terça-feira, 17 de agosto de 2021

No balanço do Pilar do Pão, das DGAE 2019-2023,

Dom Armando Bucciol fala da
vivência da Eucaristia no contexto da Covid-19

No texto abaixo, o bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e membro da Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Armando Bucciol, faz um balanço do Pilar do Pão (Liturgia e Espiritualidade) das  Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) para o quadriênio 2019 – 2023.  Com este texto, o portal da CNBB encerra o balanço dos quatro pilares expressos nas DGAE.

Segundo o bispo, o contexto da pandemia impôs sofridos limites à vivência desta dimensão na Igreja no Brasil. Contudo, “numerosas pessoas e comunidades despertaram energias à escola da Palavra e com o alimento da Eucaristia. Tomamos consciência da nossa fragilidade e da urgência de rever valores, relações, estilos de vida”.

O jejum eucarístico, imposto pelas restrições sanitárias, segundo dom Armando, fez crescer a consciência da sacramentalidade da Palavra, de sua dimensão performática, conforme visão expressa pelo Papa Bento XVI. Outro aprendizado que o bispo destaca neste tempo foi a contribuição dos meios de comunicação social de inspiração católica para fazer com que a liturgia chegasse aos lares dos fieis.

“Foi de imenso valor este auxílio dado à vida de nossas Comunidades. Liturgias marcadas pela simplicidade, mas com frêmitos de esperança, foram veiculadas por uma miríade de redes sociais em capelas com poucas presenças, em igrejas quase vazias”, destaca.

Veja, abaixo, a íntegra da reflexão e do balanço:

O Pilar do Pão: Liturgia e Espiritualidade

As Diretrizes Gerais reconhecem que o pilar da Liturgia e da Espiritualidade sustenta a vida eclesial. Algumas afirmações nesse sentido constam documento nº 109 da CNBB,  Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) para o quadriênio 2019 – 2023. Em seu número 95: “Na comunidade de fé, cultiva-se uma verdadeira vida de oração, enraizada na Palavra de Deus”; no número 98: “O Senhor Jesus… deseja uma Igreja servidora, samaritana, pobre com os pobres”; no nº 94: “A mesa está no centro da celebração da fé cristã”. Esses pensamentos apontam para uma Igreja que se alimenta da Palavra e da Eucaristia e assume uma pastoral missionária, procurando ser fiel ao Senhor”.

Perguntemo-nos: nestes dois anos, quais passos conseguimos dar a respeito desses compromissos?

Só Deus conhece o imenso amor que amadureceu em tantos corações para orar, refletir, ajudar, sustentar, aliviar, socorrer, partilhar. Pela minha experiência e pelo intercâmbio com tantos irmãos e irmãs – pastores, leigos e leigas – reconheço que, quando existe amor, tudo coopera para o bem (Rm 8,28). Nesses meses, longos e sofridos, os sinais de vitalidade da fé foram tantos, e nossas Igrejas souberam testemunhar, com coragem e criatividade, os ensinamentos do Evangelho.

As limitações impostas pelo vírus à vida eclesial foram grandes; os sofrimentos enormes; inúmeros irmãos e irmãs vivem machucados no íntimo do coração por perdas irreparáveis; dores e lutos vão perdurar. Apesar de tudo, numerosas pessoas e comunidades despertaram energias à escola da Palavra e com o alimento da Eucaristia. Tomamos consciência da nossa fragilidade e da urgência de rever valores, relações, estilos de vida.

Nas Diretrizes Gerais, retorna a palavra essencial. Escreve-se em seu número 160: “A Eucaristia e a Palavra são elementos essenciais e insubstituíveis para a vida cristã” (…) A liturgia é o coração da comunidade”; ao nº 162: “Promover uma liturgia essencial… que conduza a mergulhar no mistério de Deus, sem deixar o chão concreto da história fora da oração comunitária”.

A memória litúrgica nos recorda que a Palavra se faz Eucaristia e, num único abraço de amor, Jesus deixou o seu testamento para sempre. O seu Pão, fermento de amor, acompanha-se às palavras que, como em um sussurro, fluem de seu coração: “Amai-vos como eu vos amei; não existe maior amor que dar a vida; Ele, tendo amado os seus, amou-os até o ponto mais alto”. Quantas energias de amor se despertaram nestes meses, encontrando alimento na Palavra, acima de tudo.

De fato, as Diretrizes propunham ao número 161: “Valorizar o ministério da celebração da Palavra”; ao nº 165, recomenda-se: “Onde efetivamente não for possível celebrar a Eucaristia, realizem-se celebrações da Palavra de Deus. (…) Importa que a comunidade não deixe de se reunir para celebrar o Dia do Senhor”.

O jejum eucarístico, imposto pelas restrições sanitárias, fez crescer a consciência da sacramentalidade da Palavra, de sua dimensão performática (Papa Bento XVI). Por longo tempo, tantos irmãos e irmãs, saboreando a doçura do Pão da Palavra, único alimento, com sua força transformadora, seu valor sacramental, encontraram nela consolo e fortaleza, junto ao desejo da Eucaristia-comunhão, ao sentido da comunidade e ao valor da participação.

No número 170 encontramos: “Reconhecer que o trabalho dos meios de comunicação social de inspiração católica é um dom de Deus para a Igreja no Brasil”. Com certeza, foi de imenso valor este auxílio dado à vida de nossas Comunidades. Liturgias marcadas pela simplicidade, mas com frêmitos de esperança, foram veiculadas por uma miríade de redes sociais em capelas com poucas presenças, em igrejas quase vazias.

Mas, o frio das presenças virtuais fez crescer, em pastores e fieis, o desejo de encontros dos corpos, a beleza de abraços repletos do carinho. Sentimos a necessidade, com renovado vigor, de “construir comunidades de discípulos missionários abertos ao diálogo, à acolhida, à compreensão e à compaixão”, conforme o número 101. Fazendo tesouro do que aprendemos, vivamos, prontos a trilhar, com maior afinco e esperança, esses caminhos.

Dom Armando Bucciol
Bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA)
Membro da Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB

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