sábado, 10 de agosto de 2024

Reflexão do teólogo José Pagola:

Escutar a voz de Deus na consciência

José Antonio Pagola

Jesus está discutindo com um grupo de judeus. Num determinado momento, faz uma afirmação de grande importância: “Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair”. E mais adiante continua: “Quem ouve o Pai e é instruído por Ele, vem a mim”.

A incredulidade começa a brotar em nós desde o momento em que começamos a organizar nossa vida de costas para Deus. Simplesmente isto. Deus vai permanecendo aí como algo de pouca importância, acantonado em algum lugar esquecido de nossa vida. É fácil então viver ignorando a Deus.

Mesmo nós que nos dizemos crentes estamos perdendo a capacidade para escutar a Deus. Não que Deus não fale no fundo das consciências. É que, cheios de ruídos e autossuficiência, já não sabemos mais perceber sua presença calada em nós.

Talvez seja esta a nossa maior tragédia. Estamos expulsando Deus de nosso coração. Resistimos a escutar seu chamado e nos ocultamos de seu olhar amoroso. Preferimos “outros deuses” com quem viver de maneira mais cômoda e menos responsável.

Mas, sem Deus no coração, ficamos como que perdidos. Já não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos. Não reconhecemos o que é o essencial e o que é pouco importante. Cansamo-nos buscando segurança e paz, mas nosso coração continua inquieto e inseguro.

Fizeram-nos esquecer que a paz, a verdade e o amor são despertados em nós quando nos deixamos guiar por Deus. Tudo adquire então nova luz. Tudo começa a ser visto de maneira mais amável e esperançosa.

O Concílio Vaticano II fala da “consciência” como “o núcleo mais secreto” do ser humano, o “sacrário” no qual a pessoa “se sente a sós com Deus”, um espaço interior onde “a voz de Deus ressoa em seu recinto mais íntimo”. Descer até o fundo desta consciência para escutar os anseios mais nobres do coração é o caminho mais simples para escutar a Deus. Quem ouve essa voz interior se sentirá atraído para Jesus.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                      Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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