domingo, 8 de junho de 2025

Solenidade de Pentecostes:

Só o Espírito de Jesus nos converte em Igreja viva

José Antonio Pagola

João teve um cuidado especial com a cena em que Jesus vai confiar a seus discípulos sua missão. Ele quer deixar bem claro o que é essencial. Jesus está no centro da comunidade, cumulando todos com sua paz e alegria. Mas aos discípulos, espera-lhes uma missão. Jesus não os convidou só para desfrutar dele, mas para fazê-lo presente no mundo.

Jesus os “envia”. Não lhes diz em concreto a quem devem ir, o que devem fazer ou como hão de atuar: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. Sua tarefa é a mesma de Jesus. Não têm outra: a que Jesus recebeu do Pai. Eles têm que ser no mundo o que Ele foi.

Eles viram de quem Ele se aproximava. Como Ele tratava os mais desvalidos, como levou adiante seu projeto de humanizar a vida, como semeou gestos de libertação e de perdão. As feridas de suas mãos e seu lado lembram-lhes sua entrega total. Jesus os envia agora para que “reproduzam” sua presença entre as pessoas do mundo inteiro.

Mas sabe que seus discípulos são frágeis. Mais de uma vez ficou surpreso com sua “pouca fé”. Precisam de seu próprio Espírito para cumprir sua missão. Por isso dispõe-se a fazer com eles um gesto muito especial. Não lhes impõe as mãos, nem os abençoa, como fazia com os enfermos e os pequenos: “Sopra sobre eles e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”.

O gesto de Jesus tem uma força que nem sempre sabemos captar. Segundo a tradição bíblica, Deus modelou Adão com barro; depois soprou sobre Ele seu “sopro de vida”, e aquele barro converteu-se num “vivente”. Isso é o ser humano: um pouco de barro animado pelo espírito de Deus. E a Igreja será sempre isso: barro animado pelo Espírito de Jesus.

Crentes frágeis e de pouca fé: cristãos de barro, teólogos de barro, sacerdotes e bispos de barro, comunidades de barro … Só o Espírito de Jesus nos converte em Igreja viva. As zonas em que seu Espírito não é acolhido permanecem “mortas”. Prejudicam a todos nós, pois nos impedem de atualizar sua presença viva entre nós. Muitos não podem captar em nós a paz, a alegria e a vida renovada por Cristo. Não devemos batizar só com água, mas infundir o Espírito de Jesus. Não só temos de falar de amor, mas amar as pessoas como Ele as amou.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                               Fonte: franciscanos.org.br   Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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