sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Papa Francisco no 2º dia da Visita à Colombia:

A reconciliação concretiza-se com a contribuição de todos

Villavicencio (RV) - O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística, nesta sexta-feira (09/09), na esplanada de Catama, em Villavicencio, missa em que beatificou os Servos de Deus Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, Bispo de Arauca, e Pedro María Ramírez Ramos, sacerdote diocesano. A visita papal a essa cidade teve como tema “Reconciliação com Deus, com os colombianos e com a criação”.
Francisco beatificou
Jesús Emilio Jaramillo Monsalve e Pedro María Ramírez Ramos
O Pontífice deixou Bogotá e se dirigiu de avião a essa cidade. Após 40 minutos, o avião papal aterrissou na Base Aérea Luis Gómez NiñoApiay, em Villavicencio. 
Ao chegar à esplanada de Catama, o Papa fez um giro de papamóvel entre os fiéis e a seguir se dirigiu para a sacristia. Participaram da missa cerca de um milhão de fiéis provenientes também das vastas regiões dos Llanos e povoados indígenas, além de vítimas da violência. 
Antes da homilia, teve lugar o rito de beatificação dos dois mártires colombianos.
"Com Nossa Autoridade Apostólica declaramos que os Veneráveis Servos de Deus Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, do Instituto de Missões Estrangeiras de Yarumal, Bispo de Arauca, Pedro María Ramírez Ramos, sacerdote diocesano, Pároco de Armero, mártires, que, como pastores segundo o coração de Cristo e coerentes testemunhas do Evangelho, derramaram o sangue por amor ao rebanho que lhes foi confiado, de agora em diante, sejam chamados Beatos, e se poderá celebrar sua festa cada ano, nos lugares e no modo estabelecido pelo Direito, em 3 e 24 de outubro, respectivamente. 
Natividade de Maria
A Igreja celebra, nesta sexta-feira (09/09), a festa da Natividade de Nossa Senhora e o Papa se deteve, na homilia, sobre esse tema.
“O  seu nascimento, Virgem Mãe de Deus, é a nova aurora que anunciou a alegria ao mundo inteiro, porque de você nasceu o Sol de Justiça, Cristo, nosso Deus.” 
“A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, como se irradia a luz suave do amanhecer sobre a vasta planície colombiana, esta paisagem lindíssima da qual Villavicencio é a porta, bem como na rica diversidade dos seus povos indígenas. Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento nos faz intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper.”
Segundo Francisco, “Maria soube ser transparência da luz de Deus e refletiu o brilho desta luz na sua casa, que partilhou com José e Jesus, e também no seu povo, na sua nação e na casa comum de toda a humanidade que é a Criação”.
“No Evangelho, ouvimos a genealogia de Jesus, que não é uma mera lista de nomes, mas história viva, história dum povo com o qual Deus caminhou e, ao fazer-Se um de nós, quis anunciar que, no seu sangue, corre a história de justos e pecadores, que a nossa salvação não é uma salvação asséptica, de laboratório, mas concreta, de vida que caminha. Esta longa lista nos diz que somos uma pequena parte duma longa história e nos ajuda a não pretender protagonismos excessivos, nos ajuda a fugir da tentação de espiritualismos evasivos, a não abstrair das coordenadas históricas concretas em que nos cabe viver. E também integra, na nossa história de salvação, aquelas páginas mais obscuras ou tristes, os momentos de desolação e abandono comparáveis ao exílio.”
O "sim" de Maria
“A menção às mulheres – nenhuma das referidas na genealogia pertence à hierarquia das grandes mulheres do Antigo Testamento – permite-nos uma abordagem especial: na genealogia, são elas que anunciam que, pelas veias de Jesus, corre sangue pagão, que recordam histórias de marginalização e sujeição. Em comunidades onde ainda se arrastam estilos patriarcais e machistas, é bom anunciar que o Evangelho começa por salientar as mulheres que criaram tendência e fizeram história.”
No meio de tudo isto, Jesus, Maria e José. 
