo, continua, “significa ‘tomar a própria cruz’ (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós”.

Ponderando em seguida: “Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado”. Citando João Paulo I disse, nós mesmos “somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga”. “Não se apaga: nunca se eclipsa da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras”. "Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição".

Citando ainda o novo Beato esclareceu:

“Se queres beijar Jesus crucificado, não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor. O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila.”

Ainda falando do amor ou do medo de nos perdermos, renunciarmos a dar-nos, ou deixar inacabadas as coisas, Francisco recorda que se fizermos assim: “Acabamos por viver a meias: sem nunca dar o passo decisivo, sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros.

Viver plenamente o Evangelho

“Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Sem cedências”

“Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever. Nesta linha, exclamava: ‘O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’”.

Por fim Francisco concluiu a homilia recordando:

“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no 'retrocedismo'. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha 'o sorriso da alma'; aquele transparente, aquele que não engana: o sorriso da alma, servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: 'Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais'”.  

Jane Nogara

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Papa Francisco no Angelus:

que a Virgem Maria nos ajude

a seguir o exemplo e a santidade de João Paulo I

Antes da recitação do Angelus, o Papa Francisco proferiu algumas palavras de agradecimento, invocando também a Virgem Maria pela Paz e para que nos ajude a seguir o exemplo do Beato João Paulo I.

No final da cerimônia de Beatificação do Papa João Paulo I, o Papa Francisco proferiu algumas palavras antes da oração do Angelus. A cerimônia foi realizada na Praça São Pedro no Vaticano, na manhã deste domingo, 4 de setembro.

"Antes de concluir esta celebração, dirijo minhas saudações a todos vocês e obrigado por sua participação. Agradeço aos meus irmãos Cardeais, Bispos e Sacerdotes provenientes de diferentes países. Saúdo as Delegações oficiais aqui presentes para prestar homenagem ao novo Beato. Meus respeitosos pensamentos vão para o Presidente da República Italiana e para o Primeiro Ministro do Principado de Mônaco. Saúdo a todos vocês peregrinos, especialmente os fiéis de Veneza, Belluno e Vittorio Veneto, lugares ligados à experiência humana, sacerdotal e episcopal do Beato Albino Luciani".

Concluindo invocou preces à Virgem Maria:

“E agora nos dirigimos em oração à Virgem Maria, para que ela possa obter o dom da paz em todo o mundo, especialmente na Ucrânia martirizada. Que Ela, a primeira e perfeita discípula do Senhor, nos ajude a seguir o exemplo e a santidade de vida de João Paulo I”

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Escrito inédito do Papa Luciani na véspera do Conclave

O fundador do canal de TV Telepace, padre Guido Todeschini, apresentou o bilhete que Dom Albino Luciani, Patriarca de Veneza, antes de entrar no Conclave, enviou ao então Bispo de Verona Dom Giuseppe Carraro. "Felizmente estou absolutamente fora de perigo" e "assim que possível irei visitá-lo", lê-se no documento que em breve será entregue à Fundação Vaticana João Paulo I.

"Creio que seja um dos últimos escritos do Cardeal Luciani". Afirma padre Guido Todeschini, fundador do canal de TV Telepace, que ontem à noite durante o programa 'Linea Aperta' mostrou a cópia de uma nota autógrafa recebida como presente do amado bispo de Verona Dom Giuseppe Carraro antes de sua morte. "É uma relíquia", disse o bispo sobre o documento autógrafo que o Patriarca de Veneza, seu amigo fraterno, lhe enviara na véspera da sua entrada no Conclave. "Roma, 24.8.1978", lê-se no alto da folha ao lado do cabeçalho impresso com o nome do Cardeal Albino Luciani.

"Fora de perigo"

"Felizmente, estou absolutamente fora de perigo", afirma em sua caligrafia minúscula e nem sempre fácil de decifrar sobre a eleição do sucessor de Paulo VI. Palavras que, segundo o padre Guido, refletem a humildade e a simplicidade de sua vida.  "Escreve 'felizmente', considera isso uma graça, ou seja, ele diz: 'Certamente não serei eu o eleito'. Também porque haviam sido feitas previsões na véspera das eleições e ninguém falava de Luciani". "Suposições e deduções jornalísticas", brinca o Patriarca de Veneza que, citando Pio X, as define como 'cabalas'". Cabalas que em breve "cairão", lemos ainda: o que restará, ao invés, é "o compromisso importante mais do que nunca de rezar e trabalhar pela Igreja".

Último escrito do Cardeal Luciani


O amor pela Igreja

Luciani estava tão convencido de que estaria fora "do perigo" que já pensava ao seu retorno a Veneza, chegando a marcar um encontro com o bispo de Verona. "Assim que for possível, virei visitá-lo", escreve ele. E acrescenta: "Do Conclave e do pré-Conclave, infelizmente, não poderei dizer nada, carrego o segredo comigo". Tons confidenciais, portanto, embora em total respeito aos papéis. Os dois "falavam com frequência", confirma o padre Guido. Para ambos, a Igreja estava em primeiro lugar: era preciso fazer todo o possível e também dar a própria vida".

A parte inicial da missiva também fala do amor pela comunidade eclesial: "Rezo pela Igreja e pela pessoa que os cardeais elegerão para suceder o falecido Paulo VI". E há mais. O Patriarca de Veneza teme, evidentemente compartilhado com Carraro, que o novo Papa "tenha uma tarefa ainda mais difícil" do que Montini. "Ele não sabia que estava falando dele mesmo", comenta padre Guido sorridente, recordando a fumaça branca e o anúncio de seu nome que ocorreria apenas dois dias depois.

