quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Eleições:

o que é da responsabilidade da Igreja?

A vida política está entre as preocupações da Igreja reforçadas após o Concílio Vaticano II. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes ensina que, sobre estas realidades, “devem resplandecer os princípios e as luzes que provêm de Cristo e que dirigirão os cristãos e iluminarão todos os homens na busca da solução para tantos e tão complexos problemas”. Mas neste período eleitoral, pode aparecer o questionamento de até onde a Igreja deve ir.
“Resplandecer os princípios e as luzes que provêm de Cristo”, talvez seja um indicativo para este questionamento. Para as eleições gerais no Brasil, várias são as iniciativas que visam contribuir para a formação de consciência cidadã, dando luzes e princípios para bem escolher em quem votar.
O bispo de Santa Cruz do Sul (RS), Aloísio Alberto Dilli, destaca a política como exercício do bem comum, recordando a fala do papa Francisco de que a política é uma das formas por excelência da caridade, sendo esta uma orientação geral e o sentido de como a Igreja deve entrar na política.
“Nós, evidentemente, não nos manifestamos em público em termos partidários, porque essa questão precisa sim acontecer no momento concreto do voto, mas é a pessoa, na sua liberdade, que, orientada por princípios gerais de política, se expressa concretamente dentro da eleição, dentro de um partido”, explica.  
O bispo também ressalta: “nesse sentido, é claro que nós não devemos também assumir candidaturas. A Igreja orienta que o clero não tome uma candidatura porque ele vai possivelmente dividir sua comunidade. E nós temos que ser pessoas de unidade, de paz, de conciliação”, afirma. Ele pondera ainda que, “dentro da realidade nós também vamos ter que nos definir por um candidato que pertencerá a um determinado partido”, considerando a hora do voto.
Dom Aloísio Dilli
Dom Aloísio Dilli ainda explica que a Igreja ensina a olhar toda a realidade humana, também na política, a partir do Evangelho. “E dentro do Evangelho nós temos como centro o mandamento do amor e em decorrência a defesa da vida, a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, o direito de todas as pessoas a uma vida digna, as injustiças temos que condenar, a corrupção que temos que condenar”, enumera.
Entre as várias iniciativas eclesiais voltadas para as eleições, destaca-se a cartilha de orientação política preparada pelo regional Sul 2 da CNBB (baixe aqui). No material, retoma-se que a Igreja é chamada a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu”, como ensina o Documento de Aparecida.
Em artigo publicado no portal da CNBB, dom Vital Corbellini recorda as indicações contidas no material e ressalta o papel da Igreja no processo político. Em cinco pontos, a Igreja:
1. Incentiva os fiéis para que interajam em relação às eleições e que participem da política como algo essencial para a transformação da sociedade
2. Aprecia as pessoas que se dedicam ao bem da nação, ao serviço das pessoas
3. Elabora textos para conscientizar eleitores sobre a responsabilidade do voto
4. Promove iniciativas em paróquias e dioceses a respeito de debates sobre os candidatos e programas, além da formação de consciência política dos leigos e leigas
5. Colaborou no empenho em moralizar as campanhas políticas com elaboração da lei contra a corrupção eleitoral e da Lei da Ficha Limpa
Outra iniciativa de repercussão nacional é a Campanha da arquidiocese de Aparecida (SP) e do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida “Eu sou o Brasil Ético”.
“Este projeto direciona nosso olhar para a vida do povo. Queremos mais respeito pelo povo, mais vida, mais dignidade, mais emprego, mais pão na mesa e também mais participação de todos na vida social. Este ano eleitoral não é e não será igual aos outros. Diante de toda esta manifestação sobre corrupção que vimos entrar em evidência, está comprovado que a nossa política deve e pode melhorar. Quero convidar todo o povo brasileiro a acreditar no voto!”, escreveu o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes na apresentação da campanha.
Entre as várias indicações e reflexões contidas no material, há um capítulo dedicado às orientações normativas sobre condutas e posturas assumidas pela instituição e seus meios de comunicação. O objetivo é evitar confusão de conceitos e entendimento em relação à presença de candidatos, por exemplo, no Santuário.
Os meios de comunicação do Santuário (TV e rádio Aparecida e portal A12.com) são impedidos de mostrar rostos políticos eleitos ou em disputa eleitoral nas missas e eventos, exceto em necessidade de cobertura jornalística, além convite para participação especial em programas de TV. Atenção também é dada para discursos e falas, tanto em celebrações, quanto em redes sociais e entrevistas à imprensa.
Sobre as redes sociais, a orientação é que os Missionários Redentoristas não declarem em suas redes sociais pessoais o apoio a determinado partido ou político. “Orienta-se ainda o cuidado com os discursos nas mídias digitais, bem como com o compartilhamento de informações e marcações em fotos e eventos”, encontra-se no texto.
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