“Maria, com o seu «sim» generoso, permitiu que Deus cuidasse desta história. José, homem justo, não deixou que o orgulho, as paixões e os ciúmes o lançassem fora desta luz. Pela forma como aparece narrado, nós sabemos antes de José aquilo que aconteceu com Maria, e ele toma decisões em que se manifestam as suas qualidades humanas antes de ser ajudado pelo anjo e chegar a entender tudo o que estava acontecendo ao seu redor. A nobreza do seu coração fez subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José se apresenta como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus o ajudou a escolher iluminando o seu discernimento.”
“Este povo da Colômbia é povo de Deus; também aqui podemos fazer genealogias cheias de histórias: muitas, cheias de amor e de luz; outras, de conflitos, ofensas, inclusive de morte. Quantos de vocês poderiam narrar experiências de exílio e desolação! Quantas mulheres, em silêncio, perseveraram sozinhas, e quantos homens de bem procuraram pôr de lado amarguras e rancores, querendo combinar justiça e bondade!”
"Que havemos de fazer para deixar entrar a luz? Quais são os caminhos de reconciliação? Como Maria, dizer «sim» à história completa, e não apenas a uma parte; como José, pôr de lado paixões e orgulho; como Jesus Cristo, cuidar, assumir, abraçar esta história, porque nela vos encontrais, todos os colombianos, nela está aquilo que somos e o que Deus pode fazer conosco se dissermos «sim» à verdade, bondade e reconciliação. E isto só é possível, se enchermos com a luz do Evangelho as nossas histórias de pecado, violência e conflito.”
Reconciliação
“A reconciliação não é uma palavra abstrata; se assim fosse, traria apenas esterilidade; antes, distância. Reconciliar-se é abrir uma porta a todas e cada uma das pessoas que viveram a realidade dramática do conflito. Quando as vítimas vencem a tentação compreensível da vingança, tornam-se protagonistas mais críveis dos processos de construção da paz. É preciso que alguns tenham a coragem de dar o primeiro passo nesta direção, sem esperar que os outros o façam. Basta uma pessoa boa, para que haja esperança. E cada um de nós pode ser esta pessoa! Isto não significa ignorar ou dissimular as diferenças e os conflitos. Não é legitimar as injustiças pessoais ou estruturais. O recurso à reconciliação não pode servir para se acomodar em situações de injustiça. Pelo contrário, como ensinou São João Paulo II, «é um encontro entre irmãos dispostos a vencer a tentação do egoísmo e a renunciar aos intentos duma pseudo-justiça; é fruto de sentimentos fortes, nobres e generosos, que levam a estabelecer uma convivência fundada sobre o respeito de cada indivíduo e dos valores próprios de cada sociedade civil».” “Por isso, a reconciliação concretiza-se e consolida-se com a contribuição de todos. Permite construir o futuro e faz crescer a esperança. Todo esforço de paz sem um compromisso sincero de reconciliação será um fracasso.”
Beatificação
O texto do Evangelho, que ouvimos, culmina chamando a Jesus de Emanuel, o Deus conosco. E como começa, assim termina Mateus o seu Evangelho: «Eu estarei sempre com vocês até ao fim dos tempos» (28, 20). Esta promessa se realiza também na Colômbia: Dom Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, Bispo de Arauca, e o sacerdote Pedro Maria Ramírez Ramos, mártir de Armero, são sinal disso, expressão dum povo que quer sair do pântano da violência e do rancor.
Segundo o Papa, “neste ambiente maravilhoso, cabe a nós dizer «sim» à reconciliação; e, neste «sim», incluamos também a natureza. Não é por acaso que, inclusive sobre ela, se tenham desencadeado as nossas paixões possessivas, a nossa ânsia de domínio.” 
O Pontífice recordou as palavras de um cantor colombiano: “As árvores estão chorando, são testemunhas de tantos anos de violência. O mar aparece acastanhado, mistura de sangue com a terra”. 
