quinta-feira, 9 de abril de 2020

Na Missa in Coena Domini,

Papa recorda doação e sacrifício dos sacerdotes

O Papa Francisco presidiu a Missa da Ceia do Senhor no final da tarde desta Quinta-feira Santa em uma Basílica de São Pedro sem fiéis.
Vatican News - A Quinta-feira Santa deste ano foi muito especial, devido às restrições impostas pela pandemia, que em pouco tempo transtornou a vida de todos. Também os dias do Tríduo Pascal, no centro do calendário litúrgico, o mais importante para os cristãos, verão as igrejas abertas mas as celebrações sem a presença dos fiéis. Será assim também para as celebrações litúrgicas do Papa Francisco. O Papa não presidiu nesta manhã de quinta-feira à Missa do Crisma com os sacerdotes de Roma, mas às 18 horas (hora de Roma) no altar da Cátedra em São Pedro, celebrou a Missa in Coena Domini, que faz memória da instituição da Eucaristia.
A Basílica do Vaticano estava vazia, com o Papa vestindo os paramentos brancos, apenas algumas pessoas: os leitores, os cantores, alguns sacerdotes e algumas religiosas, um bispo e o Cardeal Angelo Comastri, arcipreste da Basílica, todos a uma distância segura. Não foi realizado o tradicional rito do lava pés que nos anos passados viu Francisco repetir o gesto de Jesus aos prisioneiros, aos pobres e aos refugiados. A última vez que o tinha feito foi na Penitenciária de Velletri ou, em 2018, na Penitenciária romana de Regina Coeli. E, no entanto, através dos meios de comunicação social muito mais pessoas do que o habitual seguiram a Santa Missa.
Uma celebração com o essencial marcou a Missa “in Coena Domini”. Como costuma fazer nesta celebração, Francisco não havia um texto preparado, mas em suas palavras, recordou e agradeceu aos sacerdotes pela entrega e doação da própria vida, também fazendo referência às dezenas de sacerdotes que morreram na Itália em decorrência do Covid-19.
Eucaristia, serviço, unção
O Papa na sua homilia enfatizou três palavras que são três realidades no centro da Quinta-feira Santa: a Eucaristia, o serviço, a unção. O Senhor quer permanecer conosco, na Eucaristia, disse Francisco, e nós tornamo-nos o seu tabernáculo. Jesus, prosseguiu, chega a dizer que "se não comermos o seu corpo e não bebermos o seu sangue, não entraremos no Reino dos Céus". Mas para entrar no Reino dos Céus é necessária também a dimensão do serviço e Francisco continuou:
Servir, sim, todos. Mas o Senhor, nessa troca de palavras que teve com Pedro, fá-lo compreender que para entrar no Reino dos Céus deve deixar que o Senhor nos sirva, que ele seja o Servo de Deus servo de nós. E isto é difícil de compreender.
A graça do sacerdócio
E depois o sacerdócio: o Papa disse que hoje quer estar perto de todos os sacerdotes. Todos do primeiro ao último, disse, somos ungidos pelo Senhor, ungidos para celebrar a Eucaristia e para servir. E se hoje não foi possível celebrar a Missa crismal com os sacerdotes, na Missa desta noite o Papa quis recordar os sacerdotes, especialmente aqueles que oferecem as suas vidas pelo Senhor, e que se tornam servos dos outros. Recordou as muitas dezenas de sacerdotes que morreram na Itália por causa do Covid-19, a serviço dos doentes, junto com os médicos e o pessoal de saúde. "Eles são os santos da porta ao lado", capazes de dar as suas vidas. E depois há os sacerdotes que servem nas prisões ou aqueles que vão para longe para levar o Evangelho e morrem ali:
Dizia um bispo que a primeira coisa que ele fazia, quando chegava a esses lugares de missão, era ir ao cemitério e visitar o túmulo dos sacerdotes que ali deixaram suas vidas, jovens, por causa da peste do lugar: eles não estavam preparados, não tinham anticorpos; ninguém sabe o nome deles.
Trago ao altar comigo todos os sacerdotes
Há muitos sacerdotes anônimos, párocos no meio rural ou em aldeias de montanha, sacerdotes que conhecem o povo. "Hoje carrego-os no meu coração e trago-os ao altar", disse o Papa Francisco. E depois há os sacerdotes caluniados que são insultados nas ruas:
Muitas vezes ocorre hoje, não podem ir para a rua porque lhes dizem coisas más em referência ao drama que vivemos com a descoberta dos sacerdotes que fizeram coisas más.
