sábado, 6 de abril de 2024

Esta deve ser a nossa atitude:

Abrir as portas

José Antonio Pagola

O Evangelho de João descreve com traços obscuros a situação da comunidade cristã quando em seu centro falta Cristo ressuscitado. Sem sua presença viva, a Igreja se converte num grupo de homens e mulheres que vivem “numa casa com as portas fechadas, por medo dos judeus”.

Com as “portas fechadas” não se pode ouvir o que acontece lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito no mundo. Não se abrem espaços de encontro e diálogo com ninguém. Apaga-se a confiança no ser humano e crescem os receios e preconceitos. Mas uma Igreja sem capacidade de dialogar é uma tragédia, pois os seguidores de Jesus são chamados a atualizar o eterno diálogo de Deus com o ser humano.

O “medo” pode paralisar a evangelização e bloquear nossas melhores energias. O medo nos leva a rejeitar e condenar. Com medo não é possível amar o mundo. Mas, se não o amamos, não o olhamos como Deus o olha. E, se não o olhamos com os olhos de Deus, como comunicaremos a Boa Notícia?

Se vivemos com as portas fechadas, quem deixará o redil para buscar as ovelhas perdidas? Quem se atreverá a tocar algum leproso excluído? Quem se sentará à mesa com pecadores ou prostitutas? Quem se aproximará dos esquecidos pela religião? Os que querem buscar o Deus de Jesus nos encontrarão com as portas fechadas.

Nossa primeira tarefa é deixar entrar o Ressuscitado através de tantas barreiras que levantamos para defender-nos do medo. Que Jesus ocupe o centro de nossas igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de paz. Que ninguém ocupe seu lugar, que ninguém se aproprie de sua mensagem. Que ninguém imponha um modo diferente do seu.

Já não temos mais o poder de outros tempos. Sentimos a hostilidade e a rejeição em nosso entorno. Somos frágeis. Mais do que nunca, precisamos abrir-nos ao sopro do Ressuscitado para acolher seu Espírito Santo.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                           Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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