domingo, 23 de setembro de 2018

25ª Viagem Apostólica de Francisco

Na Missa em Kaunas, Papa recorda ocupações e deportações
"Quantos de vós viram também vacilar a sua fé, porque Deus não apareceu para vos defender; porque o fato de permanecer fiéis não foi suficiente para que Ele interviesse na vossa história. Kaunas conhece esta realidade; toda a Lituânia o pode testemunhar sentindo arrepios à simples nomeação da Sibéria, ou dos guetos de Vilnius e Kaunas", disse Francisco na homilia.

Cidade do Vaticano - Na manhã deste domingo (23/9), o Papa Francisco deixou a Nunciatura Apostólica de Vilnius às 8h15 hora local (2h15 no Brasil), e transferiu-se para Kaunas, a segunda maior cidade da Lituânia e antiga capital temporária do país. Segundo uma das lendas, foi fundada pelos Romanos na Antiguidade, em 1030. Após a II Guerra Mundial, Kaunas tornou-se a principal cidade industrial da Lituânia. A Arquidiocese conta 650 mil habitantes, dos quais 520 mil católicos.
Ao chegar a Kaunas, o Papa passou de papamóvel entre os mais de cem mil fiéis presentes no Parque Sántakos, onde presidiu à celebração da Santa Missa.
Em sua homilia, Francisco partiu do Evangelho do dia, onde São Marcos dedica grande parte ao ensinamento de Jesus aos discípulos. É como se, no meio do caminho para Jerusalém, Jesus quisesse que os seus discípulos renovassem a sua opção, sabendo que este seguimento comportaria momentos de provação e sofrimento. 
O evangelista lembra que Jesus anunciou a sua Paixão em três ocasiões aos discípulos, e por três vezes expressaram sua perplexidade e resistência a esta notícia. No entanto, o Senhor sempre lhes deixou seu ensinamento, explicou o Papa:
“A vida cristã passa sempre por momentos de cruz, que, às vezes, parecem intermináveis. As gerações passadas sentiram a dureza do tempo da ocupação, a angústia dos que eram deportados, a incerteza da sua volta, a vergonha da delação, da traição”.
Quantas vezes, - disse Francisco - o justo é perseguido, sofre insultos e tormentos pelo fato de ser bom! Kaunas e a Lituânia conhecem bem esta realidade, sobretudo ao recordar dos guetos de Vilnius e de Kaunas.
Mas, voltando ao Evangelho de hoje, Papa disse que “os discípulos não queriam que Jesus falasse sobre sofrimento e cruz”; não queriam saber de provações e angústias, porque, segundo São Marcos, o interesse deles era outro: ao voltar para casa, discutiam sobre quem, entre eles, seria o maior. E Francisco ponderou:
“Irmãos, o desejo de poder e de glória é o modo mais comum de se comportar daqueles que não conseguem sanar a memória da sua história e, talvez, nem aceitam  compromissos com o momento presente. Discutem sobre quem mais se destacou e foi mais puro no passado, quem possui mais direitos e tem mais privilégios. Assim, negamos a nossa história gloriosa por ser feita de sacrifícios, esperança, luta, serviço e fadiga”.
Família: presente valioso de Deus à humanidade
Trata-se – continuou o Papa - de uma atitude estéril e inútil, que recusa a construção do presente e da dolorosa realidade do povo fiel. Sabendo o que os discípulos pensavam, - destacou o Santo Padre – o Mestre propôs-lhes um antídoto para estas lutas de poder e recusa do sacrifício: sentou-se com eles e colocou uma criança no meio deles; hoje, esta criança poderia ser um pequenino qualquer, um pobre, a minoria étnica, o desempregado, o migrante; talvez um idoso, um jovem, que perderam o sentido da sua existência. E Francisco refletiu:
“Trata-se disso: de uma Igreja ‘em saída’; não devemos ter medo de sair e entregar-se; não devemos ter medo de estar atrás dos pequeninos, dos esquecidos, dos que vivem nas periferias existenciais. Porém, devemos saber que este ‘sair’ implica, às vezes, deter o passo e renunciar aos anseios, sabendo olhar, escutar e acompanhar o excluído da sociedade”.
Eis o motivo pelo qual estamos aqui, hoje, - disse Francisco - ansiosos de receber Jesus e a sua palavra, através da Eucaristia e dos pequeninos. Por isso, o Papa fez os votos para que “o Senhor possa reconciliar a nossa memória, acompanhar-nos no presente, apesar dos desafios e das chagas do passado...; Sigamos o Mestre como verdadeiros discípulos, compartilhando das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados”.
...............................................................................................................................................................
Papa no Angelus:
Discernimento para descobrir a tempo germe do totalitarismo
"Façamos memória daqueles tempos e peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento para descobrir, a tempo, qualquer novo germe daquele comportamento pernicioso, qualquer aragem que atrofie o coração das gerações que, não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia", disse o Papa no Angelus, referindo-se à perseguição contra os judeus no Gueto em Vilnius.

Cidade do Vaticano - Após a celebração da Eucaristia no Parque Sántakos, de Kaunas, o Santo Padre passou à habitual oração mariana do Angelus, ao meio-dia, antes da qual pronunciou uma alocução, recordando o Livro da Sabedoria, da liturgia de hoje, que fala do justo perseguido, cuja simples presença incomoda os ímpios. No ímpio, o mal procura sempre aniquilar o bem”. E Francisco recordou:
“Há setenta e cinco anos, esta Nação assistia à definitiva destruição do Gueto de Vilnius e o aniquilamento de milhares de judeus. Como no livro da Sabedoria, o povo judeu passou por ultrajes e tormentos. Por isso, em memória daqueles tempos, peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento daquele comportamento pernicioso, que atrofia o coração das gerações, que não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia”.
Citando o Evangelho do dia, sobre a ânsia de querer ser o primeiro e predominar sobre os outros, o Santo Padre recordou o conselho de Jesus: “ser o último e o servo de todos. Se nos deixarmos guiar por este propósito, então a globalização da solidariedade se tornará uma realidade”. E o Papa concluiu com uma exortação:
“Aqui, na Lituânia, há uma “Colina das Cruzes”, onde milhares de pessoas, através dos séculos, plantaram o sinal da cruz. Por isso, convido-os, a pedir a Maria que nos ajude a plantar a cruz do nosso serviço e da nossa dedicação, indo ao encontro de quem mais precisa da nossa atenção, como os excluídos, as minorias, os marginalizados, os descartados”.
Antes de abençoar e se despedir dos fiéis de Kaunas, o Santo Padre aproveitou a oportunidade para agradecer à Presidente e Autoridades da Lituânia, bem como os Bispos e todos os que contribuíram para o bom êxito da sua peregrinação ao país.
Por fim, o Papa dirigiu seu pensamento de modo especial à Comunidade judaica, anunciando que, na parte da tarde, rezará diante do Monumento das Vítimas do Gueto, em Vilnius, por ocasião do 75° aniversário da sua destruição. Que o “Altíssimo – concluiu o Papa - abençoe o diálogo e o empenho comum pela justiça e a paz”.
Ao término da celebração da Santa Missa e da oração do Angelus, Francisco dirigiu-se à Cúria Episcopal de Kaunas, para o almoço com os Bispos da Lituânia.
Texto integral da alocução do Santo Padre:
Amados irmãos e irmãs!
O livro da Sabedoria, que escutamos na primeira leitura, fala-nos do justo perseguido, daquele cuja simples presença já incomoda os ímpios. O ímpio é descrito como a pessoa que oprime o pobre, não tem compaixão da viúva, nem respeita o idoso (cf. 2, 17-20). O ímpio tem a pretensão de pensar que a sua força é a norma da justiça.
Submeter os mais frágeis, usar a força sob qualquer forma, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou a repressão para dobrar aqueles que, simplesmente com o seu agir honesto, simples, operoso e solidário de todos os dias, manifestam que é possível outro mundo, outra sociedade.
Ao ímpio, não lhe basta fazer o que lhe apraz, deixar-se guiar pelos seus caprichos; também não quer que os outros, fazendo o bem, ressaltem este seu modo de proceder. No ímpio, o mal procura sempre aniquilar o bem.
Há setenta e cinco anos, esta nação assistia à definitiva destruição do Gueto de Vilna; culminava, assim, o aniquilamento de milhares de judeus, que começara dois anos antes. À semelhança do que se lê no livro da Sabedoria, o povo judeu passou por ultrajes e tormentos. Façamos memória daqueles tempos e peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento para descobrir, a tempo, qualquer novo germe daquele comportamento pernicioso, qualquer aragem que atrofie o coração das gerações que, não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia.
No Evangelho, Jesus lembra-nos uma tentação a propósito da qual deveremos vigiar atentamente: a ânsia de ser os primeiros, de predominar sobre os outros; tentação esta, que pode esconder-se em todo o coração humano. Quantas vezes sucedeu que um povo se julgou superior, com mais direitos adquiridos, com maiores privilégios a preservar ou conquistar!
Qual é o remédio proposto por Jesus, quando surge tal impulso no nosso coração e na mentalidade duma sociedade ou dum país? Fazer-se o último de todos e o servo de todos; permanecer no lugar para onde ninguém quer ir, aonde nada chega, na periferia mais distante; e servir, criando espaços de encontro com os últimos, com os descartados.
Se o poder se deixasse guiar por isto, se permitíssemos ao Evangelho de Cristo chegar às profundezas da nossa vida, então a globalização da solidariedade seria verdadeiramente uma realidade. «Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos “a carregar as cargas uns dos outros” (Gal 6, 2)» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 67).
Aqui, na Lituânia, há uma colina das cruzes onde milhares de pessoas, através dos séculos, plantaram o sinal da cruz. Convido-vos, enquanto rezamos o Angelus, a pedir a Maria que nos ajude a plantar a cruz do nosso serviço, da nossa dedicação onde precisam de nós, na colina onde moram os últimos, onde se requer a delicada atenção aos excluídos, às minorias, para afastar dos nossos ambientes e das nossas culturas a possibilidade de aniquilar o outro, marginalizar, continuar a descartar quem nos incomoda e perturba as nossas comodidades.
Jesus coloca uma criança no centro, coloca-a à mesma distância de todos, para que todos se sintam provocados a corresponder-Lhe. Lembrando o «sim» de Maria, peçamos-Lhe que torne o nosso «sim» generoso e fecundo como o d’Ela.
Angelus Domini…
Bom domingo! Bom almoço! – Gražaus sekmadienio! Skaniu pietu!
..............................................................................................................................................................
Assista:
..............................................................................................................................................................
Papa aos consagrados:
Não esqueçam seus mártires!
"Recordem dos mártires de vocês. Tomem o seu exemplo, não tenham medo. Falando com os bispos de vocês hoje, diziam como se pode fazer para reintroduzir a causa de beatificação de tantos de quem não temos documentos, mas sabemos que são mártires. É uma consolação. É bonito ouvir isto. A preocupação por aqueles que nos deram testemunho..São os Santos!"

Cidade do Vaticano - "Gostaria de dizer um sentimento que tenho. Olhando para vocês, vejo muitos mártires atrás de vocês. Mártires anônimos, no sentido de que nem sabemos onde eles foram enterrados"..
A Catedral de S. Pedro e S. Paulo em Kaunas, na Lituânia, foi o local do encontro do Papa com a vida consagrada. Com eles, Francisco compartilhou “alguns traços característicos da esperança à qual sacerdotes, seminaristas, consagrados e consagradas”, são chamados a viver. A Catedral de Kaunas foi a primeira grande construção gótica da Lituânia e remonta ao ano de 1413, segundo algumas fontes escritas.
O Pontífice foi recebido com efusivos aplausos pelos presentes, em meio à cânticos religiosos. Mas antes de pronunciar-se, dirigiu-se a uma capela lateral onde depositou flores aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, detendo-se então em oração diante do Tabernáculo. No local estavam presentes algumas religiosas de clausura. Francisco dirigiu a elas algumas palavras em italiano, sendo traduzido em lituano por um sacerdote.
Antes de ler o discurso preparado, Francisco falou de improviso, inspirado na conversa que teve com os bispos com quem almoçou na sede da Cúria em Kaunas, antes do encontro na Catedral. E recordou o tempo das perseguições e os tantos mártires.
"Também alguém de vocês: eu cumprimentei alguém [de vocês], [que] soube o que era a prisão. Vem-me à mente uma palavra para começar: não esqueçam, recordem-se. Vocês são filhos dos mártires. Essa é sua força. E o espírito do mundo não venha para lhes dizer outra coisa diferente daquela que seus antepassados ​​viveram". 
"Recordem dos mártires de vocês, insistiu. Tomem o seu exemplo, não tenham medo. Falando com os bispos, seus bispos hoje, disseram: "Como podemos apresentar a causa da beatificação para muitos dos quais não temos documentos, mas sabemos que eles são mártires?" É um consolo, é bonito ouvir isso: a preocupação por aqueles que nos deram testemunho. São os Santos".
Ao retomar o discurso escrito, o Papa recordou que Paulo repetiu três vezes a palavra “gemer” - geme-se pela escravidão da corrupção, pelo anseio à plenitude – dizendo aos presentes, “que seria bem perguntar se aquele gemido está presente em nós ou se, pelo contrário, já nada grita na nossa carne, nada anela pelo Deus vivo”:
“O gemido da corça sequiosa por falta de água deveria ser o nosso na busca da profundidade, da verdade, da beleza de Deus. Talvez a «sociedade do bem-estar» nos tenha deixado demasiadamente saciados, cheios de serviços e de bens, e encontramo-nos «pesados» de tudo e cheios de nada; talvez nos tenha deixado aturdidos ou dissipados, mas não cheios. Somos nós, homens e mulheres de especial consagração, aqueles que não podem jamais permitir-se a perda daquele gemido, daquela inquietude do coração que só no Senhor encontra repouso”.
“Nenhuma informação imediata – enfatizou o Papa -  nenhuma comunicação virtual instantânea pode privar-nos dos tempos concretos, prolongados, para conquistar – é precisamente disto que se trata: de um esforço constante – um diálogo diário com o Senhor através da oração e da adoração”.  Trata-se de cultivar o nosso desejo de Deus, como escrevia São João da Cruz.
Mas “este gemido – continuou - deriva também da contemplação do mundo dos homens, sendo um apelo à plenitude face às necessidades insatisfeitas dos nossos irmãos mais pobres, perante a falta de sentido da vida dos mais novos, a solidão dos idosos, os abusos contra o meio ambiente. É um gemido que procura organizar-se para influenciar os acontecimentos duma nação, duma cidade; não como pressão ou exercício de poder, mas como serviço”.
“O grito do nosso povo deve-nos importunar como a Moisés, a quem Deus revelou o sofrimento do seu povo no encontro junto da sarça ardente”, disse o Pontífice, recordando que “escutar a voz de Deus na oração faz-nos ver, ouvir, conhecer o sofrimento dos outros para os podermos libertar. Mas de igual modo devemos sentir-nos importunados quando o nosso povo deixou de gemer, deixou de procurar a água que mata a sede. É hora também para discernir o que está a anestesiar a voz do nosso povo”:
“O clamor que nos faz procurar a Deus na oração e na adoração é o mesmo que nos faz escutar o lamento dos nossos irmãos. Eles «esperam» em nós e, a partir dum discernimento atento, precisamos de nos organizar, programar e ser ousados e criativos no nosso apostolado. Que a nossa presença não seja deixada à improvisação, mas dê resposta às necessidades do povo de Deus e seja, assim fermento na massa”.
A segunda característica de que fala o Apóstolo, é a “constância”, “constância no sofrimento, constância em perseverar no bem. Isto significa estar centrados em Deus, permanecendo firmemente enraizados n’Ele, ser fiéis ao seu amor”.
O Papa recordou então o testemunho dos mais idosos nesta “constância no sofrimento”:
“A violência usada contra vós por ter defendido a liberdade civil e religiosa, a violência da difamação, o cárcere e a deportação não puderam vencer a vossa fé em Jesus Cristo, Senhor da história. Por isso, tendes tanto a dizer-nos e ensinar-nos, e muito também a propor, sem precisar de julgar a aparente fraqueza dos mais jovens”.
E aos mais jovens recomendou que quando se depararem com  “as pequenas frustrações” que tiram o ânimo, levando a um fechamento em si mesmos,  levando “a comportamentos e evasões que não são coerentes” com a consagração, procurem suas raízes e busquem olhar “o caminho percorrido pelos idosos”:
“São precisamente as tribulações que delineiam os traços distintivos da esperança cristã, porque, quando é apenas uma esperança humana, podemos sentir-nos frustrados e esmagados com o fracasso; mas não acontece o mesmo com a esperança cristã: esta sai mais límpida, mais experimentada do crisol das tribulações”.
Mesmo que os tempos sejam outros e a vida vivida em outras estruturas, o Papa afirma que “estes conselhos são melhor assimilados quando as pessoas que viveram aquelas duras experiências não se fecham, mas compartilham-nas aproveitando os momentos comuns”.
O identificar-se com Cristo, participar comunitariamente no seu destino, é a terceira característica ressaltada por Paulo, para quem “a salvação esperada não se limita a um aspecto negativo – libertação duma tribulação interna ou externa, temporal ou escatológica –, mas a ênfase está colocada em algo altamente positivo: a participação na vida gloriosa de Cristo, a participação no seu Reino glorioso, a redenção do corpo”.
Trata-se, portanto, de vislumbrar o mistério do projeto único e irrepetível que Deus tem para cada um. Pois não há ninguém que nos conheça e nos tenha conhecido tão profundamente como Deus; por isso Ele nos destinou para algo que parece impossível, aposta sem possibilidade de erro que reproduzamos a imagem de seu Filho. Ele colocou as suas expectativas em nós, e nós esperamos n’Ele. Um «nós» que integra, mas também supera e excede o «eu».
