quinta-feira, 5 de março de 2020

Mensagem do Papa para JMJ 2020:

Jovens, abram-se para uma realidade que vai além do virtual
Na mensagem, Francisco recorda o Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens sobre o tema "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional", afirmando que através dele a Igreja lançou um processo de reflexão sobre a condição dos jovens no mundo atual.
Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá (Vatican Media)
Cidade do Vaticano - Foi divulgada, nesta quinta-feira (05/03), a mensagem do Papa Francisco para a 35ª Jornada Mundial da Juventude celebrada em todas as dioceses no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (05/04). O tema deste ano é «Jovem, Eu te digo, levanta-te!» extraído do capítulo 7, versículo 14 do Evangelho de Lucas.
Na mensagem, o Papa recorda o Sínodo dos Bispos realizado, no Vaticano, em outubro de 2018, sobre o tema Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, afirmando que através dele a Igreja lançou um processo de reflexão sobre a condição dos jovens no mundo atual. Recorda também a Jornada Mundial da Juventude, no Panamá, em janeiro de 2019, onde encontrou milhares de jovens do mundo. “Acontecimentos como estes, Sínodo e JMJ, manifestam uma dimensão essencial da Igreja: o «caminhar juntos»”, ressalta o Pontífice.
A seguir, o Papa menciona também a próxima Jornada Mundial da Juventude que se realizará em Lisboa, Portugal, em 2022. “De lá, nos séculos XV e XVI, vários jovens, incluindo muitos missionários, partiram para terras desconhecidas a fim de partilhar a sua experiência de Jesus com outros povos e nações.” O tema da Jornada em Lisboa será: «Maria levantou-se e partiu apressadamente». Nos dois anos que precedem a JMJ em Portugal, o Santo Padre pensa em refletir com os jovens outros dois textos bíblicos: «Jovem, Eu te digo, levanta-te!», este ano de 2020, e «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!», em 2021.
Francisco chama a atenção para o verbo comum nos três temas: levantar-se. “Esta palavra possui também o significado de ressuscitar, despertar para a vida. É um verbo frequente na Exortação Christus vivit (Cristo vive), que eu dediquei a vocês depois do Sínodo de 2018 e que, juntamente com o Documento Final, a Igreja lhes oferece como um farol para iluminar as sendas da sua existência. Espero de todo o coração que o caminho que nos levará a Lisboa coincida em toda a Igreja com um forte compromisso na concretização destes dois documentos, orientando a missão dos animadores da pastoral juvenil”, ressalta o Papa.
Ver o sofrimento e a morte
Retornando ao tema da Jornada Mundial da Juventude diocesana deste ano, «Jovem, Eu te digo, levanta-te!», o Papa recorda que Jesus, tocado pelo sofrimento angustiado da viúva, faz o milagre de ressuscitar o seu filho. “Jesus pousa um olhar atento, não distraído, sobre aquele cortejo fúnebre."
A seguir, o Papa nos convida a nos fazer as seguintes perguntas: “Como é o meu olhar? Vejo com olhos atentos ou como faço ao repassar rapidamente as milhares de fotografias no meu celular ou os perfis sociais?” 
“Quantas vezes nos acontece, hoje, ser testemunhas oculares de vários acontecimentos, sem nunca os vivermos ao vivo! Às vezes, a nossa primeira reação é filmar a cena com o celular, talvez esquecendo-nos de fixar nos olhos as pessoas envolvidas.”
Francisco recorda que há “jovens que estão «mortos», porque perderam a esperança. Infelizmente, entre os jovens, alastra também a depressão, que pode, em alguns casos, levar à tentação de destruir a própria vida. Há tantas situações onde reina a apatia e o indivíduo se perde num abismo de angústias e remorsos. Vários jovens choram, sem que ninguém ouça o grito da sua alma. Muitas vezes, ao seu redor, o que há são olhares distraídos, indiferentes talvez mesmo de quem esteja desfrutando os seus momentos felizes mantendo-se à distância”.
