“As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz!” (Montessori).
Para esse mês de
março eu tinha decidido escrever sobre a Quaresma e a Campanha da Fraternidade.
Mas a guerra da Rússia contra a Ucrânia é, nesse momento, a pauta principal em
todas as mídias corporativas e empresariais e também na mídia alternativa. Acho
que os assuntos (Quaresma / CF e Guerra na Ucrânia) têm a ver. Ou talvez
não! Mas confio que as leitoras e os leitores terão maturidade e
perspicácia para decidir.
Dizem que “não há
nada que esteja ruim e que não possa piorar”. Pode ser esta uma afirmação
pessimista ou realista. Realista sobretudo se colocarmos também o contrário:
“nada está tão bom que não possa melhorar”. Mas voltando à primeira
afirmação, para nós brasileiras e brasileiros, depois dos retrocessos
políticos, sobretudo nas políticas públicas e nos direitos sociais desde 2016,
os quais julgávamos já garantidos pela Carta Magna de 1988; depois da pandemia
da Covid-19 e da volta do negacionismo científico e de um conservadorismo
social e religioso que pareciam sepultados com o Concílio Vaticano II, eis que
nos vemos às voltas com um possível terceiro conflito mundial! E mais, um
conflito nascido na Europa, berço da civilização ocidental e que prega para o
mundo que a sua civilidade é maior e melhor que a dos outros povos e
continentes!
Levando-se em conta e
a sério a tão propalada cultura ocidental europeia que visa civilizar o mundo,
o advento de uma nova guerra no continente, nos levaria a cometermos suicídio
coletivo – informo que não acho que suicídio seja solução para nenhum problema
e que me acho covarde demais para cometê-lo ou defendê-lo em quaisquer
circunstâncias. Mas é melhor continuarmos vivendo a vidinha medíocre de
sempre! O que quero dizer aqui é que o mito de que as brigas só se dão
entre os incultos ou menos cultos – que seriam as civilizações ameríndias ou
africanas e também asiáticas –, mais uma vez é derrubado com o evento bélico
que estamos a assistir lá pelos civilizados lados da Europa, mas que,
indiretamente, já respinga no mundo todo.
No entanto, vamos ao
X da questão. Quem é a favor da guerra? Em tese, ninguém. Porém, todos nós
guerreamos constantemente desde a infância. Brigamos por comida, por
brinquedos, pela herança, pelo colo dos pais, pelos amores da vida, pelo
espaço, por emprego, por status. Afinal, vivemos no mundo de economia
capitalista, e o capitalismo é competitivo. Por outro lado, a ira que leva
à violência é inerente ao ser humano e, assim como o medo, garante sua
sobrevivência.
Mas, e as guerras?
Essas são decididas por pessoas velhas (maioria absoluta de homens) que mandam
para a morte jovens, sem se importarem com suas vidas, suas famílias, seus
amores. As guerras matam não só os soldados, mas também populações civis, que
incluem pessoas de todas as idades, de crianças a idosos, normalmente os mais
pobres. Por isso, nenhuma pessoa de bom senso poderia ser a favor da guerra.
Porém o que embaralha tudo, e isso fica no “não dito”, é quem ganha com a
guerra, assim como quem ganha com o armamento da população: a indústria de
armas. Vidas perdidas, sonhos destruídos, economias arruinadas aqui; e lá,
contas bancárias engordando de forma estratosférica. E depois há também a
questão da reconstrução de tudo o que as guerras destruíram… o dinheiro é o
grande ídolo ao qual são sacrificadas vidas humanas. E esse ídolo é voraz,
insaciável, na verdade. É um monstro que pisa forte, pisadas de morte (cf. León
Gieco).
O Papa Francisco tem
se posicionado forte e efetivamente contra essa guerra e contra todas as
guerras. Ele foi pessoalmente à embaixada da Rússia, enviou dois cardeais para
o front e envida esforço diplomático. Na linha de seus antecessores,
vem combatendo a guerra, o armamento e a pena de morte. Mostra que a
Humanidade já construiu instrumentais para resolver suas pendengas sem precisar
recorrer às armas. Mas, no meio do discurso papal, há o ídolo das riquezas.
E tem também os ditos cristãos e católicos, que se dizem também
tradicionalistas, conservadores e sedevacantistas (não aceitam Francisco como
papa) e contra o Concílio Vaticano II.
No ano passado, no
Brasil também tivemos uma guerra, de âmbito religioso. Como toda guerra, foi
uma guerra contra a paz e a unidade. Uma guerra religiosa contra uma Campanha
da Fraternidade que, sendo ecumênica, pregava justamente a unidade. Uma guerra
que, a pretexto de defender a Quaresma, acabou com a quaresma de muita gente e
também com a fraternidade, a solidariedade, a caridade. Neste ano de 2022, a
Campanha da Fraternidade é sobre a Educação. Lembremos que também a
evangelização é educação. Jesus, vindo ao mundo para anunciar o Reino de
seu Pai, faz do seu conteúdo uma metodologia que, pedagogicamente, fala de paz,
de tolerância, de amor.
Horrorizados com a
guerra na Ucrânia e com todas as guerras, somos chamados a repensar nossa
educação. Todos somos frutos de nossos processos educativos. E somos
sabedores de que a educação de toda pessoa se dá de forma coletiva. Nela
contribuem a família, a escola, a Igreja, a sociedade. E hoje, as redes
sociais. De todos os sujeitos educadores, ao menos a família, a escola e a
Igreja podem, de alguma forma, planejar, avaliar e repensar sua ação. E somos
nós, essas três instituições que podemos e devemos levar a sério o pensamento
da educadora Maria Montessori: se educamos para a competição, teremos guerra;
mas, se educarmos para a cooperação, poderemos ter paz. Afinal, estamos
educando para a guerra ou para a paz?
Certamente não
resolveremos o conflito no leste europeu nem acabaremos com o ódio dos que não
aceitam as Campanhas da Fraternidade. Mas podemos educar as futuras
gerações com base no amor e na cooperação e para a paz. Aliás, para isso o Papa
Francisco lançou um “Pacto Global pela Educação”. Que nossa Quaresma seja um
tempo de educar para a paz. Como, aliás, fez Jesus!
Belas palavras
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