Ensina com amor
Ensinar com amor é meta prioritária e
compromisso interpelante da Campanha da Fraternidade 2022 – de tema
“Fraternidade e Educação” -, iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), iluminada pelo horizonte do tempo da Quaresma. A prioridade
desta meta – ensinar com amor – formando o binômio com o “falar com sabedoria”,
contém propriedades para respostas urgentes na configuração civilizatória do
mundo contemporâneo. E somente é capaz de ensinar com amor aqueles que são
aprendizes do amor a ser ensinado. Essa capacidade para educar remete a um
inteligente pensamento de Santa Tereza d´Ávila, Doutora da Igreja: ensinar não
é teorizar, mas transmitir convicções e compartilhar experiências.
![]() |
Dom Walmor |
A qualidade da educação vai além da
transmissão e do aprendizado de conteúdos informativos e técnicos – essenciais
para a condução de processos. Envolve o compartilhamento de convicções e
de experiências, emoldurando e fecundando as dinâmicas do contexto educacional.
Compreende-se, consequentemente, que ensinar com amor é força pedagógica
determinante e investimento importante para que a humanidade consiga
revestir-se de um novo tecido civilizatório, com mais fraternidade, justiça e
paz. Por isso, abordagens relacionadas aos processos educativos não se limitam aos
ambientes das escolas e academias. Oportuna é a convocação do Papa Francisco
para que todas as forças sejam investidas na efetivação de um Pacto Educativo
Global. Isto significa compreender e atuar por uma nova realidade e um novo
horizonte para a educação, incontestavelmente porque o atual cenário dá sinais
evidentes de que precisa mudar, em diversos âmbitos e aspectos.
A sociedade pede rápidas mudanças, que
podem ser alcançadas por meio de um processo educativo capaz de levar o ser
humano a reconhecer a sacralidade da vida e a necessidade de se priorizar a
fraternidade universal. Tristemente, o mundo convive com escolhas e decisões
equivocadas que inviabilizam esse reconhecimento. Com isso, a justiça e a paz
ficam comprometidas, convive-se com os horrores das guerras, com a exclusão
social que agrava cenários de miséria e de fome. A vida – da concepção à morte,
com o declínio natural – fica permanentemente ameaçada, por escolhas e decisões
equivocadas, também de dirigentes e líderes. Convive-se com o envenenamento das
manipulações de interesses e até de legislações, para favorecer desmandos e
ilegalidades. Atitudes egoístas que atrasam a sociedade na conquista de uma
lucidez possível, quando considerados os avanços científicos e as lições
oferecidas pela história.
Ensinar com amor é, pois, o desafio a ser
assumido para que se possa transformar a realidade. Particularmente, merece
atenção o que ocorre no Brasil, onde o ensino formal avançou significativamente
nas últimas décadas, mas, ao mesmo tempo, há graves desafios estruturais no
campo da educação. As dimensões continentais do País, marcadas pelas
singularidades regionais, configuram um cenário complexo, com problemas que,
para serem superados, pedem a participação de toda a sociedade, com inteligente
e arrojada articulação de instâncias governamentais. De modo especial, é
preciso acabar com uma dívida histórica, relacionada à escolarização dos mais
pobres. Trata-se de “um dever de casa” que o Brasil não conseguiu concluir.
Investimentos mais determinantes no ensino,
para superar as carências desse campo no Brasil, são especialmente relevantes
no contexto de um pacto educativo global – que considera a necessidade de
avanços mais expressivos, em todo o planeta, edificando nova consciência
civilizatória. É hora de um novo tempo na educação – não como um processo
sectário, singular, mas uma obra necessariamente social. Uma educação integral
e inclusiva, cuidadosa – para não se contaminar com ideologias venenosas e
prejudiciais -, capaz de promover diálogos construtivos, contribuindo para que
prevaleça a unidade e sejam superados os conflitos. Pertinente é a observação
do Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si’: a educação será ineficaz e
seus esforços estéreis se não houver compromisso com a construção de novos
parâmetros relacionados ao ser humano, à sociedade e ao cuidado com a natureza.
A atuação de educadores no âmbito formal
escolar, na família, nas instâncias governamentais e empresariais é, pois,
decisiva. Igualmente importante: cada cidadão compreenda que processos
educativos são válidos e cumprem bem o seu papel na medida em que se ensina com
amor. Isto significa reconhecer a importância do outro, do sentido de
alteridade, conforme ensina a fé cristã. Essa compreensão sublinha a
importância do amor, invalidando ódios e disputas. Assim, revela-se prioridade
investir na educação dos sentimentos e das emoções, de onde podem nascer
preconceitos e discriminações que ferem o tecido civilizacional. Consegue
aprender e, consequentemente, ensinar com amor quem se deixa fecundar pela
espiritualidade da solidariedade fraterna, curando-se dos extremismos e das
polarizações. Trata-se do caminho que leva à competência para falar com
sabedoria. O mundo precisa, muito e urgentemente, de quem ensina com amor.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo
de Belo Horizonte (MG)
.................................................................................................................................................. Fonte: cnbb.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário