sábado, 24 de fevereiro de 2024

Reflexão enriquecedora:

Não confundir Jesus com ninguém

José Antonio Pagola

De acordo com o evangelista, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, leva-os para um monte à parte e ali “se transfigura diante deles”. São os três discípulos que oferecem talvez maior resistência a Jesus quando lhes fala de seu destino doloroso de crucificação.

Pedro tentou, inclusive, tirar-lhe da cabeça essas ideias absurdas. Os irmãos Tiago e João andam pedindo-lhe os primeiros lugares no reino do Messias. Diante deles precisamente Jesus se transfigurará. Eles precisam disso mais do que ninguém.

A cena, recriada com diversos recursos simbólicos, é grandiosa. Jesus apresenta-se diante deles “transfigurado”. Ao mesmo tempo, Elias e Moisés, que segundo a tradição foram arrebatados à morte e vivem junto a Deus, aparecem conversando com ele. Tudo convida a intuir a condição divina de Jesus, crucificado por seus adversários, mas ressuscitado por Deus.

Pedro reage com espontaneidade: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não entendeu nada. Por um lado, coloca Jesus no mesmo plano e no mesmo nível de Elias e Moisés: a cada um sua tenda. Por outro lado, continua resistindo à dureza do caminho de Jesus; quer retê-lo na glória do Tabor, longe da paixão e da cruz do Calvário.

O próprio Deus vai corrigi-lo de maneira solene: “Este é meu Filho amado”. Não se deve confundi-lo com ninguém. “Escutai-o”, inclusive quando vos fala de um caminho de cruz, que termina em ressurreição.

Só Jesus irradia luz. Todos os outros, profetas e mestres, teólogos e hierarcas, doutores e pregadores, temos o rosto apagado. Não devemos confundir ninguém com Jesus. Só ele é o Filho amado. Sua Palavra é a única que devemos escutar. As demais devem levar-nos a ele.

E devemos escutá-Ia também hoje, quando nos fala de “carregar a cruz” destes tempos. O êxito nos causa dano a nós cristãos. Levou-nos, inclusive, a pensar que era possível uma Igreja fiel a Jesus e ao seu projeto do reino sem conflitos, sem rejeição e sem cruz. Hoje se nos oferecem mais possibilidades de viver como cristãos “crucificados”. Isso nos fará bem. Ajudar-nos-á a recuperar nossa identidade cristã.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                       Fonte: franciscanos.org.br        Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos 

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