domingo, 21 de janeiro de 2018

Papa Francisco em Trujillo, no Peru:

Cristo é a melhor solução para as tempestades da vida
Francisco celebrou a missa na esplanada de Huanchaco, na cidade de Trujillo, e manifestou solidariedade à população atingida pelas calamidades naturais e sociais.
Cidade do VaticanoNa manhã deste sábado, o Papa Francisco percorreu mais 500 km, desta vez em direção ao norte do país, à cidade de Trujillo.
Trujillo, localizado na costa do Pacífico, é conhecido como “cidade da eterna primavera”, com quase 500 anos de história. A cidade, que já foi a capital do país, aparece nas crônicas por sofrer com fortes chuvas de janeiro a março. No ano passado, o “El Niño” deixou milhares de desabrigados.
“Estas terras têm o sabor do Evangelho”, disse o Papa na homilia ao celebrar a missa na esplanada de Huanchaco.
Força da natureza
“Todo o ambiente que nos rodeia, tendo como pano de fundo este mar imenso, ajuda-nos a compreender melhor a experiência que os apóstolos viveram com Jesus e que também nós, hoje, somos chamados a viver.”
Assim como os discípulos, também hoje muitos moradores da região ganham a vida com a pesca. E assim como os apóstolos, conhecem bem a força da natureza.  Francisco mencionou o fenômeno “Niño costiero, cujas dolorosas consequências ainda se fazem sentir em tantas famílias. Foi por isso também que quis vir e rezar aqui com vocês”.
O Papa comentou o Evangelho das dez virgens, que ouvem um grito que as acorda e se põem em movimento.
“Sei que no momento da escuridão quando sentiram o ‘Niño’, estas terras souberam pôr-se em movimento e tinham o azeite para correr e ajudar-se como verdadeiros irmãos. Havia o azeite da solidariedade, da generosidade”, afirmou.
Força divina
Para Francisco, a alma de uma comunidade se mede pelo modo como consegue unir-se para enfrentar os momentos difíceis, de adversidade, para manter viva a esperança. Além das tempestades, outras tormentas castigam as costas peruanas, como a violência organizada e a insegurança; a falta de oportunidades educativas e laborais, especialmente para os mais jovens.
Para enfrentar estas tempestades, disse o Papa, “quero dizer que não existe solução melhor que a do Evangelho: chama-se Jesus Cristo. Encham sempre a vida de Evangelho”.
“Ele transforma tudo, renova tudo, consola tudo. Em Jesus, temos a força do Espírito para não aceitar como normal o que nos prejudica, o que nos definha o espírito e – o que é pior – nos rouba a esperança.”
Francisco concluiu ressaltando a devoção do povo de Trujillo pela Virgem de la Puerta: “Peçamos a Ela que nos coloque sob o seu manto e sempre nos leve ao seu Filho; mas digamos cantando este lindo cântico marino: ‘Virgenzinha da porta, dá-me a tua bênção. Virgenzinha da porta, dá-nos paz e muito amor’”.
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Assista:
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Papa Francisco:
Ser ricos de memória nos liberta da tentação de messianismos
Francisco encontra a vida consagrada do norte do Peru
Cidade do VaticanoApós almoçar no Arcebispado de Trujillo e visitar a Catedral de Santa Maria, o Papa Francisco foi ao “Colégio Seminário” para encontrar os sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas das Circunscrições eclesiásticas do norte do Peru.
O Colégio tem 390 anos e é dedicado aos Santos Carlos e Marcelo. Fundado em 1625 como casa de formação para sacerdotes, atualmente é voltado à educação de jovens do primeiro e segundo grau.
Eis a íntegra do pronunciamento do Papa:
"É costume que o aplauso seja no final, parece que vocês estão me saudano, como se eu tivesse acabado: então vou embora..... (gritam: não!). Agradeço as palavras que D. José Antonio Eguren Anselmi, Arcebispo de Piura, me dirigiu em nome de todos os presentes.
Encontrar-me convosco, conhecer-vos, escutar-vos e manifestar o amor ao Senhor e à missão que nos deu, é importante. Sei do esforço que fizestes para estar aqui. Obrigado!
Acolhe-nos este Colégio-Seminário, um dos primeiros a ser fundados na América Latina para a formação de tantas gerações de evangelizadores. Estar aqui convosco é sentir que nos encontramos num desses «berços» que geraram tantos missionários. E não esqueço que esta terra viu morrer, quando andava em missão, aqui sentado em sua escrivaninha, São Toríbio de Mogrovejo, bispo Patrono do Episcopado Latino-Americano. 
Tudo nos leva a olhar para as nossas raízes, para o que nos sustenta no curso do tempo,nos sustente no decorrer da história para crescer rumo ao Alto e dar fruto. As raízes. Sem raízes não existem flores, não existem frutos.
Dizia um poeta que tudo aquilo que a árvore floresce, vem daquilo que está embaixo da terra, das raízes. As nossas vocações sempre terão esta dupla dimensão: raízes na terra e coração no céu, não esqueçam. Quando falta uma das duas, algo começa a correr mal e a nossa vida pouco a pouco definha (cf. Lc 13, 6-9). - como definha uma árvore que não tem raízes. E digo para vocês que realmente dá muita dor ver alguns bispos, alguns sacerdotes, alguma religiosa que definharam.