Ter compaixão
Em muitas ocasiões, os jovens demonstram que sabem se com-padecer. “Basta ver como muitos de vocês se doam generosamente, quando as circunstâncias o exigem. Não há desastre, terremoto, inundação que não veja grupos de jovens voluntários mostrarem-se disponíveis para socorrer. Também a grande mobilização de jovens que querem defender a criação dá testemunho de sua capacidade de ouvir o clamor da terra. Queridos jovens, não deixem que lhes roubem esta sensibilidade”, escreve o Papa.
Aproximar-se e tocar
"Jesus para o cortejo fúnebre. Aproxima-se, faz-se próximo. A proximidade impele a ir mais além, cumprindo um gesto corajoso para que o outro viva. Vocês jovens podem se aproximar das realidades de sofrimento e morte que encontram, podem tocá-las e gerar vida como Jesus, tocar como Ele e transmitir a sua vida aos seus  amigos que estão mortos por dentro, que sofrem ou perderam a fé e a esperança."
O primeiro passo é aceitar levantar-se
O Papa ressalta que o "Evangelho não refere o nome daquele jovem ressuscitado por Jesus em Naim. Isto é um convite ao leitor, para se identificar com ele. O primeiro passo é aceitar levantar-se. A nova vida que Ele nos der, será boa e digna de ser vivida, porque será sustentada por Alguém que nos acompanhará também no futuro sem nunca nos deixar, ajudando-nos a gastar de forma digna e fecunda esta nossa existência".
Ir além do virtual
O Evangelho diz que o jovem «começou a falar». "Falar significa também entrar em relação com os outros. Quando se está «morto», o indivíduo fecha-se em si mesmo: interrompem-se as relações ou tornam-se superficiais, falsas, hipócritas. Quando Jesus nos devolve a vida, «restitui-nos» aos outros."
“Hoje, muitas vezes há «conexão», mas não comunicação. Se o uso dos aparelhos eletrônicos não for equilibrado, pode levar-nos a ficar sempre colados a um visor. Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te». É um convite a abrir-se para uma realidade que vai muito além do virtual. Isto não significa desprezar a tecnologia, mas usá-la como um meio e não como fim.”
"«Levanta-te» significa também «sonha», «arrisca», «esforça-te por mudar o mundo», reacende os teus desejos, contempla o céu, as estrelas, o mundo ao teu redor. «Levanta-te e torna-te aquilo que és»”, concluiu Francisco.
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Em março, Papa pede orações
pela Igreja na China e exorta à unidade dos cristãos
Na mensagem em vídeo divulgada nesta quinta-feira (5), o Papa Francisco pede que a comunidade católica na China “persevere na fidelidade ao Evangelho e cresça em unidade”. Esse é o terceiro “Vídeo do Papa” deste ano, promovido pela Rede Mundial de Oração, com intenções para se rezar. Uma oportunidade para também procurar se conhecer melhor a realidade da Igreja no país, a sua história, situação política e religiosa.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano - As intenções de oração para este mês de março, divulgadas pelo projeto da Rede Mundial de Oração do Papa, são dirigidas à comunidade cristã na China, onde “a Igreja olha para o futuro com esperança”, afirma Francisco na mensagem em vídeo divulgada nesta quinta-feira (5). A intenção do Papa é que os católicos do país “perseverem na fidelidade ao Evangelho e cresçam em unidade”:
“Hoje em dia na China a Igreja olha para frente com esperança. A Igreja quer que os cristãos chineses sejam cristãos de verdade e que sejam bons cidadãos. Eles devem promover o Evangelho, mas sem fazer proselitismo, e alcançar a unidade da comunidade católica que está dividida. Rezemos juntos para que a Igreja na China persevere na fidelidade ao Evangelho e cresça na unidade.”
A unidade da Igreja na China
Desde a década de 70, a China tem registrado um crescimento significativo do cristianismo. Em 2010, o Pew Research Center estimou que havia 67 milhões de cristãos no país, aproximadamente 5% da população total. Dados atualizados de 2018, indicam que já pode estar se aproximando dos 100 milhões de cristãos. Esse crescimento mostra como a China continua sendo uma terra fértil para muitas famílias que acreditam em Jesus Cristo.
A Carta de Bento XVI aos católicos chineses, de maio de 2007, e a mensagem do Papa Francisco aos "Católicos chineses e à Igreja Universal", de setembro de 2018, na qual ele próprio apresentou o Acordo Provisório assinado entre a Santa Sé e representantes da República Popular da China, foram medidas já tomadas nesse caminho de recuperação da unidade da Igreja na China.
O caminho da oração e reconciliação
O Pe. Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, destaca que a intenção da oração de Francisco tem um propósito espiritual e pastoral, porque favorecer a unidade da comunidade católica na China, em sua diversidade, é promover a proclamação do Evangelho. E o sacerdote acrescenta: “É normal que esse caminho seja longo, difícil e cheio de incompreensões, o Evangelho sofre de muitas incompreensões, é por isso que devemos rezar, pois o Senhor, Criador do Céu e da Terra, transforma o coração através da oração e ajuda na reconciliação."
Reflexão sobre o cristianismo na China
São Francisco Xavier, grande missionário jesuíta e padroeiro da Rede Mundial de Oração do Papa, morreu no dia 3 de dezembro de 1552, doente e por exaustão, na ilha de Sanchoão. Ele olhava para o horizonte, onde se encontrava a China – que sempre foi o seu destino de missão mais desejado, mas onde acabou por não entrar.
Depois de um tempo, outros missionários conseguiram entrar no país, tão vasto e de uma cultura tão rica e antiga, para um diálogo muito fecundo entre as duas civilizações até que, por vários motivos, as portas do país se fecharam ao anúncio do Evangelho por muitos anos. Mas permaneceu ali uma pequena Igreja, clandestina e perseguida, fiel ao Papa, ao mesmo tempo em que, já sob o regime comunista, no século XX, se criou uma Igreja própria da China: a Associação Patriótica Católica Chinesa, controlada pelo Estado.
O regime político da China é ateu e, por isso, não favorece o desenvolvimento das religiões, de modo particular o Cristianismo, muito associado ao Ocidente, com o qual a China sempre teve relações diplomáticas e políticas difíceis, até os nossos dias. Contudo, nas últimas décadas, esforços de diálogo entre a Igreja Católica e as instituições do país estão sendo feitos, tendo em vista o reconhecimento da presença da Igreja e da sua liberdade de culto.
São pequenos passos dados, no sentido de uma maior abertura, por parte do Vaticano, à realidade da Associação Patriótica Católica Chinesa e, por outro, de abertura, por parte do governo, à liberdade religiosa dos cristãos da Igreja clandestina. É nesse sentido que o Papa Francisco, neste mês de março, pede a todos os cristãos para terem presente nas orações esses esforços de abertura, diálogo, reconhecimento e unidade, na fidelidade ao Evangelho, por parte das comunidades.
Desafios propostos para este mês
A Rede Mundial de Oração do Papa também propõe alguns desafios para este mês de março, seguindo a intenção de oração de Francisco:
- procurar conhecer melhor a realidade da Igreja na China, a sua história, a situação política e religiosa;
- organizar, na própria comunidade, um momento de oração onde se possa pedir pelos cristãos chineses e também por todos os cristãos que, em todo o mundo, sofrem perseguição e sentem limites à sua liberdade religiosa;
- promover, na medida do possível, algum encontro com a comunidade chinesa nos locais onde habito, procurando conhecer os seus costumes, tradições e a sua riqueza cultural, favorecendo um clima de fraternidade e acolhimento.
Oração
Senhor Jesus Cristo, que enviaste os teus discípulos a levar a todo o mundo a Boa-Nova, inspira os nossos irmãos e irmãs que Te seguem neste grande país, a China. Que o teu Espírito leve os seus responsáveis a ter no seu coração o desejo de diálogo, abertura, paz e reconciliação. Neste mês, comprometemo-nos a estar mais unidos aos nossos irmãos e irmãs na China que, através de muitas dificuldades, acreditam em Ti e professam o teu nome. Que o teu amor seja para cada um deles a sua força e a sua alegria.
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Assista:
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Quaresma:
Fazer o bem como se nossas mãos fossem mãos de Deus
Na tarde de quarta-feira (04) o pregador dos Exercícios Espirituais à Cúria Romana, Padre Bovati, fez a sua sexta meditação. No centro da reflexão o caminho de Israel no deserto, lugar de provações, mas também da manifestação da bondade de Deus para com o seu povo.
Adriana Masotti – Cidade do Vaticano - Na narração do Êxodo, o deserto é o lugar da providência. O lugar onde o Senhor “se revela como o Deus da aliança com Israel, o Deus bom e fiel, e ao mesmo tempo, como o soberano onipotente ao qual estão submetidas todas as forças cósmicas”. Padre Pietro Bovati prossegue a sua reflexão quaresmal, que chega na sua sexta etapa, citando uma passagem bíblica que por um lado mostra o Senhor “como artífice da história da salvação”, e de outro “não sublinha suficientemente um outro aspecto importante, ou seja, a livre expressão dos homens, seu consenso ou a sua rebeldia para com Deus. Porém, sem a atividade humana – observa o teólogo jesuíta – a história assume uma imagem deformada “na qual Deus atua, sim, admiravelmente”, mas o homem corre o risco de ser reduzido “a puro objeto passivo”. “Portanto, paradoxalmente, para exaltar Deus na sua obra, chega-se a dizimar o próprio ápice da criação, formado pelo homem livre e artífice do seu destino, porque foi criado a imagem e semelhança de Deus”.
Os textos bíblicos são complexos e muitas vezes complementares, afirma padre Bovati, e muitos deles mostram que o Senhor no seu agir considera as resistências dos homens e deseja sempre suscitar uma resposta, não se impõe e deseja uma relação com a criatura “mesmo de cooperação, de corajosa colaboração”, a ponto que do homem, em um certo sentido, depende a realização da ação salvífica de Deus nos acontecimentos humanos.
O deserto “figura da vida”
Os 40 anos passados no deserto significam toda uma existência, o deserto é representação da nossa terra, onde o homem sofre, mas onde Deus se revela e o faz “na própria ação dos seus servos”. Padre Bovati reitera um ponto fundamental: “É preciso assumir com responsável obediência a tarefa de fazer o bem como se as nossas mãos fossem as mãos de Deus”. E isso se realiza quando o servo de Deus vive a dupla virtude da escuta: a escuta da voz de Deus e a escuta do grito do povo que lhe foi confiado.
O deserto, repete o pregador, “é figura da vida”. É um tempo que pode se tornar tentação, “é o nosso tempo, o tempo do homem”. Deus coloca o seu povo à prova para que amadureça na fé e ao mesmo tempo estimula os homens capazes de ajudar os que estão sob prova, como no caso de Moisés. Ele escuta o grito dos sofredores, mesmo se manifestado debilmente e se os pedidos da sua gente o colocam em dificuldade porque ele mesmo não sabe como responder. Mas escuta porque Deus faz assim. “Mesmo as nossas orações, são sempre muito imperfeitas e principalmente, o grito do povo sofredor, muitas vezes é turbulento”. Então Moisés invoca com fé o Senhor na oração que vence a tentação e recebe resposta.
Ao amar, ensina-se amar
O pregador introduz um novo conceito: na narração bíblica se diz que “naquele lugar o Senhor impôs ao povo uma lei e uma ordem”. “Isso significa – explica o pregador – que no próprio ato do socorro, deve ser inculcada a relação obediente com o Senhor”. Portanto, ao amar ensina-se amar, “na obra de misericórdia corporal se faz também a obra de misericórdia espiritual, alcança-se o coração das pessoas, colocando-os na condição de crer em Deus e de agir como Deus quer, ou seja, no amor”.
Por fim padre Bovati fala sobre a passagem evangélica do juízo final. Todo o juízo está centralizado em uma só coisa: na ajuda ou na falta de ajuda para com os mais necessitados. Portanto há uma concretude do fazer, que exige a dedicação a um corpo que sofre, mas também do coração do sofredor. Nos mais necessitados, diz o Evangelho, há Jesus mas, pergunta-se o pregador, “como é possível ver que nós socorremos Deus quando nos dedicamos aos mais necessitados? Como os nossos olhos de carne podem realmente ver que é assim?”. Então conclui: “É sem ver que nós amamos, sem glória, sem honra, no doar-se até morrer, há a plenitude do bem, há a bênção do Pai na vida”.