Segundo o Papa, “a violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, se manifesta também nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Cabe-nos dizer «sim» como Maria e cantar com Ela as «maravilhas do Senhor», porque, como prometeu aos nossos pais, ajuda a todos os povos e a cada povo, ajuda a Colômbia que hoje quer se reconciliar e à sua descendência para sempre”. (MJ)
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Assista:
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Francisco:
Colombianos, não tenham medo de pedir e oferecer o perdão

“Este povo da Colômbia é povo de Deus; também aqui podemos fazer genealogias cheias de histórias: muitas, cheias de amor e de luz; outras, de conflitos, ofensas, inclusive de morte. Quantos de vocês poderiam narrar experiências de exílio e desolação! Quantas mulheres, em silêncio, perseveraram sozinhas, e quantos homens de bem procuraram pôr de lado amarguras e rancores, querendo combinar justiça e bondade!”
"Que havemos de fazer para deixar entrar a luz? Quais são os caminhos de reconciliação? Como Maria, dizer «sim» à história completa, e não apenas a uma parte; como José, pôr de lado paixões e orgulho; como Jesus Cristo, cuidar, assumir, abraçar esta história, porque nela vos encontrais, todos os colombianos, nela está aquilo que somos e o que Deus pode fazer conosco se dissermos «sim» à verdade, bondade e reconciliação. E isto só é possível, se enchermos com a luz do Evangelho as nossas histórias de pecado, violência e conflito.”
Reconciliação
“Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do nosso encontro. Vocês trazem em seu coração e em sua carne as marcas da história viva e recente de seu povo, sulcada por acontecimentos trágicos, mas cheia também de gestos heroicos de grande humanidade e de alto valor espiritual de fé e esperança”, disse Francisco em seu discurso.
“Venho aqui com respeito e bem ciente de me encontrar, como Moisés, pisando uma terra sagrada. Uma terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante de seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos, porque cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.”
Massacre de Bojayá
“Reunimo-nos aos pés do Crucificado de Bojayá que, em 2 de maio de 2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual”, sublinhou Francisco. 
Indígenas durante o encontro de oração pela reconciliação nacional
“Ao fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nas últimas décadas. Ver Cristo assim, mutilado e ferido, nos interpela. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro, mas conserva o seu rosto e, com ele, nos olha e nos ama. Cristo partido e amputado, para nós, ainda é «mais Cristo», porque nos mostra mais uma vez que Ele veio para sofrer pelo seu povo e com o seu povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a última palavra, que o amor é mais forte que a morte e a violência. Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e ressurreição, para que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a grandeza do amor.” 
Testemunhos
Francisco agradeceu algumas pessoas que partilharam o seu testemunho, como Pastora Mira García, católica, viúva, que em várias ocasiões foi vítima da violência; Luz Dary Landazury que em 18 de outubro de 2012, a explosão de um artefato colocado pela guerrilha, em Tumaco, no Oceano Pacífico colombiano, acabou irremediavelmente com o seu calcanhar, fraturou sua tíbia e fíbula e colocou sua perna esquerda em risco de amputação;Deisy Sánchez Rey que aos 16 anos foi recrutada por seu irmão para as Autodefesas Unidas da Colômbia; e Juan Carlos Murcia Perdomo que por 12 anos esteve nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Quando foi recrutado tinha dezesseis anos. Ele perdeu a mão esquerda, manipulando explosivos.
“São histórias de sofrimento e amargura, mas também, e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração. Obrigado, Senhor, pelo testemunho daqueles que infligiram dor e pedem perdão; daqueles que sofreram injustamente e perdoam. Isto é possível com a sua ajuda e sua presença. Isso já é um sinal enorme de que vocês desejam reconstruir a paz e a concórdia nesta terra colombiana”, sublinhou Francisco.
Abrir o coração
O Santo Padre concluiu o seu discurso, pedindo à Colômbia para abrir o seu coração de povo de Deus e deixa-se reconciliar, a não ter medo da verdade e da justiça. 
“Queridos colombianos, não tenham medo de pedir e oferecer o perdão. Não façam resistência à reconciliação. É hora de curar as feridas, construir pontes e limar as  diferenças. É hora de apagar os ódios, renunciar às vinganças e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade e na criação duma autêntica cultura do encontro fraterno”, concluiu o Papa. (MJ) 
Segue, na íntegra, o discurso do Papa Francisco.
Queridos irmãos e irmãs!
Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do nosso encontro. Trazeis no vosso coração e na vossa carne as marcas da história viva e recente do vosso povo, sulcada por acontecimentos trágicos, mas cheia também de gestos heroicos de grande humanidade e de alto valor espiritual de fé e esperança. Venho aqui com respeito e bem ciente de me encontrar, como Moisés, pisando uma terra sagrada (cf. Ex 3, 5). Uma terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante dos seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos, porque cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.
Estou aqui não tanto para falar, mas para estar perto de vós e fixar-vos nos olhos, para vos escutar e abrir o meu coração ao vosso testemunho de vida e fé. E, se mo permitis, desejaria também abraçar-vos e chorar convosco, queria que rezássemos juntos e nos perdoássemos – também eu devo pedir perdão – e que assim, todos juntos, pudéssemos olhar em frente e avançar com fé e esperança.
Reunimo-nos aos pés do Crucificado de Bojayá, que, no dia 2 de maio de 2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual. Ao fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nos últimos decénios. Ver Cristo assim, mutilado e ferido, interpela-nos. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro, mas conserva o seu rosto e, com ele, olha-nos e ama-nos. Cristo partido e amputado, para nós, ainda é «mais Cristo», porque mostra-nos uma vez mais que Ele veio para sofrer pelo seu povo e com o seu povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a última palavra, que o amor é mais forte do que a morte e a violência. Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e ressurreição, para que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a grandeza do amor. 
Agradeço a estes nossos irmãos que quiseram, em nome de muitos outros, compartilhar o seu testemunho. Como nos faz bem ouvir as histórias deles! Deixam-me comovido. São histórias de sofrimento e amargura, mas também, e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração.
O oráculo final do Salmo 85 – «O amor e a fidelidade vão encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e a paz» (v. 11) – aparece depois da ação de graças e da súplica onde se pede a Deus: Renovai-nos! Obrigado, Senhor, pelo testemunho daqueles que infligiram dor e pedem perdão; daqueles que sofreram injustamente e perdoam. Isto é possível com a vossa ajuda e a vossa presença. Isto já é um sinal enorme de que quereis reconstruir a paz e a concórdia nesta terra colombiana.

Pastora Mira, disseste-lo muito bem: Queres colocar todo o sofrimento, teu e o de milhares de vítimas, aos pés de Jesus Crucificado, para que se una ao d’Ele e, assim, se transforme em bênção e capacidade de perdão para romper o ciclo de violência que imperou na Colômbia. Tens razão: a violência gera mais violência, o ódio mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável, e isto é possível apenas com o perdão e a reconciliação. Tu, querida Pastora, e muitos outros como tu demonstraram que é possível. Sim, com a ajuda de Cristo vivo no meio da comunidade, é possível vencer o ódio, é possível vencer a morte, é possível começar de novo e dar vida a uma Colômbia nova. Obrigado, Pastora! Como é grande o bem que hoje nos fazes a todos com o testemunho da tua vida. Foi o Crucificado de Bojayá que te deu a força de perdoar e amar, e te ajudou a ver, na camisa que a tua filha Sandra Paula deu de prenda ao teu filho Jorge Aníbal, não só a recordação das suas mortes, mas também a esperança de que a paz triunfe definitivamente na Colômbia.
Comoveu-nos também o que disse Luz Dary no seu testemunho: as feridas do coração são mais profundas e difíceis de sanar do que as do corpo. É mesmo assim. E – o que é mais importante – deste-te conta de que não se pode viver no rancor, de que o amor liberta e constrói. E deste modo começaste a curar também as feridas doutras vítimas, a reconstruir a sua dignidade. O facto de saíres de ti mesma enriqueceu-te, ajudou-te a olhar em frente, a encontrar paz e serenidade e um motivo para continuar a caminhar. Agradeço-te a muleta que me ofereces. Embora permaneçam ainda sequelas físicas das tuas feridas, o teu caminhar espiritual é desimpedido e firme, porque pensas nos outros e queres ajudá-los. Esta tua muleta é símbolo doutra muleta mais importante, de que todos nós precisamos: o amor e o perdão. Com o teu amor e o teu perdão, estás a ajudar muitas pessoas a caminhar na vida. Obrigado!