E mais pena ainda me dá quando vejo seminaristas "definhados". Esta é uma coisa muito séria. A Igreja é boa, a Igreja é mãe, e se vocês veem que não conseguem, por favor, falem para que esteja em tempo, antes que seja tarde, antes de se darem conta de não ter mais raízes e que estão definhando. Assim, ainda haverá tempo para vocês se salvarem. porque Jesus veio para isto, para nos salvar. É por isto que vem: para salvar.
Apraz-me salientar que a nossa fé, a nossa vocação é rica de memória, a dimensão deuteronômica da vida. Rica de memória, porque sabe reconhecer que nem a vida, nem a fé, nem a Igreja começaram com o nascimento de qualquer um de nós: a memória olha para o passado a fim de encontrar a seiva que, ao longo dos séculos, irrigou o coração dos discípulos e, assim, reconhece a passagem de Deus pela vida do seu povo. Memória da promessa que Ele fez aos nossos pais e que, perdurando viva no meio de nós, é causa da nossa alegria e nos faz cantar: «O Senhor fez por nós grandes coisas; por isso exultamos de alegria» (Sal 126/125, 3)
Gostaria de partilhar convosco algumas virtudes deste ser ricos de memória.
1.  A consciência feliz de si
O Evangelho, que ouvimos, habitualmente lemo-lo em chave vocacional, pelo que nos detemos no encontro dos discípulos com Jesus. Preferiria, porém, fixar-me em João Batista. Estava com dois dos seus discípulos e, quando viu Jesus passar, disse-lhes: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36); eles, ao ouvir isto, deixaram João e seguiram Jesus (cf. 1, 37).
Isto é surpreendente! Estiveram com João, sabiam que era um homem bom; antes, o maior dentre os nascidos de mulher, como Jesus o define (cf. Mt 11, 11), mas não era aquele que devia vir. Também João esperava outro maior do que ele. João sabia claramente que não era o Messias, mas simplesmente aquele que O anunciava. João era o homem rico de memória da promessa e da sua própria história.
João manifesta a consciência do discípulo que sabe que não é, nem nunca será o Messias, mas apenas um chamado a indicar a passagem do Senhor pela vida do seu povo. Nós, consagrados, não estamos chamados a suplantar o Senhor, nem com as nossas obras, nem com as nossas missões, nem com as intermináveis atividades que temos de fazer.
Simplesmente nos é pedido para trabalhar com o Senhor, lado a lado, mas sem nunca esquecer que não ocupamos o seu lugar. Isto não nos faz esmorecer na tarefa evangelizadora; antes, pelo contrário, impele-nos e exige que trabalhemos, lembrando que somos discípulos do único Mestre. O discípulo sabe que secunda, e sempre secundará, o Mestre. Esta é a fonte da nossa alegria.
Faz-nos bem saber que não somos o Messias! Liberta de nos crermos muito importantes, muito ocupados (é típico ouvir em algumas regiões: «Não, a essa paróquia não vás, porque o padre está sempre muito ocupado»). João Batista sabia que a sua missão era indicar a estrada, iniciar processos, abrir espaços, anunciar que o portador do Espírito de Deus era Outro. Ser ricos de memória liberta-nos da tentação dos messianismos.
Esta tentação combate-se de muitas maneiras, incluindo com o riso. Sim, aprender a rir-se de si mesmo dá-nos a capacidade espiritual de estar diante do Senhor com os nossos próprios limites, erros e pecados, mas também com os próprios sucessos, e com a alegria de saber que Ele está ao nosso lado.
Um bom teste espiritual é interrogarmo-nos sobre a capacidade que temos de rir de nós mesmos. O riso salva-nos do neopelagianismo «autorreferencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros».  
Irmãos, ride em comunidade, mas não da comunidade nem dos outros! Tenhamos cuidado com as pessoas tão importantes, que se esqueceram como se faz na vida para sorrir.
2. A hora do chamado
João evangelista até refere, no seu Evangelho, a hora daquele momento que mudou a sua vida: «Eram as quatro da tarde» (1, 39). O encontro com Jesus muda a vida, estabelece um antes e um depois. Faz-nos bem lembrar sempre aquela hora, aquele dia-chave para cada um de nós, no qual nos demos conta que o Senhor esperava algo mais. A memória daquela hora, em que fomos tocados pelo seu olhar.
Sempre que nos esquecemos desta hora, esquecemo-nos das nossas origens, das nossas raízes; e, perdendo estas coordenadas fundamentais, pomos de parte a coisa mais preciosa que uma pessoa consagrada pode ter: o olhar do Senhor. Talvez não estejas contente com o lugar onde te encontrou o Senhor, talvez não seja adequado a uma situação ideal ou «mais do teu gosto».
Mas foi lá onde te encontrou e curou as tuas feridas. Cada um de nós conhece onde e quando: talvez um momento de situações complexas, de situações dolorosas, sim; mas foi lá que te encontrou o Deus da Vida para tornar-te testemunha da sua Vida, para fazer-te participante da sua missão e ser, com Ele, carícia de Deus para muitos.
Faz-nos bem recordar que as nossas vocações são uma chamada de amor para amar, para servir. Se o Senhor Se enamorou de vós e vos escolheu, não foi porque éreis mais numerosos do que os outros – de facto, sois o povo mais pequeno – mas por puro amor (cf. Dt 7, 7-8). Amor entranhado, amor de misericórdia que comove as nossas entranhas para ir servir aos outros com o estilo de Jesus Cristo.
