segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Duas interessantes reflexões para seu início de semana:

Estar presente e tornar-se uma dádiva

Na caminhada de preparação ao Natal que, acima de tudo, é Cristo, temos que tomar cuidado de não perder o motivo da festa e da alegria. Trata-se, não tanto de pensar em presentes ou presentear, mas de estar presente nos relacionamentos com nossos familiares, amigos e, sobretudo, com os pobres e sofredores neste tempo de cuidar. A figura bonachona do Papai Noel pode nos confundir pela sua sobreposição ao Menino Jesus.

Dom Roberto

São Nicolau, o bispo de Mira, que deu origem e inspiração ao Papai Noel, é, antes que nada, um exemplo a seguir de como acolher a dádiva grandiosa do Filho de Deus, para com Ele tornar-se uma dádiva, um dom, uma graça do amor divino para os outros. Recordemos que São Nicolau protegeu crianças, resgatou meninas e jovens que seriam prostituídos, e distribuiu os seus bens entre os necessitados, morrendo mártir, testemunhando o seu amor fiel a Cristo, o Salvador que esperamos.

As coisas materiais perdem, em pouco tempo, seu valor, e o que faz que o Natal aconteça e nos encontremos com o Deus Criança é nossa ternura inocente, nosso amor generoso e incondicional. Não precisamos colocar um gorro de Papai Noel, mas buscar sermos capazes de autêntica doação, escuta e partilha da nossa vida, mostrando aos nossos irmãos de caminhada e todas as criaturas que somos alegres e felizes em viver com eles a comunhão e fraternidade que nos vem do Menino da manjedoura.

O Advento nos impele a reavivar a imaginação profética com o sonho de Deus, recuperar nossa capacidade de pensar um modo diferente de viver e conviver, mais harmonioso e equilibrado, mais belo e essencial. Percorrer a estrada que nos leva a Belém e ao presépio significa, antes de tudo, empreender uma jornada espiritual de simplicidade, desapego e profunda compaixão para com todos e toda a Criação.

Natal é tempo de celebrar a vida, de nos curar não só das pandemias, mas das desilusões, das mágoas e cicatrizes ainda abertas para deixar-nos inspirar pela criança interior onde sempre nasce Jesus. Deus seja louvado!

                                        Dom Roberto Francisco Ferreria PazBispo de Campos (RJ)

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Tempo de esperançar

O profeta Isaías, pelos idos do século VIII antes de Cristo, quando o povo enfrentava realidade adversa, investe, fortemente, na arte de esperançar. Ele compreende algo que é incontestável: a desesperança constitui um fosso de derrotas e fracassos. O profeta, no exercício de sua missão educativa, trabalha para devolver ao povo a esperança perdida por várias razões. Contribui, assim, para despertar nas pessoas a força capaz de recuperar clarividências civilizatórias, recompor a identidade e encontrar rumos na construção da própria história. Esperança é pilar de uma sociedade com incidência na vida de cada cidadão.

Dom Walmor

Desiste de lutar quem está desesperançado, pois carece de uma luz e de uma força que conferem sentido ao viver. As catástrofes, pandemias e descompassos do dia a dia e da história não podem ser superados sem a virtude da esperança, que nunca deve ser confundida com sentimentos efêmeros ou promessas inexequíveis. Essa confusão também leva a fracassos e prejuízos. Vale se lembrar da palavra proclamada pelo profeta Isaías, conhecido por sua rica e poética literatura, para reconhecer a força restauradora da genuína esperança. Ele anuncia ao povo que “um broto vai surgir do tronco seco de Jessé, das velhas raízes, um ramo brotará”. É educativo estabelecer reflexão sobre esse anúncio de esperança no contexto atual, quando uma pandemia se abate sobre a vida do planeta e todos aguardam por uma vacina.

O caminho deste tempo desesperador, incerto e inquietante desafia a existência humana nos seus alicerces. A falta de uma indicação sobre o rumo a seguir esvazia o sentido da vida, aproximando a humanidade da morte. Torna-se, pois, ainda mais necessária uma prática reconfortante e restauradora oferecida pela fé cristã a cada pessoa: prestar atenção, ouvir e se deixar interpelar pelos percursos das quatro semanas do tempo do Advento, preparação para o Natal do Senhor, iluminados pela Palavra de Deus.

O broto de esperança é uma pessoa. Seu nome é Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, o único que valida a inexorável esperança fidedigna. Deve-se prestar atenção ao anúncio do profeta Isaías, compreendê-lo para restaurar a própria interioridade e, assim, fortalecer o alicerce que sustenta a vida e qualifica a cidadania. O profeta Isaías, reacendendo luzes de esperança, anuncia: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu”. Na esperança cristã o povo encontra força para reconstruir seus rumos e conquistar novo tecido sociocultural. Cada pessoa que cultiva a esperança cristã é capaz de adotar um estilo de vida renovado.

A esperança cristã tempera e impulsiona uma concretização política qualificadora da civilização que nenhuma ideologia partidária tem competência para alcançar.  Alicerça a vida de um povo sobre parâmetros humanísticos indispensáveis para vencer este momento de luto e perdas. Alimenta estratégias que possibilitam conquistas a partir do princípio da solidariedade – grande remédio para vencer desastres de todo tipo. No ar está uma inquietante pergunta quando se fala em esperança: o se pode esperar? Essa interrogação existencial, humana e social, para ser respondida, exige humildade para reconhecer a centralidade da pessoa que é a esperança fidedigna. Oportuno, nesse caminho, dedicar-se aos versos de Thiago de Mello, em Memória da Esperança: “Na fogueira do que faço por amor me queimo inteiro. Mas, simultâneo renasço para ser barro do sonho e artesão do que serei. Do tempo que me devora me nasce a fome de ser. Minha força vem da frágil flor ferida que se entreabre resgatada pelo orvalho da vida que vivi. Qual a flama que darei para acender o caminho da criança que vai chegar? Não sei. Mas, sei que já dança, canção de luz e sombra na memória da esperança”.

                           Dom Walmor Oliveira de AzevedoArcebispo de Belo Horizonte (MG)
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                                                                                                                              Fonte: cnbb.org.br

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