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Retiro espiritual:
A oração sincera é arma poderosa para o advento do Reino
Na sétima meditação dos Exercícios espirituais da Quaresma na manhã de quinta-feira (05/03) em Ariccia, que o Papa Francisco acompanha do Vaticano, o pregador padre Bovati se deteve sobre o tema "Combate e oração": o reporta o L'Osservatore Romano. O olhar voltou-se para "uma sociedade doente, ferida, abandonada", com forças que buscam destrir aquilo que Cristo fundou, mas, observou o jesuíta, "a rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal"
Cidade do Vaticano - “Combate e oração” parece quase o título de um filme. As prementes histórias bíblicas que o sacerdote jesuíta Pietro Bovati traçou, na manhã desta quinta-feira (05/03), na sétima meditação dos Exercícios espirituais para a Cúria Romana em Ariccia, têm realmente sabor cinematográfico.
Com uma chave de leitura: a Igreja encontra-se sob violento ataque, abertamente e sorrateiramente, mas a resposta está precisamente na conjunção entre testemunho concreto e oração autêntica. Sem cessar, sem resignar-se e jamais sozinhos, e além disso, com uma arma secreta: aquela fé que sim, realmente, move as montanhas.
O dom da graça
A quinta-feira foi “dedicada a meditar sobre o compromisso pessoal que o Senhor pede a cada um de nós, em função da vocação recebida, do dom de graça, com os deveres relacionados a essa graça”, evidenciou o pregador, recordando que “toda forma de negligência, de preguiça, equivale a maldade e desprezo em relação a Deus”.
“Portanto, é 'àqueles que o Senhor consagrou com a unção sacerdotal que hoje se dirige a pergunta: qual é o primeiro, fundamental serviço que o ministro de Deus é chamado realizar?'”
Sem dúvida, afirmou o secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, “hoje, numa sociedade doente, ferida, abandonada, diante de necessidades urgentes e dolorosas, o sacerdote é solicitado a prestações múltiplas. Todavia, isso não deve levar a perder de vista o essencial”.
Serviço essencial do sacerdote: a oração
Padre Bovati indicou sobretudo “a oração” que, “além de ser a condição da escuta de Deus que torna possível a pregação como autêntico testemunho, ela mesma é autêntico ministério apostólico na sua natureza de acolhimento, reconhecimento da graça”.
E “a Escritura nos oferece um modelo deste ministério permanente de intercessão no Livro do Êxodo – explicou o pregador – propriamente com a figura de Moisés, mediador não somente da Palavra de Deus, mas também mediador da graça para um povo em constante perigo de perder-se”. Moisés “reza continuamente e a sua oração é eficaz e salvífica”.
Atualizando “o ministério orante de Moisés”, como é apresentado “na narração do capítulo 17 do Êxodo, num contexto de perigo”, padre Bovati sugeriu como linha da meditação, exatamente, a expressão “combate e oração”.
Encontramo-nos diante de “um episódio incomum para o Êxodo: o apresentar-se de um combate que deve repelir um povo inimigo, Amalec”. O texto, observou o pregador, deve ser lido “em seu valor parabólico, de modo a obter um ensinamento sobre como aquele que na comunidade é sacerdote e guia deve agir ao enfrentar o inimigo, aquele que ameaça a vida do povo de Deus”.
Moisés tem diante de si “um adversário astuto que agride os mais fracos da caravana, aqueles que ficam na retaguarda porque cansados, um inimigo que aproveita de um povo exausto”.
Mas nós “como vivemos hoje a relação com Amalec e quem é Amalec hoje?” – é a questão concreta proposta pelo pregador dos Exercícios espirituais. “A Igreja cristã, desde seus primeiros momentos, sofreu ataques, perseguições, ostracismos e violências mortais”.
A rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal
Na história “o inimigo da Igreja assumiu diferentes aparências, por vezes a do poder político e judiciário, por vezes a dos falsos profetas que semearam ódio e menosprezo contra as convicções e o modo de viver dos cristãos. E isso continua em nossos dias, sob formas persecutórias” mais ou menos evidentes.