Gostaria de me deter num aspeto que considero importante. Em muitos de nós, a formação que tínhamos, no momento de entrar no Seminário ou na Casa de Formação, era a fé das nossas famílias e vizinhos. Foi assim que demos os nossos primeiros passos, apoiados não raro nas manifestações de piedade popular, que, no Perú, adquiriram as formas mais estupendas e um grande enraizamento no povo fiel e simples.
O vosso povo demonstra um carinho imenso a Jesus Cristo, a Nossa Senhora e aos Santos e Beatos, com tantas devoções que nem me atrevo sequer a nomear com medo de deixar alguma de lado. Nesses santuários, «muitos peregrinos tomam decisões que marcam suas vidas. As paredes [deles] contêm muitas histórias de conversão, de perdão e de dons recebidos que milhões poderiam contar». Inclusive muitas das vossas vocações podem estar gravadas naquelas paredes.
Exorto-vos a não esquecer, e muito menos desprezar, a fé simples e fiel do vosso povo. Sabei acolher, acompanhar e estimular o encontro com o Senhor. Não vos transformeis em profissionais do sagrado que se esquecem do seu povo, donde vos tirou o Senhor. Não percais a memória e o respeito por quem vos ensinou a rezar.
Recordar a hora da chamada, conservar memória feliz da passagem de Jesus Cristo pela nossa vida, ajudar-nos-á a dizer aquela bela oração de São Francisco Solano, grande pregador e amigo dos pobres: «Meu bom Jesus, meu Redentor e amigo, que tenho eu que Tu não me tenhas dado? Que sei eu que Tu não me tenhas ensinado?»
Assim, o religioso, o sacerdote, a consagrada, o consagrado é uma pessoa rica de memória, alegre e agradecida: trinómio a fixar e manter como «armas» contra todo o «disfarce» vocacional. A consciência agradecida alarga o coração e estimula-nos para o serviço.
Sem gratidão, podemos ser bons executores do sagrado, mas faltar-nos-á a unção do Espírito para nos tornarmos servidores dos nossos irmãos, especialmente dos mais pobres. O povo fiel de Deus tem olfato e sabe distinguir entre o funcionário do sagrado e o servidor agradecido. Sabe distinguir entre quem é rico de memória e quem é desmemoriado. O povo de Deus sabe suportar, mas reconhece quem o serve e cura com o óleo da alegria e da gratidão.
3. A alegria contagiante
André era um dos discípulos de João Batista que seguira Jesus naquele dia. Depois de ter estado com Ele e ter visto onde morava, voltou para casa de seu irmão Simão Pedro e disse-lhe: «Encontramos o Messias!» (Jo 1, 41). Esta é a maior notícia que lhe podia dar, e levou-o a Jesus. A fé em Jesus é contagiosa, não pode esconder-se nem fechar-se; aqui se vê a fecundidade do testemunho: os discípulos recém-chamados, por sua vez, atraem outros mediante o seu testemunho de fé; e – como vemos na passagem evangélica – Jesus chama-nos por meio de outros.
A missão brota espontaneamente do encontro com Cristo. André começa o seu apostolado pelos mais próximos, pelo seu irmão Simão, quase como algo natural, irradiando alegria. Este é o melhor sinal de que «descobrimos» o Messias. A alegria é uma constante no coração dos apóstolos; vemo-la na força com que André confidencia ao seu irmão: «Encontramo-Lo!» Pois «a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria».
Esta alegria abre-nos aos outros, é alegria para ser transmitida. No mundo fragmentado onde nos é concedido viver e que nos impele a isolar-nos, somos desafiados a ser artífices e profetas de comunidade. Porque ninguém se salva sozinho. E gostaria de ser claro nisto.
A fragmentação ou o isolamento não é algo que acontece «fora», como se fosse apenas um problema do «mundo». Irmãos, as divisões, as guerras, os isolamentos, vivemo-los também dentro das nossas comunidades. E quanto mal nos faz! Jesus envia-nos a ser portadores de comunhão, de unidade; mas, muitas vezes, parece que o fazemos desunidos e, o que é pior, muitas vezes fazendo o outro tropeçar.
É-nos pedido para sermos artífices de comunhão e unidade, o que não equivale a pensar todos do mesmo modo, a fazer todos as mesmas coisas. Significa apreciar as várias contribuições, as diferenças, o dom dos carismas dentro da Igreja, sabendo que cada um, a partir da sua especificidade, dá a própria contribuição, mas precisa dos outros. Só o Senhor tem a plenitude dos dons, só Ele é o Messias.
E quis distribuir os seus dons de tal maneira que todos possamos dar o nosso, enriquecendo-nos com o dos outros. É preciso defender-se da tentação do «filho único», que quer tudo para si, porque não tem com quem partilhar. Àqueles que devem exercer encargos no serviço da autoridade, peço, por favor, que não se tornem autorreferenciais; procurai cuidar dos vossos irmãos, fazei com que estejam bem, porque o bem é contagioso.
Não caiamos na armadilha duma autoridade que se transforma em autoritarismo, esquecendo que, antes de tudo, é uma missão de serviço.
