sábado, 27 de abril de 2024

Bela reflexão:

Fé estéril
José Antonio Pagola

A imagem é realmente expressiva. Todo ramo que está vivo deve produzir fruto. E, se não produz, é porque não circula por Ele a seiva da videira. Assim é também nossa fé. Vive, cresce e dá frutos, quando vivemos abertos à comunicação com Cristo. Se esta relação vital se interrompe, cortamos a fonte de nossa fé.

Então a fé seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura do que os primeiros crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade
evangélica para descobrir as novas exigências do Espírito, não estão delatando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?

Por paradoxal que possa parecer, o vazio interior pode apoderar-se de mais de um cristão. Preso numa rede de relações, atividades, ocupações e problemas, o cristão pode sentir-se mais só do que nunca em seu interior, incapaz de comunicar-se vitalmente com esse Cristo em quem diz crer.

Talvez a derrota mais grave do homem ocidental seja sua incapacidade de vida interior. Parece que as pessoas vivem sempre fugindo. Sempre de costas para si mesmas. Diríamos que a alma de muitos é um deserto.

A falta de contato interior com Cristo como fonte de vida conduz pouco a pouco a um “ateísmo prático”. Não adianta continuar confessando fórmulas, se a pessoa não conhece a comunicação calorosa, prazerosa e revitalizadora com o Ressuscitado. Essa comunicação de quem sabe desfrutar do diálogo silencioso com Ele, alimentar-se diariamente de sua palavra, lembrar-se dele com alegria no meio do trabalho cotidiano, ou descansar com Ele nos momentos de abatimento e opressão.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                           Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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