No texto abaixo, o bispo de Livramento de
Nossa Senhora (BA) e membro da Comissão Episcopal para a Animação
Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom
Armando Bucciol, faz um balanço do Pilar do Pão (Liturgia e Espiritualidade)
das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE)
para o quadriênio 2019 – 2023. Com este texto, o portal da CNBB encerra o
balanço dos quatro pilares expressos nas DGAE.
Segundo o bispo, o contexto da pandemia
impôs sofridos limites à vivência desta dimensão na Igreja no Brasil. Contudo,
“numerosas pessoas e comunidades despertaram energias à escola da Palavra e com
o alimento da Eucaristia. Tomamos consciência da nossa fragilidade e da
urgência de rever valores, relações, estilos de vida”.
O jejum eucarístico, imposto pelas
restrições sanitárias, segundo dom Armando, fez crescer a consciência da
sacramentalidade da Palavra, de sua dimensão performática, conforme visão
expressa pelo Papa Bento XVI. Outro aprendizado que o bispo destaca neste tempo
foi a contribuição dos meios de comunicação social de inspiração católica para
fazer com que a liturgia chegasse aos lares dos fieis.
“Foi de imenso valor este auxílio dado à
vida de nossas Comunidades. Liturgias marcadas pela simplicidade, mas com
frêmitos de esperança, foram veiculadas por uma miríade de redes sociais em
capelas com poucas presenças, em igrejas quase vazias”, destaca.
Veja, abaixo, a íntegra da reflexão e do
balanço:
O Pilar do Pão: Liturgia e Espiritualidade
As Diretrizes Gerais reconhecem que o pilar
da Liturgia e da Espiritualidade sustenta a vida eclesial. Algumas afirmações
nesse sentido constam documento
nº 109 da CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no
Brasil (DGAE) para o quadriênio 2019 – 2023. Em seu número 95: “Na comunidade
de fé, cultiva-se uma verdadeira vida de oração, enraizada na Palavra de Deus”;
no número 98: “O Senhor Jesus… deseja uma Igreja servidora, samaritana, pobre
com os pobres”; no nº 94: “A mesa está no centro da celebração da fé cristã”.
Esses pensamentos apontam para uma Igreja que se alimenta da Palavra e da
Eucaristia e assume uma pastoral missionária, procurando ser fiel ao Senhor”.
Perguntemo-nos: nestes dois anos, quais
passos conseguimos dar a respeito desses compromissos?
Só Deus conhece o imenso amor que
amadureceu em tantos corações para orar, refletir, ajudar, sustentar, aliviar,
socorrer, partilhar. Pela minha experiência e pelo intercâmbio com tantos
irmãos e irmãs – pastores, leigos e leigas – reconheço que, quando existe amor,
tudo coopera para o bem (Rm 8,28). Nesses meses, longos e sofridos, os sinais
de vitalidade da fé foram tantos, e nossas Igrejas souberam testemunhar, com
coragem e criatividade, os ensinamentos do Evangelho.
As limitações impostas pelo vírus à vida
eclesial foram grandes; os sofrimentos enormes; inúmeros irmãos e irmãs vivem
machucados no íntimo do coração por perdas irreparáveis; dores e lutos vão perdurar.
Apesar de tudo, numerosas pessoas e comunidades despertaram energias à escola
da Palavra e com o alimento da Eucaristia. Tomamos consciência da nossa
fragilidade e da urgência de rever valores, relações, estilos de vida.
Nas Diretrizes Gerais, retorna a palavra
essencial. Escreve-se em seu número 160: “A Eucaristia e a Palavra são
elementos essenciais e insubstituíveis para a vida cristã” (…) A liturgia é o
coração da comunidade”; ao nº 162: “Promover uma liturgia essencial… que
conduza a mergulhar no mistério de Deus, sem deixar o chão concreto da história
fora da oração comunitária”.
A memória litúrgica nos recorda que a
Palavra se faz Eucaristia e, num único abraço de amor, Jesus deixou o seu
testamento para sempre. O seu Pão, fermento de amor, acompanha-se às palavras
que, como em um sussurro, fluem de seu coração: “Amai-vos como eu vos amei; não
existe maior amor que dar a vida; Ele, tendo amado os seus, amou-os até o ponto
mais alto”. Quantas energias de amor se despertaram nestes meses, encontrando
alimento na Palavra, acima de tudo.
De fato, as Diretrizes propunham ao número
161: “Valorizar o ministério da celebração da Palavra”; ao nº 165,
recomenda-se: “Onde efetivamente não for possível celebrar a Eucaristia,
realizem-se celebrações da Palavra de Deus. (…) Importa que a comunidade não
deixe de se reunir para celebrar o Dia do Senhor”.
O jejum eucarístico, imposto pelas
restrições sanitárias, fez crescer a consciência da sacramentalidade da
Palavra, de sua dimensão performática (Papa Bento XVI). Por longo tempo, tantos
irmãos e irmãs, saboreando a doçura do Pão da Palavra, único alimento, com sua
força transformadora, seu valor sacramental, encontraram nela consolo e
fortaleza, junto ao desejo da Eucaristia-comunhão, ao sentido da comunidade e ao
valor da participação.
No número 170 encontramos: “Reconhecer que
o trabalho dos meios de comunicação social de inspiração católica é um dom de
Deus para a Igreja no Brasil”. Com certeza, foi de imenso valor este auxílio
dado à vida de nossas Comunidades. Liturgias marcadas pela simplicidade, mas
com frêmitos de esperança, foram veiculadas por uma miríade de redes sociais em
capelas com poucas presenças, em igrejas quase vazias.
Mas, o frio das presenças virtuais fez
crescer, em pastores e fieis, o desejo de encontros dos corpos, a beleza de
abraços repletos do carinho. Sentimos a necessidade, com renovado vigor, de
“construir comunidades de discípulos missionários abertos ao diálogo, à
acolhida, à compreensão e à compaixão”, conforme o número 101. Fazendo tesouro
do que aprendemos, vivamos, prontos a trilhar, com maior afinco e esperança,
esses caminhos.
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