Queridos irmãos, mais uma vez obrigado! E que esta memória deuteronómica nos torne mais alegres e agradecidos por sermos servidores de unidade no meio do nosso povo.
Que o Senhor vos abençoe e a Virgem Santa vos proteja. E não vos esqueçais de rezar por mim".
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Assista:
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São Toríbio inspira reflexão do Papa aos bispos:
Trabalhem pela unidade
São Toríbio quis chegar à outra margem em busca dos afastados, à outra margem da caridade, à outra margem da unidade, à outra margem na formação de seus sacerdotes, à outra margem não só geográfica, mas cultural.
Cidade do Vaticano - “São Toríbio, o homem que soube chegar à outra margem”. O Papa Francisco inspirou sua reflexão aos bispos peruanos reunidos da sede do Arcebispado em Lima,  ao Patrono do Episcopado Latino-americano, São Toríbio de Mogrovejo, “exemplo de construtor de unidade eclesial”, “deixou terreno seguro para penetrar num universo totalmente novo, desconhecido e cheio de desafios”
Francisco recordou o quadro conservado no Vaticano onde aparece São Toríbio atravessando um rio caudaloso, cujas águas se abrem à sua passagem, “como se fosse o Mar Vermelho, para que ele possa chegar à outra margem onde o aguarda um numeroso grupo de indígenas”. Atrás dele, “uma grande multidão de pessoas que segue o seu pastor da obra da evangelização”: 
1. Quis chegar à outra margem em busca dos afastados e dispersos. Para isso, teve que deixar as comodidades do paço episcopal para percorrer o território, que lhe estava confiado, em contínuas visitas pastorais, procurando chegar e estar onde necessitavam dele e quanto necessitavam dele! Ia ao encontro de todos por caminhos que, nas palavras do secretário, eram mais para cabras do que para pessoas. Tinha que enfrentar os mais variados climas e ambientes; «de vinte e dois anos de episcopado, dezoito passou-os fora da sua cidade, percorrendo por três vezes o seu território».
Sabia que esta era a única forma de pastorear: estar perto oferecendo os dons de Deus; uma exortação que ele fazia continuamente também aos seus presbíteros. E não se limitava a fazê-lo com palavras, mas com o seu testemunho, apresentando-se ele mesmo na primeira linha da evangelização. Hoje chamá-lo-íamos um bispo «de estrada». Um bispo com as solas consumadas pelo muito andar, por se mover, por sair ao encontro dos outros para «anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo.
A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém». Bem o sabia São Toríbio! Sem medo nem repugnância, penetrou no nosso continente para anunciar a Boa Nova.
2. Quis chegar à outra margem não só geográfica mas cultural. Por isso promoveu, de muitos modos, uma evangelização na língua nativa. Com o III Concílio Limense, procurou que os catecismos fossem feitos e traduzidos em quechua e aymara. Incitou o clero a estudar e conhecer a língua dos seus fiéis, para poderem administrar-lhes os Sacramentos de forma compreensível. Visitando e vivendo com o seu povo, deu-se conta de que não bastava alcançá-lo apenas fisicamente, mas era necessário aprender a falar a língua dos outros: só assim é que o Evangelho poderia ser compreendido e penetrar nos corações.
Como é urgente esta visão para nós, pastores do século XXI, que – só para dar um exemplo – temos de aprender uma linguagem completamente nova, como é a digital! Conhecer a linguagem atual dos nossos jovens, das nossas famílias, das crianças... Como justamente viu São Toríbio, não é suficiente chegar a um lugar e ocupar um território, é necessário poder suscitar processos na vida das pessoas, para que a fé ganhe raízes e seja significativa. E, para isso, devemos falar a língua delas.
É preciso chegar onde se geram os novos temas e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os núcleos mais profundos da alma das nossas cidades e dos nossos povos. A evangelização da cultura requer que entremos no coração da própria cultura, para que esta seja iluminada a partir de dentro pelo Evangelho.
3. Quis chegar à outra margem da caridade. Segundo o nosso Patrono, a evangelização não poderia acontecer sem a caridade. Porque sabia que a forma mais sublime da evangelização era plasmar na própria vida a doação de Jesus Cristo por amor a cada homem. Nisto se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão (cf. 1 Jo 3, 10).
Nas suas visitas, pôde constatar os abusos e excessos que sofriam as populações nativas, não hesitando, em 1585, a excomungar o governador de Cajatambo, enfrentando todo um sistema de corrupção e uma rede de interesses, o que «lhe acarretou a inimizade de muitos», incluindo do Vice-rei. Deste modo se nos apresenta como o pastor ciente de que o bem espiritual nunca se pode separar do justo bem material e, menos ainda, quando se põem em risco a integridade e a dignidade das pessoas.
Profecia episcopal que não tem medo de denunciar os abusos e excessos cometidos contra o seu povo. E assim consegue lembrar no seio da sociedade e das comunidades que a caridade deve ser sempre acompanhada pela justiça, e não há autêntica evangelização que não anuncie e denuncie toda a falta contra a vida dos nossos irmãos, especialmente dos mais vulneráveis.
