segunda-feira, 22 de junho de 2020

Refletindo com Dom José Francisco

Enxergar claramente
Do livro do Gênesis a Sócrates, a perfeição humana tem seu lastro no conhecimento do bem e do mal. Mas poderá esse conhecimento ser ensinado?
Dom José Francisco
Até onde sabemos, uma pessoa pode ensinar à outra quais coisas são tidas como boas. Até onde a vista alcança, essas informações podem ser passadas por meio da instrução: elas formam a substância da formação moral, tal como é praticada.
No entanto, alguém só sabe se isto é bom, ou não, se puder constatar diretamente por si mesmo. O conhecimento de certos valores acontece numa relação direta, como ver que o céu é azul e a grama, verde. Ele não consiste em pedaços de informação que podem transitar de uma mente para outra. Em última instância, todo indivíduo deve ser capaz de julgar por si mesmo o que deve ser feito. Para ser um homem completo, é preciso tornar-se moralmente autônomo, a ponto de discernir a bondade e controlar sua própria vida.
O que Sócrates chama de perfeição humana pode ser percebido como a possibilidade de alguém estar em uníssono consigo mesmo, ter discernimento próprio, e seguir o caminho vislumbrado. A essa clareza, que nasce de dentro, chamamos de ética. Ao que é imposto de fora dá-se o nome de moral.
Essa possibilidade de o sujeito ser ele mesmo é uma responsabilidade da qual ninguém deveria escapar. Ainda que se aceite uma autoridade externa, tratando-a como responsável por aquilo que se venha a fazer, cada um continua responsável pela escolha original de qual autoridade deva ser obedecida. Há um juiz interno que não pode delegar suas funções a outrem.
Quando o olho da alma enxerga claramente, não se pode apelar contra sua decisão. Educar não significa ensinar. É, antes, o movimento de abrir janelas nas trevas deturpadoras do preconceito. Afinal, todo preconceito é só uma opinião de segunda mão.
                          Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo Metropolitano de Niterói
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