sábado, 13 de abril de 2024

Apelo necessário:

Lembrar-se mais de Jesus

José Antonio Pagola

O relato dos discípulos de Emaús nos descreve a experiência vivida por dois seguidores de Jesus enquanto caminham de Jerusalém para a pequena aldeia de Emaús, a cerca de doze quilômetros de distância da capital. O narrador o faz com tal maestria que nos ajuda a reavivar também hoje nossa fé em Cristo ressuscitado.

Dois discípulos de Jesus se afastam de Jerusalém, abandonando o grupo de seguidores que fora se formando em torno dele. Morto Jesus, o grupo vai se desfazendo. Sem Ele não tem sentido continuar reunidos. O sonho se desvaneceu. Ao morrer Jesus, morre também a esperança que Ele havia despertado em seu coração. Não está acontecendo algo disto em nossas comunidades? Não estamos deixando morrer a fé em Jesus?

No entanto, estes discípulos continuam falando de Jesus. Não conseguem esquecê-lo. Comentam o que aconteceu. Procuram descobrir algum sentido para o que viveram junto com Ele. “Enquanto conversam, Jesus se aproxima e se põe a caminhar com eles”. É o primeiro gesto do Ressuscitado. Os discípulos não são capazes de reconhecê-lo, mas Jesus já está presente, caminhando com eles. Não caminha Jesus hoje veladamente junto a tantos crentes que abandonam a Igreja, mas continuam a recordá-lo.

A intenção do narrador é clara: Jesus se aproxima quando os discípulos o recordam e falam dele. Torna-se presente ali onde se comenta seu Evangelho, onde há interesse por sua mensagem, onde se conversa sobre seu estilo de vida e seu projeto. Não está Jesus tão ausente entre nós porque falamos pouco dele?

Jesus está interessado em conversar com eles: “Que conversa é essa que tendes enquanto caminhais?” Ele não se impõe revelando-lhes sua identidade. Pede-lhes que continuem contando sua experiência. Conversando com Jesus, eles irão descobrindo sua cegueira. Seus olhos se abrirão quando, guiados por sua palavra, fizerem um percurso interior. É assim. Se na Igreja falarmos mais de Jesus e conversarmos mais com Ele, nossa fé reviverá.

Os discípulos lhe falam de suas expectativas e decepções; Jesus os ajuda a aprofundar-se na identidade do Messias crucificado. O coração dos discípulos começa a arder: sentem necessidade de que aquele “desconhecido” fique com eles. Ao celebrar a ceia eucarística, seus olhos se abrem e eles o reconhecem: Jesus está com eles, alimentando sua fé!

Nós cristãos precisamos lembrar-nos mais de Jesus: citar suas palavras, comentar seu estilo de vida, aprofundar-nos em seu projeto. Precisamos abrir mais os olhos de nossa fé e descobri-lo cheio de vida em nossas eucaristias. Jesus não está ausente. Ele caminha conosco.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                           Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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