Populismo e liberalismo
"Não é
saudável deformar a palavra “povo”, mesmo que tenha uma dimensão popular"
A verdadeira
política tem por finalidade fazer o mundo ser melhor e saudável. Mas não é o
que está acontecendo na prática, principalmente no que se refere à
administração da coisa pública, da construção do bem comum, impedindo que a
sociedade seja diferente e melhor. Existe o domínio de interesses econômicos de
poderosos com modelos políticos populistas e fechados à coletividade.
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Dom Paulo Peixoto |
Os dois termos
“populismo” e “populista”, no dizer do Papa Francisco, invadiram o mundo da
comunicação e a linguagem geral dos últimos tempos, classificando tudo como
“populista” ou “não populista”. Desta forma, qualquer opinião sobre determinado
tema é classificada dentro desses dois polos, seja para desacreditar o que é
apresentado em opinião ou para sobrestimar seu conteúdo.
O populismo tem
uma chave de leitura muito preocupante. Ele descaracteriza a noção de povo,
eliminando com isso a palavra “democracia”, que significa “governo do povo”. Os
projetos de uma comunidade de pessoas devem ser compartilhados e caracterizados
como sonhos coletivos. Tudo isso significa que não podemos eliminar dados
fundamentais: o substantivo “povo” e o adjetivo “popular”.
A identidade de um
povo é constituída por vínculos sociais e culturais, formada por um processo
muito lento e difícil, integrando as pessoas rumo a objetivos comuns. Essa
construção depende de líderes populares com capacidade de ceder lugar a outros,
mas também com o perigo de degradação quando abre espaço para ações populistas,
ideológicas e com interesses egoístas de poder.
Não é saudável
deformar a palavra “povo”, mesmo que tenha uma dimensão popular. Ela é aberta
ao crescimento, com disposição para se deixar mover, interpelar, crescer e
enriquecer por outros, sem interesses imediatos. No meio de todos aqueles que
têm pertença a um povo, existe esforço e criatividade na ajuda mútua. Podemos
até dizer de um populismo responsável.
Em cada pessoa,
seja rica ou pobre, existem capacidades, iniciativas e forças para o trabalho,
através do qual se consegue uma vida digna. Não basta dar dinheiro para o
pobre. Ele precisa mesmo é de ocupação no trabalho para viver a dimensão de sua
vida social, de se sentir como gente, de saber que está também contribuindo com
o desenvolvimento da sociedade e de viver como povo.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo
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