4. Quis chegar à outra margem na formação dos seus sacerdotes. Fundou o primeiro Seminário depois do Concílio [de Trento] nesta área do mundo, promovendo assim a formação do clero nativo. Compreendeu que não bastava chegar a todos os lugares e falar a mesma língua; era necessário que a Igreja pudesse gerar os seus próprios pastores locais, tornando-se assim mãe fecunda.
Por isso, quando ainda se discutia muito sobre a mesma, defendeu a Ordenação de padres mestiços, procurando favorecer e estimular a santidade dos seus pastores, pois se o clero se devesse diferenciar em algo, que fosse pela santidade de vida e não pela origem étnica. E esta formação não se limitava apenas aos estudos no Seminário, mas prosseguia nas visitas contínuas que lhes fazia. Assim podia, em primeira mão, dar-se conta do «estado dos seus padres», cuidando deles.
Conta-se que, nas vésperas do Natal, a sua irmã lhe ofereceu uma camisa para a estrear nas festas. Nesse mesmo dia, ele foi visitar um pároco e, ao ver as condições em que vivia, pegou naquela camisa e deu-lha. É o pastor que conhece os seus sacerdotes. Procura ir ter com eles, acompanhá-los, encorajá-los, admoestá-los: lembrava aos seus padres que eram pastores e não comerciantes e, por conseguinte, deveriam cuidar e defender os indígenas como se fossem filhos.[7] Mas não o fazia «sentado à escrivania», e assim pôde conhecer as suas ovelhas e estas reconhecerem, na voz dele, a voz do Bom Pastor.
5. Quis chegar à outra margem: a da unidade. Promoveu de maneira admirável e profética a formação e integração de espaços de comunhão e participação entre as várias componentes do povo de Deus. Assim o realçou São João Paulo II quando nestas terras, dirigindo-se aos bispos, lhes disse: «O III Concílio Limense é o resultado desse esforço presidido, encorajado e dirigido por São Toríbio, e que frutificou num precioso tesouro de unidade na fé, de normas pastorais e de organização, ao mesmo tempo que em válidas inspirações para a desejada integração latino-americana».
Bem sabemos que esta unidade e este consenso foram precedidos de grandes tensões e conflitos. Não podemos negar as tensões, as diferenças; é impossível uma vida sem conflitos. Estes exigem de nós – se somos homens e cristãos – que os enfrentemos e aceitemos. Mas, aceitá-los em unidade, em diálogo honesto e sincero, olhos nos olhos e evitando cair numa destas tentações: ignorar o que aconteceu ou então ficar prisioneiros e sem horizontes que permitam encontrar caminhos que sejam de unidade e de vida.
Serve de inspiração, no nosso caminho de Conferência Episcopal, recordar que a unidade sempre prevalecerá sobre o conflito. Queridos irmãos, trabalhai pela unidade, não fiqueis prisioneiros de divisões que reduzem e limitam a vocação a que fomos chamados: ser sacramento de comunhão. Não vos esqueçais do que atraía na Igreja primitiva: era ver como eles se amavam. Essa foi, é e será a melhor evangelização.
Para São Toríbio chegou o momento de partir para a margem definitiva, para aquela terra que o esperava e que ele ia saboreando no seu contínuo deixar a margem. Esta nova partida, não a fez sozinho. Como no quadro de que vos falei ao início, ia ao encontro dos Santos, seguido por uma grande multidão atrás dele. É o pastor que soube encher «a sua mala» de rostos e nomes.
Estes eram o passaporte dele para o céu. Por isso não quero omitir a nota final, o momento em que o pastor entregava a sua alma a Deus. Fê-lo unido ao seu povo, enquanto um aborígene tocava para ele a flauta para que a alma do seu pastor se sentisse em paz. Quem dera, irmãos, que pudéssemos viver estas coisas, quando tivermos que realizar a última viagem. Peçamos ao Senhor que no-lo conceda.
E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim."
Depois de seu discurso lido, o Papa começou a falar de forma espontânea ao episcopado.
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Papa no Angelus:
O coração não se pode "photoshopear"
Do balcão do Arcebispado de Lima diante de uma praça repleta de jovens Francisco expressou sua alegria por poder se encontrar com eles. O Papa rezou pela República Democrática do Congo.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco rezou neste domingo a tradicional oração do Angelus com os jovens na Praça das Armas, em Lima. Do balcão do Arcebispado diante de uma praça repleta de jovens Francisco expressou sua alegria por poder se encontrar com eles afirmando que esses encontros são sempre muito importantes, mas mais ainda neste ano em que “nos preparamos para o Sínodo sobre os jovens”.
“Os seus rostos, as suas aspirações, a sua vida são importantes para a Igreja: devemos dar-lhes a importância que merecem e ter a coragem que demonstraram muitos jovens desta terra que não tiveram medo de amar e apostar em Jesus”.
Em seguida recordou os muitos exemplos como o de São Martinho de Porres que nada impediu a ele de realizar os seus sonhos, gastar a sua vida pelos outros e de amar, “porque  - disse Francisco -, tinha experimentado que o Senhor o amara primeiro”.
Recordou que ele mulato com muitas privações, aos olhos humanos soube fazer algo que se tornaria o segredo da sua vida: ter confiança. Teve confiança no Senhor que o amava.
Há momentos em que vocês podem pensar que não poderão realizar os desejos de sua vida, seus sonhos, continuou o Papa. Todos passamos por situações como estas.