Desejo agradecer também o eloquente testemunho de Deisy e Juan Carlos. Fizeram-nos compreender que no fim de contas, duma forma ou doutra, todos somos vítimas, inocentes ou culpados, mas todos vítimas. Todos irmanados naquela perda de humanidade que a violência e a morte comportam. Disse-o claramente Deisy: compreendeste que tu própria foste uma vítima e precisavas que te fosse concedida uma oportunidade. Começaste a estudar, e agora trabalhas para ajudar as vítimas e para que os jovens não caiam nas malhas da violência e da droga. Há esperança também para quem fez o mal; nem tudo está perdido. É verdade que, na regeneração moral e espiritual dos verdugos, tem que se cumprir a justiça. Como disse Deisy, deve-se contribuir positivamente para sanar a sociedade que foi lacerada pela violência.
É difícil aceitar a mudança daqueles que fizeram apelo à violência cruel para promover os seus fins, proteger tráficos ilícitos e enriquecer-se ou por acreditar, ilusoriamente, que estavam a defender a vida dos seus irmãos. É certamente um desafio para cada um de nós confiar que possam dar um passo em frente aqueles que infligiram sofrimento a comunidades inteiras e a todo o país. É claro que, neste campo enorme que é a Colômbia, ainda há espaço para o joio... Estai atentos aos frutos! Cuidai do trigo e não percais a paz por causa do joio. O semeador, quando vê desabrochar o joio no meio do trigo, não tem reações alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, embora aparentemente sejam imperfeitos ou defeituosos (cf. FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium, 24). Mesmo se perdurarem conflitos, violência ou sentimentos de vingança, não impeçamos que a justiça e a misericórdia se unam num abraço que assuma a história de sofrimento da Colômbia. Curemos aquele sofrimento e acolhamos todo o ser humano que cometeu delitos, reconhece-os, arrepende-se e compromete-se a reparar, contribuindo para a construção duma ordem nova onde brilhem a justiça e a paz.
Como Juan Carlos deixou vislumbrar no seu testemunho, em todo este processo – longo, difícil mas rico de esperança de reconciliação – é indispensável também assumir a verdade. É um desafio grande, mas necessário. A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia. Se, por um lado, são essenciais, juntas, para construir a paz, por outro, cada uma delas impede que as restantes sejam adulteradas e se transformem em instrumentos de vingança contra quem é mais frágil. De facto, a verdade não deve levar à vingança, mas antes à reconciliação e ao perdão. A verdade é contar às famílias dilaceradas pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos.
Por fim queria, como irmão e como pai, dizer: Colômbia, abre o teu coração de povo de Deus e deixa-te reconciliar. Não tenhas medo da verdade nem da justiça. Queridos colombianos, não tenhais medo de pedir e oferecer o perdão. Não oponhais resistência à reconciliação que vos faz aproximar uns dos outros, reencontrar-vos como irmãos e superar as inimizades. É hora de sanar feridas, lançar pontes, limar diferenças. É hora de apagar os ódios, renunciar às vinganças e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade e na criação duma autêntica cultura do encontro fraterno. Oxalá possamos habitar em harmonia e fraternidade, como o Senhor quer. Peçamos para ser construtores de paz; que, onde houver ódio e ressentimento, possamos colocar amor e misericórdia (cf. Oração atribuída a São Francisco de Assis)!
Quero depor todas estas intenções diante da imagem do Crucificado, o Cristo negro de Bojayá:
Ó Cristo negro de Bojayá, que nos lembrais a vossa paixão e morte; juntamente com os vossos braços e pés arrancaram-Vos os vossos filhos que em Vós procuravam refúgio.
Ó Cristo negro de Bojayá, que nos olhais com ternura e com rosto sereno; que o vosso coração palpite também para nos acolher no vosso amor.
Ó Cristo negro de Bojayá, fazei que nos comprometamos a restaurar o vosso corpo. Que sejamos  os vossos pés para ir ao encontro do irmão necessitado; os vossos braços para abraçar quem perdeu a sua dignidade; as vossas mãos para abençoar e consolar quem chora na solidão. Fazei que sejamos testemunhas do vosso amor e da vossa misericórdia infinita.

