terça-feira, 7 de março de 2017

Exercícios espirituais do Papa e de membros da Cúria:

Reencontrar a unidade em torno da Ceia do Senhor

Ariccia - (RV) - “O pão e o corpo, o vinho e o sangue” foi o tema que o padre franciscano Giulio Michelini desenvolveu na terceira meditação proposta na manhã desta terça-feira ao Papa e à Cúria Romana, durante os Exercícios espirituais em andamento em Ariccia, nas proximidades de Roma.
O pregador extraiu da oferta total de Jesus em corpo e sangue para a salvação da humanidade uma mensagem de unidade e partilha para todos os cristãos.
Na Última Ceia: festa e comunhão, mas também pecado e fragilidade
A dimensão antropológica, teológica e existencial do cear juntos. Daí partiu a meditação do frade menor. “Colocou-se à mesa com os Doze” – está escrito no Evangelho segundo São Mateus –, neste cear juntos está a beleza da partilha, explicou o pregador, mas também a nossa humanidade, o pecado e a fragilidade simbolizados no alimento, como narram muitos episódios bíblicos, até a encíclica “Laudato si” do Papa Francisco, quando  fala de egoísmo em relação ao alimento:
Exercícios desta terça-feira em Ariccia
“Podemos imaginar o que deve ter acontecido naquela ceia. Era uma festa: naturalmente os teólogos e os exegetas discutem muito sobre o carácter pascal ou não dessa ceia. Mas é claro que era belo para eles estar juntos. Estar juntos evidencia também a nossa humanidade. E esses elementos estão presentes na ceia de Jesus: o primeiro, o do amor, com o qual essa ceia foi preparada, e o amor que Jesus ofereceu com o alimento que doou. Mas há também, nessa ceia, o ódio, a fragilidade, a divisão. Comer o alimento, se pensamos bem, tem a ver propriamente com uma dimensão humana.”
É a dimensão da fraqueza, do reconhecer-se não autossuficientes, e comer juntos é confessar aos outros essa condição de criatura, “condição limitada”, como a que emerge também das ceias dos primeiros cristãos narradas por São Paulo aos Coríntios, e marcadas – observou Pe. Michelini – pelo apego de cada um ao próprio alimento e por uma falta de verdadeira partilha.
E é emblemático que propriamente naquele quadro de fragilidade da Última Ceia se apresente a traição de Judas, que ele de há muito tramava.
Jesus deixa o sinal da sua futura presença: doa todo seu ser em corpo e sangue
Porém, prosseguiu o pregador franciscano, é igualmente emblemático que propriamente na noite em que foi traído, Jesus não retirou seu dom e doou tudo aquilo que tinha para dar: corpo e sangue. Justamente através do alimento comido juntos, Jesus deixa um exemplo e o sinal da sua futura presença:
“Para nós que cremos em Jesus, é justamente a Palavra que se fez carne. E portanto, tudo aquilo que Jesus, o filho, tinha oferecido de si, a sua divindade, tinha sido oferecido com a Encarnação. Tudo aquilo que o Filho, que o Verbo e a Palavra podia oferecer, na sua divindade, foi oferecido com a Encarnação. Com diz Paulo: ‘Jesus, mesmo sendo de condição divina, não considerou um privilégio o ser igual a Deus’. Portanto, eis que com aquele pão agora a sua humanidade devia ser doada. É claro, naquela humanidade também estão o Filho de Deus e a Palavra. Mas aquele pão é propriamente a carne, porque é nessa carne que aquela Palavra se tornou tal; e, portanto, o Corpo e o Sangue. Jesus é totalmente pobre, não porque viveu simplesmente de forma pobre, mas porque não tem mais nada a defender. De fato, se pensamos bem, justamente nesta ceia doa tudo aquilo que lhe restava.”
Somente com a Paixão se tem a remissão dos pecados
Ao invés, é nas palavras de Mateus sobre o cálice, naquela Última Ceia, frisou ainda o pregador, que ressalta um elemento original, ou seja, o sangue de Jesus ligado ao perdão dos pecados.
“Será derramado por muitos, para a remissão dos pecados. Por fim, quem lê esse Evangelho descobre o significado do nome de Jesus, “Deus salvará”, e entende o modo como o fará, isto é, a Paixão:
“A fórmula que Jesus recita não é uma simples fórmula; não é algo de extrínseco. Podemos também ousar dizer que é muito fácil: ‘Deus lhe quer bem’. É muito fácil dizer: ‘Deus lhe perdoa’. No fundo, não nos custa nada dizer: ‘Seus pecados estão perdoados’. Mas somente aí, com o sangue derramado, finalmente então emerge o modo com o qual os pecados serão perdoados:  isto é, com a morte de Cristo. Porque, como diz o Salmo, somente Deus pode pagar o preço do pecado. O homem não pode resgatar a si mesmo. E como lemos no Livro do Levítico, e Mateus conhece bem esta simbólica judaica, o pecado é redimido somente com o derramamento do sangue.”
Os cristãos cresçam na unidade e partilha
Por fim, ao término da meditação, Pe. Michelini propôs três perguntas para a reflexão. A primeira diz respeito a nossa relação com o alimento e pede para não se ter apegos, mas domínio de si; a segunda é um convite a crescer ainda na unidade entre cristãos, como discípulos em torno da ceia com Cristo; e a última é uma pergunta sobre o perdão e pede para ser verdadeiramente conscientes de que Jesus não somente com palavras, masverdadeiramente, com a própria vida, alcançou para nós a misericórdia do Pai. (RL / GC)
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Exercícios espirituais:
Abrir os olhos diante da angústia dos outros