Escrito do Cardeal Luciani


Um documento de grande valor

"Guardamos meticulosamente este documento e logo o entregaremos à Fundação Vaticana João Paulo I", continua o sacerdote, que, no entanto, expressa um pesar: o de ainda não ter conseguido encontrar o original. Trata-se de um cartão simples, daqueles amplamente utilizados no passado, que se encaixam perfeitamente em envelopes de papel. "Estava escrito na frente e no verso e foi feita uma cópia unindo os dois lados". Na esperança de conseguir isso, o padre Guido recorda o ditado que diz que "os santos se encontram" para expressar outro desejo: que a Igreja em breve proclame também Dom Carraro beato, atualmente é venerável.

Eugenio Bonanata

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A família brasileira de João Paulo I

Dois primos separados pela migração. Porém, Bortola Tancon, mãe de Albino Luciani, nunca deixou de se corresponder com Giovanni Valentino Tancon, que fixou residência em Santa Catarina. A neta de Giovanni voltou a reunir a família encontrando-se com João Paulo I.

Se a migração italiana deu um Papa à Argentina, deu também uma família brasileira a João Paulo I.

A nossa história começa em 1897, a primeira onda migratória que uniu a Itália ao Brasil. Neste caso, mais precisamente a região do Vêneto com o Estado de Santa Catarina.

Foi ali, na Colônia Luiz Alves, que se estabeleceu um ramo da família Tancon, sobrenome da mãe de Albino Luciani: Bortola Tancon.

Apesar da distância, Bortola sempre manteve correspondência com seu primo, Giovanni Valentino Tancon, pois eram como irmãos, tendo crescido juntos em Canale d’Agordo, terra natal de João Paulo I. E foi justamente a neta de Giovanni, Iria, que viria a restabelecer o elo com a família de origem ao visitar a Itália e o ano não poderia ter sido mais providencial: 1978.

“Eu o encontrei pela primeira vez em maio de 1978 em Roma, quando ele veio para uma visita ao Vaticano, e me convidou para almoçar com ele lá nas irmãs de Santa Dorotéia, em Forte Boccea. Foi aí que eu o conheci. Eu, toda tímida, com receio, imagina eu ia encontrar o patriarca. Quando ele chegou à sala para almoçar, juntamente com a sobrinha dele, Lina Petri, era como se eu o conhecesse a vida toda, era uma pessoa de uma simplicidade, de um carinho, um sábio na sua simplicidade. E aí conversamos de tudo, conversamos inclusive da viagem que ele tinha feito ao Brasil - e que não tinha procurado os parentes e não tinha encontrado - e esses parentes não estavam justamente no Estado em que ele esteve, porque ele esteve em São Paulo e Rio Grande do Sul, pulou justamente o Estado de Santa Catarina. Conversamos muito e a partir daí nasceu um carinho, e uma relação de espiritualidade realmente muito grande entre nós.

Quando veio a Roma para o Conclave, telefonei para ele para combinarmos uma janta e ele me prometeu: “Iria, assim que terminar o Conclave, agora eu não posso - ele era o presidente da CEI - preciso estar aqui para organização, mas assim que terminar, antes de subir para Veneza, nós vamos jantar juntos”. E infelizmente ou felizmente, quando terminou o Conclave, ele saiu Papa, aí não tivemos mais essa oportunidade.

Eu estava na Praça naquele momento em que foi anunciado a sua eleição, no Habemus Papam. Eu não posso descrever qual foi a minha emoção. Estava vivenciando como uma jovem, naquele tempo, um momento histórico particular e diria, depois que soube o nome, um momento familiar assim de grande intensidade. Foi uma emoção incontida, foi uma emoção que vocês eu acho que entendem, né? Não tem palavras para descrever. E depois no dia seguinte, no Angelus, eu estive também...

Seu irmão, "Zio" Berto, então me levou na audiência privada da família, junto com os seus. E quando ele veio ao meu encontro na sala de audiência lá do Vaticano, de longe já disse: “Grazie Iria del telegrama”. Imagina, no meio de tantos telegramas que ele recebeu, lembrar do meu telegrama que havia mandado por ocasião da sua eleição!

Essa simplicidade não me deixou encabulada. E ele veio ao meu encontro, aí pudemos conversar, e depois ele mandou pelo Tio Berto todos os jornais da eleição e da entronização que eu trouxesse para o meu pai, aqui para família. Então, ele era uma pessoa mesmo de família.

E eu gostaria também de dizer que nós aqui no Brasil, a família, mas não só, as pessoas têm uma veneração muito grande pelo Dom Albino. Ele cativou o nosso povo e mundo todo. Por isso, em 2010/2011, quando teve o ano da Itália no Brasil, esta Chiesetta nós consagramos ao Cristo dos Alpes, mas dedicamos a Dom Albino Luciani, ao Papa Sorriso. Então hoje o Papa Sorriso tem uma Chiesetta que o recorda, onde celebramos sempre a sua memória e a ele nós pedimos sempre a intercessão pelo nosso povo, pela nossa gente e pelo mundo todo. E ele, sorrindo, sempre nos abençoa."

Bianca Fraccalvieri

A igreja dedicada a Dom Albino Luciani

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