domingo, 25 de abril de 2021

Bela reflexão do Pe. Johan Konings para este domingo:

O pastor, os pastores e a pastoral

O evangelho traz as palavras de Jesus sobre o “bom pastor” (Jo 10,11-18) e a 1ª leitura (At 4,8-12) nos mostra o primeiro pastor da jovem comunidade cristã, Pedro, defendendo o rebanho perante o supremo conselho dos judeus em Jerusalém. Dois exemplos de pastores que põem em jogo sua vida em prol de suas ovelhas. Por isso, também, este domingo é o do­mingo das vocações “pastorais”.

Antes, porém, de assimilar a mensagem destas leituras é preciso deslocarmo-nos para as estepes da Judeia, para imaginar o que significa a imagem do “pastor”. O povo de Judá era, tradicionalmente, um povo de pastores de ovelhas e cabras. Assim, por exemplo, o rei Davi foi chamado de detrás do rebanho para ser rei de Judá e Israel. Ora, havia pastores proprie­tários, para quem o rebanho era seu sustento, e assalariados, que não se importavam muito com o rebanho…. Todo judeu conhecia a história de Davi, que, para salvar o rebanho de seu pai Jessé, correu risco de vida enfrentando um leão (1 Sm 17,34-37). E conheciam-se também as advertências proféticas contra os maus pastores de Israel (os reis e chefes) que se engorda­vam às custas das ovelhas em vez e de conduzi-las à pastagem (Ez 34,2 etc.).

O pastor “certo” é Jesus, diz Jo 10,11. Ele conduz as ovelhas com segurança, dando a vida por elas, pois são pedaços de seu coração, à diferença dos assalariados, que fogem quan­do se apresenta um perigo: um leão, um lobo… Jesus é o pastor de verdade, o Messias, o novo Davi e muito mais! Ele dá a vida pelas ovelhas. O caminho pelo qual conduziu as ovelhas foi o do amor até o fim. Ele deu o exemplo. Sua vida certamente não esteve em contradição com sua “pastoral”, como acontece com outros.

O que é pastoral? Não é chefia e organização. É conduzir, no amor demonstrado por Jesus, aqueles que viram nele resplandecer a vida e a salvação. Os que escutam sua voz. Pastoral é evangelização continuada, é fidelidade à boa-nova proclamada. Assim como a “pastoral” de Jesus, talvez exija fidelidade até a morte (desde Tiago e Pedro até Dom Oscar Romero e os demais mártires de hoje). Os pastores têm de identificar-se com Jesus, que dá a vida pelos seus.

Quem são as ovelhas? São os que seguem a voz do pastor. Mas não só os que participam da Igreja de modo organizado. A organização da comunidade não é o último critério para a missão pastoral. Diante dos discípulos que eram de origem judaica, Jesus declarou: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste rebanho” (Jo 10,16). A pastoral tem uma dimensão missionária que ultrapassa os integrados e organizados!

E quem são os pastores? Há pastores constituídos, os que participam do sacramento da Ordem (bispos, presbíteros, diáconos). Mas, como o Espírito sopra onde quer, a vocação pasto­ral pode estender-se além desses limites. Cada um pode ser um pouco “pastor” de seu irmão. Até os serviços que a Igreja anima para a transformação da sociedade são chamados de pasto­rais (“pastoral da terra”, “da mulher marginalizada”, “dos direitos humanos” etc.). O que im­porta é que os agentes pastorais assumam o empenho da própria vida na linha de Jesus e de seu testemunho de amor. Que sejam “bons pastores”, amando a Cristo e a seus irmãos de modo ra­dical, dando a vida por eles. Que não usem as ovelhas para ambições eclesiásticas ou políticas. Que não sejam traiçoeiros. Que transmitam a seus irmãos o carinho de Deus mesmo.

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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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                                                      Fonte e ilustração: franciscanos.org.br       Banner: cnbb.org.br

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