“Queridos amigos, nesses momentos em que parece apagar-se a fé, não se esqueçam que Jesus está ao seu lado. Não se deixem vencer, não percam a esperança! Não se esqueçam dos Santos, que nos acompanham do céu; recorram a eles, rezem e não se cansem de pedir a sua intercessão. Os Santos de ontem, mas também os de hoje”.
Francisco disse ainda aos jovens que busquem ajuda e conselho de pessoas que vocês sabem serem boas para lhes aconselhar, porque os seus rostos manifestam alegria e paz. Deixem-se acompanhar por elas e, assim, avancem pelo caminho da vida.
“Jesus – disse o Papa - quer ver você em movimento; quer ver você levar adiante os seus ideais e que você se decida a seguir as suas instruções.”
"Jesus conta com você, como fez, há muito tempo, com Santa Rosa de Lima, São Toríbio, São João Macías, São Francisco Solano e muitos outros. Você está disposto a segui-Lo? Está disposto a deixar-se impelir pelo seu Espírito, para tornar presente o seu Reino de justiça e amor?"
Jesus disse ainda Francisco olha para vocês com esperança, nunca desanima a nosso respeito. Mas nós talvez sim, talvez possamos desanimar de nós mesmos ou dos outros.
O Pontífice em seguida afirmou que é muito belo ver fotos retocadas digitalmente, mas isso serve só para as fotografias, não podemos fazer o «photoshop» aos outros, à realidade, a nós próprios. Os filtros coloridos e a alta definição funcionam bem apenas nos vídeos; nunca podemos aplicá-los aos amigos. Há fotos que são muito lindas, mas estão todas maquilhadas; o coração não se pode «photoshopear», porque é nele onde se joga o amor verdadeiro; nele joga-se a felicidade.
Jesus não quer que «maquilhem» o seu coração. Ele ama você assim como você é e tem um sonho para realizar com cada um de vocês. Não se esqueçam: Ele não desanima de nós.
E se vocês desanimarem, - disse o Santo Padre - convido-os a pegar a Bíblia e recordar os amigos que Deus Se escolheu. Entre eles o Papa recordou Moisés, que era tartamudo; Abraão, um idoso; Jeremias, muito jovem; Zaqueu, de baixa estatura; Pedro renegou-O... e poderíamos continuar a lista. Que desculpa queremos encontrar?
Quando Jesus nos olha, não pensa quão perfeitos somos, mas em todo o amor que temos no coração para oferecer aos outros e servi-los. Para Ele, o importante é isto e sempre vai insistir no mesmo.
“Não Se fixa na sua altura, se tens dificuldade em falar ou não, se adormeces ao rezar, se você é muito jovem ou uma pessoa idosa. A única pergunta é: você quer seguir-Me e ser meu discípulo? Não perca tempo em mascarar o seu coração; encha a sua vida do Espírito!” Ele não se cansa de esperar para nos dar o seu Espírito.
Queridos jovens! Concluiu o Papa: na minha oração, coloco toso vocês nas mãos de Nossa Senhora. Tenham a certeza de que Ela os acompanhará em todos os momentos de suas vidas, em todas as encruzilhadas dos seus caminhos, sobretudo quando tiverem de tomar decisões importantes. Lá estará Ela, como boa Mãe, encorajando-os, apoiando-os para que vocês não desanimem. Não deixem de rezar, não deixem de pedir, não deixem de ter confiança na sua proteção materna.
Antes de rezar o Angelus o Papa dirigiu o seu pensamento à República Democrática do Congo.
“Notícias preocupantes chegam da “República Democrática do Congo: peço a todos os responsáveis que se empenhem ao máximo para deter toda forma de violência e encontrar uma solução baseada no diálogo”.
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Papa Francisco em Trujillo:
Lutar contra a praga do feminicídio
"Nesta praça, queremos fazer tesouro da memória dum povo que sabe que Maria é Mãe e não abandona os seus filhos", disse o Papa aos mais de 35 mil peruanos reunidos na Plaza de Armas de Trujillos.

Cidade do Vaticano - Olhar para Maria para recordar as mães e as avós do Peru, verdadeira força motriz da vida e das famílias, que devem ser protegidas com leis que combatem o feminicídio. Francisco na celebração mariana à Virgen de la Puerta, na Plaza de Armas de Trujillo, convida a seguir Nossa Senhora para promover uma cultura da misericórdia em que ninguém vire o olhar diante do sofrimento dos irmãos. O Papa na sua chegada à Nunciatura em Lima encontrou a esperá-lo muitos fiéis e cerca de trinta enfermos os quais cumprimentou e com quem rezou a oração do Pai Nosso.
Misericórdia: remédio para curar o coração
É “um santuário ao ar livre” que acolhe o Papa no último evento do seu terceiro dia no Peru. Na Praça de Armas de Trujillo, há 35 imagens de Maria, vindas de todos os lugares da região, expressão da devoção popular, riqueza de cada comunidade cristã. A Virgem está ali diante daquele povo que conhece o seu amor de mãe, ela “que - afirma Francisco em seu discurso - viu suas lágrimas, suas risadas, suas aspirações”. Diante da Virgen de la Puerta há corações palpitantes e ansiosos, corações cheios de esperança e de amor pela Edelicadeza de nosso Deus”.