Ariccia (RV) - Prosseguem, na Casa do Divino Mestre na localidade de Ariccia, nas proximidades de Roma, os Exercícios espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana neste tempo de Quaresma. O pregador do retiro, o padre franciscano Giulio Michelini, fez na parte da tarde desta terça-feira (07/03) a sua quarta meditação com o tema “A oração no Getsêmani e a prisão de Jesus (Mt 26, 36-46)”.
Em sua reflexão, Pe. Michelini partiu de uma comparação entre a oração de Jesus no monte das Oliveiras e a do monte Tabor, na Galileia. As duas situações  têm semelhanças impressionantes: em todas as duas a situação existencial de Jesus é de provação (no primeiro caso, porque Pedro e os outros não compreenderam o sentido do primeiro anúncio de Jesus que dissera que deveria morrer em Jerusalém; no segundo, porque Jesus acabara de anunciar que alguém haveria de entregá-lo), disse o religioso.
Papa e Cúria Romana durante Exercícios espirituais da Quaresma
Em todos os dois casos Jesus chama a si os discípulos, Pedro, Tiago e João, e estes não entendem plenamente o que está acontecendo com Jesus. Porém, um elemento separa as duas cenas: no Tabor se ouve a voz do Pai que consola o filho; no Getsêmani, ao invés (exceto na versão de Lucas, onde Jesus é encorajado na luta por um anjo), não se ouve nenhuma voz, observou o pregador.
Ao invés, é Jesus que se dirige ao Pai, acolhendo que seja feita a Sua vontade. Essa vontade originária não quer a morte do Filho, mas a salvação, como escreveu Romano Guardini:
”Jesus veio para redimir o seu povo e, com ele, o mundo. Isso deveria cumprir-se mediante a dedicação da fé e do amor; mas tal dedicação vacilou. Todavia, permaneceu o mandato do Pai, mas este mudou de forma. Quando se concretizou por consequência da rejeição, o destino amargo da morte tornou-se a nova forma da redenção – aquela que para nós é a redenção em sentido puro e simples”, continuou o frade menor.
Também a parábola dos vinhateiros homicidas nos apresenta um pai que envia o filho dizendo “Respeitarão meu filho” (Mt 21,37).
Mas o anúncio e a pessoa de Jesus não são acolhidos, e o Reino passará, portanto, de outro modo, aquele que Jesus, no Getsêmani, é chamado a aceitar: “depende da disponibilidade dos homens em qual forma se possa desenvolver a sua obra. O fechamento do mundo não lhe permite ser o príncipe da paz, diante de cuja vinda tudo deveria desabrochar na plenitude que o vaticínio preanunciava. Por isso (...) o Messias torna-se aquele que vai ao encontro da sua ruína. O sacrifício de seu ser torna-se o sacrifício da morte” (R. Guardini).
Jesus exorta ainda seus discípulos, como Ele fez no Getsêmani, colocando em prática o shemà, a oração de Israel, a amar “Deus de todo o coração, com todas as forças e a ponto de dar a vida”, frisou Pe. Michelini.
Ao término da reflexão, as habituais perguntas: Como nos colocamos diante da angústia do nosso próximo? Mantemos os olhos abertos, rezamos, ou nos adormentamos como os três discípulos? A vontade de Deus é compreendida por nós como uma “extravagância”, algo que “se deve fazer” porque “Alguém decidiu”, ou vejo nela a Santa vontade de bem para todos?
Por fim, partindo do pressuposto de que esta Sua vontade de salvação é certamente firme – como dizia Guardini: “o decreto de Deus permanece inalterado” – aceito que a forma em que ela se realiza seja condicionada, porque a onipotência de Deus se detém diante da liberdade da sua criatura? E se Deus pode até mesmo mudar de ideia, segundo o livro de Jonas, pode “arrepender-se” (Conf. Jn 3,10), propriamente como os habitantes de Nínive se converteram, como a sua Igreja pode não mudar, como podemos nós estar inflexíveis em nossa rigidez? (RL)
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                                                                                           Fonte: radiovaticana.va   news.va

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