Pedir perdão e perdoar
Depois citou os sacerdotes, os bispos e ele próprio "que não se esquecem de pedir perdão" porque "somos todos pecadores".  E depois os padres em crise, na escuridão. Ele recomendou a todos apenas uma coisa: "não sejam teimosos como Pedro". Deixem-se lavar os pés. O Senhor é seu servo, Ele está perto de você para lhe dar forças, para lavar os seus pés". De serem perdoados para perdoar o pecado dos outros. O Papa Francisco recomendou um "coração grande de generosidade no perdão", seguindo o exemplo de Cristo.
Ali há o perdão de todos. Sejam corajosos. Também no arriscar em perdoar, para consolar. E se nesse momento não podem dar o perdão sacramental, deem pelo menos o consolo de um irmão que acompanha e deixa a porta aberta para que volte.
O Papa concluiu agradecendo ao Senhor pelo sacerdócio e pelos sacerdotes e disse: "Jesus ama você". Ele só pede que você o deixe lavar os pés".
A oração ao Senhor para vencer o mal
No momento da oração dos fiéis, um diácono apresentou cinco intenções. Rezou-se pela Igreja para que "anuncie a cada homem que só em vós há salvação"; a segunda suplica ao Senhor que sustente "os sofrimentos dos povos" e para que "os governantes procurem o verdadeiro bem e os povos reencontrem esperança e paz". A terceira é que os padres sejam "um reflexo vivo do sacrifício que celebram e sirvam os seus irmãos e irmãs com generosa dedicação". A quarta é pelos jovens, para que o Senhor lhes toque o coração e eles o sigam "no caminho da cruz", descobrindo "que só em vós há liberdade, alegria e vida plena". Finalmente, pede-se a Deus que console a humanidade aflita "com a certeza da vossa vitória sobre o mal: curai os doentes, consolai os pobres e todos livre da epidemia, violência e egoísmo". Uma oração muito atual no meio da "tempestade" em que estamos vivendo.
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Missa da Ceia na íntegra:
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Papa Francisco na missa da manhã:
Deus converta os Judas de hoje,
mafiosos e agiotas que exploram necessitados
Na Missa esta quarta-feira (08/04), Francisco rezou ao Senhor a fim de que toque o coração dos que se aproveitam daqueles que se encontram necessitados nesta crise causada pela pandemia de coronavírus. Na homilia, falou da traição de Judas, daqueles que vendem as pessoas, inclusive seus entes queridos, para lucro pessoal.
Vatican News - O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, manhã desta quarta-feira (08/04) da Semana Santa. Ao introduzir a celebração, rezou pela conversão daqueles que neste momento exploram quem se encontra necessitado:
Rezemos, hoje, por aqueles que neste tempo de pandemia fazem comércio com os necessitados. Aproveitam-se da necessidade dos outros e os vendem: os mafiosos, os agiotas e tantos outros. Que o Senhor toque o coração deles e os converta.


Na homilia, Francisco comentou o Evangelho de Mateus (Mt 26,14-25), que nos fala da traição de Judas. Também hoje – disse o Papa – existem Judas, pessoas que traem, inclusive seus entes queridos, vendendo-os, para interesses próprios. Também hoje existem pessoas que querem servir a Deus e ao dinheiro, exploradores escondidos, aparentemente impecáveis, mas fazem comércio com as pessoas: vendem o próximo. Judas deixou discípulos, discípulos do diabo. Judas era apegado ao dinheiro: quem demasiadamente ama o dinheiro, trai. Mas é traído pelo diabo, que é um mau pagador e deixa no desespero. E caba por enforcar-se. O Papa pensou nos muitos Judas institucionalizados que hoje exploram as pessoas e também nos pequenos Judas que estão em nós: cada um de nós tem a possibilidade de trair, por amor ao dinheiro ou aos bens. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
Quarta-feira Santa é também chamada “quarta-feira da traição”, o dia no qual na Igreja se ressalta a traição de Judas. Judas vende o Mestre.
