sábado, 26 de agosto de 2023

Reflexão para o 21º Domingo do Tempo Comum:

Na face de Jesus, o rosto de Deus

“E vós, quem dizeis que eu sou?”

Frei Almir Guimarães

Todos os cristãos, em qualquer lugar e situação que se encontrem, estão convidados a renovar hoje mesmo seu encontro pessoal com Jesus Cristo, ou ao menos, a tomar a decisão de deixar-se encontrar por ele, de procurá-lo dia a dia, sem cessar. (Papa Francisco, A alegria do Evangelho, n.3)

 Jesus, Jesus Cristo, Cristo Jesus… quem ignora este nome? Trata-se de um nome e de uma figura familiar. Muitos de nós viemos ao mundo cercados de símbolos que para ele apontavam. Talvez, mesmo inconscientemente, deitados em nosso berço de bebê, fomos nos acostumando com um crucifixo diante dos olhos no quarto em que dormíamos. Depois nos disseram que era o “Papai do céu” (sic). Missas, quadros, crucifixos, imagens do Coração de Jesus. Ele foi entrando em nossas vidas. Bem ou não tão bem compreendido. Afeiçoamo-nos a ele. Talvez tenhamos vivido a vida toda de sua lembrança, como uma pessoa excepcional que vivera no passado e que com seus nascimento dividira as eras.

 Meio rapidamente fomos sendo levados a afirmar, no final da infância, que era Deus, poderoso, capaz de fazer milagres. Essa ideia daquele que opera gestos excepcionais talvez tenha ficado dentro de nós por um bom tempo. Quem sabe tenhamos nos acostumado a comungar todos os domingos. Algumas vezes com convicção. Outras vezes por costume e fomos perdendo o encanto com sua figura. Ele passou entrar na rotina da vida. Diria, quem dera que esteja enganado, muitos ficaram por ai num catolicismo de rotina, de ritos, de obrigações religiosas…em o encanto de terem abraçado a fé em Cristo.

 Nesse contexto é que surge a urgência de um encontro pessoal com Cristo Jesus. Verdade é que não poucos cristãos e não cristãos, em certos momentos cruciais de suas vidas, encontraram e encontram dentro de si uma sede louca de um Absoluto que apenas vislumbram. Passam a ser buscadores. Muitos encontram-se com o Evangelho e por detrás de suas páginas, dos eventos, encontros desencontros de seus personagens, começam a sentir um fascínio por Cristo Jesus e pelo Pai do qual ele fala com muito carinho. Querem conhecê-lo, juntam-se a pessoas que sinceramente buscam esse rabi da Galileia que tem palavras tão fortes, no dizer de Simão Pedro, “palavras de vida eterna”.

 Uns se deixam impressionar pelo diálogo de Jesus com a samaritana. Jesus insinua que tem uma água. Outros são daqueles que, como Zaqueu sobem a uma árvore para verem Jesus passar e esperam seu convite de entrar em nosso interior. Outros ainda sussurram a Jesus como o ladrão crucificado a seu lado: “Lembra-te de mim quando estiveres no teu reino”. Não posso deixar de lembrar a importância da parábola do Filho pródigo na vida de tantos e tantas. Sentem vontade de receber abraço apertado do Pai bondoso a convite da parábola contado por Jesus. Homem humano como ele não existiu. Digo bem humano: abraça as crianças, interrompe o caminho para atender a cegos, paralíticos, presta atenção na mulher que enterra seu filho único, chora a morte de Lázaro. Transpira suor e sangue. Humano. Não etéreo, não indiferente aos homens. Mas humano ao extremo. Alguém que ama, sai de si, anda atrás.

 Na sua fala mostra que vem do Pai, que ele e o Pai são um. Chora, dorme, senta-se à mesa, mas seu “lugar” é no Pai, com o Pai. Defende o homem, anda atrás do homem, humaniza a história porque foi mandado pelo amor do Pai. É caminho, verdade, água, pastor, pão. No alto da cruz é homem e Deus que dá a vida pelo homem. Amando até o fim diz a Adão, ali, elevado entre o céu e a terra: “Adão, homem, onde tu estás? Vê até que ponto te amo!”

 Somos cristãos, discípulos. Nossa vida está escondida no Ressuscitado. Vivemos, amamos, choramos, trabalhamos, sofremos, batalhamos por um mundo segundo o coração de Deus, alegram-nos com sua companhia na Palavra e no Pão, no rosto do irmãos. Ele vive…nossa vida se confunde com sua vida. Vemos em seu rosto, em seus gestos o rosto do PAI. A que teríamos a pretensão de ir se só ele tem palavras de vida eterna? Fazemos nossas as afirmações de Paulo que tem como lixo tudo o que não é Cristo Jesus e que afirma: “Pra mim, viver e Cristo”.

 “Antes de tudo, nós, crentes, devemos reavivar nossa adesão profunda à pessoa de Jesus Cristo. Só quando vivemos “seduzidos” por ele e trabalhados pela força regeneradora de sua pessoa, poderemos transmitir também hoje seu espírito e sua visão de vida. Do contrário, proclamaremos com os lábios doutrinas sublimes, mas continuaremos vivendo uma fé medíocre e pouco convincente” (Pagola, Mateus, p. 204).

Oração
Já que ressuscitou

Já que Cristo ressuscitoupodemos começar uma vida nova de mulheres e de homens ressuscitados, e irmãos agora mesmo.
Já que Cristo ressuscitoutemos seu Espírito entusiasta, e queremos trazê-lo bem visível para que contagie muitos.
Já que Cristo ressuscitouestamos em sua renovação permanente; é preciso transformar o mundo a partir dos fundamentos.
Já que Cristo ressuscitoué preciso construir uma cidade solidária onde o homem não seja lobo, mas companheiro e irmão.
Já que Cristo ressuscitoucremos numa terra nova onde haverá amor e casa para todos.

P.Loidi

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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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