sábado, 10 de fevereiro de 2024

Sábia reflexão:

O contato com os marginalizados

José Antonio Pagola

Quando o único afã das pessoas é ver-se livres de todo sofrimento, torna-se insuportável o contato direto com a marginalização e a miséria dos outros. Por isso explica-se que muitos homens e mulheres se esforcem por defender sua pequena felicidade, evitando toda relação e contato com os que sofrem.

A proximidade da criança mendiga ou a presença do jovem drogado nos perturba e molesta. É melhor manter-se o mais longe possível. Não deixar-nos contagiar ou manchar pela miséria. Privatizamos nossa vida, cortando todo tipo de relações vivas com o mundo dos que sofrem, e nos isolamos em nossos próprios interesses, tornando-nos cada vez mais insensíveis ao sofrimento dos marginalizados.

Os observadores detectam na sociedade ocidental um crescimento da apatia e da indiferença diante do sofrimento dos outros. Aprendemos a defender-nos atrás das cifras e das estatísticas que nos falam da miséria no mundo e podemos calcular quantas crianças morrem de fome a cada minuto sem que nosso coração se comova demais.

O afamado economista J.K. Galbraith falou da crescente “indiferença diante do Terceiro Mundo”. De acordo com suas observações, o aumento da riqueza nos países poderosos fez aumentar a indiferença para com os países pobres. “A medida que aumenta a riqueza poder-se-ia ter esperado que aumentasse a ajuda a partir da existência de recursos cada vez mais abundantes. Mas eis que diminuiu a preocupação pelos pobres tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo rico”.

A atitude de Jesus para com os marginalizados de seu tempo resulta especialmente interpeladora para nós. Os leprosos são segregados da sociedade. Tocá-los significa contrair impureza e o correto é manter-se longe deles, sem contaminar-se com seu problema nem com sua miséria. No entanto, Jesus não só cura o leproso, mas o toca. Restabelece o contato humano com aquele homem que foi marginalizado por todos.

A sociedade continuará erguendo fronteiras de separação para os marginalizados. São fronteiras que para nós, os seguidores de Jesus, só nos indicam as barreiras que precisamos atravessar para aproximar-nos dos países empobrecidos e dos irmãos marginalizados.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                       Fonte: franciscanos.org.br        Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos 

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