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Assista:
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A proximidade do Papa 
às vítimas do terremoto no México e do furacão Irma
Villavicencio (RV) – Antes da Bênção final na Missa celebrada em Villavicencio, o Papa expressou sua proximidade pelas vítimas do furacão Irma e do terremoto que sacudiu o México na noite de quinta-feira.
Papa reza pelas vítimas do terremoto no México e do furacão Irma
“Neste momento – disse Francisco -  desejo manifestar minha proximidade espiritual a todos os que sofrem as consequências do terremoto que atingiu o México na noite passada, provocando mortos e consideráveis danos materiais. Minha oração por aqueles que perderam a vida e também por suas famílias”.
O Santo Padre também acompanha a evolução do furacão Irma que está atingindo o Caribe, provocando “numerosas vítimas e consideráveis danos materiais, como também está provocando” o deslocamento de milhares de pessoas. “Tenho-os em meu coração e rezo por eles”, pedindo a vocês “que se unam nestas intenções e, por favor, não se esqueçam, de rezar por mim”.
Após a celebração, o Papa também saudou uma delegação de 10 pessoas - acompanhadas por seus bispos - provenientes da cidade de Mocoa, atingida no mês de abril por inundações que provocaram mais de 250 mortos e 400 feridos. O Papa foi presenteado com um poncho.
Francisco havia se referido à tragédia no Angelus de 2 de abril, recitado durante a visita a Carpi.
Duas mães com dois filhos com doenças graves, participantes do programa educativo “ProFuturo” também encontraram o Pontífice ao final da celebração.
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Papa recebe
bastão da paz dos índios e vira "guardião milenar da terra"

Villavicencio (RV) – Quase 500 membros da Guarda Indígena da Colômbia e mil representantes de mais de cem povos ancestrais do país receberam o Papa Francisco com um “caminho de honra” na esplanada de Catama, em Villavicencio, nesta sexta-feira (8). O Pontífice presidiu a missa campal no local. O coordenador nacional da Guarda, Luis Alfredo Acosta, descreveu essa recepção como “um caminho de resistência, de harmonia, de encontro entre espiritualidades: a espiritualidade cristã e os povos indígenas”.
Essa organização indígena é composta exclusivamente por membros de povos autóctones que exercem a sua autoridade em seus territórios, muitos deles, duramente afetados pelo conflito. Não usam armas, mas “bastões de poder”, decorados com ornamentos da sua cultura tradicional e, com eles, fazem valer a sua palavra.
Com esses bastões, muito venerados e que ninguém toca, exceto os mesmos guardas, eles criaram uma espécie de caminho de honra para a passagem do Papa Francisco, antes da missa campal. Uma maneira de compartilhar com a Igreja católica um ato ecumênico tão importante para esses povos.
Segundo a agência de notícias EFE, a Guarda Indígena nomeou Francisco como “guardião milenar da terra”, durante aquele que foi considerado um “encontro para a vida, para a resistência”, disse Acosta. Ao dar esse título, acrescentou ele, também foi entregue um dos bastões ao Pontífice.
O líder indígena assegurou que a ocasião também serviu para “perdoar” por todos os danos que considera que a Igreja teria causado, em mais um ato de reconciliação registrado durante a viagem do Papa Francisco à Colômbia: “para os povos indígenas, perdoar é ter harmonia, é a água que corre, é voltar ao ventre da nossa mãe, não portar armas e, por isso, entregar o bastão da paz”, finalizou o coordenador da Guarda Indígena da Colômbia. (AC/EFE)
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Papa Francisco:
"Obrigado pelo que me ensinaram esta noite"
Bogotá (RV) – Como tem feito desde sua chegada a Colômbia, também sexta-feira (08/09), o Papa cumprimentou um grupo de pessoas fora da Nunciatura Apostólica, onde está hospedado em Bogotá.
Estavam presentes membros da Fundação ‘Vítimas Invisíveis’, que sensibiliza sobre o drama das vítimas, dando-lhes nome e voz, para que seus direitos sejam reconhecidos e a informação corrigida. A Dra. Diana Sofía Giraldo, Presidente da Fundação, dirigiu algumas palavras ao Pontífice.
