"É justo
apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem
além das nossas expectativas, deseja viver conosco sobretudo uma relação de
amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber
um favor em troca!"
No centro de
uma fé imatura não existe Deus, mas as nossas necessidades. Assim, para viver
uma relação de amor verdadeiro com o Senhor, devemos interrogar-nos sobre os
motivos pelo qual O buscamos, fugindo assim da tentação idolátrica que leva a
buscá-Lo apenas para o “próprio uso e consumo”, e depois de satisfeitos, “nos
esquecemos dele”.
Jesus o Pão
da vida: a narrativa do Evangelho de João da liturgia deste XVIII Domingo do
Tempo Comum, ofereceu ao Santo Padre a ocasião para exortar-nos a buscar uma
relação com Deus que “vá além das lógicas do interesse e do cálculo”, ou seja,
a ter com Ele uma relação de amor.
Dirigindo-se
aos fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro a uma temperatura de 34ºC,
Francisco comenta que as pessoas que haviam testemunhado a multiplicação dos
pães não haviam compreendido o significado do gesto, “se restringiram ao
milagre externo e ao pão material.”
O risco da
"tentação idolátrica"
Neste
sentido, o Papa propõe a primeira pergunta que poderíamos fazer a nós mesmos:
“Por que buscamos o Senhor? Por que eu busco o Senhor? Quais são as motivações
da minha fé, da nossa fé?”:
“Temos
necessidade de discernir isso, porque entre as tantas tentações que temos na
vida, entre as tantas tentações há uma que poderíamos chamar de tentação
idolátrica. É aquela que nos leva a buscar a Deus para nosso próprio uso e
consumo, para resolver os problemas, para obter, graças a Ele, o que não
conseguimos obter sozinhos, por interesse.”
Amor
verdadeiro é desinteressado e gratuito
Mas assim –
observou o Papa - a fé permanece superficial e miraculosa: “buscamos a Deus
para matar nossa fome e depois quando estamos satisfeitos nos esquecemos dele”:
“No centro
desta fé imatura não existe Deus, estão as nossas necessidades. Penso nos
nossos interesses, tantas coisas...É justo apresentar ao coração de Deus as
nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem além das nossas expectativas,
deseja viver conosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é
desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca. Isso é
interesse, e tantas vezes na vida nós somos interesseiros!”
Passar de uma
fé mágica para uma fé que agrada a Deus
Vem então um
segundo questionamento: "Mas, como fazer para purificar a nossa busca por
Deus? Como passar de uma fé mágica, que só pensa nas próprias necessidades,
para uma fé que agrada a Deus?”. E é o próprio Jesus que responde, afirmando
que “a obra de Deus é acolher Aquele que o Pai enviou, ou seja, Ele mesmo,
Jesus”:
“Não é
acrescentar práticas religiosas ou observar especiais preceitos; é acolher
Jesus, é acolhê-Lo na vida, é viver uma história de amor com Ele. Será Ele quem
purificará a nossa fé. Sozinhos, não somos capazes. Mas o Senhor deseja uma
relação de amor conosco: antes das coisas que recebemos e fazemos, existe Ele a
ser amado. Existe uma relação com Ele que vai além das lógicas do interesse e
do cálculo.”
A partir da
amizade com Jesus, aprender a amar-nos uns aos outros
E isso –
disse Francisco - vale não só em relação a Deus, mas também nas nossas relações
humanas e sociais:
“[Quando
buscamos sobretudo a satisfação das nossas necessidades, corremos o risco de
usar as pessoas e de instrumentalizar as situações para os nossos
objetivos. Quantas vezes ouvimos sobre uma pessoa: 'Mas ele usa as
pessoas e depois se esquece'. Usar as pessoas em proveito próprio, é feio isso!
E uma sociedade que coloca no centro os interesses em vez das pessoas, é uma
sociedade que não gera vida. O convite do Evangelho é este: em vez de nos
preocuparmos apenas com o pão material que nos alimenta, acolhamos Jesus como o
pão da vida e, a partir da amizade com Ele, aprendamos a amar-nos uns aos
outros. Com gratuidade e sem cálculos. Amor gratuito e sem cálculos, sem
usar as pessoas, com gratuidade, com generosidade, com magnanimidade.]”
Rezemos agora
à Virgem Santa - disse o Santo Padre ao concluir - Aquela que viveu a mais bela
história de amor com Deus, para que nos conceda a graça de nos abrirmos ao
encontro com o seu Filho.
Jackson Erpen
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