Quando pensamos no fato de vender pessoas, vem em mente o comércio feito com os escravos da África para levá-los para a América – uma coisa antiga –, depois o comércio, por exemplo, das jovens yazidis vendidas ao Isis: mas é coisa distante, é uma coisa… Também hoje pessoas são vendidas. Todos os dias. Existem Judas que vendem os irmãos e as irmãs, explorando-os no trabalho, não pagando o justo, não reconhecendo os deveres… Aliás, muitas vezes vendem o que têm de mais precioso. Penso que por comodidade, um homem é capaz de distanciar os pais e não mais vê-los, colocá-los numa casa de repouso e não ir visitá-los… vende. Há um ditado popular que, falando de pessoas assim, diz que “este é capaz de vender a própria mãe”: e a vendem. E então ficam tranquilos, foram distanciados: “Cuidem vocês deles…”
Hoje, o comércio humano é como nos primeiros tempos: se faz. E isso porquê? Jesus disse o porquê. Ele deu ao dinheiro uma senhoria. Jesus disse: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, dois senhores. É a única coisa que Jesus coloca à altura e cada um de nós deve escolher: ou serve a Deus, e será livre na adoração e no serviço, ou serve ao dinheiro, e será escravo do dinheiro. Essa é a opção e muita gente quer servir a Deus e ao dinheiro. E isso não se pode fazer. Acabam fazendo finta de servir a Deus para servir ao dinheiro. São os exploradores escondidos que socialmente são impecáveis, mas por debaixo dos panos comercializam, inclusive com as pessoas: não importa. A exploração humana é vender o próximo.
Judas foi embora, mas deixou discípulos, que não são seus discípulos, mas do diabo. Não sabemos como foi a vida de Judas. Um jovem normal, talvez, e também com inquietações, porque o Senhor o chamou para ser discípulo. Ele jamais conseguiu sê-lo: não tinha boca de discípulo e coração de discípulo, como lemos na primeira Leitura. Era fraco no discipulado, mas Jesus o amava… Depois o Evangelho nos faz entender que ele gostava do dinheiro: na casa de Lázaro, quando Maria unge os pés de Jesus com aquele perfume tão caro, ele faz a reflexão e João ressalta: “Mas não disse isso porque amava os pobres, (mas) porque era ladrão”. O amor ao dinheiro o tinha levado para fora das regras, a roubar, e do roubar a trair é um passo, muito pequeno. Quem demasiadamente ama o dinheiro trai para ter mais ainda, sempre: é uma regra, é um dado de fato. O Judas garoto, talvez bom, com boas intenções, acaba traidor a ponto de ir ao mercado vender: “O que me dareis se vos entregar Jesus?” A meu ver, este homem estava fora de si.
Uma coisa que chama a minha atenção é que Jesus jamais lhe diz “traidor”; diz que será traído, mas não diz a ele “traidor”. Jamais o diz: “Va embora, vá embora, traidor”. Jamais! Aliás, lhe diz: “Amigo”, e o beija. O mistério de Judas… Como é o mistério de Judas? Não sei… Padre Primo Mazzolari o explicou  melhor do que eu… Sim, me consola contemplar aquele capitel de Vezelay: como Judas acabou? Não sei. Jesus ameaça veementemente, aqui; grande ameaça: “Ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!” Mas isso significa que Judas está no Inferno? Não sei. Eu olho o capitel. E ouço a palavra de Jesus: “Amigo”.
Mas isso nos faz pensar em outra coisa, que é mais real, mais que hoje: o diabo entrou em Judas, foi o diabo a levá-lo a este ponto. E como acabou a história? O diabo é um mau pagador: não é um pagador confiável. Promete-lhe tudo, lhe mostra tudo e depois o deixa sozinho em seu desespero a enforcar-se.
O coração de Judas, inquieto, atormentado pela ganância e atormentado pelo amor a Jesus, um amor que não conseguiu fazer-se amor, atormentado com essa névoa, volta aos sumos sacerdotes pedindo perdão, pedindo salvação. “O que temos a ver com isso?” O problema é seu…”: o diabo fala assim e nos deixa no desespero.
Pensemos nos muitos Judas institucionalizados neste mundo, que exploram as pessoas. E pensemos também no pequeno Judas que cada um de nós tem dentro de si na hora de escolher: entre lealdade ou interesse.
Cada um de nós tem a capacidade de trair, de vender, de escolher o próprio interesse. Cada um de nós tem a possibilidade de deixar-se atrair pelo amor ao dinheiro ou aos bens ou ao bem-estar futuro. “Judas, onde estás?” Mas, a pergunta, a faço a cada um de nós: “Tu, Judas, o pequeno Judas que tenho dentro: onde estás?”
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece. À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja.
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada uma antiga antífona mariana Ave Regina Caelorum (“Ave Rainha dos Céus”):
Ave, Rainha do céu; ave, dos anjos Senhora; ave, raiz, ave, porta; da luz do mundo és aurora. Exulta, ó Virgem gloriosa, as outras seguem-te após; nós te saudamos: adeus! E pede a Cristo por nós!
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Vídeo integral da Missa
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