Maria, mãe mestiça
“A linguagem do amor de Deus  - prossegue o Papa - sempre se pronuncia «em dialeto», não conhece outra forma de o fazer. E é por isso, na proximidade do coração, que “a Mãe assume os traços dos filhos, as vestes, o dialeto dos seus, para os tornar participantes da sua bênção”.
“Maria será sempre uma Mãe mestiça, porque no seu coração encontram lugar todas as raças, porque o amor procura todos os meios para amar e ser amado. Todas estas imagens recordam-nos a ternura com que Deus quer estar perto de cada aldeia, de cada família, de ti, de mim, de todos”.
No coração de Maria, todas as raças
Recordando a proximidade da Virgem, padroeira do Norte do Peru e Rainha da paz universal, ao povo que tinha colocado encima da porta a imagem de Maria para se defender de ameaças externas, o Papa sublinha que “Ela continua a defender-nos e a indicar-nos a Porta que nos abre o caminho para a vida autêntica, a Vida que não definha”.
“Conheço o amor que vocês tem pela Virgem Imaculada da Porta de Otuzco que hoje, juntamente com vocês, desejo proclamar Virgem da Porta, “Mãe da Misericórdia e da Esperança. ”
Misericórdia: remédio para curar o coração
E vale ainda para hoje, o convite que o Papa fez no Jubileu extraordinário da Misericórdia, em 2015, de passar a porta da Misericórdia “para experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança”.
“Não há um remédio melhor para curar tantas feridas do que um coração capaz de misericórdia, um coração capaz de ter compaixão perante o sofrimento e a desgraça, perante o erro e a vontade de se levantar de muitos, que frequentemente não sabem como fazê-lo”.
As mulheres do Peru, força motriz da vida e das famílias
Na conclusão de seu discurso, Francisco exorta a olhar para Maria e a ver n’Ela todas as mães e avós da Nação, “verdadeira força motriz da vida e das famílias do Peru”, convidando a se perguntar o que seria da vida e do país sem a importante presença delas.
“O amor a Maria tem que nos ajudar a gerar atitudes de reconhecimento e gratidão para com a mulher, para com as nossas mães e avós que são um baluarte na vida das nossas cidades. Quase sempre silenciosas, fazem avançar a vida. É o silêncio e a força da esperança. Obrigado pelo vosso testemunho”.
O repúdio à violência
Diante dos rostos provados, mas alegres das mulheres presentes, dos seus olhos brilhantes, da sua dignidade de mães e de avós fortes, Francisco novamente agradece, mas acima de tudo, pede compromisso contra a violência que muitas vivem dentro de suas casas.
“Mas, olhando para as mães e as avós, quero convidar-vos a lutar contra uma praga que fere o nosso continente americano: os numerosos casos de feminicídio. E muitas são as situações de violência que ficam silenciadas por trás de tantas paredes. Convido-vos a lutar contra esta fonte de sofrimento, pedindo que se promova uma legislação e uma cultura de repúdio a todas as formas de violência”.
Uma cultura que deve ser “cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”.
Saudação na Nunciatura
O Papa chegou à Nunciatura em Lima e encontrou muitos fiéis a sua espera e cerca de trinta enfermos os quais saudou e com quem rezou a oração do Pai Nosso.
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Assista:
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Papa despede-se do Peru com mensagem de esperança
“Hoje o Senhor chama-te a atravessar com Ele a cidade, a tua cidade. Chama-te a ser seu discípulo missionário, tornando-te assim participante desse grande sussurro que quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos da nossa vida: Alegra-te, o Senhor está contigo!”
Cidade do Vaticano O Papa Francisco despediu-se do Peru com a celebração de uma Missa para milhares de fiéis na Base Aérea Las Palmas.
Em sua homilia, Francisco afirmou que Jesus nos chama para atravessar as nossas cidades com Ele, como discípulos missionários, nos tornando participantes “do grande sussurro que quer continuar a  ressoar nos mais variados ângulos de nossa vida: Alegra-te, o Senhor está contigo!”.
“Como acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e válidas testemunhas?”, perguntou.
Referindo-se ao Profeta Jonas, o Papa diz que diante das situações de sofrimento e injustiça que se repetem no dia-a-dia, podemos experimentar “a tentação de fugir, de nos escondermos, de desertar. E razões não faltam nem a Jonas, nem a nós”. 
Nas cidades e bairros “que poderiam ser lugares de encontro e solidariedade, de alegria”, constatamos que “há tantos “não-cidadãos”, os “meio-cidadãos” ou os “resíduos urbanos”» que se encontram na beira dos nossos caminhos, que vão viver à margem das nossas cidades sem condições necessárias para levar uma vida digna, e custa ver que muitas vezes, entre estes «resíduos» humanos, se encontram rostos de tantas crianças e adolescentes; se encontra o rosto do futuro”.
E ao vermos isso, é gerada em nós “o que poderíamos chamar a síndrome de Jonas: um espaço irreal, para onde fugir:
“Um espaço para a indiferença, que nos torna anônimos e surdos face aos demais, torna-nos seres impessoais de coração assético e, com esta atitude, amarfanhamos a alma do povo”
Francisco traz uma citação de Bento XVI, quando diz que «a grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. (…) Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a com-paixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana».