A Associação ‘Caminhos de Esperança, Mães da Candelária’ também participou do encontro. Fundada em 1999, esta entidade assiste amigos e familiares de pessoas desaparecidas, sequestradas ou mortas durante o longo conflito colombiano.
O Papa dirigiu palavras de agradecimento a todos:
“Obrigado pelo ‘hospital de campo’; obrigado porque portas foram abertas e continuam sendo abertas. Obrigado por aqueles que se fazem coragem ao entrar, que olham para frente, querendo entrar e não sabendo como fazê-lo”.
“Obrigado por aceitar tanta privação, sabendo que ficou sem nada, e que mesmo se quis fazer algo, não conseguiu, mas proclamou diante de todos aquela frase que nunca esquecerei:  ‘Deus faz com que eu perdoe’”.
“Muitos ainda não conseguem perdoar, mas hoje, recebemos uma aula de teologia, de alta teologia: ‘Deus faz com que eu perdoe’.  Deixemos que Ele o faça’”.
“Toda a Colômbia deve abrir suas portas, como este hospital de campo o fez. E deixar que Ele entre e que Ele nos permita perdoar. Permitam-no: ‘Olha, eu não consigo... faça-o’”.
“A reconciliação concreta, com a verdade, a justiça e a misericórdia, pode ser realizada somente por Ele. Que Ele o faça. E nós aprenderemos com Ele a fazê-lo”.
“Obrigado pelo que fazem, obrigado. E obrigado pelo que me ensinaram esta noite”.
Despedindo-se, antes de rezar a Ave Maria e abençoar todos, o Papa ainda lembrou que “aos pés da Cruz estava a Mãe, a quem extirparam o filho, viu a tortura e tudo. Que Ela acompanhe as mulheres colombianas e lhes ensine o caminho a seguir”. (cm)
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Assista:
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Papa se despede de Villavicencio em oração e plantando árvore

Villavicencio (RV) – O último compromisso do Papa Francisco em Villavicencio foi a visita ao Parque dos Fundadores e a oração diante da Cruz da Reconciliação.
No local estavam presentes o Presidente da República, cerca de 400 crianças e um grupo de indígenas.
Francisco foi acolhido por algumas crianças e conduzido até a Cruz, enquanto um coral entoava canções tradicionais. O Papa se deteve nas proximidades da Cruz da Reconciliação, que traz em sua base uma placa com o número das vítimas da violências que sacudiram o país nos últimos decênios. Depositou flores e enquanto rezava ouviu o “toque do silêncio”, num dos momentos fortes do dia.
Ao final, o Santo Padre plantou uma árvore, como símbolo de nova vida.
Encerrada a cerimônia, a comitiva papal transferiu-se ao Aeroporto Apiay de Villavicencio - distante 10,5 km - retornando para Bogotá após despedir-se das autoridades civis e religiosas que o haviam acolhido sem cerimônias e protocolos quando de sua chegada.
O Parque dos Fundadores
O Parque é o maior de Villavicencio e se estende por uma área de 6 hectares. Na praça circular no centro está o monumento em homenagem aos Fundadores, última obra do artista Rodrigo Arenas Betancourt.
A estátua em bronze representa um homem da etnia “llanera” sobre dois cavalos, tendo entre os braços um “Corocora” – ave típica da região – e é caracterizada por tubos que evocam a extração do petróleo.
O parque é decorado com jardins, áreas educativas para crianças, espelhos d’água e por uma grande e moderna fonte luminosa, formada por três portas de cor azul dispostas em sequência. O local é frequentado por turistas e cidadãos colombianos e é sede de numerosos eventos culturais e artísticos.
Cruz da Reconciliação
A Cruz da Reconciliação, por sua vez, foi levada a Villavicencio ao final de uma Via Sacra que percorreu os Llanes Orientais em 2012. A Cruz está ao lado do Monumento aos Fundadores, que é uma das principais atrações da cidade.
Na base da cruz está uma placa com o número das vítimas de sequestros, mortes e minas antipessoais que ensanguentaram a região oriental durante o longo conflito armado (1964-2016).
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Assista:
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                                                                                           Fonte: radiovaticana.va   news.va

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