Uma perseguição, denunciou, que tem notas de “virulência inaudita também em nosso mundo, no intento de demolir a estrutura completa da Igreja, atacando quem é mais fraco na fé, escassamente preparado do ponto de vista espiritual para aceitar o embate, o desprezo, e a marginalização”.
Eis que, afirmou o religioso jesuíta, “o nosso Amalec tem forma atraentes para muitos e ataca sorrateiramente quem não está preparado. Enormes forças ideológicas e financeiras, coalizadas para favorecer interesses de parte, tornaram-se ameaçadoras e usam todos os meios, da informação distorcida a retaliações econômicas para destruir aquilo que Cristo fundou”.
É claro, relançou padre Bovati, “a rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal, não porém sem a nossa participação ativa de fé e a oração”.
Formação humana e espiritual, prioridade apostólica
“Metáfora à parte e pensando aquilo que hoje nos é exigido para combater o bom combate do Reino de Deus – afirmou o pregador, apresentando a figura de Josué que desce ao campo de batalha –, devemos interrogar-nos com quais instrumentos enfrentamos quem, com o engano e a violência, dificulta o bem.”
“Talvez algumas armas sejam obsoletas, inapropriadas, insuficientes. A preparação cultural nas ciências humanas e ciências religiosas deve ser objeto de imperioso discernimento se não se quiser ser ingênuos e irresponsáveis diante de uma agressiva onda de doutrinas e práticas contrárias ao Evangelho, na presença de falsos profetas.”
Além disso, “as instituições tradicionais consideradas úteis talvez requeiram mudanças corajosas”. Por isso, reconheceu, “a formação humana e espiritual dos clérigos e dos leigos se mostra hoje uma prioridade apostólica”.
Imersão em Deus, condição indispensável
Com eficácia, padre Bovati delineou o perfil de Moisés em oração, com “o olhar voltado para Deus, não porque se desinteresse da batalha, mas porque quer endereçá-la à mais completa vitória. Moisés no monte representa a força secreta que conduz o exército ao triunfo: a imersão em Deus é a condição indispensável para que o combate na terra tenha bom êxito”.
Sim, “a vitória se alcança com os braços elevados, com o gesto tradicional do orante: o êxito da guerra não está nas mãos do guerreiro, Josué, mas nas mãos de Moisés que invoca Deus”.
Com uma observação sobre o “aspecto da fadiga de quem está com as mãos elevadas, uma exaustão diferente da dos combatentes, e no entanto real. E é com “humildade que para realizar a sua missão Moisés se deixa ajudar pelos sacerdotes, Aarão e Cur, que sustentam os braços do homem de Deus”.
Em suma, “cada um é indispensável, mas é na comunhão, expressão orante da aliança entre irmãos e com Deus, que a oração é eficaz, também porque expressa o amor, a solidariedade, a unidade, no idêntico serviço para todo o povo de Deus”. Por conseguinte, a sugestão é não pensar no desdobramento entre oração e contemplação de um lado e combate e ação de outro”.
A passagem do Evangelho de Mateus (17, 14-21) “fala de combate com satanás”, prosseguiu padre Bovati, indicando a figura do “jovem às presas com pulsões que não sabe controlar e é o símbolo da pessoa sofredora e indefesa, em grave perigo porque desprovida daqueles recursos que lhe permitiriam aderir ao bem”.
Apelo à força divina
A seu lado “está o pai, testemunha do sofrimento do filho”: para salvá-lo se dirige aos discípulos “que o Senhor havia dotado do poder de expulsar os demônios e de curar toda forma de mal”.
No entanto, nesse episódio, observou o pregador, “os discípulos do Senhor não conseguem nada, a atividade deles é ineficaz, a intervenção deles é desprovida daquela força espiritual para combater o espírito do mal”.
E esse é “o enigma da narração: por que falta a eficácia? Porque o poder, mesmo tendo sido dado, não dá resultado? Jesus fala da falta de fé, de “geração incrédula e perversa”.
Padre Bovati explicou que não falta “somente a oração”. A questão, efetivamente, é se os discípulos “têm ao menos um pingo de fé”.