Ao contrário de Jonas que foge diante da dor,  “Jesus, perante um acontecimento doloroso e injusto como foi a prisão de João, entra na cidade, entra na Galileia e começa, partindo daquela insignificante população, a semear o que seria o início da maior esperança: o Reino de Deus está perto, Deus está no meio de nós”.
E esta mensagem encontrou eco nos discípulos, passou por vários Santos - como Santa Rosa de Lima, São Toríbio, São Martinho de Porres, São João Macías, São Francisco Solano – até chegar a nós, para nos comprometer novamente, “como um antídoto renovado, contra a globalização da indiferença. Com efeito, perante este Amor, não se pode ficar indiferente”.
“Jesus chamou os seus discípulos a viverem, no hoje da história, algo que tem sabor a eternidade: o amor a Deus e ao próximo”
E faz isto “à maneira divina, suscitando a ternura e o amor misericordioso, suscitando a compaixão e abrindo os seus olhos para aprenderem a ver a realidade à maneira divina. Convida-os a gerar novos vínculos, novas alianças portadoras de eternidade”.
“Jesus – disse Francisco - atravessa a cidade com os seus discípulos e começa a ver, a escutar, a prestar atenção àqueles que sucumbiram sob o manto da indiferença, lapidados pelo grave pecado da corrupção”:
“Começa a desvendar muitas situações que sufocavam a esperança do seu povo, suscitando uma nova esperança. Chama os seus discípulos e convida-os a ir com Ele, convida-os a atravessar a cidade, mas muda-lhes o ritmo, ensina-os a fixarem o que até agora passavam por alto, indica-lhes novas urgências. Convertei-vos: dizia-lhes Ele.”
E Jesus, “continua a atravessar as nossas estradas”, “a bater às portas, a bater aos corações para reacender a esperança e os anseios”:
“Que a degradação seja superada pela fraternidade, a injustiça vencida pela solidariedade e a violência apagada com as armas da paz. Jesus continua a chamar e quer ungir-nos com o seu Espírito para que também nós saiamos para ungir com esta unção capaz de curar a esperança ferida e renovar o nosso olhar”.
“Jesus chamou os seus discípulos a viverem, no hoje da história, algo que tem sabor a eternidade: o amor a Deus e ao próximo”
“Deus não Se cansa nem Se cansará de andar para chegar junto dos seus filhos. Como acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e válidas testemunhas?”.
“Hoje o Senhor chama-te a atravessar com Ele a cidade, a tua cidade. Chama-te a ser seu discípulo missionário, tornando-te assim participante desse grande sussurro que quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos da nossa vida: Alegra-te, o Senhor está contigo!”
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Assista:
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Francisco despede-se do Peru:
“Levo vocês no coração
Na conclusão de suas palavras o Santo Padre falou mais uma vez de esperança: “vocês têm tantos motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Conservem a esperança.
Cidade do Vaticano - Na conclusão da Santa Missa na Base Aérea Las Palmas, antes de deixar o Peru, o Papa Francisco fez o seu último discurso em terras peruanas. O Santo Padre, agradeceu as palavras do cardeal Juan Luis Cipriani, Arcebispo de Lima, proferidas momentos antes, agradeceu aos bispos pela presença e a todos que fizeram com que esta visita deixasse uma marca indelével no seu coração.
Um agradecimento também a todos aqueles que tornaram possível esta viagem, em primeiro lugar, ao Senhor Presidente Pedro Pablo Kuczynski, às autoridades civis, aos milhares de voluntários que, com o seu trabalho silencioso e abnegado como “formiguinhas”, contribuíram para que tudo se realizasse. Fez-me bem encontrar-me com vocês. Obrigado!
Francisco recordou que iniciou a sua peregrinação, afirmando que o Peru é uma terra de esperança:
“Terra de esperança pela biodiversidade que nele se encontra, juntamente com a beleza de lugares capazes de nos ajudar a descobrir a presença de Deus. Terra de esperança pela riqueza das suas tradições e costumes, que marcaram a alma deste povo. Terra de esperança pelos jovens, que não são o futuro, mas o presente do Peru.”
Mais uma vez Francisco pediu aos peruanos que descubram, na sabedoria dos seus avós, dos seus idosos, o DNA que guiou os seus grandes Santos. Vocês não devem se desenraizar. Avós e idosos, - pediu ainda - não deixem de transmitir às jovens gerações as raízes do seu povo e a sabedoria do caminho para chegar ao céu. Convidou a todos de não terem medo de ser os santos do século XXI.
Na conclusão de suas palavras o Santo Padre falou mais uma vez de esperança: “vocês têm tantos motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Conservem a esperança. Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos, para que todos estes motivos, que a sustentam, se consolidem sempre mais de dia para dia. A esperança em Deus não engana.”
“Levo vocês no coração. Deus abençoe vocês! E peço-lhes, por favor, que não se esqueçam de rezar por mim”, finalizou Francisco.
Da Base Aérea o Papa dirige-se ao Aeroporto, onde será recebido pelo presidente Pedro Pablo Kuczynski e consorte. Após passar em revista a Guarda de Honra e saudar as delegações, Francisco embarca no voo B767 da Latam com destino ao Aeroporto Ciampino, em Roma, onde deverá chegar às 14h15 de segunda-feira, hora local, após 11.223 km percorrridos em 13h30min de voo. No voo retorno, o Brasil não será sobrevoado.
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