Pentecostes
O Deus que se revela nas Sagradas Escrituras
é um Deus que atua, que trabalha sempre, que não é indiferente. Sua ação é
temporal, situada e sempre em favor da vida. Celebrar a Solenidade do Espírito
Santo 2020 é afirmar que Deus, uno e trino, atua no hoje da história e não está
ausente.
Porém, desde a modernidade e com o
avanço das ciências da natureza muitas realidades que eram atribuídas à ação de
Deus passaram a ter explicações a partir das leis da natureza. Isto gerou
conflitos entre a religião e a ciência; questionamentos se de fato Deus atua no
mundo; outros passaram a ter uma fé deísta; – isto é, creem na existência de um
ser superior, mas o cosmos segue seu caminho de forma independente, como também
a religião não tem nenhuma incidência moral – e outros optam pelo ateísmo.
Para falar da ação de Deus na vida das
pessoas e da história hoje, é preciso partir desta realidade. É preciso “ler os
sinais dos tempos” que o Espírito Santo suscita, como nos alertou o Concílio
Vaticano II. Em primeiro lugar, muitos questionamentos que a ciência faz à
religião e vice-versa, partem de premissas erradas gerando conflitos
desnecessários. Alguns argumentos de grandes autoridades iluminam a
inteligência sobre os questionamentos e dúvidas existentes.
Santo agostinho (354-430) numa controvérsia
disse: “Não se lê no Evangelho que o Senhor tenha dito: “Lhes enviou o
Paráclito que os ensinará o curso do sol e da lua”. O Senhor queria fazer
cristãos e não astrólogos”. Conforme Galileu Galilei (1564-1642), a Escritura
não se preocupa com o curso dos movimentos celestes, senão como pode o ser
humano entrar no céu. A. Einstein (1879-1955) disse: “A ciência sem religião é
manca; a religião sem ciência é cega”. Nesta compreensão ciência e religião são
complementares e por isso precisam dialogar pois cada uma tem métodos e
objetivos próprios.
Os textos bíblicos da Solenidade de
Pentecostes falam ação de Deus, e como tornar a vida mais divina e mais
perfeita, entre as quais vale sublinhar. 1. Unidade na diversidade. Atos dos
Apóstolos 2,1-11 registra que pessoas oriundas de vários países, línguas
compreendiam o que estavam ouvindo, porque os apóstolos falavam guiados pelo
Espírito Santo. Na 1ª Carta aos Coríntios 12, Paulo afirma que o Espírito Santo
é fonte de diversidade de ministérios e simultaneamente fonte de unidade em
vista o bem comum. 2. “A paz esteja convosco”. A construção da paz entre
pessoas, grupos, povos, tão ricos em diversidade, exige que as pessoas se
deixem orientar pelo Espírito Deus. A paz só se concretiza quando se aprende a
viver a unidade na diversidade. 3. Perdão. O ser humano é finito, em todas as
suas dimensões. Por isso, as pessoas cometem pecados, gerando conflitos que só
podem ser sanados pelo perdão dado e recebido. Perdoar é sempre uma ação
divina, pois Deus é misericordioso.
“Vinde Espírito Santo, enchei os corações
dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o Vosso Espírito
e tudo será criado e renovareis a face da terra”.
Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo
Fundo (RS)
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Pentecostes - Epifania do Espírito Santo
Caros diocesanos. No Tempo do Natal, que já
celebramos no início do ano litúrgico, a Igreja comemora uma solenidade
chamada Epifania, com o significado de manifestação do Senhor a
todos os Povos. Neste contexto, a liturgia traz presente, na figura dos magos
do oriente, a apresentação ou manifestação (Epifania) do Senhor como o Salvador
de todos os povos, raças e línguas. O Messias veio para salvar toda a
humanidade. Na presente reflexão usamos a palavra Epifania como
revelação do Espírito Santo em Pentecostes, quando Ele se manifestou em forma
de línguas de fogo sobre os discípulos, no cenáculo de Jerusalém (At 2, 1-10).
Começou então o anúncio do Evangelho a todos os povos e nações e para todos os
tempos.
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Santo Irineu (séc. II) afirma que o
Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes com o poder de fecundar, de dar
vida a todos os povos e fazê-los participantes da Nova Aliança: “Eis porque,
naquele dia, todas as línguas se uniram no mesmo louvor de Deus, enquanto o
Espírito congregava na unidade as raças mais diferentes e oferecia ao Pai as
primícias de todas as nações” (LH, vol. II, Solenidade de Pentecostes, p. 926).
Segundo São Paulo, é o Espírito Santo que une, congrega e forma a Igreja como
um só corpo, embora constituída de muitos membros (1Cor 12, 12ss). Referindo-se
à unidade e à vivificação do Espírito, continua a dizer Santo Irineu: “Assim
como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa nem um só pão,
nós também, que somos muitos, não podemos transformar-nos num só corpo, em
Cristo Jesus, sem a água que vem do céu. E assim como a terra árida não produz
fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore
ressequida, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva da graça enviada do
alto” (Ibidem).
Este Espírito Santo, que se manifesta, que
fecunda e une, está verdadeiramente atuante na vida cristã e, sobretudo, em
cada ação litúrgica; sem a sua presença (Epifania) simplesmente não há
liturgia, pois nela acontece uma espécie de sinergia (força conjunta,
cooperação, parceria, colaboração) entre o Espírito Santo e a Igreja. Nesta
ação conjunta o Espírito cria condições em nós para participarmos do mistério
celebrado; recorda e manifesta o mistério de Cristo que é atuado na ação
litúrgica; transforma-nos, tornando real em nós a Páscoa de Cristo; Ele nos
congrega na comunhão de um só corpo eclesial (cf. CIgC 1093-1109).
Portanto, o Espírito Santo está presente e
age na vida e missão da Igreja, em todos os tempos e lugares, seja pelos
sacramentos, seja pelos múltiplos carismas e ministérios. O dom especial do
Espírito Santo, prometido por Cristo e enviado aos apóstolos no dia de
Pentecostes, é ministrado pela Igreja, sobretudo através do Sacramento da
Confirmação ou Crisma, que torna os fiéis cristãos adultos na fé, comprometidos
com a Igreja e testemunhas autênticas de Cristo. A Igreja até usa a expressão:
“Bom odor de Cristo”. Os fiéis, já renascidos pelo Batismo, são fortalecidos
pelo Sacramento da Confirmação ou Crisma e continuam a ser nutridos pela
Eucaristia, realizando a unidade dos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã.
Pela Confirmação ou Crisma os fiéis recebem
o Espírito Santo como especial dom de Deus, perpetuando na Igreja o Pentecostes
de Jerusalém e tornam-se testemunhas, por palavras e por obras, como discípulos
missionários das maravilhas de Deus (At 2, 11). A solenidade de Pentecostes
seja nova Epifania do Espírito que nos torna autênticos missionários de Jesus
Cristo, sobretudo agora, no difícil tempo de pandemia.
Aloísio Alberto Dilli - Bispo de Santa
Cruz do Sul (RS)
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