De resto, concluiu convidando à leitura do Salmo 121, “a oração não é simples recitação, não consiste na formalidade dos lábios: se o coração não adere ao mistério de Deus a oração é vã. Porém, uma oração mesmo fraca, sincera e humilde, se é apelo àquela força divina que pode existir somente no Senhor, é a arma poderosa que nos é dada para colaborar para o advento do Reino”.
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Retiro espiritual, Bovati: 
O pastor vele sempre quem é mais frágil
Na oitava meditação dos Exercícios espirituais da Quaresma em Ariccia, que o Papa Francisco acompanha do Vaticano, o pregador padre Pietro Bovati se deteve, na tarde de quinta-feira (05/03), sobre o tema "A intercessão". Na sua oração, afirmou, o intercessor alcança a misericórdia de Deus e a transmite. Aquele que tem responsabilidade na Igreja é chamado a "defender, promover e edificar os pequenos".
Giada Aquilina, Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano Quanto mais há pecado, mais se multiplica a misericórdia de Deus. Foi a reflexão do secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, padre Pietro Bovati, na tarde de quinta-feira (05/03), na oitava meditação dos Exercícios espirituais em Ariccia para a Cúria Romana, que o Papa Francisco acompanha da Casa Santa Marta, no Vaticano.
À luz do Livro do Êxodo, do Evangelho de Mateus e da oração dos Salmos, o jesuíta se deteve sobre o tema “A intercessão”, entendida como “aquela intervenção amorosa” que é exercida em favor daquelas pessoas que “precisam de perdão e de reconciliação com Deus”.
O serviço da misericórdia
Trata-se, explicou, do “ministério mais espiritual”, seja por que tem por objeto uma necessidade e uma finalidade que “tocam o coração”, “o secreto da pessoa”, seja porque “mais do que qualquer outra”, pressupõe uma “verdadeira familiaridade com Deus”, dado que se dirige a quem se encontra “espiritualmente em dificuldade porque está no pecado”.
Os sacerdotes, recordou padre Bovati, são chamados ao “ministério da reconciliação”, exercitando-o no Sacramento, que deve ser vivido com “empenho”, “dedicação” e “amor”. O serviço da misericórdia, precisou o religioso, investe também “a existência de uma comunidade inteira”, “de quem quer que seja na Igreja em oração” se torne “disponível ao exercício profético da reconciliação”.
O padre jesuíta convidou a examinar o capítulo 32 do Êxodo, versículos 7-14, reiterando que o pecado “só é conhecido verdadeiramente na oração, no encontro face a face com o Senhor”: é “olhando a face de Deus”, é “ouvindo a sua voz” que se compreende “a gravidade do pecado”, como ato “contra Deus” e contra os “outros”.
O pecador, aliás, “não se dá conta daquilo que fez”, por ignorância, por superficialidade ou “por uma terrível dependência do mal”, quando se é “prisioneiros de vícios compulsivos” que impedem “decisões sensatas”.
A oração de intercessão
Quem reza, propriamente intuindo a “periculosidade” do pecado, percebe “olhando e ouvindo Deus a necessidade que Deus mesmo tem de “ser misericordioso”. É olhando o Senhor que se sente “chamados a um amor pelo pecador visto com os olhos” de Deus.
O orante, “justamente porque olha a face” do Senhor, é levado “a identificar-se” com o pecador, acabando por “assumir sobre si o mal dos outros”, a exemplo de Cristo. “A oração que leva a compreender a gravidade do pecado” e o “dever urgente” de socorrer tal pecado “introduz, impele e promove” uma “oração especial ao Senhor”, a oração de “intercessão”.
Oferecer a Deus a nossa miséria
Nos textos bíblicos, explicou o teólogo, “a oração que o intercessor dirige a Deus é um “pedido”, uma “súplica” a fim de que o Senhor perdoe. Olhando bem, acrescentou, todo pedido a Deus se mostra “impróprio”, como se Deus tivesse que fazer “aquilo que o orante pede”, o “impertinente” porque parece “sugerir que o Senhor não se recorde o bem que tem a fazer”.
Porém, observou o pregador, a Escritura ensina que “Deus cumpre antes que o pedido chegue aos lábios. Ele sabe aquilo de que precisamos”. Mesmo assim devemos pedir, exortou, “porque assim nos conscientizamos das nossas necessidades”, “experimentamos a necessidade”, apresentamos a Ele “as nossas feridas”, nossos sofrimentos, de modo que nos é dado sentir  Sua compaixão”, “saborear” o Seu amor “que ouve e realiza”.