Devemos interrogar-nos novamente, diz Francisco: “Que nos pede o Senhor? Quais são as periferias que mais precisam da nossa presença, para lhes levar a luz do Evangelho?”:
“No barco da Igreja, estamos todos, sempre procurando clamar a Deus, ser constantes no meio das tribulações e ter Cristo Jesus como objeto da nossa esperança. E este barco reconhece no centro da sua missão o anúncio da glória esperada que é a presença de Deus no meio do seu povo, em Cristo ressuscitado, e que um dia, ansiosamente esperado por toda criação, se manifestará nos filhos de Deus. Este é o desafio que nos impele: o mandato de evangelizar. É a razão da nossa esperança e alegria”.
...............................................................................................................................................................
Lituânia:
A oração do Papa em memória das vítimas da ocupação soviética
A oração no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade, em Vilnius, conclui visita de dois dias do Papa Francisco à Lituânia, primeira etapa de sua viagem aos países bálticos.

Cidade do Vaticano - A oração no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade, em Vilnius, conclui a visita de dois dias do Papa Francisco à Lituânia, primeira etapa de sua viagem aos países bálticos.
Vítimas do Gueto
Após deixar a Catedral de Kaunas, onde se encontrou com os religiosos, o Pontífice voltou a Vilnius e, a caminho do Museu, fez uma visita ao Monumento pelas Vítimas do Gueto, onde se deteve em oração silenciosa.
Dos cerca de 95 mil residentes judeus (quase a metade da população) e as 110 sinagogas ativas antes da ocupação nazista, hoje existem quatro mil judeus e somente duas sinagogas. O dia 23 de Setembro de 1943, quando foi fechado o Gueto de Vilnius, foi declarado o Dia do genocídio hebraico na Lituânia.
Escritório da KGB
Do Monumento, o Pontífice prosseguiu até o Museu das Ocupações. O local é o símbolo da dominação soviética, e na época foi sede dos escritórios da KGB e, sobretudo, no sótão, das prisões em que eram torturados e detidos os opositores do regime.
Precedentemente, foi a Gestapo a ocupar o edifício entre 1941 e 1944 com finalidades análogas.
Segundo estimativas, mais de mil pessoas perderam a vida no prédio entre 1944 e os anos 60.
Para recordar esta parte da história, em 1992 o edifício foi reformado para se tornar um Museu em memória das vítimas. Ali dentro, é possível visitar cerca de 20 celas, das quais as duas de isolamento são as mais impressionantes, com 60 cm quadrados cada uma.
Oração
O Papa visitou as celas 9 e 11, onde acendeu uma vela, e a sala das execuções. Além das autoridades, o Pontífice foi acolhido por um bispo católico da Companhia de Jesus, sobrevivente da perseguição e por um descendente de deportados. No pátio externo, Francisco depositou flores e pronunciou a seguinte oração:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» (Mt 27, 46).
O vosso grito, Senhor, não pára de ressoar, ecoando dentro destas paredes que recordam os sofrimentos vividos por tantos filhos deste povo. Lituanos e originários de diferentes nações sofreram na sua carne o delírio de omnipotência daqueles que tudo pretendiam controlar.
No vosso grito, Senhor, ecoa o grito do inocente que se une à vossa voz e se eleva para o céu. É a Sexta-feira Santa do sofrimento e da amargura, da desolação e da impotência, da crueldade e do absurdo que viveu este povo lituano face à ambição desenfreada que endurece e cega o coração.
Neste lugar da memória, nós Vos imploramos, Senhor, que o vosso grito nos mantenha despertos. Que o vosso grito, Senhor, nos liberte da doença espiritual que sempre nos tenta como povo: esquecer-nos dos nossos pais, de quanto viveram e sofreram.
Que, no vosso grito e na vida dos nossos pais que tanto sofreram, possamos encontrar a coragem de nos comprometermos, com determinação, no presente e no futuro; que aquele grito seja estímulo para não nos adequarmos às modas do momento, aos slogans simplificadores e a toda a tentativa de reduzir e tirar a qualquer pessoa a dignidade de que Vós a revestistes.
Senhor, que a Lituânia seja farol de esperança; seja terra da memória operosa, que renova os compromissos contra toda a injustiça. Que promova esforços criativos na defesa dos direitos de todas as pessoas, especialmente das mais indefesas e vulneráveis. E que seja mestra na reconciliação e harmonização das diferenças.
Senhor, não permitais que sejamos surdos ao grito de todos aqueles que hoje continuam a erguer a voz para o céu.
.............................................................................................................................................
                                                                                                            Fonte: vaticannews.va

Nenhum comentário:

Postar um comentário