Da ira à misericórdia
A intercessão, por conseguinte, “olha a face de Deus” e assiste a uma “mudança”: a passagem “da ira à misericórdia”, à “ternura”, de modo que se opere uma “mudança radical” no próprio coração. A oração de intercessão expressa uma “progressiva docilidade do mediador no acolher a infinita bondade de Deus” e, acolhendo-a em si,  torna-se “testemunha e instrumento daquela misericórdia”, evidenciou padre Bovati.
A intercessão, em suma, vê “o emergir de um desejo de Deus de salvar o homem”, a fim de que no mundo “todos possam ser atraídos pela luz da misericórdia se beneficiando do mesmo perdão”.
Uma transmissão de misericórdia
Na sua oração o intercessor alcança a misericórdia de Deus: daí leva a cabo uma série de “ações”, “modalidades”, “atitudes” e “operações” que são necessárias “para fazer de modo que os pecadores tenham acesso ao dom da divina misericórdia”.
Para ilustrar o processo “concreto” do exercício da divina misericórdia “mediada por seu ministro” e “realizado com o perdão”, o pregador propôs o discurso de Jesus no capítulo 18 do Evangelho de Mateus.
Parte da atenção “ao pequeno”, ou seja, a pessoa vulnerável, frágil, fraca que não deve ser desprezada. “Aquele que tem responsabilidade na Igreja” é chamado a ter uma “atitude paterna”, com atenção a “quem é mais pequenino”.
Nestes dias, em que “a problemática dos abusos contra menores”, contra pessoas “frágeis é mais do que nunca atual”, a solicitude “dos grandes” se faz “mais incisiva e necessária”, chamados que são a “defender, a promover e edificar os pequenos”, refletiu padre Bovati.
Mas também na parábola da ovelha perdida, prosseguiu, Jesus indica “a falha da ativa responsabilidade do pastor, do grande que deveria tomar conta do pequeno”. Faltou “vigilância”, “cuidado pessoal”, “solícita” atenção.
A “fragilidade do pequeno se conjuga com a negligência do pastor”, mas isso “não determina o êxito infeliz da parábola, aliás, é propriamente a ocasião para ativar a iniciativa do pastor que sai para procurar a ovelha perdida”. Isto é, “fazer o pecador retornar”.
Os mediadores
O pregador esclareceu que o procurar a ovelha perdida se explica na mesma passagem evangélica, quando Pedro pergunta ao Senhor quantas vezes deve perdoar o irmão em caso de pecado contra ele.
Jesus, recordou o teólogo, faz emergir a responsabilidade tanto do pecador quanto da pessoa ofendida. “O procurar o irmão que se perdeu se realiza segundo esse texto de Mateus com o exercício do diálogo”, do falar, do iniciar um “processo gradual” que convença o pecador passando do “colóquio pessoal” ao “envolvimento de testemunhas”, de “mediadores que corroborem o desejo de reconciliação e o favoreçam”, até o envolvimento “de toda a comunidade”.
A finalidade alcançada pela missão reconciliadora, ressaltou o religioso jesuíta, se “torna visível” na oração comunitária. O Salvador realiza a sua missão propriamente porque os pastores são “mediadores”, “unem” a comunidade.
Artífices de perdão
Quando o apóstolo Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar o meu irmão?”, Jesus encoraja “a não cansar-se”, tornando, portanto, num certo sentido “permanente” o “ministério da reconciliação”.
O número 70 vezes 7 é compreendido como “multiplicação”, quase que a todo limite se deva contrapor uma “superação inimaginável, “quanto mais há pecado, mais a misericórdia se multiplica”.
Na Igreja Pedro é a testemunha desta misericórdia. De fato, se recorda d’ele o pecado da “renegação”, se recorda o seu pranto, o seu arrependimento “de modo que a sua experiência se torne o emblema da Igreja e de todo cristão que perdoado se torna artífice de perdão”.
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                                                                                                               Fonte: vaticannews.va

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